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A Nintendo reviveu a icônica série de RPG dos irmãos encanadores com um jogo que mistura nostalgia e novidades. Apesar de trazer uma jogabilidade divertida e mecânicas interessantes, o título tropeça na execução de sua história e diálogos, deixando a sensação de um potencial não totalmente explorado. Será que Mario & Luigi: Brothership conseguiu honrar o legado da série? Confira os detalhes nesta análise.
A franquia Mario & Luigi
Mario & Luigi: Brothership ter sido lançado no começo de novembro, pouco depois do Halloween, quase serve como uma técnica de marketing da Nintendo por se tratar de uma série que renasceu da morte. Praticamente uma série zumbi, de um corpo que já considerávamos enterrado, visto o que a Nintendo fez com a franquia no final da vida do 3DS, com remakes fora de timing em um console que já deveria estar aposentado, causando inclusive a falência da desenvolvedora AlphaDream, responsável pelos jogos da série durante o período.
Pouco se falava ou se esperava de um retorno dos Mario Brothers em aventuras RPG, mas a Nintendo tem um desvio de caráter bem peculiar que consiste em não entregar o que os fãs esperam, e surpreender com algo que literalmente não estava no radar de nenhum jogador de Nintendo Switch.
Mas será que Mario & Luigi é uma série muito ruim e ninguém queria ela de volta? Muito pelo contrário. Ela é uma série muito boa, em que o pior dos jogos ainda é um jogo muito bom (sim, é o Paper Jam), mas que estava fadada a cair no esquecimento pelas ações tomadas pela própria Nintendo.
A surpresa foi boa e prometeu vir com força total em Brothership, um jogo que parecia entender como a série funciona, que prometia resgatar o lúdico do que foi criado durante todos esses anos em consoles portáteis, e que vinha com a maior promessa de diversão de toda a série, por conter piadas localizadas em nosso idioma. Mas nem todas as entregas foram realizadas da forma que foi prometido, e parece que muito dessa entrega se perdeu no vasto mar em que hoje navega o navio Brothership. Um pouco até sem rumo.
Brothership é o sexto jogo da série, que começou no GBA com Superstar Saga de 2003 (refeito no 3DS em 2017 com o nome de Superstar Saga + Bowser’s Minions), passou pelo DS com o divertido Partner’s in Time de 2005 e o excelente Bowser’s Inside Story de 2009 (também refeito no 3DS em 2018 com o nome de Bowser’s Inside Story + Bowser’s Jr. Journey), e teve seus dois últimos episódios no 3DS com o fenomenal Dream Team de 2013 e o mediano Paper Jam de 2015 (um crossover de Mario & Luigi RPG e Paper Mario).
História
A história do jogo se passa no continente de Elétria, onde nossos Irmãos Brothers foram parar após serem sugados por uma energia sinistra. Nesse estranho lugar, eles encontram a adorável Tetê e o assistente Pligue (personagem que vai oferecer o alívio cômico da série, uma vez que é constantemente confundido com um cofrinho de porquinho).
Estes e outros habitantes do local contarão aos nossos heróis a história da lendária árvore Arbolux, que ligava e fornecia vida para todas as cidades daquele local, e que foi misteriosamente atacada e destruída, fazendo com que cada uma dessas partes do mundo se transformassem em ilhas e se perdessem na imensidão do oceano.
Um broto da Arbolux é cultivado em uma ilha em formato de navio, e seu pequeno crescimento permite que ele funcione como vela, fazendo com que o Brothership (do título) possa navegar pelo oceano. E agora o objetivo de Mario, Luigi e seus novos companheiros é partir atrás das ilhas que se separaram, ligando-as novamente à grande árvore. Ligando, literalmente, pois as conexões se dão através de plugues de tomada, que é o item que permeia toda a temática do jogo, do mundo aos personagens, e até as batalhas.
Cabe aos nossos heróis descobrir quem está por trás da destruição da Arbolux e restabelecer a luz e a paz dos moradores desse adorável continente.
Durante esse passeio por todas as ilhas que funcionam quase em um sistema de fases, os irmãos vão encontrar novos personagens que vão dar tom à trama, mas a surpresa está na aparição de rostos conhecidos da série, que trazem um ar de nostalgia a um jogo que, acima de tudo, precisa se estabelecer como um novo episódio, mas não quer perder a oportunidade de ser uma porta de entrada para novos jogadores, principalmente da geração que por algum motivo não viveu a era do GBA/DS/3DS.
Jogabilidade
O novo Mario & Luigi é uma linda homenagem ao jogo que iniciou a série, Superstar Saga. A forma como a história se desenvolve e a simplicidade inicial das batalhas durante boa parte do início do jogo são uma forma de introduzir o jogador a uma franquia já repleta de títulos, sem que ele precise entender mecânicas pré-estabelecidas, funcionando como um excelente primeiro jogo. Algo recorrente no Nintendo Switch, que também aconteceu em outras séries em títulos como Pikmin 4, Super Mario Bros. Wonder e Animal Crossing New Horizons.
O jogo demora para desenvolver seus requisitos específicos, e apresentar as habilidades dos heróis que serão inerentes a essa iteração e vão dar o tom da temática do jogo. Isso é benéfico quando o objetivo claramente é reintroduzir a série nas plataformas Nintendo depois de um hiato de 9 anos (desconsiderando os remakes).
As batalhas são frenéticas e respeitam o que foi criado na franquia, com golpes individuais e alguns especiais que utilizam os dois irmãos para funcionar. E tudo ganha um toque de novidade com a mecânica nova dos plugues de batalha, recursos que potencializam os golpes e criam condições especiais favoráveis aos heróis. Eles aparecem em diversos formatos e podem ser combinados para maior eficácia. Aqui o jogo brilha e ganha vida, e demorar cerca de 10 horas para chegar até lá é uma estratégia arriscada, mas que funciona de certo modo.
Luigi deixa de ser apenas um nome no título do jogo e passa a ter mais independência como ajudante do irmão mais famoso. Começando pela movimentação do personagem, que acontece como em qualquer outro episódio, com os pulos do Mario sendo comandados pelo botão A e do Luigi com o botão B, e em ações adicionais Mario utiliza o X e Luigi o Y.
Mas dessa vez, Luigi consegue pular sozinho, sem que o jogador precise realizar o comando A+B em todo o cenário, o que era uma mecânica inteligente e criativa iniciada em Superstar Saga, mas custosa. Isso adiciona qualidade de vida ao gameplay, recurso importante à medida que os jogos evoluem em mecânicas.
Além disso, foi adicionada a Luigideia, uma ajuda que o irmão de verde oferece na exploração dos mapas e que se mostra útil nas batalhas, principalmente contra os chefes, que são técnicas e custosas para quem ainda não se habituou com o sistema da série. Com ela você resolve puzzles, coleta itens e moedas e facilita as lutas, o que é realmente uma boa (Luig)ideia.
O mundo do jogo é um extenso oceano, e a movimentação de sua ilha/navio se dá através de correntes automáticas, que precisam ser navegadas para encontrar as ilhas desaparecidas. Uma mecânica que inicialmente parece tediosa e não tão inventiva como era em Phantom Hourglass e Spirit Tracks, por exemplo, mas que ganha um upgrade muito bem vindo e com uma história de fundo divertida e curiosa, transformando-se em um dos pontos mais interessantes do jogo. O mapa é imenso, um padrão já estabelecido na série, mas dessa vez com um aspecto mais organizado, e que remete a aventuras 2D mais clássicas do nosso herói bigodudo.
Existe uma linearidade na progressão do jogo que pode ser seguida pelos jogadores mais metódicos, e para os que não têm tempo para passar 50+ horas em um JRPG. Ao mesmo tempo em que o jogo oferece uma gama de missões paralelas e coisas a se fazer em lugares já visitados, que sofrem alterações importantes no decorrer da história, e em colecionáveis espalhados pelo oceano que podem aumentar o escopo da exploração.
Performance e gráficos
Brothership é o primeiro jogo da série em HD, e ele usa e abusa de estilos visuais que trazem vida ao console, sem jamais perder a essência da série, utilizando os mesmos cenários truncados de seus antecessores. Uma nostalgia que por muitas vezes é bem vinda e bem vista, mas ao mesmo tempo limita a aventura em alguns aspectos. Aceitável por ser um retorno da franquia depois de muito tempo, mas há de se considerar uma evolução maior em episódios futuros, mantendo a estética apresentada nesse jogo, e ampliando o escopo do que pode ser explorado.
O jogo dificilmente engasga no desempenho no modo portátil, e sua beleza salta aos olhos quando jogado no dock em uma boa TV. As telas de carregamento entre cenários dentro de um mesmo mapa podem cansar o jogador, mas não chegam a quebrar o ritmo da aventura. Ainda há muito a se trabalhar para que um jogo desse escopo possa fluir de forma mais orgânica no Switch, principalmente quando é um projeto que não foi desenvolvido pela própria Nintendo, e os segredos de performance e desempenho seguem guardados a sete chaves, não revelados nem para desenvolvedores que estão trabalhando nas próprias IPs da Big N.
E é aí que mora a diferença, por exemplo, entre um Zelda feito pela Grezzo e um Zelda feito pela Nintendo. E aqui, no caso, um Mario feito pela Nintendo, como o Wonder, e um Mario feito por uma third, como Mario & Luigi. O balanço é positivo nesse aspecto. O jogo conhece suas limitações e trabalha a favor do jogador.
Localização
O grande trunfo desse episódio estava fundamentado em um momento de ascensão da Nintendo Brasil, em que a empresa está empenhada em localizar quase todos os jogos novos. Outros jogos, como Pikmin 4, Super Mario Bros. Wonder (esse em especial com a dublagem magnífica da Flor Tagarela), e o mais recente The Legend of Zelda: Echoes of Wisdom trouxeram localizações primorosas com piadas, memes e todas as peculiaridades que fazem nosso idioma ser tão rico e vivo. E poder experimentar esses projetos dessa forma é algo que aumenta o interesse de qualquer jogador, mesmo que seja com a Nintendo chegando com quase 20 anos de atraso.
Infelizmente, o PT-BR veio em um dos episódios menos inventivos da série. Os diálogos, que antes eram ácidos e pontuais durante todo o jogo, parecem aborrecidos na maior parte do tempo. E não é um problema de tradução ou localização, eles apenas são pouco inspirados em qualquer idioma.
Existem pontos aqui e ali que são muito divertidos, a maioria deles envolvendo o Luigi, o que é uma constante na série. Mas também sempre foi constante que todos os jogos fossem ácidos e certeiros do começo ao fim. E aqui não é o caso. Muitas das conversas são chatas e cansativas, e jogadores mais acostumados com a série vão ficar esperando pelo momento de “engrenar”, mas não vai realmente acontecer. Pligue, o ajudante, é responsável por 90% dos diálogos mais criativos, mas acaba não sustentando carregar todo o carisma do jogo nas costas.
Preço e disponibilidade
Mario & Luigi: Brothership está disponível para a linha de consoles Nintendo Switch na eShop BR por R$ 299,00 e também em mídia física nacional que pode ser encontrada nas lojas oficiais da Nintendo Brasil como na Amazon por R$ 339,99.
Conclusão
O legado que o jogo carrega é extenso e diversificado, mas possui um peso em qualidade capaz de deixar qualquer desenvolvedora aflita em se envolver em algo tão rico e complexo. E quem aceitou o desafio foi a Acquire, responsável pela série Tenchu e por Octopath Traveller.
Infelizmente eles parecem não ter conseguido criar uma identidade própria para suas versões do jogo, se apoiando na maioria das vezes em aspectos já estabelecidos, ao mesmo tempo que deixaram uma impressão de que a AlphaDream conhecia melhor seu material, e tudo acabou ficando preso em um paradoxo de não ser novo e inventivo e não se apoiar ou referir ao que existe da forma correta. E Mario & Luigi: Brothership ficou preso nesse meio do caminho. Não é o pior jogo da série, esse papel ainda é muito bem desempenhado por Paper Jam, mas também não conseguiu ir para o Top 3, e deixa um gosto residual de oportunidade perdida.
Durante todo o jogo existe uma sensação estranha de que algo está faltando, algo não está ali. E esse algo ainda não foi encontrado, não nesse episódio. Mas não deixa de ser uma aventura cheia de nuances e com um gameplay viciante e que, de forma muito positiva, acaba antes de ficar enjoativo ou repetitivo, somando pontos na balança final.
E aí, curtiu nosso review do Mario & Luigi? O que você achou do game? Conte para gente nos comentários!
Veja mais
Revisado por Tiago Rodrigues em 25/11/2024
Mario & Luigi: Brothership
Mario & Luigi: BrothershipPrós
- Visuais de tirar o fôlego
- Batalhas frenéticas
- O ajudante Pligue
Contras
- Diálogos pouco criativos
- Sistema de side quests raso
- Não chega a ter uma identidade própria
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