O uso da letra cursiva está com os dias contados?

O uso da letra cursiva está com os dias contados?

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A escrita digital tornou-se o novo normal e, consequentemente, colocou em cheque a necessidade do uso da letra cursiva. Entenda

A letra cursiva é uma ferramenta utilizada para desenvolver qualquer tipo de escrita manual e está diretamente relacionada ao processo de alfabetização das pessoas. Era muito comum que, dentre as atividades desenvolvidas pelas escolas, tivesse um tempo dedicado para o treino de caligrafia — método para o qual existia, inclusive, um caderno especializado para o exercício.

Mas, com o avanço da informática e com a exigência da prática de escrita digital na rotina de trabalho e estudos, a letra cursiva vai desaparecer?

O uso da letra cursiva está com os dias contados?
A prática da letra cursiva é uma das principais ferramentas de alfabetização. (Imagem: Deposit Photos)

Existem alguns especialistas que reforçam que o ensinamento da letra cursiva pode ser ineficiente. O motivo está relacionado ao fato de que muitas crianças com alto desempenho acadêmico muitas vezes são mais julgadas por não apresentarem uma escrita à mão bonita ou legível, do que gratificadas pelo raciocínio intelectual que desenvolveram. 

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A letra cursiva e o método anacrônico 

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Discute-se se a escrita manual pode ser substituída permanentemente pelos recursos digitais. (Imagem: Deposit Photos)

Outros acadêmicos concluem que a caligrafia em letra cursiva como ferramenta de ensino já não é mais uma habilidade essencial, afinal, com a existência de computadores e dispositivos tecnológicos, a escrita manual em lápis, papel e caneta acaba tornando-se uma atividade analógica e anacrônica.

O que parece ser apenas um detalhe, na verdade, é motivo de debate entre profissionais do âmbito da educação. O valor do ensino de escrita cursiva vem sendo reavaliado nos últimos anos. Em 2015, por exemplo, países como a Finlândia, além de alguns estados americanos, já se posicionaram em relação à possibilidade de o método manual ser excluído do ensino, visto que as ferramentas digitais estão se expandindo cada vez mais.

Consequentemente, ao tornar a escrita digital o novo normal no dia a dia, a dedicação ao ensino da letra cursiva e da caligrafia acaba sendo algo obsoleto para demandas que exigem atuação digital. 

Outro fator que contribui para a reavaliação do papel da letra cursiva na alfabetização — e no ensino em geral — está relacionado ao momento atual em que o mundo se encontra. Durante a pandemia, as instituições de ensino e empresas implantaram a atuação remota, portanto associando a caligrafia e a escrita à mão a apenas um ato mecânico não essencial. Assim, dando prioridade para o aprendizado de outras áreas e competências associadas ao uso de recursos digitais.

O papel cognitivo da letra cursiva

O uso da letra cursiva está com os dias contados?
O ator de escrever está diretamente relacionado com o aprendizado. (Imagem: Deposit Photos)

Ainda que “a letra cursiva vai desaparecer” seja uma opinião e um posicionamento muito forte entre os acadêmicos, há quem defenda o valor da escrita à mão em tempos de tecnologia em alta, alegando benefícios cognitivos para crianças e para aqueles que mantém o hábito.

De acordo com os estudos realizados pela professora de Psicologia Educacional, da Universidade de Washington, Virginia Beringer, praticar a escrita manual, formando letras, estimula a mente e auxilia as pessoas a prestarem atenção à linguagem. Beringer também pontua que “a caligrafia e a sequência dos traços envolvem a parte pensante do cérebro”, algo que pode ajudar a exercitar o raciocínio a longo prazo.

A professora explica ainda que os estudos iniciados com escrita manual têm o objetivo de formar as crianças como escritoras híbridas. Ou seja, o processo já conhecido de utilizar a letra de forma como exercício mecânico e de leitura como incentivo de reconhecimento das letras na educação infantil, além da fase seguinte do uso da letra cursiva para escrita e estruturação de texto. Tudo isso colabora diretamente com o maior entendimento da digitação ao adentrarem no ensino fundamental. 

Em entrevista ao UOL, a educadora Maria Helena de Moura Neves, professora de pós-graduação em letras da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e da Universidade Presbiteriana Mackenzie afirma em defesa da letra cursiva: “Quando você se põe a escrever, você não se põe a escrever pensando nas letras, você se põe a escrever pensando no sentido que você vai dar. Seus elementos são símbolos, são signos, são coisas mais compactas, com valor em si, e não fragmentos de sinais”, diz.

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Escrever à mão estimula resposta cognitiva do cérebro. (Imagem: Deposit Photos)

Como um complemento ao pensamento da professora Virginia Beringer, Maria Helena endossa a importância da letra cursiva ser apresentada às crianças, independentemente de usarem ou não após seu domínio. “Não digo que as pessoas não possam escrever à mão com letra de forma, ou digitar, mas não pode ser subtraído dela a oportunidade de ser apresentada a esse tipo de escrita”, disse ao UOL.

Um estudo publicado na Revista Nature, intitulado “Comunicação cérebro-texto de alto desempenho via escrita à mão” (“Hight performance brain to text communication via handwriting”) discorreu sobre o impacto do aprendizado de caligrafia no cérebro e sua importância cognitiva atemporal, por ser uma habilidade essencial a ser desenvolvida, ainda que o mundo esteja em um período de avanço tecnológico.

Portanto, de acordo com o estudo, o método da escrita em letra cursiva traz diversos benefícios. Dentre eles, está o exercício da continuidade de pensamento por meio dos traços uniformes ligados; a vantagem de fixar aprendizados ortográficos e a composição de palavras, frases e textos — fatores que auxiliam diretamente na concentração, na memorização e no foco —; e o auxílio na elaboração de textos mais coesos, algo que é indispensável.

O futuro da letra cursiva

É compreensível que esse questionamento venha à tona, ainda mais pelo contexto socioeducacional em que o mundo se encontra. Existe uma necessidade de repensar um método utilizado majoritariamente como exercício mecânico, ou seja, utilizado apenas para realizar cópias sem contexto ou reflexão alguma.

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Uma forma híbrida de estudo para conciliar a prática cognitiva e as demandas da tecnologia (Imagem: brightstars/Getty Images)

Ainda assim, de acordo com os estudos acadêmicos, é inegável sua importância cognitiva no desenvolvimento das crianças em âmbito escolar. Então, uma solução a ser trabalhada seria flexibilizar essa atividade com base na necessidade enfrentada — analisando caso a caso, e, principalmente, a demanda de cada aluno, sem esquecer que cada um tem uma forma aprendizagem particular e alguns precisam mais de métodos manuais que outros.

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Fontes: Revista Planeta, Nova Escola e UOL


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