Roboguide é cão-guia robô que pode substituir animais no futuro

RoboGuide é cão-guia robô que pode substituir animais no futuro

Avatar de marina kaiser
Desenvolvido pela Universidade de Glasgow, na Escócia, o cão-guia robô é alimentado por Inteligência Artificial (IA) e consegue se comunicar com humanos

Você lembra quando os primeiros robôs e softwares com Inteligência Artificial (IA) mais avançados começaram a surgir e todos se preocuparam com seus empregos? Pois bem, agora chegou a vez dos cachorros se preocuparem.

A Universidade de Glasgow, na Escócia, apresentou recentemente o RoboGuide, uma espécie de cão-guia robô desenvolvido para ajudar pessoas cegas ou com deficiência visual a se orientar e locomover em espaços internos.

“Nosso objetivo é desenvolver um sistema completo que possa ser adaptado para uso com robôs de todas as formas e tamanhos para ajudar pessoas cegas e com deficiência visual em uma ampla variedade de situações em ambientes internos.” Esperamos poder criar um produto comercial robusto que possa apoiar os deficientes visuais sempre que necessitarem de ajuda extra”

Wasim Ahmad, co-investigador do RoboGuide na Escola de Engenharia James Watt da Universidade de Glasgow

O cachorro robotizado foi criado em parceria com o Forth Valley Sensory Centre Trust (FVSC) e o Royal National Institute of Blind People (RNIB), duas instituições de caridade da Escócia que auxiliam pessoas com qualquer tipo de deficiência visual (no caso do FVSC, há acolhimento também a pessoas com deficiência auditiva).

Devido às parcerias, voluntários de ambas instituições puderam ser os primeiros a testar o RoboGuide. Em dezembro de 2023, o grupo foi ao Hunterian, museu mais antigo da Escócia, em seis diferentes exibições para avaliar como seria a experiência da visita acompanhada pelo cão-guia robô.

O projeto de pesquisa de nove meses foi apoiado por financiamento do Conselho de Pesquisa em Engenharia e Ciências Físicas (EPSRC), parte da agência nacional de financiamento em ciência e pesquisa do Reino Unido (UKRI)

O robotguide é um robô desenvolvido para auxiliar pessoas cegas ou com deficiência visual
O RobotGuide é um cão-guia robô desenvolvido para auxiliar pessoas cegas ou com deficiência visual (Fonte: Universidade de Glasgow)

O que o RoboGuide é capaz de fazer?

Segundo Olaoluwa Popoola, principal investigador do projeto da Escola de Engenharia James Watt da Universidade de Glasgow, uma das principais desvantagens dos robôs atuais é que a tecnologia usada para orientação pode limitar sua utilidade como guias ou assistentes para pessoas com deficiências visuais.

“Robôs que usam GPS para navegar, por exemplo, podem ter um bom desempenho em ambientes externos, mas muitas vezes têm dificuldades em ambientes internos, onde a cobertura do sinal pode enfraquecer. Outros, que usam câmeras para ‘ver’, são limitados pela linha de visão, o que torna mais difícil guiar com segurança as pessoas ao redor de objetos ou curvas”

Olaoluwa Popoola, principal investigador do RoboGuide na Escola de Engenharia James Watt da Universidade de Glasgow

Assim, para que não exista nenhum impedimento na localização e circulação do cão-guia robô (e das pessoas que ele passará a auxiliar no futuro), ele possui uma série de sensores sofisticados no seu exterior para mapear e avaliar com boa precisão o espaço ao seu redor.

Além disso, os pesquisadores da Universidade de Glasgow desenvolveram um software que permite ao cachorro robotizado aprender as melhores rotas entre diferentes locais. Ele também consegue interpretar em tempo real os dados enviados pelos seus sensores, de forma a não trombar com obstáculos parados ou em movimento.

Outra habilidade do RoboGuide é a capacidade de comunicação com humanos. Alimentado por Inteligência Artificial (AI), o cão-guia robô consegue não apenas entender, mas também se comunicar com humanos, sendo capaz de compreender perguntas e comandos e, por sua vez, fornecer respostas e orientações. Isso ocorreu nas seis exibições com voluntários no Hunterian.

Robotguide, cão-guia robô da universidade de glasgow
Com sensores sofistados e alimentado por IA, o cão-guia robô da Universidade de Glasgow tem boa navegação e consegue se comunicar com humanos (Fonte: Digit News)

Confira outros cães-guias robotizados já criados

Além do RobotGuide, existem outros projetos e protótipos de cão-guia robô existentes, desenvolvidos principalmente por universidades.

Um dos pioneiros nessa linha foi criado em 2021, por pesquisadores da Universidade de Berkeley, na Califórnia (EUA), que criaram um protótipo mais rudimentar de um cão-guia robô, modificando um mini cão-robô projetado originalmente pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).

O cachorro robotizado foi equipado com um sistema de alcance a laser para mapear o ambiente ao seu redor e uma pessoa vendada testou o robô para avaliar sua funcionalidade como possível guia para pessoas cegas ou com deficiência visual.

Cão-guia robô desenvolvido pela universidade de berkley
Cão-guia robô desenvolvido pela Universidade de Berkeley (Fonte: Anxing Xiao et al./Universidade da Califórnia, Berkeley)

Outro cão-guia robô desenvolvido, agora já menos rudimentar, é RoboDog, criado pelo Centro D-ITET de Aprendizagem Baseada em Projetos do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique (ETH Zurich), na Suiça, apresentado em setembro de 2023. Parte de uma iniciativa da universidade voltada ao avanço de inovações com IA, o cachorro robotizado suiço foi criado usando uma base já disponível comercialmente, e os pesquisadores construíram um hardware adicional em cima, incluindo novos sensores e uma nova unidade computacional.

“O objetivo do projeto principal do RoboDog é ajudar as pessoas cegas a navegar em sua vida cotidiana. O treinamento de cães-guia custa muito dinheiro e nosso objetivo é desenvolver um sistema robótico que seja capaz de navegar de forma autônoma e guiar pessoas cegas, evitando obstáculos”

Davide Plozza, estudante de PhD e participante do projeto RoboDog na EHZ Zurich
O robodog é o cão-guia robô desenvolvido por uma equipe de pesquisa da ezh zurich
O RoboDog é o cão-guia robô desenvolvido por uma equipe de pesquisa da EZH Zurich (Fonte: Wired / EZH Zurich)

Outros tipos de cão-robô existentes

Além dos cachorros robotizados desenvolvidos para auxiliar pessoas cegas ou com deficiência visual, existem vários outros robôs que estão revolucionando a indústria, muitos deles inclusive mantendo a forma quadrúpede.

Selecionamos alguns exemplos para você (ressaltando que seguimos falando de robôs de quatro pernas desenvolvidos para resolver algum problema ou dificuldade humana, e não em robôs projetados para companhia, educação ou como brinquedos):

Boston Dynamics

A Boston Dynamics, uma das mais famosas empresas de engenharia robótica, possui algumas versões de cães-robôs desenvolvidos ao longo de vários anos.

Em 2004, a empresa criou o BigDog, seu primeiro robô com pernas a sair do laboratório. Financiado pela Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa (DARPA), a agência de pesquisa militar dos Estados Unidos, o cão-robô era foi desenvolvido com o objetivo de, possivelmente, acompanhar soldados em terrenos muito acidentados para veículos convencionais.

Posteriormente, em 2011, a empresa soltou um vídeo do AlphaDog, também conhecido como LS3 (Legged Squad Support System), uma nova geração do BigDog. Em dezembro de 2015, o projeto BigDog foi descontinuado, pois o motor utilizado era barulhento demais para ser usado em combate. No entanto, a empresa tinha outro cão-robô em andamento — o Spot, dessa vez totalmente elétrico.

Você provavelmente já deve ter visto algum vídeo ou foto deste cachorro robotizado da Boston Dynamics, uma vez que ele é, atualmente, um dos mais famosos robôs quadrúpedes do mundo. Em 2023, por meio de uma parceria entre a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e o Parque Tecnológico Itaipu (PTI), duas unidades vieram para o Brasil para serem usadas em inspeções de infraestruturas críticas e possíveis missões de resgate.

Ghost Robotics

Outra grande fabricante dos EUA, dessa vez especializada em robôs de quatro pernas, é a Ghost Robotics, que desde 2015 se especializa em Q-UGVs (sigla para veículos terrestres quadrúpedes autônomos não tripulados, em português).

Em 2020, um de seus principais modelos, o Vision 60, foi testado pelo Exército Australiano e pela Força Aérea dos EUA para tarefas de patrulha e segurança. Em 2021, uma nova versão do cão-robô foi divulgada, dessa vez com um rifle de precisão embutido e, em 2023, os soldados australianos passaram a treinar com um capacete capaz de ler sinais cerebrais e os traduzir em comandos para os robôs.

Deep Robotics

Saindo agora dos Estados Unidos, a Deep Robotics é uma empresa chinesa fundada em 2017 e voltada para o desenvolvimento de aplicações industriais de robôs quadrúpedes, além de ser a primeira companhia a realizar inspeção totalmente autônoma com robôs quadrúpedes na China.

A empresa possui alguns modelos de cão-robô, entre eles seu carro chefe, o X30, projetado para atender às necessidades da indústria em vários campos, incluindo inspeção, investigação, segurança, topografia e mapeamento. Um outro modelo, o X20, é voltado para inspeção industrial sob condições extremas de trabalho.

Outro modelo, o Lite-3, lançado em 2023, é uma versão mais leve e pequena, capaz inclusive de dar saltos mortais. A série Lite3 vem com quatro modelos: um básico projetado para entusiastas da tecnologia, além de três versões mais avançadas projetadas para fins de estudo científico.

ANYBiotics

Outra companhia dos Estados Unidos é ANYBiotics, dessa vez localizada na Suiça, mas, assim como a Deep Robotics, também voltada para o desenvolvimento de robôs quadrúpedes para inspeções.

Os seus dois principais modelos são o ANYmal X e o ANYmal, comprado pela Vale em 2022, e realizam praticamente as mesmas operações de monitoração e manutenção, sendo o primeiro cão-robô ideal para operações em usinas de Petróleo e Gás.

O Brasil tem o seu próprio cão-robô de quatro patas

Por último, mas não menos importante: o Brasil também possui seu próprio cachorro robotizado, chamado BitDog. E não apenas isso — ele é o primeiro cão-robô da América do Sul.

O BitDog foi criado em 2022 por cerca de 50 estudantes do curso Bacharelado em Inteligência Artificial da Universidade Federal de Goiás (UFG), no Centro de Excelência em Inteligência Artificial (CEIA), e entre suas habilidades estão o monitoramento e a fiscalização de serviços petroquímicos, elétricos, ferroviários e industriais. A tecnologia é pioneira na América do Sul e foi desenvolvida no Centro de Excelência em Inteligência Artificial (CEIA) da universidade.

O bitdog, desenvolvido pela ufg, é o primeiro cachorro robotizado do brasil e da américa do sul
O BitDog, desenvolvido pela UFG, é o primeiro cachorro robotizado do Brasil e da América do Sul (Fonte: O Hoje)

Existe algum cachorro robotizado já a venda?

Muitos dos robôs quadrúpedes desenvolvidos atualmente são direcionados para serviços específicos, como inspeção em locais de risco e operações militares. No entanto, conseguimos encontrar alguns modelos à venda (e seus respectivos preços):

  • Spot da Boston Dynamics: já falamos sobre esse modelo um pouco acima (lembra do cão-robô dançando UpTown Funk, do Mark Ronson ft. Bruno Mars?) e, apesar do seu desenvolvimento em 2015, a empresa só começou a vender o robô há quatro anos, em 2020. Com um tamanho que varia de 50 a 68 centímetros (isso com ele nas quatro patas), uma bateria de 564Wh que permite 1h30 de uso, você pode levar o Spot para casa pela bagatela de $74,500 (ou R$367.784, na cotação atual).
  • Unitree Go2 ou Unitree Go2 Pro da Unitree Robotics: se você quer muito, mas muito mesmo, um cão-robô, uma alternativa mais barata ao Spot é o Unitree Go2 ou Unitree Go2 Pro. Com produtos mais robustos como os mencionados previamente, a Unitree Robotics é uma das poucas empresas que possuem também um modelo para consumo, como é o caso desses dois robôs. Com pouco mais 40 centímetros de altura, bateria de 8.000 mAh com capacidade para cerca de 1 a 2 horas de uso, o modelo básico sai por $1.600 (R$7.899) e o Pro por $2.800 (13.822), sem contar o custo de envio.

Veja também

Robôs da Boston Dynamics dançam melhor que humanos

Fontes: University of Glasgow, The Next Web, CNBC, CEIA – Universidade Federal de Goiás, Wired

Revisado por Glauco Vital em 20/2/24.


Descubra mais sobre Showmetech

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Posts Relacionados