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Imaginação e criatividade
Recentemente, comprei um joy-con para o meu console Nintendo Switch nas cores verde e rosa. Assim que abri o pacote, pensei em Cosmo e Wanda do desenho animado Os Padrinhos Mágicos (Nickelodeon). Na história, eles são fadas que realizam todos os desejos de Timmy. Eles explicam, entretanto, que em algum momento Timmy irá crescer e eles terão que ir embora, apagando todas as memórias de Timmy sobre as fadas e suas aventuras.
De vez em quando, me pego pensando nisso. Você se lembra das suas brincadeiras de infância? Caso se lembre, consegue repassar os cenários que criava? No meu caso, vivi muitas aventuras no quintal com irmãos e amigos, principalmente imaginando que tínhamos Pokémon de verdade, ou que nossas cartas de Yu-Gi-Oh projetavam hologramas como no anime, e brigávamos para ver quem seria o ranger vermelho quando recriávamos episódios de Power Rangers, sem apoio algum de cenário ou figurino. Mas é difícil visualizar isso hoje em dia. Se alguém tivesse nos fotografado ou filmado, nada disso estaria lá. Estava tudo na nossa imaginação.
Esse uso da imaginação foi o combustível que moveu George Lucas, como o próprio diretor explica logo nos primeiros minutos da série Light and Magic. A série, que terá os 6 episódios lançados simultaneamente no dia 27 de julho exclusivamente no Disney+, começa mostrando a maior dificuldade que o diretor encarou durante o processo de pré-produção do primeiro filme de sua maior obra, Star Wars: não existia uma empresa no mundo que fizesse o trabalho que ele precisava para traduzir suas ideias em visuais.
Até mesmo apresentar suas ideias de roteiro para os empresários responsáveis pelo financiamento de filmes era difícil. Muitos achavam a história complexa e mostravam dificuldade de imergir nos conceitos de George Lucas.
Enquanto se aventurava no desenvolvimento de outras obras para conquistar a confiança dos empresários, George conheceu pessoas como John Dykstra, que trouxe não apenas ideias, mas também mais pessoas para trabalhar no projeto de Star Wars.
A grande questão que moveu todos eles na época foi: como fazer o público acreditar em algo que não está ali, principalmente quando as pessoas começam a ver por trás da cortina?
Talvez o termo “efeito especial” te faça pensar logo em trabalhos com computação gráfica e telas verdes, como nas obras recentes Mandalorian, Boba Fett e Obi-Wan Kenobi. Ao longo da docussérie, os convidados apresentam também outras técnicas que foram usadas desde o início da história do cinema e que foram evoluindo com o tempo, como a sobreposição de filmes, uso de stop motion e pintura matte. Todas elas têm a utilidade de apresentar algo ao espectador que não existe de fato, apenas na ilusão compartilhada entre quem produz e quem assiste à obra.
Caso você não tenha muito conhecimento técnico sobre cinema, não se preocupe! O diretor de Light and Magic, Lawrence Kasdan, sabe o momento mais apropriado para apresentar cada conceito para o espectador, fazendo uma viagem bem linear e expositiva sem deixar que a obra torne-se cansativa.
Não apenas isso, mas enquanto assisti me peguei torcendo por George Lucas e seus companheiros de trabalho, quase como se eu já não soubesse que tudo daria certo no final. Kasan e os produtores da série Light and Magic conduzem muito bem a jornada, como nos primeiros dois episódios, em que nos transmitem os momentos de sofrimento e de alívio da equipe durante as gravações de Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança.
Para nos mostrar como George incluiu stop motion no filme, por exemplo, são apresentadas imagens dos bastidores de uma icônica cena: C-3PO e Chewbacca jogando Dejarik, uma espécie de “xadrez com hologramas”, enquanto R2-D2 assiste.
Quando filmaram, não havia peças holográficas ali, é claro. George recorreu a artistas que trabalhavam com a técnica para que criassem modelos de alienígenas exclusivos – algo que levou semanas – para a cena que dura poucos segundos. As interações com as miniaturas foram gravadas e depois sobrepostas à filmagem original. A preocupação de George com a criação do mundo muito além do que era apresentado em cena é evidente ao longo da série Light and Magic.
Persistência e trabalho em equipe
Em um momento da série, George Lucas diz que muitas pessoas perguntam a ele qual é o segredo para fazer filmes e que ele sempre responde ser “persistência”. Realmente, vemos que isso foi essencial. A série Light and Magic nos mostra seus momentos mais pessoais, como o fato de seus pais não acreditarem muito em seu potencial profissional, e momentos mais tristes, em que ele se sentia inseguro e julgava muito a si mesmo e seu trabalho.
Na verdade, alguns convidados envolvidos no projeto afirmam que poucos pareciam entender o que George queria fazer, e diversos profissionais na equipe de Star Wars foram descobrindo o caminho que deveriam seguir enquanto o filme era gravado.
Embora isso possa parecer clichê, a série mostra como a equipe se uniu para dar apoio uns aos outros e evoluírem juntos. Os convidados reforçam que George Lucas sempre permitiu liberdade criativa a todos e contam histórias sobre como ninguém parecia ter um papel específico.
Quem desenhava storyboards (representações visuais de como as cenas deveriam ser gravadas) também ajudava a filmar o filme e quem era responsável pela edição das imagens acabava indo construir miniaturas de naves quando havia tempo, por exemplo. Esse momento da série traz conforto ao espectador, de certa forma nos transportando para o armazém onde nasceu a Industrial Light and Magic (ILM), empresa de efeitos especiais de George Lucas (daí vem o título da série).
Uma das sequências mais interessantes e divertidas é sobre as cenas finais de Star Wars IV, aquela em que Luke Skywalker e a Aliança Rebelde voam até a Estrela da Morte. Sem dinheiro e sem tempo, já que a data de estreia do filme se aproximava, a equipe acreditou que a melhor forma de gravar as páginas finais do roteiro era construir uma enorme maquete do lado de fora do armazém, onde eles costumavam passar o tempo se refrescando nos dias quentes e brincando para se distrair.
Conclusão
Os processos mencionados nesta crítica e todos os seus detalhes você pode conferir assistindo à série Light and Magic a partir do dia 27 de julho no Disney+, mas posso te adiantar que o tempo investido na série vale a pena, não apenas para fãs de Star Wars, mas fãs de cinema em geral, principalmente se você tem curiosidade sobre como efeitos especiais são feitos. As histórias e técnicas apresentadas, além de revelar curiosidades sobre as produções, são inspiradoras.
A fórmula Disney de desenvolver conteúdo é bem executada até mesmo no formato de documentário. George Lucas é apresentado como um herói, meio deslocado do mundo real, em busca de um objetivo quase impossível e cheio de obstáculos, quase recusando o seu chamado, mas que acaba triunfando com a ajuda de aliados e sábios.
Um ponto que sinto necessário mencionar é que, apesar da atmosfera sonhadora e amigável apresentada na série, muitos designers e outros profissionais envolvidos em processos de animação e efeitos especiais, inclusive da Disney, têm reportado recentemente condições de trabalho complicadas e janelas de tempo muito curtas para a realização de trabalhos complexos. No fim das contas, não existe de fato uma varinha mágica para os diretores e roteiristas criarem os efeitos – há profissionais trabalhando arduamente nesta tarefa. Portanto, esperamos que as empresas valorizem seus funcionários para que de fato haja mágica na produção de suas obras.
Ficha técnica da série Light and Magic:
Título: | Light and Magic |
Lançamento: | 27 de julho de 2022 |
Direção: | Lawrence Kasdan |
Produção: | Ron Howard, Brian Grazer, Justin Wilkes, Kathleen Kennedy e Michelle Rejwan. |
Distribuição: | Disney+ (serviço de streaming) |
Episódios: | 6 |
Duração: | Episódios com duração média de 60 minutos, 6 horas no total |
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Fontes
Disney+ Releases an Illuminating Trailer for ‘Light & Magic’
Trailer da série Light and Magic legendado no YouTube
Crítica: Light and Magic
Crítica: Light and Magic-
Roteiro9/10 IncrívelÓtimo
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Direção10/10 ExcelenteExcelente
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Elenco9/10 IncrívelÓtimo
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Fotografia e efeitos especiais9/10 IncrívelÓtimo
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Trilha sonora10/10 ExcelenteExcelente
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É bom que mostra como antigamente se fazia bons filmes com um orçamente bem baixo e com muita criatividade. O que pode até auxiliar os diretores de hoje que, em contrapartida, se valem muito da tela verde.