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Em decisão inédita, o Papa Francisco autorizou a bênção a casais do mesmo sexo, segundo um documento publicado pelo Vaticano hoje, dia 18. Na carta, o pontífice da Igreja Católica permitiu a padres a realização da bênção para casais homoafetivos, porém, não houve mudança com relação às regras para o reconhecimento do casamento de uniões dentro da comunidade LGBTQIAPN+.
Como funcionará a bênção
A bênção, cuja autorização foi dada por Francisco, tem limitações significantes. O ato não pode pode se assemelhar a uma cerimônia de casamento e pode ser realizado durante as liturgias de dia-a-dia da Igreja.
O ato não é uma obrigação aos membros da religião, e padres que não concordam com a união desses casais são livres para se recusarem a dar a bênção sem qualquer repercussão por parte da Igreja Católica. Por outro lado, estão proibidos quaisquer atos de discriminação dentro das igrejas que resultem no impedimento de fiéis homossexuais de “procurar a ajuda de Deus através de uma simples bênção”.
Bênção a casais do mesmo sexo vs. casamento
Este é um avanço para a minoria há muito colocada de lado pela Igreja Católica, entretantoa decisão do Papa não necessariamente autoriza o casamento entre casais do mesmo sexo e não deve ser confundido como tal.
Se por um lado a decisão de hoje pode ser considerada histórica, pois até o momento houveram pouquíssimos avanços das causas da comunidade LGBTQIAPN+ dentro da religião católica, os poréns com relação ao reconhecimento de fato da união estável de casais homoafetivos por parte da Igreja ainda são muitos. O tão sonhado casamento entre pessoas do mesmo sexo, uma das principais questões há muito batalhadas pela comunidade LGBT+, ainda é considerado um sacrilégio pelo Catolicismo.
O posicionamento do papa até agora
Desde sua consagração como pontífice da Igreja Católica há dez anos, o Papa Francisco vem demonstrando uma certa simpatia pelas causas LGBT+. Em janeiro, por meio de entrevista concedida para a Associated Press, ele criticou países como os Estados Unidos, onde alguns estados criminalizam a atividade sexual em consenso por pessoas do mesmo sexo, seguido de mais outros 67 países no mundo.
Já em agosto deste ano, Francisco foi categórico, dizendo que as mulheres trans também “são filhas de Deus” e que não podem ser tratadas de forma diferente pela Igreja, enquanto que em outubro expressou que “não podemos ser juízes que apenas negam”, em carta. Falas como essas passaram a ser sinais da eventual aceitação de uniões homoafetivas por parte da religião católica.
A opinião de Francisco tornou-se pública após as falas conservadoras sobre o assunto vindas de cinco cardeais por meio de uma dúbia, ou seja, texto escrito ao pontífice com o intuito de tirar dúvidas com o líder da religião em forma de perguntas formais. No documento, Francisco afirmou que “a caridade pastoral deve permear todas as nossas decisões e atitudes” e que “não podemos ser juízes que apenas negam, rejeitam e excluem”.
No entanto, essa opinião vem temperada de ambiguidades, pois em outra fala do Papa de 2021, em resposta à proibição do casamento de casais homoafetivos, disse que “a Igreja é muito clara em relação ao sacramento do matrimônio, que deveria ocorrer apenas entre uma mulher e um homem, aberto à procriação.”. Ainda afirmou que a Igreja “deveria evitar qualquer outro ritual que contrarie esse ensinamento”.
Essa dualidade das falas do pontífice naquela ocasião foram contornadas por ele ao dizer que “algumas vezes os pedidos de bênção são uma forma de as pessoas se aproximarem de Deus e viver vidas melhores”, apesar de que, segundo ele, certos atos possam ser vistos como “objetiva e moralmente inaceitáveis pela Igreja.”.
Na ocasião ainda, de acordo com o papa, mesmo havendo uma eventual autorização para esse tipo de bênção, elas não viriam a se tornar normas ou serem concedidas aprovações explícitas pelas juridições da Igreja Católica. Para Francis DeBernardo, o diretor executivo do New Ways Ministry, em matéria para o G1, mostrou-se positivo com relação às falas de Francisco, embora não sejam “um endosso pleno e sonoro” para a causa LGBT+ por parte do líder do Catolicismo no mundo.
De lá para cá, a opinião pública do papa com relação ao assunto, mesmo que não sendo exatamente a desejada por casais do mesmo sexo que procuram realizar seus casamentos de forma reconhecida pela Igreja Católica, se tornou mais branda, resultando no anúncio de hoje realizado pelo Vaticano.
Conclusão
Mesmo carregando ainda, em termos gerais, o mesmo tom conservador tão bem conhecido pela comunidade LGBTQIAPN+, as falas do papa Francisco falam em alto e bom tom que o mundo vem mudando e que, pelo menos no ponto de vista do pontífice apontado em 2013, há espaço para todos dentro do convívio secular.
Tais alegações são históricas, pois até muito recentemente eram inconcebíveis no âmbito da Igreja Católica, onde essa parcela cada vez maior e mais vocal da sociedade sempre foi descriminada e excluída. Por mais singelas que sejam essas falas públicas de Francisco, elas são o início de uma aceitação mais abrangente aos fiéis que sofrem por serem homossexuais mas que ainda buscam por respostas dentro dessa religião, o que não deixa de ser um tremendo de um marco histórico. Cabe ver o que o futuro reserva.
VEJA MAIS
Fontes: G1 [1], [2], [3] e [4]
Revisado por Glauco Vital em 18/12/23.
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