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Após a Rússia invadir a cidade de Chernobyl, assolada pelo desastre nuclear de 1986, na Ucrânia, o mundo entrou em alerta para uma nova possível catástrofe nas antigas usinas do local. Apesar do risco em Chernobyl, especialistas da área afirmam que um “acidente” — entre aspas, visto que seria, novamente, causado por humanos — tem chances mínimas de acontecer, mas a saúde dos funcionários está em jogo.
Tomada de Chernobyl aumentou níveis de radiação
No último dia 25 de fevereiro, as tropas russas ocuparam oficialmente a região de Chernobyl na guerra da Ucrânia, e embora nenhuma explosão ou danos tenham sido causados ao Reator 4 — que abriga quantidades absurdas de material radioativo — a simples movimentação de veículos militares pesados e outras atividades contribuiu para que os níveis de radiação do local aumentassem.
Ainda no dia 25, o vice-diretor do Departamento Ucraniano para Questões de Segurança em Instalações Nucleares, Alexander Grigorach, revelou que houve um aumento nos níveis de radiação após a Rússia invadir a área. No entanto, as autoridades máximas no assunto descartam um vazamento nuclear no Reator 4 ou algum tipo de desastre nuclear.
“O último reator foi fechado nos anos 2000, então o combustível nuclear gasto não gera tanto calor”
James Smith, professor da Universidade de Portsmouth que estuda Chernobyl há anos
A informação de Smith é corroborada por outros pesquisadores, como Jan Haverkamp, do Greenpeace, afirmando que a evaporação daquele combustível que ainda está armazenado não deve ser um problema. Todavia, uma explosão nas instalações poderia causar um aquecimento na planta dos reatores, ainda que isso não signifique uma possível situação de explosão nuclear
Rússia mantém 200 funcionários cercados na usina
Por outro lado, uma preocupação mais válida por parte da comunidade científica fica por conta dos funcionários que ainda estão na antiga usina nuclear. O problema maior é que após a invasão da Rússia à usina, as tropas militares estão mantendo funcionários e seguranças cercados nas instalações. O número varia entre 200 a 300 pessoas, que já estão isoladas na área por mais de 12 dias. Comida e água estão acabando.
“Estou profundamente preocupado com a situação difícil e estressante enfrentada pelos funcionários da usina nuclear de Chernobyl […] Convoco as forças no controle efetivo do local para facilitar urgentemente a rotação segura do pessoal de lá.”
Rafael Grossi, diretor geral da Agência Internacional de Energia Atômica
Embora atualmente não haja um grande risco em Chernobyl sobre contaminação, os funcionários que fazem a manutenção e controle de Chernobyl podem receber doses elevadas, ainda que não fatais, de radiação. O problema se intensifica já que na última quarta-feira, 09, a instalação perdeu o suprimento de energia elétrica. A pressão do conflito entre os dois países também colabora para a dificuldade em administrar seguramente o local.
A falta de uma fonte de energia elétrica preocupa o processo de resfriamento dos combustíveis e das barras de combustíveis dos reatores enviados para armazéns secos e molhados. Novamente, o risco de um colapso nessas estruturas é pouco provável, e caso aconteça deve atingir somente e área da usina, aponta Mark Foreman, professor de Química Nuclear da Universidade de Tecnologia da Suécia.
No período em que está sem eletricidade, a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) informa que a “carga térmica da piscina do depósito de combustível usado e o volume de água de resfriamento são suficientes para garantir uma saída eficaz do calor sem eletricidade”. Nesse momento, ainda há um número de informações conflitantes, já que alguns órgãos, como a própria AIEA, afirmam que a energia já está sendo restabelecida em Chernobyl.
Na última quinta, 10, a Ucrânia perdeu todas as comunicações com Chernobyl, dificultando ainda mais o monitoramento do reator e da saúde dos funcionários cercados por tropas russas.
“Se houver um acidente nuclear a causa não será por um tsunami trazido pela mãe natureza [em referência ao desastre de Fukushima]. Ao contrário, será resultado da falha humana em não agir quando sabíamos que podíamos ter feito algo.”
Rafael Grossi, diretor geral da Agência Internacional de Energia Atômica
A Rússia já tomou outras instalações nucleares da Ucrânia, inclusive, bombardeando o Instituto de Física e Tecnologia de Kharkiv, na quinta-feira. O país comandado por Vladimir Putin também tomou o controle de Zaporizhzhia, maior usina nuclear em atividade no continente europeu que chegou a ser incendiada, porém, sem liberar radiação.
A invasão da Rússia que culminou com a guerra na Ucrânia foi iniciada em fevereiro, mas a ofensiva de Putin já era algo esperado há semanas. O principal motivo seria a integração da Ucrânia na OTAN, organização de apoio e cooperação militar encabeçada pelos Estados Unidos. Outros motivos, como desavenças históricas e a presença de grupos separatistas contribuíram para a invasão.
Conheça mais sobre o desastre de Chernobyl
A história da usina de Chernobyl remonta ao ano de 1986, quando após uma série de falhas de projeto e de operação ocorreu uma explosão no Reator 4 da usina localizada na cidade de Pripyat, Ucrânia, na época pertencente à União Soviética. Dados oficiais apontam que apenas 31 pessoas morreram como resultado imediato do acidente, enquanto a ONU estima 50 mortes ligadas diretamente ao desastre. Em 2005, a organização estimou um número de 4 mil mortes resultantes da exposição à radiação.
Uma minissérie limitada foi lançada pela HBO em 2019 e ganhou o Emmy de Melhor Minissérie do ano. A história conta com detalhes o que aconteceu na fatídica noite em que o Reator 4 explodiu após uma falha humana, além de mostrar minunciosamente como a radiação se espalhou pela cidade e afetou os habitantes de Pripyat.
O Showmetech tem uma matéria completa sobre o incidente que originou a premiada série.
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