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Abraçando perfis distintos de público, muitas fabricantes optam por delimitar consumidores baseado no poder aquisitivo destes – e, por consequência, no preço dos produtos. No universo tech, em específico, há a “peneira” entre os níveis básico, intermediário e topo de linha. Marcas mais plurais (geralmente as que produzem smartphones) possuem essa divisão em termos bastante óbvios aos olhos do comprador, mas o mesmo não costuma acontecer com aquelas que focam na linha premium.
Uma que foge da regra (e é exemplo disso) é a Apple, empresa que lançou há não muito tempo o iPhone 12 Mini como uma versão compacta da linha flagship de celulares. Por sinal, o aparelho chegou ao Brasil custando entre 7 e 9 mil reais, enquanto a maior e melhor edição do iPhone 12 saiu por mais de R$14 mil. O iPhone XR pode ser considerado outro exemplo, mesmo que mais antigo, de uma abordagem exclusiva a quem quiser uma experiência mais básica com produtos de alto padrão.
Logo, surpreende que uma “grife” como a Beats (adquirida pela Apple em 2014), tenha entrado nesta mesma linha de raciocínio ao lançar o fone sem fio Beats Flex, voltado ao consumidor que sempre sonhou em ter ao redor do pescoço um item estampado com o icônico “b”, sem precisar fazer um grande investimento. Nos últimos dias pude testar este recém-chegado e te conto aqui neste review minha experiência e, acima de tudo, o quanto ele vale a pena.
Design e destaques
Evolução do Beats X, modelo de 2017, o Beats Flex chegou ao Brasil nas cores preto Beats, azul incandescente, cinza-névoa e amarelo cítrico – o testado por mim, foi nesta última cor. Leve e confortável, o fone de ouvido sem fio tem como grande chamativo o cabo Flex-Form, que impede o embaraçamento e cria um formato ergonômico para repousar com tranquilidade sobre o pescoço.
Os fones em si são imantados, capazes de pausar/reproduzir a canção no dispositivo conectado via Bluetooth. Eles ainda se unem de maneira natural quando você os remove do ouvido, pendendo na frente do corpo. E, claro, na hora você ganha pontos de estilo por acidentalmente ter um colar da Beats. Do lado esquerdo do cordão do Beats Flex temos os controles de mídia (pause/play e volume) e na direita vemos o botão on/off (também de pareamento).
Junto dele, na embalagem, temos um curto cabo USB-C duplo e quatro opções extras de encaixe intra-auricular. Tanto o pacote minimalista do fone como o produto seguem as medidas ecossustentáveis com “87% de materiais vegetais provenientes de fibra reciclada e/ou florestas sustentáveis“. Ao pegar o Beats Flex pela primeira vez, tive realmente uma sensação de durabilidade, mas foi inevitável desassociá-lo da aparência de fone básico. Ter materiais “de entrada” não deve ser levado como demérito, contudo, é uma característica notável.
Fato curioso é que este foi o primeiro fone da Apple a ter conexão USB-C. Falando nela, a empresa traz ao produto o chip Apple W14, permitindo alternar facilmente entre dispositivos da Apple como nos modelos existentes de earbuds. Um ponto fraco que, particularmente, age contra requisitos básicos de uso dos fones wireless, é o fato de o Beats Flex não ter nenhuma certificação IP. Ou seja, ele não é resistente à água ou suor – mas todo mundo sabe que a Beats só quer te empurrar o Powerbeats, que tem essa característica, e é voltado para uso esportivo (e custa mais que o dobro).
Uso na rotina
O pareamento simples agradou no primeiro teste com o Beats Flex. Passado pouco tempo de uso, foi como se eu estivesse com um par de “earbuds com fio”, dada a ausência de peso e fricção do cabo ao redor do pescoço. A comparação com os AirPods é mais que justa quando analisamos isso. Com o encaixe certo, mesmo que você coloque a máscara de proteção depois deles, os fones não saem tanto do lugar.
Em relação ao conforto do encaixe no ouvido/orelha, a referência dos earbuds ainda segue: é leve e não incomoda. O Beats Flex funciona melhor se você testar os encaixes intra-auriculares e, no meu caso, dois dos pares inclusos tiveram bom isolamento. Por acaso, ele não possui a tecnologia de cancelamento de ruído ativo, mas o isolamento de ruído adequado ao encaixe foi o suficiente mesmo em cenários públicos. Como eu já tinha um intra-auricular que coube confortavelmente, soube uma estimativa de qual escolher. Por curiosidade: os adaptadores do fone antigo couberam perfeitamente neste.
A qualidade do áudio agrada, mas não surpreende nada (principalmente aos audiófilos, ou àqueles que possuam outros produtos da Beats), já que ele ainda entrega um som básico. Pelo menos, eles soam mais abertos do que outros intra-auriculares (com fio) que já usei. Os graves característicos da Beats têm presença carimbada, com agudos e médios satisfatórios. Em músicas de pop e rock, consegui distinguir voz, instrumentos e toda a excelência de uma boa mixagem estéreo sem esforço algum.
A qualidade do microfone também não impressiona. Testei uma gravação de chamada com ele e com um fone com fio, daqueles que vêm acompanhado do smartphone (de entrada), e não há diferença alguma: ambos soam idênticos. Em três ligações distintas onde a cobaia/amigo do outro lado da linha não sabia sobre o teste, não ouvi reclamações sobre a qualidade, nem sobre volume de voz.
O fone traz conexão Bluetooth de classe 1, então o alcance é relativamente pequeno se comparado a outros fones sem fio. Mesmo assim, na minha rotina ele performou super bem. Pude ouvir música até quatro cômodos de distância do celular (cerca de 40 metros), sem quedas ou falhas. Também não notei delay entre imagem e som, o que para gamers e cinéfilos pode ser um aspecto incômodo no consumo de conteúdo. Tratando de uso com o Beats Flex conectado a diversos aparelhos, ele funcionou bem, como esperado. Não houve nenhuma inconsistência com notebook, dois celulares e nem com o videogame.
O clique dos botões de controle de mídia dá um ótimo feedback tátil. Além disso, os botões de aumentar/diminuir o volume estão separados, o que me agradou por questão de não precisar “entortar” a cabeça para ver qual o certo – mesmo que, às vezes, eu tenha confundido com o de pausar/reproduzir, mas foi questão de rotina. Logo me habituei ao fato de que o microfone (cor preta) estava do lado esquerdo, então colocar o Beats Flex na orientação certa sempre que peguei para utilizá-lo foi, novamente, questão de costume. Após um dia inteiro com ele no pescoço, tudo virou intuitivo e muito mais natural.
Conforme recomendado na embalagem, instalei o aplicativo da Beats em meu Android de testes. Quando conectado, aparece um pop-up de conexão ao Beats Flex, com a carga da bateria em destaque, um toque de design bastante agradável que tenta emular o que seria a conexão imediata com um dispositivo iOS – mesmo que quisesse testar a agilidade dos fones em um iPhone, não possuo. E diferente dos fones sem fio da Apple, que perdem por completo as funções práticas e “mais legais”, se você conectar o Beats Flex a um Android ele mantém os controles de fone básico. Só senti falta de uma seção para efeitos e perfis de áudio.
Com ele, pude atender ligações direto pelo fone. Caso habilitado no smartphone (função padrão dos fones) ele foi capaz de ativar o assistente de voz ao segurar o botão play/pause. A tecnologia dos fones imantados também performou de acordo, com a reprodução de músicas e podcasts. Porém, no final do dia, pense que ele é mais recomendado para quem busca pela praticidade e pelo conforto, não pela qualidade de áudio. O consumidor acostumado com fones intermediários/de luxo com certeza notará a diferença, porém, creio que o “consumidor-alvo” da Beats é justo o interessado no fato de o Beats Flex ainda estar na faixa de entrada.
Bateria
O fone vem com uma proposta de durar 12 horas, com o teste oficial da empresa sendo feito com volume em 50%. Posso afirmar que a estimativa deles está corretíssima, pois eu utilizei o Beats Flex durante duas tardes de trabalho (5 a 6 horas) e ele só foi esgotar à noite. Talvez um aviso no próprio sistema do fone ou no aplicativo de “bateria em 15%”, por exemplo, viesse como um auxílio melhor e um lembrete para carregá-lo. Mesmo assim, a minha surpresa foi positiva, pois me esqueci completamente que estava com fones wireless.
Agora, em termos de carregamento da bateria, o produto conta com a tecnologia Fast Fuel que, como informa a própria Apple, basta ele ser carregado por 10 minutos para resultar em uma hora e meia de reprodução de som. Na ponta do lápis, isso é verídico: com um adaptador fast charger de celular, deixei-o carregando por pouco mais de 40 minutos e ouvi música a tarde inteira. Contudo, como não tenho adaptador com conexão USB-C, não pude conferir o quão rápido ele carrega com o cabo incluso (já que é uma dupla USB-C). Pelo menos poderia ter um USB-A na outra ponta.
Evolução: Beats Flex vs Beats X
Há pouco mais de três anos, no longínquo final de 2017, a Beats lançou no Brasil o Beats X, fone que serve como antecessor para o Flex em todos os aspectos. A começar pelo óbvio, o design, temos a mesma tecnologia ergonômica e anti-embaraçamento Flex Form. Uma mudança em design foi o atual não vir com encaixe exterior para a orelha, além do intra-auricular. O Beats X ainda possuía uma case básica, como se fosse um envelope de silicone, mas pelo menos ela existia.
Na evolução positiva deste, temos uma mudança de cabo Lightning/USB-A para dupla USB-C, para agradar usuários de Android. A localização do microfone agora faz mais sentido, permitindo que você atenda chamadas e converse com alguém só com um fone na orelha, o que antes era o módulo separado. O X tinha 8 horas de duração da bateria, contra 12 deste; em contraste, a estimativa de recarga era de 5 minutos, conectado para até duas horas de uso (mais eficiente que o Flex, onde 10 minutos duram 1h30 min). E ambos ainda não têm resistência à água.
Em termos de custo, o Beats X chegou por R$719 à vista e hoje, mesmo três anos depois, ainda se mantém na mesma faixa de preço. Se pensarmos que em 2017 ele foi lançado por preço sugerido de 150 dólares, em conversão para Real da época (saudades!) ele saía apenas cerca de R$500. Este valor é o triplo, se comparado ao valor do Beats Flex nos EUA, então o mais recente leva a melhor neste aspecto. Discutiremos a relação custo-benefício em mais detalhes abaixo – mas, de antemão, digo que este ponto parece nunca ser um forte da fabricante.
Custo-benefício e conclusão
Mesmo antes da Apple adquirir a Beats, um questionamento popular levantado frequentemente (mesmo por quem adquire/testa) é a relação custo-benefício dos produtos. Quem compra produtos da Apple no Brasil sabe que a empresa traz produtos custosos, mas que muitas vezes têm qualidade de desempenho equiparável aos valores. Então, quando um produto chega ao país com a proposta de ser “de entrada”, espera-se que se tenha um preço baixo e uma qualidade de performance igualmente “básica” ao padrão da marca, certo?
Como o Beats Flex foi vendido nos EUA por 49 dólares, bastou uma rápida referência em outros produtos da fabricante para chegarmos a uma média de quanto ele poderia vir em conversão direta para Real. O Beats Studio3 Wireless de alto padrão, por exemplo, custa cerca de 250 dólares e chegou aqui a um preço sugerido de R$2.499. Logo, nada impressiona o fato de o Beats Flex estar a um preço sugerido de R$580, podendo ser encontrado por R$557 na loja oficial do Showmetech na Magalu.
A conversão de valores do Beats parece beirar a casa da dezena (50 dólares por 500 reais), o que para compradores de gadgets modernos parece uma taxa fora de cogitação – ainda mais com a desvalorização atual da nossa moeda. Por efeitos de situar a realidade do mercado, decidi compará-lo a dois modelos de 2020 que testamos aqui no Showmetech, sendo um da Sony e outro da Samsung.
O Sony WI-SP510 foi comercializado por 80 dólares na chegada ao mercado americano e vendido no Brasil por R$ 429. Hoje em dia é raro encontrá-lo, pois pelo visto o “primo” de 2017 WI-C300 parece ter feito mais sucesso. Mesmo que pertença à subdivisão de earbuds, uma comparação válida de fone de ouvido recente (que testei) é o Samsung Galaxy Buds Live. No exterior, vendido por 170 dólares; aqui ele chegou por R$ 1.299; atualmente é vendido por menos de R$750 – mais barato do que a conversão direta do seu valor de lançamento.
Esta rápida amostra de mercado foi feita com um único propósito. Em português claro, devo reafirmar que o Beats Flex custa muito mais caro do que deveria, mesmo sendo 30% mais barato que seu antecessor. Sem a necessidade de “apontar dedos” para produtos específicos de mesma categoria/hardware similar, outros modelos recentes de fones sem fio com design e proposta quase idênticos custam hoje a metade do Flex. Se incluirmos a comparação a fones com fio, essa disparidade aumenta.
Então, na busca de responder a pergunta “para quem ele foi feito?”, reafirmo o clichê: ele é um produto da Beats. Ele é sinônimo de status e de requinte. Se você quer esta identificação com a marca sem causar um rombo na carteira, essa é a chance. Portanto, enquanto fone de entrada no panorama atual do mercado, ele possui uma relação de custo-benefício bem desfavorável; enquanto fone de entrada dentro das linhas da fabricante (e principalmente uma evoulção se comparado ao antecessor X), o Beats Flex é excelente.
E aí, o que achou do fone de ouvido sem fio Beats Flex? Conte para a gente nos comentários!