REVIEW: Star Wars Dark Forces Remaster é um exemplo de como tratar um clássico

Dark Forces Remaster é a reinvenção do clássico FPS da LucasArts que vai deixar os saudosistas apaixonados e é a oportunidade perfeita para quem nunca jogou. Quer saber mais sobre esse novo lançamento? Continue com a gente neste review!

Há muito tempo, em uma galáxia muito distante…

Nos meados dos anos 1990, o universo Star Wars estava em sua pior fase. Antes de sequer haver uma pista do que estava por vir com as prequelas, os fãs da franquia tinham que se virar com o pouco que saía de produtos nos meios de entretenimento fora do cinema. 

Dentre esses, Star Wars Dark Forces, jogo de tiro em primeira pessoa desenvolvido pela LucasArts, se destacou. Por se tratar de um jogo nos moldes de Doom, no que, na época, nem era chamado de FPS, e sim “clone de Doom”, à primeira vista, Dark Forces pareceu se tratar meramente de uma cópia, só que com temática do universo criado por George Lucas. Mas esse jogo foi muito além.

Lançado em 1995, Star Wars Dark Forces revolucionou o gênero de jogos de tiro em primeira pessoa por trazer novos elementos como a introdução do eixo vertical no design de fases, incluindo a possibilidade de mirar não só para os lados, como para cima e para baixo. Ele também apresentou novos conceitos quanto aos objetivos das missões, indo muito além de meras caçadas por chaves coloridas. Suas fases, muitas vezes labirínticas, desafiavam o jogador a ser mais observador.

Foi somente com Duke Nukem 3D, da 3D Realms, que Dark Forces teve um desafio a altura e, mesmo assim, que Duke me desculpe, mas as aventuras de Kyle eram muito mais interessantes que as escapadelas dele com porcos policiais alienígenas. A LucasArts criou uma pérola e sabia disso. 

E tinha MUITO de Star Wars nessa preciosidade. Armas idênticas às dos filmes, como o rifle de stormtrooper, funcionavam da mesma maneira, péssimas em precisão, por exemplo. Efeitos sonoros então, para fãs, era como fechar o olho e se imaginar no meio de um tiroteio a laser em Coruscant. Nada até aquele momento chegou ao nível de fidelidade à identidade da franquia como Dark Forces. 

Mas não foi só por se tratar de um produto Star Wars que o jogo caiu nas graças da crítica e do público, se bem que com certeza ajudou. Era incrível ver algo fora dos filmes que contasse uma história nesse universo, o que, aliado aos avanços consideráveis de jogabilidade, elevaram Dark Forces ao patamar em que se encontra hoje, como um clássico indiscutível. E, ao contrário de Star Wars Shadows of the Empire, lançado pouco depois para o Nintendo 64, continua perfeitamente jogável nos dias de hoje. 

O universo expandido de Star Wars em forma de jogo

Dark Forces trouxe um novo herói, o ex-agente Imperial e mercenário Kyle Katarn, que dentre suas muitas conquistas, a de roubar os planos da Estrela da Morte, resultando em sua eventual destruição em Star Wars: Uma Nova Esperança, está no topo da lista. No entanto, sua maior missão ainda estava por vir, já que um novo e diabólico plano estava prestes a ser levado a cabo.

O jogo se passa pouco tempo depois dos eventos daquele filme e antes do Império Contra-Ataca: em represália à destruição da sua arma toda-poderosa, as forças do Império tocam o terror por onde passam. Um dos subordinados de Darth Vader, o General Mohc, trouxe à tona o poderoso Dark Trooper, um novo tipo de soldado que, a mando do Império, é capaz de tocar o terror onde quer que seja enviado. 

Não demora para a Aliança Rebelde ficar sabendo da existência dessa nova ameaça por meio de Crix Madine, um oficial desertor do Império e personagem secundário de O Império Contra-Ataca, que deseja se juntar à Aliança. Mon Mothma, a ex-senadora Imperial, vista tanto nos filmes quanto na excelente série Andor, coloca Kyle no caso, dando início à história de Star Wars Dark Forces.

No decorrer do game, outras figurinhas carimbadas de Star Wars mostram as caras, como Jabba the Hutt e Boba Fett, muitos dos inimigos como droides de sonda, os asquerosos guardas Gamorreanos e, claro, incontáveis Stormtroopers e oficiais do Império. Isso tudo sem falar de algumas das localidades que nos filmes só foram meras menções e planetas totalmente novos, bolados exclusivamente para o jogo.

Um renascimento para Dark Forces 

Próximo do vigésimo aniversário do jogo, a Nightdive Studios, verdadeiros mestres dos remasters de jogos antigos, que já trouxeram de volta à ativa Shadow Man e os vários Turok: Caçador de Dinossauros, nos trazem uma versão belíssima de Dark Forces. 

O estúdio basicamente repaginou o que já era bom no jogo e contornou muitas das limitações tecnológicas da época em que foi lançado. Um exemplo disso são seus controles, que agora contam com movimentação de câmera, quando antes era preciso usar as teclas Page Up e Page Down do teclado. Graças a essa e muitas outras melhorias, Dark Forces Remaster torna o clássico mais acessível e divertido de jogar. 

Para alguém como eu, que jogou muito a versão original mas que há mais de dez anos não coloca a mão no jogo, Dark Forces Remaster é a versão idealizada que eu tenho em mente quando relembro os tempos do Windows 3.1 e DOS. No entanto, basta trocar para os visuais antigos que essa ilusão passa rapidinho! O trabalho de atualização de texturas e performance do jogo é assombroso, ao mesmo tempo novo e retrô, visto que a Nightdive soube dosar o quanto os gráficos deveriam ser mais limpos e com maior resolução, sem destoar do original, da mesma maneira que a Aspyr fez com Tomb Raider Remastered I-III, que eu analisei mês passado.

Além de tudo isso, a desenvolvedora fez sua lição de casa com conteúdo extra. Ela incluiu em Star Wars Dark Forces Remaster uma quantidade bacana de material de bônus, com rápidos vídeos do processo de animação de algumas cenas que acabaram não incluídas, muitas das quais fariam uso da rotoscopia, técnica onde se desenha os quadros de animação sobre fotos de pessoas reais se movimentando. A cereja do bolo, no entanto, é a demo especial do jogo original, criada para ser apresentada em eventos, algo que até hoje nunca havia sido disponibilizado para o público.

As cenas que fazem parte do jogo foram totalmente retrabalhadas e estão simplesmente lindas, com renderizações em alta resolução e no caso de desenhos em 2D, retraçados com maior definição, mantendo os mesmos quadros de animação para personagens, o que confere aos filmes de introdução de Dark Forces Remaster um charme a mais. Em todas elas, os arquivos de som das falas foram recuperados dos originais, aumentando muito a qualidade. 

Star Wars sempre foi conhecido por ter uma trilha sonora magnífica, fruto do talento do maestro John Williams, e Dark Forces, para um jogo lançado na infância das placas de som em computadores, contou com músicas que para os ouvidos de hoje em dia soam um tanto primitivas. Por isso, o remaster traz dois tipos de músicas: um em MIDI, o formato de som introduzido com o Windows, que soa mais suave e nítido, mas um tanto artificial, e outro mais retrô, com os chiados característicos dos primeiros dispositivos de som. 

Como Star Wars Dark Forces foi lançado em outros formatos fora o PC, como no Mac e PlayStation, cada um com suas próprias instrumentações, essa nova versão ficaria ainda mais completa se as incluísse. Essa, infelizmente, é uma das poucas áreas em que este remaster deixa a desejar, mais num aspecto de se ter uma coleção musical mais completa, condizente com uma reinvenção do jogo como esta.

Outra questão que pode incomodar especialmente os jogadores menos pacientes é a falta de um recurso de salvamento durante as fases. Dark Forces Remaster salva seu progresso somente entre missões, o que para um jogo com mapas enormes, complexos e cheios de segredos, pode gerar um pouquinho de frustração. Jogadores de console podem deixar em suspenso, enquanto que os de PC terão que deixar o jogo rodando no fundo, nenhuma das duas a melhor das soluções, convenhamos. Com sorte, a Nightdive incluirá essa funcionalidade em uma futura atualização, mas por enquanto nada foi anunciado.

Preço e disponibilidade

Star Wars Dark Forces Remaster está disponível em formato digital no Nintendo Switch, PlayStation 4, PlayStation 5, PC, Xbox One e Xbox Series S|X.

Se atente ao preço, porque ele varia entre as plataformas. No PC, tanto no Steam quanto no GOG, o jogo está saindo por R$ 88,99. Já no Xbox One e Series S|X, o preço sobe para R$ 112,45 e, na eshop do Nintendo Switch, a etiqueta diz R$ 149,50, e nos consoles da Sony, R$ 159,90, quase o dobro da versão de computador!

Ainda não houve qualquer anúncio sobre uma versão em mídia física, mas conhecendo as práticas de empresas como a Limited Run e similares, é bem possível que ela venha a ser oferecida em quantidades limitadas (e caras, diga-se de passagem) mais para frente.

Conclusão

Um dos clássicos indiscutíveis dos FPS, Dark Forces é sem dúvida alguma um dos melhores jogos de Star Wars já lançados, e esta nova versão é o jeito ideal de curtir essa joia nos dias de hoje. Apesar de alguns elementos que ficaram faltando, o pacote traz algumas surpresas bem legais que irão agradar especialmente os jogadores que gostam de saber do processo de desenvolvimento dos seus jogos favoritos.

Sabendo do talento da Nightdive, a dúvida que não cala é: e agora, vamos ver o resto da série em formato remasterizado? Considerando que Star Wars Dark Forces II: Jedi Knight e Star Wars Jedi Knight II: Jedi Outcast são jogos tão ou ainda mais amados pelos fãs e isso inclui a mim, sim, ADORARIA ver algo assim acontecendo. O estúdio já demonstrou que sabe o que está fazendo e ninguém melhor que eles para dar conta do recado. 

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Revisão do texto feita por: Pedro Bomfim