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O Apple Watch Series 4 representa a maior evolução no design do smartwatch da Apple desde sua introdução em 2014 e com os refinamentos no software executados nos últimos anos, o Series 4 torna-se um dos acessórios mais desejados por donos de iPhones.
Mesmo assim, velhas questões permanecem: entre os que que ainda não se convenceram da utilidade ou necessidade de um Apple Watch, será essa a versão a persuadí-los? E para quem já se rendeu, vale a pena a atualização?
Acompanhe o nosso review do Series 4 e tire suas próprias conclusões.
Layout e Acabamento
O Apple Watch que analisamos é a versão com caixa de 40mm, GPS + Cellular e acabamento em alumínio dourado. O Series 4 é o relógio mais atraente já produzido pela Apple e definitivamente um dos smartwatches mais elegantes do mercado.
A maior novidade em termos estéticos é a tela OLED curvada sobre as bordas do display criando a sensação de que ela se estende por todo o visor do relógio e funde-se perfeitamente ao metal. A área de visualização da tela é 30% superior à geração anterior do Apple Watch, o que torna o modelo menor mais prático do que em gerações anteriores.
Uma boa notícia é que embora os tamanhos do Series 4 sejam maiores, as pulseiras antigas continuam servindo nos novos Apple Watches. As pulseiras de 38mm se encaixam no modelo de 40mm e as de 42mm no modelo de 44mm.
Embora a Apple chame a mais nova cor do Apple Watch Series 4 apenas de “dourado“, o tom assemelha-se mais ao Rosa Dourado (Rose Gold) usado pela marca em iPhones e MacBooks do que ao dourado mais amarelo disponível na primeira geração do Apple Watch. O modelo em alumínio fosco, disponível em preto, prata e dourado é elegante e funcional, mas se você estiver disposto a gastar, vale a pena conferir as belíssimas versões em aço inoxidável.
Nos últimos dois anos a Apple lançou uma edição especial do Watch em cerâmica, mas dessa vez optou por não liberar uma versão nesse material. Os modelos produzidos em parceria com a Nike e a grife Hermès contudo, foram atualizados e estão disponíveis como Series 4.
A Digital Crown, a rodinha usada para navegar pelos menus do relógio, sofreu um processo de reengenharia, mas a mudança é invisivel ao usuário com duas exceções: nos modelos com 4G, a face não é totalmente pintada de vermelho; há apenas um discreto anel em torno do botão e agora a coroa conta com resposta tátil, pequenas vibrações usadas como feedback para o usuário enquanto ela é girada (similar ao que a Apple já faz em iPhones com 3D Touch).
Uma mudança em relação ao layout do Apple Watch Series 3 foi o reposicionamento dos alto-falantes. Eles foram transferidos para o lado esquerdo do aparelho para facilitar a captação de áudio pelo microfone, que fica no lado direito. Embora sejam poderosos e funcionem muito bem em chamadas telefônicas, a Apple limita bastante o que pode ser reproduzido pelos alto-falantes; Apple Music e Podcasts, por exemplo, só com fones de ouvido.
A Apple também deu uma renovada na parte de baixo do relógio, trocando o antigo acabamento em metal por cerâmica. Os modelos com GPS já usavam esse material, mas a partir do Series 4 todos os Apple Watches contarão com o revestimento. Aparência à parte, sem dúvida a novidade mais impressionante foi a inclusão de um sensor cardíaco elétrico capaz de executar eletrocardiogramas, além do tradicional sensor óptico usado para medição de batimentos por minuto.
watchOS 5
A nova versão do sistema operacional do Apple Watch, o watchOS 5 traz algumas novidades interessantes e está bem mais rápido, mas faz poucas mudanças estruturais no funcionamento do sistema. O watchOS tem ganhado, aos poucos, mais independência do aplicativo Watch no iPhone (e do iPhone em geral), mas ainda há bastante o que evoluir nesse sentido.
Talvez a maior mudança do watchOS 5 em termos de interação com o relógio seja a habilidade de acionar a Siri apenas levantando o pulso e recitando o comando, sem precisar dizer “E aí, Siri” antes, nem segurar nenhum botão. Por falar em botões, uma observação: uma interface baseada em gestos, à iPhone X, seria muito bem vinda também no watchOS. Poucos sentirão falta de apertar o botão na Digital Crown para voltar ao mostrador.
A Apple ainda não permite a criação de mostradores por desenvolvedores terceiros, portanto você terá que usar apenas aquelas disponibilizadas pela própria Maçã. Isso não é um problema para mim, que prefiro interfaces mais minimalistas e estou satisfeito com as opções existentes, mas reconheço que seria uma adição interessante.
Para quem gosta de visualizar o máximo possível de informações em uma única tela, a empresa passou a oferecer um novo tipo de mostrador chamado Infográfico, que permite até 8 complicações (os botões/widgets que você pode adicionar na tela).
Assim como o iOS 12, o watchOS 5 agora agrupa as notificações de um mesmo app na apertada central de notificações do Apple Watch, o que é bem-vindo. Outra adição interessante é a capacidade de exibir páginas da Web no próprio relógio. Não é a melhor experiência de navegação na internet que você terá na vida, mas quebra um galho.
Aplicativos
O Apple Watch é possivelmente o acessório fabricado pela Apple que mais depende da devoção do usuário ao ecossistema de apps e serviços da empresa. Como o suporte de terceiros ao watchOS é bem inferior àquele dispensado ao iOS, as experiências mais ricas e produtivas ocorrem nos apps da própria fabricante, como o Apple Music, Apple Maps, iMessage, etc.
Somente onze apps dentre os mais de cinquenta instalados no meu iPhone possuíam versões para watchOS. Destes instalei os que considerei mais úteis, porém em determinados casos o resultado foi um pouco frustrante.
O serviço de reconhecimento de músicas Shazam, que foi recentemente adquirido pela Apple, por exemplo, teve mais dificuldade para identificar as músicas quando acionado pelo Apple Watch e em alguns casos não retornou nada. Ao pedir uma carona pelo app do Uber, o destino não foi informado ao motorista, tive que inseri-lo pelo iPhone. O aplicativo de cartões Alelo é muito útil para consulta de saldo, mas tem o costume de pedir ao usuário que “autorize” o uso pelo Watch através do iPhone.
A relativa falta de entusiasmo dos desenvolvedores com sistemas operacionais wearable não é exclusividade da Apple e a empresa é certamente a mais bem posicionada para reverter esse cenário. A chegada de apps como o Spotify e Telegram são reforços relevantes para o catálogo da plataforma.
Dito isso, existem experiências bastante positivas. Uma bem interessante é a do Microsoft Authenticator. A configuração do app é um tanto confusa, mas o processo de autorização de acesso ao Outlook pelo relógio é muito prático. O mesmo vale para o app Step Two, que permite visualizar os tokens de verificação em duas etapas direto no Apple Watch.
Outro destaque é o PacoteVício para acompanhar o status de entregas de pacotes (obrigado, Black Friday) e os inúmeros aplicativos focados em esportes e exercícios físicos, como Runkeeper, Swim.com e Strava.
Mas é realmente na integração com o mundo Apple que o Watch realmente brilha. A habilidade de controlar o Apple Music na Apple TV e no iPhone pelo Watch, aumentar ou reduzir o volume nos AirPods, visualizar os dados de exercícios, respiração e batimentos no aplicativo Saúde, a sincronização de lembretes, calendários, fotos e a integração de primeira com o iMessage demonstram todo o potencial do relógio para aqueles que se rendem completamente ao ecossistema.
Deixar o celular em casa e sair para correr ou caminhar levando apenas os fones de ouvido e o relógio é uma das experiências mais libertadoras proporcionadas pela combinação entre o Apple Watch e os AirPods e na minha opinião, um dos melhores motivos para investir em um Watch. O lançamento do app Podcasts no watchOS 5 também foi um ganho importante nesse sentido.
Fitness
O monitoramento de atividades físicas e exercícios é o carro-chefe do Apple Watch; basta olhar para os materais de divulgação do produto, sempre exibindo pessoas praticando esportes e suando a camisa.
O aplicativo Atividade é a central fitness do Watch. É nele que o usuário acompanha suas metas (os famosos círculos coloridos) de movimento/calorias, exercícios e ficar em pé.
O relógio mantém o dono informado sobre o progresso, enviando lembretes e mensagens de motivação para que os círculos sejam fechados até o final do dia. Particularmente, eu considero esse tipo de acompanhamento muito mais relevante que a velha meta de 10.000 passos por dia empregada por outros wearables com recursos fitness.
Para os praticantes de esportes, o app Exercícios já inclui uma série de treinos pré-configurados como caminhada, corrida, elíptico, remo, natação (o Series 4 é à prova d’água até 50 metros) e duas novidades: ioga e trilha. Basta selecionar a atividade desejada e começar a se mexer.
O “atleta” pode definir metas como distância, calorias e tempo e acompanhá-las pelo relógio durante a execução do treino, assim como a frequência cardíaca.
Caso esqueça de iniciar o treino manualmente, o Series 4 consegue identificar quando um desses exercícios foi iniciado ou finalizado e emite uma notificação questionando se a atividade deve ser registrada.
Se você pratica corrida, o Watch conta com novos tipos de monitoramento de progresso para esse exercício, como alertas de ritmo, passos por minuto e comparação de desempenho em relação ao quilômetro anterior.
A busca por uma vida mais saudável e menos sedentária é uma das maiores forças hoje no mercado de dispositivos wearable e o Apple Watch Series 4 se posiciona com sucesso como uma opção tanto para quem está apenas começando a se mexer e quer levantar um pouco do sofá quanto para os praticantes mais intensos e experientes.
Saúde
A saúde física e mental do usuário é um dos maiores focos do Apple Watch Series 4 e novos recursos introduzidos nesse modelo levam essa missão a um patamar ainda mais elevado.
Uma interessante adição é a detecção de quedas. Essa função reconhece que o usuário levou um tombo forte e automaticamente aciona os serviços de emergência e contatos selecionados caso a pessoa não se movimente por mais de um minuto. O recurso tem altíssimo potencial no cuidado de pacientes idosos e é ativado por padrão para indivíduos acima de 65 anos.
O monitor de frequência cardíaca embutido no dispositivo, além de registrar os batimentos, é capaz de detectar frequências muito altas ou muito baixas. Se perceber uma mudança na frequência cardíaca, o Watch avisa o usuário para que ele possa procurar ajuda médica.
Como citei no início da review, o Series 4 conta com um sensor cardíaco elétrico para execução de eletrocardiogramas, mas infelizmente o recurso ainda não está disponível no Brasil. A Apple liberou-o através de uma atualização de software (watchOS 5.1.2) apenas nos EUA. A agência americana responsável pela fiscalização de dispositivos médicos (FDA) já aprovou o uso do aparelho para esse fim, mas a Apple não deu detalhes sobre o andamento da homologação em outros países. Vale notar que a FDA não considera o Apple Watch um substituto para métodos tradicionais de diagnóstico.
Uma área na qual o Apple Watch continua devendo é a de monitoramento de sono. Ainda não há um app padrão para medir a qualidade do sono no Series 4 e embora não faltem opções na App Store, os melhores aplicativos desse tipo são pagos. Em 2017 a Apple adquiriu uma startup chamada Beddit, cujo principal produto é um sensor colocado embaixo do lençol para analisar o sono, respiração, ambiente, ronco, etc. portanto é possível que a empresa tenha novidades em breve nesse sentido.
Bateria
A Apple promete 18 horas de duração da bateria, o que se aproxima bastante do resultado que tivemos nos dias que passamos com o Series 4. A conexão 4G do Watch não foi utilizada nesses testes e como o sinal celular é notório consumidor de bateria, fica a ressalva.
Em dias onde o uso do Apple Watch Series 4 foi menor, o relógio chegou ficar próximo de 36 horas longe da tomada, mas nos períodos de uso mais intenso (exercícios, GPS, áudio Bluetooth), foi necessário carregá-lo na mesma data, à noite. O brilho da tela era mantido em nível baixo ou médio.
Preço
O Apple Watch Series 4 começa custando R$ 3.999. Por esse valor você leva a versão com caixa de 40mm com acabamento em alumínio, GPS e pulseira esportiva (modelo padrão ou Nike+). As pulseiras Sport são acessíveis e confortáveis de usar, mas na minha opinião deixam o relógio com um aspecto um tanto “barato”, pois não valorizando tanto o design da caixa.
A partir daí os preços variam de acordo com a conexão celular (nenhuma ou 4G), material (alumínio/aço inoxidável), tamanho da caixa (40mm/44mm) e pulseira escolhidos (esportiva/couro/aço); os mais fashionistas podem preparar o bolso: os modelos Hermès com caixa 44mm de aço e pulseira de couro custam estratosféricos R$ 13.999.
E mais um detalhe: para usar a conexão 4G no Apple Watch é obrigatória a contratação de um plano de dados específico que no Brasil é oferecido apenas pela Claro e custa R$ 29,99 ao mês.
Conclusão do Apple Watch Series 4
Mesmo com a inclusão e o refinamento de tantas funcionalidades, ainda não é possível dizer que o Apple Watch – ou qualquer smartwatch – seja um item essencial e confesso que ainda não estou disposto a trocar a minha pulseira fitness (comprada por menos de 500 reais) por um relógio inteligente de R$ 4 mil.
Como principais pontos negativos do Series 4 eu destacaria o preço salgado, o ecossistema de aplicativos insatisfatório e a incompatibilidade com smartphones Android, o que afasta a maior parte dos consumidores brasileiros – e provavelmente não irá mudar.
Dito isso, existem vários bons motivos para adquirí-lo se você já for um cliente Apple ou tenha a intenção de se mudar para esse pomar. O Series 4 aumenta a “experiência Apple” de diversas formas, é um bom companheiro daqueles dispostos a levar (ou continuar levando) uma vida mais ativa e saudável e ainda embrulha tudo isso em um pacote sofisticado e cativante.
Os recursos de saúde, principalmente os avanços em monitoramento cardíaco e a detecção de quedas, tornam o smartwatch da Apple a primeira opção para quem precisa desse tipo de informação constantemente.
Inclusive, este talvez seja o grande diferencial do Apple Watch: o equilíbrio entre as experiências comuns, como ouvir música, receber notificações, consultar o calendário e recursos fitness que são avançados, mas fáceis de entender e acessar. Nessa pequena tela cabem experiências proveitosas para todos os públicos.