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Muitas disputas já tomaram a atenção das pessoas no decorrer dos anos, e há sempre dois lados vorazes que juram que estão certos, enquanto os outros, não. Dentre essas batalhas, está o devido crédito a quem inventou o avião de fato.
A briga do século pelo posto de inventor do avião
Facilmente a forma de transporte mais conveniente e veloz da atualidade, a aeronave é uma maravilha da ciência, e é facilmente a invenção que mais revolucionou a sociedade moderna. Ela encurtou a distância entre povos, possibilitando também o transporte não só de produtos para lugares mais isolados em menos tempo, como também da informação.
No Brasil e em muitos lugares do mundo, o crédito pela façanha recai sobre os ombros de Alberto Santos-Dumont, brasileiro que vivia em Paris, na França, onde, em 12 de novembro de 1906, alçou voo em um curioso aparelho que lembrava uma pipa, apelidado de 14-Bis. Mas tal acontecimento foi contestado pouco tempo depois por dois irmãos norte-americanos.
Oriundos de Ohio, nos Estados Unidos, os nomes de Wilbur e Orville Wright vieram à tona após o anúncio ao mundo do sucesso de Santos-Dumont com sua própria aventura, que supostamente aconteceu três anos depois. A bordo de sua própria aeronave, a Flyer, desenvolvida pelos dois, alçaram voo em Kitty Hawk, na Carolina do Norte, em dezembro de 1903.
O feito ocorreu sob o olhar de poucos espectadores e não foi filmado, enquanto que o voo do inventor brasileiro realizou-se por meio de recursos próprios e a 2 a 3 metros do chão, percorrendo 60 metros até aterrissar 7 segundos depois, além de ser registrado em filme e testemunhado por uma multidão de mais de mil pessoas em Bagatelle, nos arredores de Paris.
O que um lado diz…
Esse é o ponto em que a briga fica feia, a definição do que de fato é um voo a bordo de avião. Para especialistas como Henrique Lins de Barros, fisicista e conhecedor a fundo dos feitos de Santos-Dumont, o feito dos Wrights em 1903 não chegou a ser um voo, e sim um salto prolongado.
Segundo ele, o aviador brasileiro conseguiu levar aos ares o 14-Bis por força de sua própria aeronave, percorrendo um plano de curso predeterminado sob o olhar das testemunhas presentes.
O ímpeto do voo partiu do aparelho e não foi auxiliado por alguma força externa, como uma catapulta e trilhos, ou por inclinação de terreno, como uma ladeira. Auxílios como esses, o historiador conta, foram fundamentais no êxito dos irmãos Wright em levar sua embarcação deveras mais pesada que o 14-Bis de Dumont ao ar.
Lins de Barros leva em conta os fatores que contribuíram com o suposto sucesso dos irmãos Wright, dizendo que fortes ventos na ocasião também os ajudaram a levantar e sustentar voo e que não houve provas de que seu avião pudesse decolar por si só, o que levaria à sua desqualificação como primeiro voo da história.
O outro rebate…
No outro lado da briga, Peter Jakab, chefe da divisão de aeronáutica no Museu Nacional do Voo e Espaço em Washington e especialista dos irmãos inventores, é veemente contrário às afirmações do especialista de Santos-Dumont. Ele afirma que tais constatações são ridículas.
Segundo Jakab, Lins de Barros pode ser facilmente desmentido pelo fato de que os Wrights realizaram diversas experiências com seu avião, aperfeiçoando sua tecnologia, até um ano antes do primeiro voo de Santos-Dumont.
Em um deles, surpreendentemente, foi constatado que eles percorreram 39 quilômetros no ar em um espaço de 40 minutos. Jakab rebate as acusações de Lins de Barros, dizendo que “mesmo em 1903 o avião [dos Wrights] se manteve no ar por quase um minuto. Se ele não estivesse se mantendo por força própria, não teria conseguido ficar acima do chão por tanto tempo.”.
Até no segundo lar de Santos-Dumont, na França, os irmãos Wright são considerados os primeiros aviadores da história, à frente do aventureiro brasileiro. Claude Carlier, o diretor do Centro Francês da História da Aeronáutica e Espaço, assina embaixo.
A briga continua a dividir opiniões
Em matéria para a CNN, o bisneto de Santos-Dumont, Marcos Villares, compartilhou sua opinião sobre o assunto:
Há uma forte contenda nacionalista acontecendo aqui. O voo é um passo importantíssimo na história da humanidade, na evolução da tecnologia. Todos os países querem tomar para si a prioridade [da invenção do avião.]
Ambos os lados da questão simplesmente só concordam em discordar, e isso tudo é graças à indefinição do que realmente pode ser considerado um voo e quem chegou a fazê-lo primeiro. Já que ninguém consegue chegar a um lugar comum, parece que nunca haverá uma solução que resolva de uma vez por todas essa contenda, pelo menos não de um modo que satisfaça apoiadores dos dois lados da discussão.
Recentemente, uma homenagem realizada pela NASA ao esforço de Wilbur e Orville Wright novamente reacendeu a controvérsia do crédito pela invenção do avião. Isso ocorreu quando a agência espacial dos Estados Unidos anunciou o nome do local em que o helicóptero Ingenuity fez seu voo motorizado inaugural na superfície de Marte, que aconteceu no dia 19 de abril de 2021.
A missão, cujo objetivo é coletar dados sobre a superfície de Marte, segue firme graças ao funcionamento do aparelho após o teste inicial. Com ele, a NASA torce para buscar e encontrar sinais de vida microbiana no planeta vermelho.
O nome dado ao local do teste foi “Wright Brothers Field”, ou Campo dos Irmãos Wright, em tradução ao português. A agência espacial tuitou o comentário de seu chefe, Thomas Zurbuchen, sobre a homenagem aos inventores norte-americanos:
Campo dos Irmãos Wright. É esse o nome do local em que o #MarsHelicopter alçou seu primeiro voo, e é em homenagem aos pioneiros Orville e Wilbur Wright. É o que diz nosso chefe de missões científicas da NASA @Dr_ThomasZ.
O único fato em que todos concordam é que sem os esforços desses e de outros pioneiros da aviação, não teríamos o que hoje é um dos modos mais rápidos e seguros de locomoção.
O avião é uma ferramenta poderosíssima que trouxe à humanidade muitos benefícios, e apesar de ter tido um papel de peso em muitas tragédias, como nas diversas guerras no decorrer da história, seu uso em prol da sociedade em muito compensa a sua capacidade de uso como causador de destruição.
Não seríamos o que somos hoje sem aeronaves, e temos muito o que agradecer aos heróicos esforços dessas figuras importantíssimas que tiveram papel fundamental em sua criação.
Um pouco mais sobre os visionários aviadores
Alberto Santos-Dumont nasceu no dia 20 de julho de 1873, em Cabangu, Minas Gerais. Membro de uma família abastada de cafeicultores, mudou-se para a França quando jovem a fim de estudar engenharia. Em um voo de balão realizado em 1898, desanimado por não poder guiar diretamente o curso do balão, ele acabou se inspirando no passeio para criar um modo de realizar um voo controlado.
Isso aconteceu no dia 19 de outubro de 1901, quando ele ganhou um prêmio graças à sua invenção, o número 6, um dirigível, o primeiro veículo desse tipo criado no mundo, que ele usou para contornar a Torre Eiffel em uma viagem de menos de trinta minutos.
Apesar do sucesso de seu dirigível, seria outra máquina voadora, dessa vez ainda mais pesada que o ar, que viria a estampar seu nome nos livros de história cinco anos depois. Santos-Dumont, além de precursor da aviação mundial, também veio a ser conhecido como projetista de relógios de pulso e fez parceria com a prestigiada marca francesa Cartier, com um desenho que é até hoje usado em modelos da empresa.
Eventualmente, o inventor brasileiro voltou ao seu país de origem em 1928, onde foi recebido como um herói nacional, e veio a falecer quatro anos depois, em Guarujá, no litoral paulista.
Wilbur Wright nasceu em 16 de abril de 1867 em Millville, Indiana, enquanto que seu irmão, Orville, veio ao mundo no dia 19 de agosto de 1871, em Dayton, Ohio. O par de irmãos viram-se fascinados por um presente de seu pai, um bispo itinerante da igreja batista, na forma de um helicóptero de brinquedo, baseado em uma das invenções de um dos pioneiros da aviação, o francês Alphonse Penaud. Era feito de bambu, papel e cortiça, sustentado por um fio de borracha, que por sua vez fazia girar o seu rotor.
De tanto brincar com a frágil reprodução do conhecido veículo, os pequenos Wrights acabaram quebrando-o, mas isso não os impediu de construir outro por conta própria. O brinquedo os levou a se interessar nos estudos e eventual trabalho como inventores.
Apesar de ter sido Wilbur o primeiro a tomar a iniciativa no desenvolvimento da tecnologia que desembocou na criação do Flyer, Orville teve participação ativa e compartilhou com o irmão os créditos de praticamente todas as invenções do par. Além de estarem na disputa pelo título de inventores do avião, os Wrights contribuíram para o sistema de controle em três eixos, permitindo maior equilíbrio e estabilidade da aeronave, com sua patente.
Mas nem tudo foi flores e sorrisos no trajeto desses pioneiros da aviação. Em uma das apresentações de voo dos irmãos, realizada no dia 17 de setembro de 1908, um convidado, Thomas E. Selfridge, tenente das forças armadas do país, acabou morto na queda de um biplano guiado pelo irmão Wright mais novo. O acontecido não abalou os irmãos, apesar dos ferimentos sofridos por Orville no acidente. Os dois continuaram com seus experimentos, melhorando a confiabilidade e eficiência de suas aeronaves.
Em 30 de maio de 1912, Wilbur Wright veio a falecer em Dayton, por decorrência da febre tifóide, aos 45 anos. Orville continuou liderando a empresa dos irmãos após a morte de Wilbur, e foi fazer companhia a seu irmão no cemitério de Dayton no dia 30 de janeiro de 1948, por conta de um ataque cardíaco. Curiosamente, o guarda-costeiro John T. Daniels, autor da famosa foto do primeiro voo dos Wrights, morreu no dia seguinte à morte de Orville.
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Fontes: CNN, Ebiografia, Poder360 e Wikipedia [1] [2]
Revisão do texto feita por: Pedro Bomfim (24/03/23)
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