REVIEW: Far Cry New Dawn (PS4) é pura ação em um mundo pós-apocalíptico

O apocalipse nuclear aconteceu. Das cinzas da destruição atômica, um mundo novo nasce, cheio de novas descobertas e perigos para enfrentar. O problema é que enquanto alguns lutam para reconstruir a civilização, outros só querem promover o caos e roubar os recursos já escassos. E é no meio desse pesadelo psicodélico de fim de mundo que o jogador de Far Cry New Dawn se encontra, pronto para partir para a ação!

A Ubisoft cedeu ao Showmetech uma cópia digital de Far Cry New Dawn para PlayStation 4 e, após algumas semanas de jogatina intensa, nós apresentamos a você uma análise completa desse game que junta os melhores elementos da franquia em um mundo devastado que transborda de beleza e perigos.

De volta à Hope County

A história de Far Cry New Dawn se passa dezessete anos após o final de Far Cry 5. Na verdade, New Dawn é o primeiro spin-off da série que é uma continuação direta de um dos games principais. Por conta disso, aqui vão nossos avisos de spoilers para aqueles que não terminaram o jogo ainda, então estejam avisados.

No final de Far Cry 5, quem poderia suspeitar que as previsões apocalípticas que o fanático religioso Joseph Seed andava fazendo iriam se tornar realidade? O holocausto nuclear aconteceu e o mundo como o conhecemos acabou.

Mas das cinzas dessa terrível catástrofe global, uma nova sociedade surge, ansiosa por construir um mundo melhor mas encontrando um difícil obstáculo em seu caminho: aqueles que desejam apenas sobreviver cultivando o terror e sangue.

Far Cry New Dawn permite a personalização de seu personagem, mas com exceção de visualizá-lo ao utilizar o Modo Foto, isso não fará muita diferença. Você é o braço-direito de Thomas Rush, um viajante que passa pelos Estados Unidos ajudando na construção de assentamentos no período pós-nuclear.

Mesmo com o inverno nuclear tendo passado e o mundo florescer com a natureza aos poucos recuperando o mundo, não se engane, a Terra ainda continua um lugar hostil.

Seja por conta dos animais com modificações genéticas ou a gangue que se entitula os Highwaymen, Hope County está longe de ser o “Novo Éden” que Joseph Seed profetizava.

Você encontrará alguns rostos familiares de Far Cry 5 em New Dawn tentando sobreviver e restabelecer a região de Hope County. O que você realmente deve se preocupar é com “As Gêmeas”.

Essas jovens sem escrúpulos e decididas a conquistar o que veem pela frente são as comandantes dos Highwaymen e não vão parar por nenhum motivo enquanto não tiverem controle de Prosperity e seus recursos.

A Ubisoft Brasil até mesmo criou um vídeo de propaganda do game em que as artistas Pepê e Nenêm imitam As Gêmeas e promovem o mundo bizarro de Far Cry New Dawn.

Apesar disso, não espere por uma trama inovadora. O enredo de New Dawn é semelhante a qualquer filme de mundo pós-apoclípitico que você já conheça (tirando algumas boas referências à Mad Max) e beira o clichê.

O grande destaque para esse mundo pós-guerra que a Ubisoft criou não fica por conta da história que envolve os personagens mas sim pelo ambiente. Sem exageros pode-se dizer que, ironicamente com a temática do game, é o título mais bonito da série. Desde os sons do ambiente até a qualidade gráfica, o mundo de New Dawn é uma explosão de cores vivas. Uma “beleza selvagem”.

Hope County já não é mais sua típica cidadezinha americana, mas um mundo em que a natureza floresce nos lugares mais inóspitos e auroras boreais brilham tanto de dia como de noite. Sinta-se à vontade para usar e abusar do Modo Foto do game para aproveitar esse cenário belo e psicodélico.

Super-pulos e muita fita adesiva

A grande diferença de New Dawn em comparação as outras entradas da série não fica por conta apenas de sua história, mas pelos novos elementos de RPG que a Ubisoft introduziu na jogabilidade. Agora o jogador possui muito mais controle sobre seu arsenal e sua base de operações – o rancho dos sobreviventes, Prosperity.

Essa comunidade será seu lar durante toda a jornada do game, portanto, você precisa cuidar bem dele. Existem diversos alojamentos que necessitam de aprimoramentos como bancos de armas, fazendas de plantas curativas, campos de treinamento, etc. A vantagem de cuidar desses pontos e melhorá-los é que assim você irá desbloquear novos equipamentos para utilizar.

Porém, nada é de graça. Para cuidar de Prosperity você precisar do recurso mais valioso de Hope County: Etanol. Você vai obter o combustível de duas formas: ou capturando postos de controle dos Highwaymen ou sequestrando caminhões-tanque de seus inimigos. E é justamente nesse ponto que entra uma das mecânicas mais interessantes de Far Cry New Dawn.

Quem já conhece a série, sabe que Far Cry é conhecido por ter bases inimigas espalhadas pelo território do mapa que você precisa conquistar e libertar. Normalmente, a dificuldade destes postos vai aumentando gradativamente conforme a região em que o jogador se encontra. Já em Far Cry New, o esquema é um pouco diferente.

Os postos de controle dominados pelos Highwaymen estão localizados ao longo do mapa, porém você terá que reconquistá-los várias vezes. A nova mecânica de “coletar recursos dos postos de controle” funciona de forma que o jogador pode libertar um posto, obter seus recursos e depois entregá-lo para os inimigos para libertá-los novamente.

A diferença é que a cada vez que o jogador fizer esse processo, a dificuldade para libertar o posto de controle aumenta. No entanto, as recompensas em forma de recursos também.

O interessante é que esse mecânica consegue reaproveitar um mesmo ponto de controle várias vezes, motivando o jogador a buscar novas estratégias sempre que retornar ao local com inimigos mais poderosos.

Além disso, sempre fique atento aos recursos espalhados por postos ou casas abandonadas, porque você vai precisar deles. É aqui que o elemento de RPG fica mais presente em Far Cry New Dawn, pois todas as armas e equipamentos como kits médicos ou coquetéis molotovs precisam ser fabricados.

E isso não apenas para os elementos de seu inventário mas também para as armas disponíveis em estações de construção. Ou seja, adeus vendedores de armas. A boa notícia é que New Dawn tem algumas armas bem peculiares, como o Saw Launcher: uma besta modificada que lança serras de metal que ricocheteam nos inimigos!

Com esse sistema de fabricação de armas e coleta de recursos, Far Cry New Dawn consegue criar a ambientação pós-apocalíptica perfeita, em que o jogador realmente precisa caçar por recursos para construir seus equipamentos e sobreviver.

Acredite, para conseguir manter seu inventário com dispositivos de qualidade você vai precisar bater muita perna por Hope County e coletar muitas engrenagens e rolos de fita adesiva.

Sem sombras de dúvidas o elemento mais bizarro de Far Cry New Dawn (além de seu visual e sua história) são as novas habilidades disponíveis ao jogador. O game ainda mantém a mesma mecânica de Far Cry 5, em que você precisa completar desafios específicos para obter pontos e desbloquear habilidades.

A novidade ficam por conta das habilidades especiais obtidas pela metade da campanha do jogo, depois do encontro com Joseph Seed. Dentre elas, está a capacidade de dar um pulo duplo no meio do ar.

A explicação para tal feito sobre-humano não existe, mas essa e outras habilidades vão ser mais úteis na sua luta pela sobrevivência e contra os Highwaymen do que você imagina.

Fique atento aos desafios disponíveis no menu do game para acompanhar o que você ainda precisa fazer para conseguir mais pontos e liberar habilidades. Muitos deles virão normalmente ao longo da jogatina, mas outros incluem tarefas e ações específicas e você nunca vai saber quando um pulo duplo irá poder salvar você da morte certa.

E se você curtiu a mecânica dos “companheiros” em Far Cry 5, em que você podia escolher um personagem com uma habilidade específica para ser seu parceiro, ela ainda está presente em Far Cry New Dawn, assim como o bom e velho gameplay no modo co-op.

Alguns personagens de Far Cry 5 retornam para te acompanhar em sua jornada pelas terras devastadas de Hope County, mas certamente o mais feroz e simpático deles é o cão Timber. O cachorrinho é capaz de identificar alvos e outros objetos de interesse no cenário além de andar de garupa com você em qualquer veículo. 

Um Far Cry radioativo demais

Far Cry New Dawn tem pontos positivos e negativos que se entrelaçam de tal forma a avaliar o game no fim como uma experiência mediana. Isso porque, primeiramente, em termos de história, o game obriga o jogador a ter finalizado Far Cry 5, caso contrário ele não será capaz de entender boa parte da trama de New Dawn ou mesmo ter aquela sensação nostálgica ao reencontrar velhos personagens conhecidos.

Por outro lado, New Dawn oferece uma experiência mais “enxuta”, digamos assim. Para alguém como eu que teve a oportunidade de finalizar Far Cry 5, o game me parecia colocar objetivos e elementos demais em um contexto muito compacto. Ou seja, parece que existem coisas demais a se fazer para um game tão curto.

Já New Dawn parece ter mais consciência de seu aspecto de “spin-off” em comparação aos outros games da série e entrega ao usuário uma experiência na medida certa, com customização, ação e exploração para jogador nenhum de games de mundo-aberto colocar defeitos.

Mesmo assim, as novas mecânicas presentes em New Dawn não são capazes de oferecer definitivamente uma experiência nova em termos de Far Cry.

A fórmula de sucesso da série continua lá, em sua essência, com apenas alguns elementos decorativos para diferenciá-la dos outros títulos. Se você é um jogador da franquia e procura algo realmente diferente, Far Cry New Dawn não irá suprir suas necessidades.

Além disso, a Ubisoft parece estar deixando a trama dos games da série definitivamente em segundo plano. Enquanto a franquia já teve vilões memoráveis como Vaas Montenegro em Far Cry 3, os vilões de New Dawn (assim como sua trama clichê) são completamente esquecíveis assim que os créditos começam a rolar.

Tudo bem, sabemos que jogadores desse tipo de games não estão tão interessados na história envolvendo os personagens, mas se esse elemento é considerado tão descartável em New Dawn, fica o questionamento se ele era realmente necessário.

Uma pena, pois a ambientação em um mundo pós-apocalíptico abundante de uma nova natureza e sociedade poderia ter sido explorado de forma melhor pelos roteiristas.