Review: Diablo IV é a prova do triunfo dos “jogos como serviço”

É raro encontrar franquias de videogames que em seus quase 30 anos de existência tenham poucos títulos mas ainda sim estejam firmemente consolidadas na cultura pop. Diablo é uma dessas séries, com seu quarto jogo finalmente chegando a mão dos jogadores em seis de junho.

A Activision-Blizzard deu a oportunidade ao Showmetech experimentar a versão final do jogo por um tempo limitado, e é a partir dessas quase 30 horas que gastamos com o título que escrevemos este veredito, embora, já de cara, admitimos que ele não avaliará muito da experiência pós-campanha, que não tivemos tempo hábil para acessar.

Sem mais delongas, confira nossas impressões sobre Diablo IV:

Aprendendo com os líderes

Assim como comentamos sobre o beta de Diablo IV, a primeira coisa que chama atenção neste novo capítulo da franquia é como ele parece uma evolução (em termos estéticos) direta de Diablo II do que de Diablo III. O mundo perde aquela paleta de cores cel-shaded e ganha um aspecto mais realista e visceral, com montanhas escaladas que parecem convidar o personagem ao purgatório e calabouços sinistros e que deixam claro que algo macabro está ocorrendo ali.

Em meados dos anos 2000, a sensação que Diablo II passava era exatamente essa, e embora hoje em dia jogos de computador sejam muito mais populares, significando a perda daquela sensação transgressora de jogar um título com o nome do coisa-ruim, o quarto jogo ainda parece trabalhar para pelo menos retomar uma parte importante das sensações perdida na transição para o terceiro jogo da franquia.

Mas engana-se quem acha que é somente deste “retorno a forma” que o jogo vive. Diablo IV é um pacote de sensibilidades modernas de jogos online junto do gameplay clássico de RPGs de ação isométricos. Ao mesmo tempo que andar, ganhar experiência matando inimigos e adquirir diversos itens de loot é o ciclo principal de jogabilidade, entender como o mundo como um todo está sendo alterado pelo momento online também é um importante fator a se considerar.

Pode estar tendo um evento que faça itens raros ou lendários serem deixados pelos inimigos mais facilmente, por exemplo, então é bom ir para aquela área que você sabe que tem um item de seu interesse e ficar grindando mais. Quem sabe também um fim de semana de experiência dobrada não apareça, sendo o momento perfeito para nivelar seus personagens secundários de forma mais rápida.

Tudo isso vai criando uma estrutura que, embora no título anterior já existia, parece muito mais conectada a jornada como um todo e, sinceramente, é inegável que parece entender o que jogos como Path of Exile fizeram de maneira tão exímia como o norte para um sucesso. Quem diria que o mestre se tornaria o aprendiz, não é mesmo?

Aventureiros contra o demônio

Como veterano de jogos online (e todo dia sentindo saudade da minha era Final Fantaser XIV), a experiência com Diablo IV ainda ficou mais notavelmente divertida graças a possibilidade de encontrar outros jogadores online sem precisar juntar-se em parties ou coisas do tipo. Só estar andando pelas variadas cidades e encontrar demais aventureiros ajuda a dar uma sensação de vida ao universo, e juntar-se a eles temporariamente para vencer um outro desafio é extremamente satisfatório.

Essa jogabilidade online encaixa-se como uma cereja no maravilhoso ganache que o jogo tenta ser com a matança extremamente divertida ganhando tons comunitários e até mesmo educativos dentro das mecânicas do jogo.

Relato em especial um momento em que nas minhas primeiras 10 horas de jogo estava sentindo que minha progressão não estava de acordo com o nível em que os inimigos estavam aparecendo, e mesmo o grind infinito por loot não parecia estar me dando itens suficientemente satisfatórios.

Comentei em um dos hubs do jogo sobre o fato e um outro jogador com acesso de review conversou comigo e me introduziu ao sistema de crafting – poucas horas depois, minha progressão já estava de volta a um nível aceitável e comigo tendo completa noção de mais uma interessante mecânica do título. Foi uma experiência fantástica e que mostrou como o senso de comunidade vai ajudar neste jogo.

Repetição tem seus problemas

Falar de Diablo, em geral, é falar de repetição. Estamos conversando sobre uma franquia que coloca os jogadores num ciclo infinito de combates nos mesmos mapas em busca de itens específicos e assim por diante. 

O problema, pelo menos nessa versão pouco antes do lançamento, é que a repetição já parece estar sendo usada de maneira exaustiva em vários pontos do level design do jogo de uma forma que não lembro de ter visto em outros capítulos da franquia. 

Em geral, seguindo a rota principal dos atos que compõem a história principal, somos apresentados a diversas aventuras, locais e calabouços com designs legais e divertidos, além de inimigos diversos. O problema está no que eu, particularmente, considero o grosso da experiência com Diablo: as aventuras opcionais.

Eu tinha notado no beta já isso, mas pensei que como só estávamos com acesso ao primeiro ato do jogo, isso mudaria conforme avançarmos na história. Embora sim, é inegável que em momentos diversos as sidequests apresentem momentos interessantes e diferentes, além de únicos, a verdade é que a maioria delas reusa inimigos e layouts de calabouços de maneira um tanto incômoda.

Sinceramente, existiram momentos em que eu legitimamente pensava estar explorando o mesmo lugar que tinha andado algumas horas antes, e isso acabou dando a minha jornada momentos de gargalo de tédio. Entendo que talvez para melhorar e otimizar o desenvolvimento do jogo esta tenha sido a decisão ideal pela equipe da Blizzard, mas considerando o histórico da franquia em sempre parecer ter alguma novidade, foi um tanto decepcionante.

Ao mesmo tempo, o jogo está com um novo formato de “jogo como um serviço”, o que significa que novos conteúdos sempre estarão sendo lançados para ele. Então, embora as impressões no lançamento talvez não sejam das melhores nesse aspecto, quem garante que daqui a um trimestre a situação não tenha mudado completamente, não é mesmo?

Diablo IV tem futuro potencialmente brilhante

Terminando a campanha de Diablo IV para este review, eu não tive dúvidas que a Blizzard acertou (pelo menos em grande parte) no jogo. Saio dele com impressões muito mais positivas do que as de Diablo III, 11 anos atrás, e ainda com a esperança que o tempo só o faça mais bem, tornando-o um dos grandes títulos disponíveis para a atual geração de videogames.

Ao mesmo tempo, encaro com uma certa melancolia sua existência no formato atual. Sua evolução como um “jogo como serviço” passa longe do escopo e dedicação gerados naturalmente pela franquia em seu segundo jogo, o transformando em um produto em que o engajamento dos jogadores é mantido muito mais pela constante implementação de novidades a estrutura do jogo.

É quase como nós não conseguimos viver mais sem acesso a pílulas de informações novas pelas redes sociais, e é de fato curioso ver como isso é algo que também está presente no mundo dos games. 

Não é como se fosse ruim – estamos falando de uma tendência na indústria, e se ela existe quer dizer que uma grande parcela dos jogadores sente-se atraída por ela. Mas 20 anos depois, ver as mudanças acaba me dando tons do homem velho gritando para as nuvens sobre os velhos tempos, que muito provavelmente nunca mais poderão ser vivenciados.

Em sua excelência, Diablo IV, no fim, também é um epitáfio para uma velha indústria. C’est la vie.

Especificações de sistema

Diablo IV

Mínimas

Sistema Operacional	Windows 10 64-Bit
GPU	NVIDIA GeForce GTX 660|AMD Radeon R9 280
CPU	Intel Core i5-2500L|AMD FX-8100
Memória	8GB Ram
DirectX	Versão 12
Armazenamento	SSD com 90GB
Internet	Conexão Banda Larga
Processador gráfico	Intel UHD Graphics 770
Ano de lançamento	2023

Recomendadas

Sistema Operacional	Windows 10 64-Bit
GPU	NVIDIA GeForce GTX 970|AMD Radeon RX 370
CPU	Intel Core i5-46670K|AMD R3-1300X
Memória	16GB Ram
DirectX	Versão 12
Armazenamento	SSD com 90GB
Internet	Conexão Banda Larga
Ano de lançamento	2023

Veja também

Ansioso para Diablo IV? Confira 12 jogos para tornar a espera menos dolorosa

Revisado por Glauco Vital em 31/5/23.