Índice
Nesta quinta-feira (16), Back to Black, o filme biográfico de Amy Winehouse, estreia nos cinemas brasileiros. Estrelado por Marisa Abela, dirigido por Sam Taylor-Johnson e roteirizado por Matt Greenhalgh, retrata a história de uma das mais emblemáticas cantoras do século.
Quem foi Amy Winehouse?
A artista, que teve uma breve vida em meio polemicas devido ao abuso de álcool, drogas e perseguição da mídia, faleceu em 2011. A causa oficial da morte foi intoxicação alcoólica, após um período de abstinência seguido por consumo excessivo, mas deixou um legado na música além de muita saudade.
Amy Winehouse, uma das cantoras mais icônicas do século 21, nasceu no subúrbio de Southgate, Londres. Filha de Mitch Winehouse, um motorista de táxi, e Janis Winehouse, uma farmacêutica, ela cresceu ouvindo jazz, soul e R&B, influenciada especialmente pela avó Cynthia, que era cantora de jazz. Ainda criança, Amy já demonstrava interesse pela música e, aos 10 anos, fundou uma banda de rap chamada Sweet ‘n’ Sour. Aos 14, escreveu suas primeiras músicas e, aos 16, assinou seu primeiro contrato com um agente musical.
Em 2003, lançou seu álbum de estreia, Frank, que mostrou seu estilo no jazz e habilidade lírica. O álbum foi bem recebido pela crítica, rendendo indicações ao Ivor Novello Awards. No entanto, foi com seu segundo álbum, Back to Black, lançado em 2006, que Amy se tornou um fenômeno global. Com hits como “Rehab”, “You Know I’m No Good” e “Back to Black”, o álbum vendeu milhões de cópias e rendeu cinco prêmios Grammy, tornando Amy a primeira britânica a vencer tantos prêmios em uma única noite.
Apesar do sucesso meteórico, Amy Winehouse enfrentou problemas pessoais e públicos devido ao vício em álcool e drogas. Sua música “Rehab” tornou-se um hino, mas também refletia suas próprias lutas. Envolvida em colapsos e cancelamentos de shows, lutou para manter sua carreira estável. Em 2007, casou-se com Blake Fielder-Civil, com quem teve um relacionamento tumultuado. Ele foi preso por obstrução da justiça e outras acusações, afetando ainda mais a vida de Amy.
Nos anos seguintes, a saúde de Amy deteriorou-se rapidamente, e ela passou a aparecer mais nos tabloides do que no cenário musical. Tentou retornar aos palcos várias vezes, mas não conseguiu manter a estabilidade. Em 23 de julho de 2011, foi encontrada morta em sua casa em Camden, Londres.
O legado de Amy Winehouse é duradouro. Ela foi uma das artistas que revitalizou o soul e trouxe o jazz para o mainstream. Sua voz e estilo inconfundíveis influenciaram uma geração de artistas.
Após sua morte, sua família criou a Fundação Amy Winehouse para ajudar jovens que lutam contra o vício. Em 2015, o documentário Amy, dirigido por Asif Kapadia, revelou a história de sua vida e suas batalhas pessoais, e venceu o Oscar na categoria Melhor Documentário.
Apesar de sua morte prematura, Amy Winehouse continua a ser lembrada como uma das maiores vozes de sua geração, conhecida tanto por sua vulnerabilidade quanto por seu talento extraordinário.
O retrato de Winehouse nos cinemas é honesto com a história da cantora?
O filme Back to Black, ambientado nas ruas de Londres, retrata a vida de Amy Winehouse, com Marisa Abela encarnando a cantora desde seus primeiros passos na música até sua consagração aos 20 anos com o álbum Frank e o contrato com a Island Records.
A narrativa promete uma imersão por meio das letras de Winehouse, que deveriam servir como a espinha dorsal da história. No entanto, o filme, dirigido por Sam Taylor-Johnson com roteiro de Matt Greenhalgh, peca ao superficializar a ascensão meteórica de Amy com Back to Black. Este álbum, um marco na indústria com mais de 16 milhões de cópias vendidas e cinco Grammys, é tratado quase como uma nota de rodapé, dando lugar a um enfoque exagerado nas fragilidades pessoais e deslizes da artista.
A trama se detém nos aspectos mais trágicos da vida de Winehouse, como seu tumultuado casamento com Blake Fielder-Civil, interpretado com maestria por Jack O’Connell, sua dependência emocional e seu declínio devido ao vício em drogas e álcool. Essa escolha narrativa oscila perigosamente entre o sensacionalismo e uma tentativa de empatia, falhando em capturar a verdadeira essência e genialidade musical de Amy.
Embora Marisa Abela faça um esforço louvável para canalizar Winehouse, regravando algumas das canções e imitando seus trejeitos, a performance às vezes confunde o público sobre onde termina Abela e começa Winehouse, um testemunho tanto de sua habilidade quanto de uma possível falha de direção que não soube distinguir claramente a personagem da intérprete.
O filme se propõe a mostrar Amy através de suas próprias palavras e músicas, uma premissa louvável, mas executa essa ideia de maneira desigual, oscilando entre a representação dramática e a realidade biográfica sem um equilíbrio satisfatório. Back to Black tinha o potencial para ser um retrato impactante e revelador de uma das figuras mais icônicas da música moderna, mas se perde em um mar de dramatizações que ofuscam o brilho de seu talento incontestável. Ao final, o que resta é uma sensação de oportunidade perdida, onde a essência vibrante de Amy Winehouse é ofuscada por uma narrativa que escolheu explorar mais suas sombras do que sua luz.
Aspectos técnicos
Marisa Abela, conhecida por seu papel na série Industry, demonstra coragem e dedicação ao tentar capturar os trejeitos e a voz da cantora em sua performance. A caracterização física de Winehouse, está impecável, e os cenários por onde teve passagens memoráveis também.
Sob a direção de Sam Taylor-Johnson, que também trabalhou em O garoto de Liverpool, a cinebiografia de John Lenon, e roteiro de Matt Greenhalgh, o filme vem sendo desenvolvido desde 2011, mas somente ganhou vida após anos de planejamento. A trilha sonora, que ficou por conta dos talentosos Nick Cave, Warren Ellis e Giles Martin, é um dos pontos altos do filme, oferecendo uma rica tapeçaria sonora que é, talvez, o maior atrativo para os fãs. As regravações das canções de Winehouse por Abela adicionam um toque de autenticidade, embora às vezes confundam a linha entre a performance e a persona real de Amy.
Infelizmente, a direção de Taylor-Johnson não consegue evitar armadilhas críticas. A narrativa peca pela rapidez com que transita entre fases importantes de sua vida, deixando lacunas que dificultam a compreensão do espectador e reduzem a fluidez do relato biográfico.
As interações entre Amy e Blake Fielder-Civil no filme trazem um contraste interessante, tingindo a narrativa com nuances de comédia romântica, apesar de o público estar ciente do trágico desenlace desse relacionamento. No entanto, o filme tende a retratar Blake predominantemente como o vilão da história. Isso ocorre mesmo sabendo que o pai de Amy, frequentemente criticado por sua influência negativa, é idealizado como um bom pai no enredo, uma discrepância que desvia da realidade conhecida pelos fãs da cantora.
O primeiro encontro de Amy com Blake em um pub é marcado por uma piada sobre sua semelhança com Pete Doherty, do The Libertines. Essa referência pode gerar desconforto entre os espectadores mais detalhistas, considerando que, mais tarde na vida, Amy foi frequentemente vista na companhia de Doherty, alimentando rumores de um romance em alguns tabloides. Essa escolha de diálogo no filme levanta questionamentos sobre a sensibilidade dos roteiristas, dada a complexidade real das relações de Amy.
Além disso, a escolha da música Don’t Look Back into the Sun do The Libertines para acompanhar o início do namoro de Amy com Blake parece uma tentativa de aludir simbolicamente a essa fase da vida da artista. No entanto, essa referência musical poderia ser vista tanto como um aceno astuto à cronologia de sua vida quanto como uma simplificação dos elementos mais sombrios de sua história.
Lançamento nos cinemas
O filme será lançado para o público brasileiro nesta quinta-feira (16) em todos os cinemas. No Reino Unido, onde estreou em 12 de abril, o longa não foi bem recebido pela crítica, embora pareça ter agradado o público.
No IMDb, recebeu uma avaliação de 6,6 pelos fãs, alguns dos quais criticaram o filme por não fazer justiça ao legado de Amy. Já no Rotten Tomatoes, o filme está com 38% de aprovação pela mídia especializada, que descreveu a obra como “um artigo barato de tabloide”, criticando-a por ser comedido e covarde, atributos que, aparentemente, a cantora nunca teve.
Afinal, vale a pena assistir?
O filme, que prometia ser um olhar sensível sobre a trajetória de Amy Winehouse, desliza em vários aspectos que poderiam ter enriquecido sua narrativa. Abordando desde a sua juventude marcada por uma doce proximidade com a avó, fã de pinups, até os turbulentos dias de fama, o filme faz uso das músicas da cantora para contar sua história. No entanto, não é um musical no sentido tradicional, o que poderia ser um ponto positivo, mas acaba por limitar a exploração mais profunda das letras em seu contexto biográfico.
A representação de Amy, com seu icônico piercing na boca e o constante cigarro em mãos, sugere um esforço para capturar sua essência rebelde, mas peca em momentos cruciais como a transição apressada de seu anonimato para o estrelato, um movimento que merecia mais desenvolvimento. A inclusão de personagens como Nick, seu empresário e amigo, e Blake, a figura central em sua vida amorosa, adiciona dimensões pessoais, mas o filme falha ao não explorar suficientemente a dinâmica de sua relação com o palco, apenas tocando superficialmente em críticas sobre sua performance.
O uso de Valerie como uma música retratada erroneamente como autoria de Winehouse é um grande deslize no roteiro que distrai os conhecedores de sua obra, na verdade, essa é uma canção da banda The Zutons, mas que ficou famosa na voz de Amy.
Além disso, a rapidez com que o filme encerra, seguindo a premiação no Grammy, onde Amy brilha de maneira memorável, até o anúncio de sua morte, deixa um sentimento de incompletude. A escolha de acelerar através de momentos importantes de sua vida, incluindo o impacto devastador de suas desilusões amorosas e a perda de sua avó, que lhe moldou tanto esteticamente quanto emocionalmente, minimiza a complexidade de sua experiência e luta.
Embora Back to Black tente captar a essência de Amy Winehouse com uma trilha sonora marcante e cenas visualmente memoráveis, o filme não consegue abordar completamente a profundidade e a tragédia da história da cantora. O resultado é uma experiência que, apesar de ter momentos emocionantes, termina por ser um tanto superficial.
Em resumo, enquanto tenta homenagear musicalmente a vida de Winehouse, Back to Black se enreda em uma execução que não corresponde à complexidade e à profundidade emocional da artista. Apesar de apresentar momentos luminosos, particularmente na sonorização e em certas sequências musicais, o filme não consegue capturar verdadeiramente a essência de uma das vozes mais singulares e impactantes de nossa época.
Veja também:
Documentário sobre a música pop
Fontes: Rotten Tomatoes, The Guardian, Euro News
Revisão do texto feita por: Pedro Bomfim
-
Roteiro30/100 Ruim
-
Produção visual90/100 Incrível
-
Trilha sonora100/100 Excelente
-
Desenvolvimento39/100 Aceitável
-
Figurino90/100 Incrível
Descubra mais sobre Showmetech
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.