Vídeo simula transplante de cabeça feito via IA e viraliza na internet; entenda

Uma animação deu o que falar na internet por mostrar, de forma (aparentemente) bem realista, como seria um transplante de cabeça. A ideia tem até mesmo uma empresa fictícia e investidores interessados, mas muitas pessoas foram contrárias a isso e até mesmo questões de ética foram apontadas. Entenda o assunto de forma completa agora mesmo.

BrainBridge, a startup que não existe

O procedimento apresentado no vídeo é uma cirurgia completamente feita por robôs, que realizam cortes precisos e em seguida conectam vasos e terminações nervosas, fechando e concluindo tudo com apoio da inteligência artificial presente no modelo de linguagem.

Apresentando o procedimento como “o primeiro conceito revolucionário do mundo para sistema de transplante de cabeça, empregando robótica de ponta e inteligência artificial para garantir procedimentos de transplante de cabeça e rosto bem-sucedidos”, a BrainBridge é uma startup que não existe de verdade e não está conectada a nenhuma outra empresa.

Apesar disso, a falsa startup tem um site próprio bastante convincente que mostra todos os conceitos. Além disso, você também pode, hipoteticamente, se candidatar para ser uma das pessoas a fazer um transplante de corpo (ou cabeça, dependendo do referencial), de forma gratuita. Também há uma página de carreiras para trabalhar na BrainBridge.

Voltando para a realidade, o vídeo que mostra o transplante foi desenvolvido por Hashem Al-Ghaili, comunicador científico e diretor de cinema iemenita. Al-Ghaili não é inexperiente em criar virais envolvendo saúde: em 2022, ele foi responsável por produzir o conceito do primeiro laboratório de úteros artificiais do mundo e muitas pessoas realmente acreditaram que isso era verdade.

A ideia da BrainBridge foi financiada por Alex Zhavoronkov, fundador da Insilico Medicine, uma grande empresa farmacêutica que conta com ajuda de IA, que também é uma figura proeminente na pesquisa anti-envelhecimento.

No vídeo, também postado no LinkedIn e replicado mais tarde em outras redes sociais, um modelo da cabeça de Alex é transplantada de um corpo para o outro. O conteúdo também recebeu financiamento de “pessoas importantes e famosas”, mas os nomes não foram comentados por Alex.

Enviado para o YouTube no dia 21 de maio de, a produção já conta com 173 mil visualizações e, apenas no Facebook, mais de 24 mil comentários foram feitos nos dois primeiros dias. Tal barulho feito pela empresa foi suficiente para o jornal New York Post anunciar que a BrainBridge era uma companhia real e a primeira cirurgia seria feita nos próximos oito anos.

A recepção do vídeo mostrando o transplante de cabeça é mista: enquanto muitas pessoas ficaram chocadas em como isso seria feito e a recuperação aconteceria em um tempo menor que o normal, houve uma maioria que foi fortemente contra, citando que a ideia era “nojenta, imoral, desnecessária, pagã, demoníaca e idiota”.

O exemplo de uma pessoa que sofreu um acidente de moto também foi dado: caso alguém faleça por danos cerebrais, é possível transplantar o coração, o fígado e os rins, de modo a salvar várias outras pessoas. Seria realmente certo dar o corpo para salvar apenas uma vida? 

Mas, apesar de ser uma simulação, pode-se dizer que a BrainBridge não é a primeira a tratar sobre o assunto.

Transplante de cabeça pode ser feito na vida real?

Um experimento como este já foi feito no passado: no começo da década de 1970, o neurocirurgião americano Robert White fez um transplante da cabeça de um de macaco para um novo corpo, por meio da costura de seus sistemas circulatórios.

Os dados deste estudo apontam que o experimento até deu certo, mas apenas por um tempo: apesar de ficar consciente por alguns dias e até mesmo conseguir enxergar, o animal morreu após oito dias.

Além de ver, o primeiro macaco que passou por transplante de cabeça conseguia cheirar, ouvir, e até dobrar os dedos de um dos colegas de White. O grande problema nisso tudo é que o animal não conseguia mover seu novo corpo, pois na época não havia (e não há até hoje) uma tecnologia para reconectar as centenas de milhões de nervos numa medula espinhal.

Quando falamos de humanos, provavelmente também seria necessário viver em um corpo paralisado, já que a medula espinhal seria cortada e as ligações nervosas estariam desfeitas. Mas vale lembrar que há casos de pessoas que recuperaram uma parte dos movimentos após um acidente. 

Na Europa, por exemplo, algumas pessoas paralisadas voltaram a andar após os médicos superarem as lesões na coluna vertebral com aparelhos eletrônicos. Outros cientistas na China estão estudando fatores de crescimento para regenerar os nervos. 

A ideia da BainBridge, ainda que se apresente como irreal com a tecnologia atual, abre espaço para discussões sobre a viabilidade do procedimento, bem como dilemas éticos.

Criadores do vídeo receberam apoio

Apesar da empresa não existir, a BrainBridge pode sair do papel em um futuro que não deve estar tão distante quanto imaginamos. Os idealizadores receberam e-mails de investidores que querem financiar estudo de viabilidade técnica do transplante de cabeça, além dos investidores que viabilizaram a criação do vídeo conceito.

A negatividade é enorme, para ser honesto. Mas por trás disso estão aqueles que enviam e-mails. São pessoas que querem investir ou que expressam os seus desafios pessoais de saúde. Estes são os que importam.

Hashem Al-Ghaili, comunicador científico, diretor de cinema iemenita e criador do vídeo sobre o transplante de cabeça

Agora, falta, nos resta esperar por mais novidades sobre o transplante de cabeça (ou de corpo) e ver se ele pode ser viabilizado. Além de ser necessário grandes estudos sobre o corpo humano, pessoas teriam de ser selecionadas para os testes na prática.

O que vem em seguida?

O transplante de cabeça é um experimento que precisamos observar de perto, mas, de fato, existem mais perguntas do que respostas. A grande dúvida é, caso o procedimento venha a ser desenvolvido, como serão feitos estes testes e se dará certo assim que for trazido para a vida real.

De fato, estamos apenas no primeiro capítulo desta história, então acompanhe as atualizações sobre o assunto nas próximas matérias do Showmetech. Além disso, te convidamos a acessar nossa categoria de Ciência e Tecnologia, que conta com diversas matérias sobre assuntos curiosos.

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Com informações: MIT Tecnology Review l University of St. Thomas l Evolving.AI

Revisado por Glauco Vital em 27/5/24.