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Há poucos dias do lançamento de The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom, a Nintendo, visando evitar que jogadores impacientes mundo afora joguem o maior lançamento do ano da empresa em emuladores do Switch graças à pirataria, tomou atitudes mais sérias contra os chamados piratas e emuladores.
Como esse bafafá todo começou
Semana retrasada, arquivos do jogo – de longe o mais esperado por fãs da franquia The Legend of Zelda e donos de Switch no mundo inteiro – começaram a pipocar na Internet, por meio de cópias físicas que acabaram vendidas antecipadamente por lojas que quebraram a data de embargo para a venda de The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom.
Com isso, o esperadíssimo game, com lançamento previsto para a próxima sexta-feira, dia 12 de maio, acabou caindo nas mãos de jogadores, que, por meio de emuladores de Nintendo Switch, começaram suas jornadas nos céus de Hyrule muito antes da hora, alguns até transmitindo o feito ao vivo pela Twitch. E pior, ilegalmente, já que fizeram isso por meio de arquivos distribuídos de forma ilegal, obviamente sem a aprovação da gigante nipônica.
O vazamento gerou bastante burburinho em blogs especializados em tecnologia e na comunidade gamer, não só pelo acesso antecipado por parte de usuários de emuladores, mas também devido ao fato de The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom aparentemente rodar muito melhor dessa maneira do que no próprio hardware do Switch, para o qual o jogo foi projetado para ser utilizado.
Em meio à cobertura pré-lançamento que pintou na rede semanas atrás, a impressão foi de que o mais novo título da série estrelada pelo lacônico herói Link – pelo menos no que foi possível ver nos vídeos da versão disponibilizada aos jornalistas convidados a participar do evento de testes realizado mês passado em Nova York – aparentemente sofre de quedas de framerate durante momentos mais caóticos de jogo.
Lembrando que o portátil recentemente entrou em seu sexto ano de existência, e que mesmo em 2017, quando foi lançado, já não possuía componentes dos mais potentes, utilizando-se de uma versão modificada do chipset de CPU Tegra Maxwell, muito popularmente utilizado em tablets e smartphones. O próprio antecessor de Tears of the Kingdom, The Legend of Zelda: Breath of the Wild, jogo de lançamento do Switch, apesar do alto nível de direção de arte, contando com belíssimos gráficos, já mostrava as limitações do então novo aparelho da Big N.
No decorrer dos anos desde então, mesmo com ports milagrosos de títulos parrudos de desenvolvedores third party, ou seja, fora do guarda-chuva empresarial Nintendo e que também trabalham em jogos para outros consoles da concorrência, como DOOM e DOOM Eternal (Bethesda), além de The Witcher 3: The Wild Hunt (CD Projekt Red), era inegável a diferença de poderio do Switch, visto o quanto aquém os gráficos deles acabaram ficando no aparelho, mesmo mantendo a jogabilidade intacta em comparação aos outros consoles e, é claro, ao PC.
A bola de neve vai aumentando…
Não demorou para a Casa dos Cogumelos agir e tentar evitar que seu monumental jogo fosse curtido antecipadamente e de forma no mínimo dubiamente ética. A fama da agressividade da titã de Kyoto é pra lá de conhecida quando o assunto é o uso indevido de suas propriedades intelectuais, mas nem sempre acaba direcionando sua fúria a quem de fato é o verdadeiro responsável pela dor de cabeça gerada.
Mas, desta vez, ela acabou acertando. Simon Aarons, renomado hacker responsável por inúmeros destraves da tecnologia de trava de cópias projetados pela Nintendo no decorrer de mais de vinte anos de carreira e mantenedor de um repositório chamado Lockpick para diversas ferramentas de hackeamento, foi indiretamente o alvo de um processo da empresa.
Citando a seção 1201 do DMCA, ela entrou com um processo exigindo a remoção imediata de Lockpick, Lockpick_RCM e outras oitenta ferramentas utilizadas para a quebra da trava de proteção de software e jogos do portal Github, uma das maiores hospedagens de código-fonte e arquivos relacionados à programação. Inevitavelmente, vira e mexe, cai no centro de “escândalos” como este do novo Zelda, afinal, muito do que é postado no site é de natureza cinza quanto ao potencial de uso, batendo de frente com protocolos legais como o DMCA.
A ação cita diretamente a ferramenta Lockpick como exemplo de uso ilícito, sendo utilizada para burlar a proteção projetada no hardware do Switch, que, antes do hack, serve para que o console rode somente “arquivos de videogame legítimos da Nintendo”, permitindo que usuários utilizem a criptografia de seus aparelhos para que rodem “versões pirateadas de jogos protegidos contra cópia” da empresa da terra do sol nascente.
O repositório Github conta com uma política de manutenção de ferramentas de programação de hack, mesmo que eles estejam envolvidos em ações como as movidas pela Nintendo contra o programa criado por Aarons e que seus criadores ainda estejam recorrendo contra elas.
Mas o processo movido com relação ao uso antes do tempo e do vazamento de The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom acabou repercutindo mesmo assim, exercendo influência sobre desenvolvedores independentes como o grupo por trás de Skyline, um emulador de Switch para o Android, que, por consequência do caso, desistiu de continuar com o projeto durante o final de semana, com medo de ficar na mira dos advogados do lar do Super Mario. Isso ocorreu pelo fato de que seu programa pode ser usado para rodar cópias digitais de jogos obtidos ilegalmente pela Internet, um gancho deveras comum em casos como esse.
Por mais que a maioria dos desenvolvedores insistam que seus emuladores são disponibilizados sem o intuito de rodar jogos comercialmente disponíveis, o simples fato de existirem inevitavelmente os coloca na mira da Nintendo e dos outros gigantes do ramo. Outros desenvolvedores de emuladores do console para celulares afirmaram que vão continuar ativos, e mesmo com a desistência do grupo criador dele, o Skyline é um programa com código aberto e nada impede a possibilidade de que outros assumam seu desenvolvimento daqui para frente.
Entendendo o que é o DMCA e por que gera tanta treta
Aprovada em 1998 pelo governo dos Estados Unidos, o DMCA é o famigerado e pouco popular Digital Millennium Copyright Act (ou Ato de Proteção de Dados do Milênio, em tradução grosseira ao português), projetado para evitar a contra programação e quebra de medidas de proteção de dados e propriedade intelectual com fins de distribuição fora do sistema.
É a principal causa por trás de muitos dos casos de remoção de conteúdo criativo por parte de todo tipo e tamanho nos meios de comunicação, principalmente a Internet, pelo YouTube, Twitch, etc. A principal razão de ser tão desprezado por criadores de conteúdo ou simplesmente por entusiastas amadores é que muitas vezes o DMCA acaba sendo usado como desculpa por não-detentores do produto em questão com o intuito de prejudicar usuários que estão usando a obra em questão para fins sem ganho financeiro.
A controvérsia do DMCA não tem data para acabar, afinal, a acreditação pela fonte de obras geradas a partir de produtos comerciais não é uma questão que nasceu com o surgimento da Internet. É algo que sempre existiu e existirá enquanto houver artistas e fãs que desejam exibir sua paixão por um produto comercial e/ou criativo por meio de suas criações influenciadas ou baseadas neles.
E, é claro, há a questão da ilegalidade quando se trata de produtos digitais e sua distribuição fora do campo em que gera capital para a empresa detentora dele, o que, visto por empresas como as de videogame, não é algo nem um pouco desejável. O vazamento e a consequente utilização de cópias obtidas de modo dúbio sempre será pano para a manga para a acalorada discussão, enfim, por mais que elas queiram o contrário, é praticamente impossível evitar que proteções, independente do quanto elaboradas se tornem, acabem burladas de uma maneira ou outra.
A luta eterna entre Nintendo e Pirataria
Vale lembrar que desde sempre a pirataria é uma tremenda dor de cabeça para a Nintendo. A empresa japonesa fundada no século XIX, que teve seu início como fabricante de cartas de baralho do tradicional jogo hanafuda e entrou no ramo de brinquedos e eventualmente se tornou um dos maiores nomes da indústria dos video games, enfrenta o “mercado alternativo” de seus produtos por mais que tente desenvolver meios de evitar que cópias não autorizadas deles sejam produzidas.
Na era do Famicom, conhecido como o NES 8-bits fora do Japão, o queridíssimo “Nintendinho”, a pirataria rolava solta. Muitos dos que viveram nessa época devem se lembrar das muitas “fitas” que circulavam Brasil afora, vindas da China através do Paraguai, que prometiam 99 jogos na memória, por exemplo. Com os consoles que sucederam ao Nintendinho, a coisa não foi muito diferente, por mais que a fabricante japonesa tentasse evitar.
Com a chegada tardia nos formatos de disco, a situação para ela não ficou mais fácil; ao contrário, ficou ainda pior, pois era ali que a pirataria já vinha rolando desde sempre, pelo custo baixo da mídia de gravação. Mesmo com um formato exclusivo de discos em tamanho pequeno com o GameCube, não conseguiu fugir da briga e seus jogos continuaram a ser copiados e disponibilizados a todos que os baixassem e gravassem, até em suas próprias casas.
Quando finalmente voltou a focar unicamente em cartuchos com o Switch, cuja tecnologia que nas décadas desde a geração 8-bits passou por uma melhora significante a ponto de haver muito menos “fitinhas” da marca do Jack Sparrow por aí, o estrago já tinha sido feito. A disseminação da Internet e o crescimento de grupos de hackers tornou a vida dos programadores e desenvolvedores da Big-N um inferno constante, um verdadeiro gelo que nunca seca.
Conclusão
Vamos ser sinceros: o episódio do vazamento de The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom não é a primeira e nem será a última briga que a Nintendo comprará com grupos de hackers a vazadores. Enquanto houver a divisão entre jogadores que se negam a pagar o preço pedido por ela – e nisso não entramos na discussão se ele é justo ou não, é conversa para outro dia – e que, independentemente de suas razões, acabam recorrendo ao mercado cinza, e aqueles que não, essa questão sempre será pauta fresca para discussão e como resultado, muita confusão.
Do jeito que tudo segue, nem todos os lutadores de Smash Bros. juntos seriam capazes de colocar um ponto final nisso, pior ainda os juristas, os advogados ou os executivos da Big N, por mais que eles queiram o contrário…
Flutue graciosamente até a Showmetech e descubra ainda mais conteúdo sobre Zelda e outros games:
O que esperar de The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom
Fonte: Ars Technica
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