Dentre as muitas transformações que a tecnologia vem promovendo, a economia ainda é um setor que pode ser muito influenciado pelos avanços tecnológicos. Uma das ideias mais promissoras é o bitcoin. O conceito foi introduzido em 2008 num white paper publicado por um inventor com o pseudônimo de Satoshi Nakamoto, como sendo uma criptomoeda e sistema de pagamento online baseado em protocolo de código aberto — independente de qualquer autoridade central.
Isso significa que, ao contrário das moedas tradicionais, os bitcoins não são distribuídos por um banco central ou lastreados por ativos como ouro, mas são gerados por computadores a partir de fórmulas mais complexas. Essa característica faz com que o bitcoin seja mais “neutro” do que as moedas tradicionais, que se baseiam apenas em uma lógica matemática.
Um bitcoin é, na verdade, um arquivo de computador que tem uma sequência específica de números. Há 3 maneiras para conseguir bitcoins. A primeira é o “mining” (extração em inglês), que significa baixar e rodar um programa de computador para que ele gere “moedas“. Pode-se também usar dinheiro real para comprá-los ou ser pago por meio deles — algo que um número cada vez maior de estabelecimentos, inclusive no Brasil, faz.
Quase uma década depois de sua invenção, a identidade de seu criador pode ter sido finalmente revelada. Em entrevistas às revistas The Economist, GQ e à rede BBC publicadas nesta segunda-feira (2), o empresário australiano Craig Steven Wright, afirmou que é o inventor do bitcoin. Para sustentar a “paternidade” da invenção, Wright mostrou algumas provas técnicas da criação. Ele nega querer dinheiro ou fama com a revelação.
Em dezembro do ano passado (2015), Wright foi identificado como Nakamoto em reportagens publicadas pela revista Wired e pelo site Gizmodo. Horas depois da publicação dessas reportagens, a casa do empresário em Sydney, e seu escritório, foram revistados pela polícia federal australiana, em conexão com uma investigação do Fisco do país.
Conhecer a identidade de “Satoshi Nakamoto” seria muito significativo para o desenvolvimento futuro do bitcoin e, potencialmente, para seu preço no mercado. De acordo com a Coinbase (espécie de “casa de câmbio” para bitcoins), um bitcoin vale 446,23 dólares (cerca de 1550 reais). Qualquer mudança no protocolo da moeda só pode ser implementada por consenso na comunidade, mas o verdadeiro fundador da criptomoeda poderia ter poder de barganha considerável.
Isso porque há um crescente “raxa” na comunidade de usuários do bitcoin. A disputa surgiu de uma questão sobre o número de transações por segundo que a rede dos bitcoins deve ser capaz de aceitar. Os próprios conflitantes se descrevem como pertencentes a 2 correntes: de um lado, os populistas cujo objetivo é expandir o potencial comercial do bitcoin, e do outro, os elitistas, mais preocupados em proteger o status da moeda virtual, como antagonista radical às moedas existentes.
Nos últimos seis meses, a divisão gerou ataques de hackers que derrubaram provedores de acesso à internet e até mesmo ameaças de morte contra desenvolvedores do bitcoin. A primeira vista o assunto pode parecer algo que interessa apenas aos fãs de tecnologia, mas a celeuma expôs diferenças mais profundas sobre os objetivos básicos do projeto bitcoin e sobre o governo das comunidades online.
A disputa ocorre justamente no momento em que a tecnologia do bitcoin começa a ganhar credibilidade em Wall Street e no Vale do Silício. Para alguns especialistas em blockchain (tecnologia por trás das criptomoedas), o surgimento de um criador para os bitcoins poderia ajudar a trazer consenso e equilíbrio para a comunidade.
Apesar disso, Wright diz que “não quer ser a imagem pública de nada“. O empresário também afirmou não querer manter sua fortuna em bitcoins — especulada em 414 milhões de dólares — mas deseja gastá-la lentamente (para não puxar a cotação pra baixo) em pesquisas.