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Todos sabemos que em 2020 tivemos pouquíssimas estreias nas maiores redes de cinemas pelo país. Muitas delas aconteceram até a metade de março, quando uma boa parte das salas já se encontravam fechadas, antecedendo o inevitável adiamento de filmes tanto por aqui como em solo norte-americano.
Porém, quem sentiu falta de um blockbuster este ano pode se contentar nestes últimos dias de 2020 com o lançamento tardio de Tenet, filme que mistura ficção científica e espionagem na dose certa. Dirigido por Christopher Nolan (de Interestelar e Batman: O Cavaleiro das Trevas), o filme já é exibido nos cinemas ao redor do Brasil e chegou no dia 22 deste mês às plataformas nacionais de aluguel digital, via compra. A seguir, saiba mais sobre este espetáculo e como assisti-lo.
Sinopse e elenco
John David Washington interpreta o protagonista de Tenet, em uma história que se baseia na fórmula clássica de filmes de espião. Junto a ele, aprendemos como o tempo funciona neste universo e como pode ser manipulado. Por meio da explicação de leis básicas, logo compreendemos a estrutura do filme, que tem mais de uma linha do tempo simultânea. Ao decorrer da duração de Tenet, somos levados a digerir ainda melhor estas leis e temos um “norte” mais transparente a respeito do rumo da história.
Então conhecemos Neil (Robert Pattinson), parceiro do protagonista, que ajuda-o a tentar evitar uma grande guerra a ser instaurada por Andrei Sator (Kenneth Branagh). Dali em diante, a inversão do tempo torna-se o grande foco e, de certa forma, a arma principal destes agentes secretos. No elenco ainda há nomes fortes e rostos conhecidos, como Aaron Taylor-Johnson, Michael Caine e Elizabeth Debicki. Sem exceção, todos atuam com maestria e representam personagens bastante críveis, ainda que a estrela do filme seja outra.
“Selo Nolan” de qualidade
Esta proposta audaciosa, Christopher Nolan pega emprestado um pouco da complexidade que o diretor aplicou em outros projetos. Amnésia (Memento) é um deles, onde temos o filme contado na ordem reversa: vemos blocos de alguns minutos, começando pelo final, intercalados em trechos curtos de ordem cronológica para ligarmos todos os pontos. Pegando o conhecimento do protagonista, o espectador precisa estar sempre atento a tudo o que acontece se quiser entender o longa por completo.
Mesmo que mais fácil de tragar que Amnésia, Tenet supera a A Origem (Inception), onde bastava você “aceitar” que tudo estava distribuído entre diversas camadas de um sonho. É propositalmente confuso pela primeira hora, até você começar a entender como funcionam estas viagens temporais da dupla de agentes. Ao mesmo tempo, Tenet deixa um pouco a desejar em termos de ação dentro do gênero de espionagem/sci-fi, no que A Origem, por comparação, atende qualquer expectativa.
A complexidade (e surpresa) dos momentos de ação de Tenet fica na base do conceito. Em certo momento, vemos o protagonista lutar corpo-a-corpo com um antagonista, que por sua vez está na linha temporal contrária. Toda a coreografia da luta, que “vai e vem” simultaneamente, confunde até os mais experientes em artes marciais. Em outros momentos, a ação é mais direta: somos recompensados com explosões, troca de tiros e perseguições de carro.
Pessoalmente, o filme não está entre os melhores do diretor em termos de história. Quem já viu os últimos títulos da franquia Missão Impossível e os 007 modernos, bem como outros filmes do próprio Nolan, pode se desapontar com o quão básico é o enredo. Em contraste, enquanto filme solo independente de franquias e enquanto blockbuster “caseiro” em pleno final de 2020, o longa vale bastante a pena.
Então, assim que você compreende as regras e leis do universo de Tenet, talvez reste pouco a se pensar sobre a jornada em si. Fato é que esta foi sempre a intenção, pois os personagens raramente são tratados pelo nome e funcionam mais como peças do quebra-cabeça do que como foco da narrativa não-linear que nos é apresentada. Por sinal, o bom de ter o longa em aluguel/compra digital é poder assistir mais uma vez assim que você terminar, sem pagar um adicional por isso – algo impossível no cinema.
Visual e trilha sonora
Lutas e perseguições em sincronia ao tempo reverso resultam em uma técnica incomparável ao assistirmos o filme. Em termos de montagem, Tenet supera até mesmo o propositalmente “intercalado” Dunkirk, outro do Nolan. Ao invés da guerra dividida em três tempos distintos, aqui temos o conflito cronológico como obstáculo principal para compor os acontecimentos.
Em equilíbrio de efeitos práticos e visuais (explosões reais e outras no computador), a composição reversa demonstra o grande trabalho por parte da equipe de edição. O ritmo acelerado e a constante mudança de cenários conseguem entreter, afinal, este ainda é um filme de ficção científica. Para um gostinho do que esperar para ver em Tenet, o trailer:
Abandonando pela primeira vez a parceria com Hans Zimmer, que foi compor as músicas de Duna, Christopher Nolan confiou a Ludwig Göransson para guiar Tenet. O compositor sueco é responsável pela abertura icônica de Mandalorian (série de Star Wars na Disney Plus) e venceu o Oscar por seu trabalho em Pantera Negra, carregando consigo todo o crédito por sua imersiva trilha sonora aqui.
Tendo visto os últimos filmes do diretor, criador de uma identidade visual e sonora marcantes, você talvez nem perceba que trata-se de outro criador de músicas. Isso só reforça o quão harmoniosa foi a nova parceria.
Uma crítica comum que Tenet tem recebido em terras norte-americanas é a mixagem de som, pois junto da estreia nas telonas ele supostamente teve a trilha sonora alta demais em certas cenas, o que impediu muita gente de compreender simples diálogos entre personagens. Isso persiste na versão digital mas, por sorte, em terras brasileiras podemos conferi-lo com legendas no nosso idioma nativo, sem perder nenhum detalhe.
Afinal, o que significa Tenet?
O poético título do filme tem como tradução: “um princípio ou crença, especialmente um dos principais princípios de uma religião ou filosofia” ao traduzirmos do inglês. Porém, a palavra TENET também é um palíndromo – ou seja, pode ser soletrada da mesma forma ao contrário. Com isso, podemos entender um pouco do que se trata a estrutura narrativa a partir de uma única palavra. Há um ponto central e, a partir dali, podemos “ler” o filme nos dois sentidos, tanto na ordem cronológica exibida a nós como na ordem reversa, pelo que acontece dentro daquele universo.
Um fato curioso, de sutil referência, é tratando-se do idioma original do filme. Sem a necessidade de spoilers relacionados ao contexto da cena, mas temos um momento específico de Tenet onde contam-se dez minutos tanto para quem está “indo” como “voltando” no tempo. O jogo de palavras acontece ao sabermos/lembrarmos que 10 em inglês é “TEN”. Logo, temos o título escondido TEN (lido para frente) e NET (lido ao contrário).
“TENET” ainda é a palavra central do quadrado Sator, também chamado de “quadrado mágico”, um palíndromo com quatro simetrias encontrado em diversos países europeus há mais de um século. Não importa a direção lida, as palavras serão sempre as mesmas cinco. Não por coincidência, todas estão em Tenet de alguma forma: SATOR é o sobrenome do vilão da história; AREPO é o personagem forjador de uma obra de arte; há a National OPERA House como cenário no início do longa e a companhia de segurança ROTAS em uma das cenas mais intensas do filme.
Dentre várias intepretações e potenciais teorias da conspiração envolvendo o filme, basta ver para compreender o que Tenet significará para você. Na capital paulista, os cinemas já exibem o filme desde as primeiras semanas da abertura de algumas redes, onde a estreia foi em 29 de outubro. Desde 22 de dezembro (última terça-feira) ele entrou nas plataformas YouTube, SKY Play, VIVO Play, Google Play, Apple TV e Uol Play, em resolução 4K a partir de R$19,90 por aluguel.
E aí, assistiu Tenet nos cinemas ou verá no conforto de casa? Conte para a gente nos comentários abaixo!
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