Startup orchid bebe geneticamente selecionado

Startup Orchid aposta em bebês geneticamente selecionados

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Empresa oferece sequenciamento de genoma para embriões, permitindo selecionar aqueles com menor propensão a doenças. Entenda!


Imagine iniciar o processo de fertilização in vitro (FIV) e descobrir que sua clínica tem parceria com a Orchid, uma startup de tecnologia reprodutiva que oferece análise do DNA de seus embriões? Essa análise permite que você escolha qual embrião possui vantagens para ser implantado.

A startup de tecnologia reprodutiva, que atua no campo da reprodução assistida, recentemente lançou uma proposta inovadora: o sequenciamento de genoma para embriões. A seguir, o Showmetech apresenta detalhes sobre a proposta da empresa e discussões em torno dos bebês geneticamente selecionados, abordando questões éticas, científicas e sociais.

A proposta da Orchid

A Orchid anunciou recentemente que está oferecendo o sequenciamento completo do genoma para embriões, visando fornecer aos pais em potencial e seus médicos informações que poderiam tornar as gestações mais saudáveis e bem-sucedidas. A empresa está presente em várias grandes cidades dos Estados Unidos e oferece relatórios de saúde que consideram 99% do genoma do embrião.

A capacidade de ler mais de 99% do DNA de um embrião é inovadora.

George Church, geneticista e químico.
Tecnologia reprodutiva recebe grandes avanços.
Tecnologia reprodutiva recebe grandes avanços. Imagem: Orchid.

Durante o processo, a startup sequencia o genoma do embrião e realiza um exame para encontrar variantes ligadas a mais de 1.200 distúrbios monogênicos, causados por uma única variante genética. Além disso, eles analisam o risco de desenvolvimento de distúrbios poligênicos, mais difíceis de prever devido aos efeitos de múltiplos genes.

Apesar de alguns pesquisadores, como Church, apoiarem a proposta, outros estão preocupados com a Orchid e outras empresas que oferecem escores de risco para doenças poligênicas, quando não está claro o quão precisos esses dados são.

Parte da minha preocupação é o quão sincera [a Orchid] é ao aconselhar os pais sobre o provável benefício desses procedimentos

Peter Kraft, professor de epidemiologia em Harvard.

Embora a startup tenha compartilhado informações validando a técnica usada para sequenciar os genomas dos embriões no servidor de pré-impressão bioRXiv, não foi confirmado que essas informações resultarão em gestações ou bebês mais saudáveis.

Noor Siddiqui, CEO e fundadora da Orchid, contesta a ideia de que sua empresa não deveria fornecer as informações genéticas que é capaz de coletar para os seus clientes.

A maneira como você pode usar essas informações realmente depende de você, mas ela oferece muito mais controle e confiança a um processo que, durante toda a história, sempre foi totalmente deixado ao acaso.

Noor Siddiqui, fundadora e CEO da Orchid

Siddiqui também afirma que os métodos envolvidos nos procedimentos da Orchid estão detalhados em um artigo científico que ainda não foi publicado. Shai Carmi, geneticista estatístico da Universidade Hebraica e afiliado à empresa, explica que a técnica de genoma completo possibilita a detecção de mutações que nenhum dos pais carregava e, assim, não poderiam ser detectadas por triagem pré-gravidez.

O novo método de seleção de embriões representa um dos maiores impactos do sequenciamento do genoma humano até o momento, conforme enfatiza George Church, professor de genética em Harvard. Com essa inovação, a empresa oferece uma abordagem avançada para auxiliar os pais na seleção de embriões com base em informações genéticas.

Orchid revoluciona a tecnologia reprodutiva.
Orchid revoluciona a tecnologia reprodutiva. Imagem: Reprodução

Críticos levantam preocupações éticas sobre o uso dessas tecnologias para a seleção de características específicas em embriões. Alguns pesquisadores questionam a precisão e a validade dos resultados oferecidos pela Orchid.

Essas discussões destacam a importância de um debate ético e regulatório abrangente sobre o uso dessas tecnologias emergentes no campo da reprodução assistida. Embora ofereçam promessas de benefícios potenciais, é fundamental considerar cuidadosamente os aspectos éticos, sociais e legais envolvidos na seleção genética de embriões.

Diferenças entre a Fertilização in vitro (FIV) e pré-implantação (PGT)

Seleção de embriões é feita em clínicas de fiv.
Seleção de embriões é feita em clínicas de FIV. Imagem: Reprodução

A infertilidade afeta cerca de 1 em cada 6 casais ao redor do mundo, levando muitas pessoas a recorrerem à fertilização in vitro (FIV) como uma alternativa para conceber. Neste procedimento, os médicos fertilizam os óvulos com espermatozoides em laboratório, resultando na formação de embriões que serão transferidos para o útero para se desenvolverem. Em muitos casos, os óvulos e espermatozoides utilizados são dos próprios indivíduos em busca de conceber, embora doações também sejam comuns.

Embora a FIV aumente as chances de sucesso para casais inférteis, não há garantias de que o procedimento resultará em uma gravidez bem-sucedida. Além disso, é um processo dispendioso, com custos que podem chegar a US$ 12.400 nos Estados Unidos e entre R$ 15.000 a R$ 20.000 no Brasil, e muitas vezes requer múltiplos ciclos antes que uma gravidez seja alcançada.

O teste genético pré-implantacional (PGT) permite que os embriões sejam examinados antes da implantação no útero, identificando possíveis variantes genéticas que poderiam causar complicações na gravidez ou aumentar o risco de distúrbios genéticos no bebê. Isso oferece aos futuros pais a oportunidade de selecionar embriões considerados mais saudáveis com base em informações limitadas, pois o sequenciamento abrange menos de 1% do genoma do embrião.

Fundadora da Orchid utiliza tecnologia genética em si mesma

Ceo da orchid aplica método em si mesma.
CEO da Orchid aplica método em si mesma. Imagem: Reprodução

Aos 25 anos de idade, Noor Siddiqui lançou sua startup médica. Agora que o produto de aprimoramento genético está disponível, ela tornou-se uma das primeiras clientes. Embora ela e seu marido sejam férteis, Siddiqui passou por FIV em Stanford, obtendo como resultado 16 candidatos cujos pequenos fragmentos representativos foram enviados ao laboratório da Orchid.

Até o momento presente, a empresa, inaugurada recentemente, conta com 16 funcionários, US$12 milhões em financiamento e está presente em mais de 40 clínicas de FIV, com milhares de clientes.

Atualmente, a Orchid está operando exclusivamente em clínicas de FIV nos Estados Unidos. O custo por embrião para o sequenciamento completo do genoma é de US$ 2.500, além das taxas padrão cobradas pela clínica de FIV. Convertendo para reais brasileiros, esse valor equivale a aproximadamente R$ 12.667,01.

A CEO da startup de tecnologia reprodutiva enfatiza que a empresa tem como objetivo reduzir os custos dos relatórios genéticos à medida que avança, tornando essa tecnologia mais acessível para um número maior de pessoas em busca de tratamentos de fertilidade avançados.

Seleção de embriões levanta questões éticas

A seleção de embriões levanta uma série de questões éticas complexas. Segundo uma pesquisa recente da Universidade de Harvard, cerca de dois terços dos norte-americanos consideram passar pela FIV para ter acesso a essa forma de triagem genética, enquanto três quartos expressam preocupações de que tais testes possam representar uma forma de eugenia, buscando aperfeiçoamento genético semelhante ao defendido pelos nazistas no século XX.

Designer babies geram discussões
Designer babies geram discussões éticas. Imagem: Freepik

O uso de testes genéticos pré-natais humanos tem sido amplamente implementado por décadas. No entanto, o uso da triagem genética no estágio pré-implantação junto com a FIV é controverso. Embora seja convencionalmente usado para evitar a seleção de embriões com anormalidades mendelianas, usar o PGT para facilitar a edição genética do embrião é proibido.

Os futuros pais, ao escolherem embriões sem risco genético, teoricamente têm a opção de configurar uma criança com mais inteligência, força ou beleza. O ACMG, no entanto, adverte que os escores relacionados a essas triagens podem ser imprecisos e exigir procedimentos perigosos. Embora sua justificativa tenha foco médico, ela não oferece orientação ética suficiente caso os obstáculos médico/científicos sejam superados.

Existem várias preocupações com o uso da triagem genética pré-implantação. Por exemplo, os dados utilizados são frequentemente baseados em populações de pesquisa, como europeus brancos, e podem não ser aplicáveis à diversidade cultural do mercado. Além disso, os riscos não são puramente genéticos e podem ser altamente influenciados por fatores externos imprevisíveis.

O ACMG convida as comunidades ética e legal para uma reflexão, reconhecendo que sua revisão não abordou as preocupações relevantes levantadas. A introdução dessa tecnologia para selecionar os chamados designer babies é vista como eticamente questionável por muitos, dada a falta de uma base estrutural específica para determinar o que é ético nesse contexto.

As empresas promovem seus serviços diretamente aos consumidores e prometem ‘triagem avançada de embriões’ para diversas condições. Há preocupações significativas, que tornam tais reivindicações suspeitas e a introdução dessa tecnologia para seleção de embriões, eticamente questionável

Alex Polyakov, professor associado clínico, da Faculdade de Medicina na Universidade de Melbourne

Dentro desta perspectiva, empresas que oferecem triagem genética avançada de embriões diretamente aos consumidores levantam preocupações significativas. Muitos bioeticistas se opõem a essas práticas, como Julien Savulescu, que anteriormente defendia a escolha dos “melhores” filhos pelos pais, mas agora limita seu apoio a pais que usam FIV devido à infertilidade.

Filme gattaca trazz a tona experiências genéticas.
Filme Gattaca traz à tona experiências genéticas. Imagem: Reprodução.

O debate sobre a ética da seleção de embriões lembra o enredo do filme Gattaca, que explora um futuro distópico em que o Estado controla aspectos da vida social e qualidade genética, resultando em novas formas de preconceito e divisões sociais baseadas em castas genéticas. No filme, a genética é retratada como uma ciência do poder, permitindo aos pais manipular genes para gerar filhos com características desejadas.

Fontes: Instagram, Wired, Freethink, Boston Globe, Acsh

Veja também:

Revisado por Glauco Vital em 12/4/24.


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