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Os games de esporte quase sempre são consumidos por seus nichos e poucos são aqueles que conseguem furar a bolha, mas nenhum fez tanto para o seu esporte quanto a série Tony Hawk’s Pro Skater fez pela popularização do skate. Após o sucesso da estreia do esporte nas Olimpíadas de Tóquio e às vésperas da primeira etapa do Street League (mundial da categoria street), o skate voltou aos holofotes do grande público. Não parece o momento adequado relembrar dessa franquia que marcou história nos videogames?
O homem por trás do jogo
Anthony Frank Hawk, mais conhecido como Tony Hawk, é possivelmente o skatista mais popular do mundo e um dos mais importantes para difusão do esporte, seja pelos seus feitos sobre quatro rodinhas, como pela franquia de jogos que toma emprestado seu nome. Desde o final dos anos 80, ele se tornou uma das referências do skate, ao lado de figuras como Rodney Mullen — mestre do freestyle e considerado o maior de todos os tempos na modalidade street — que hoje são consideradas lendas.
Tony Hawk colecionava troféus numa época em que a comunidade era muito mais dividida sobre existência de competições de skate, já que, para muitos, esses campeonatos iam contra a filosofia de liberdade proposta pela prática do esporte. Por isso, Hawk não era tão popular por parte dos próprios skatistas. Para piorar, no início dos anos 90 os campeonatos já não eram tão lucrativos, o que obrigou o astro a se reinventar, dessa vez criando sua própria marca de artigos de skate, a Birdhouse, que existe até agora.
Três anos depois, em 1995, foi criado o X-Games, o maior evento dedicado aos esportes de ação, competição que Hawk faria história, acumulando 10 medalhas de ouro. Em uma de suas conquistas, a do ano de 1999, ao vivo, acertou pela primeira vez o 900º, vencendo a disputa de melhor manobra daquela edição e realizando um dos acontecimentos mais inesquecíveis dos X-Games e da história do skate mundial.
Não satisfeito, no mesmo ano o atleta fez uma manobra tão importante quanto o 900º: ele topou uma parceria com a Activision para criar uma franquia de jogos com o seu nome, sendo o primeiro título, Tony Hawk’s Pro Skater, lançado ainda em 1999, para o PlayStation, Nintendo 64, Game Boy Color, Dreamcast e N-Gage, e reunindo grandes estrelas da época como personagens, entre eles o brasileiro Bob Burnquist. Foi a partir desse ponto que Tony deixava de ser “apenas” o maior skatista de todos os tempos. Ele também viraria um ícone da cultura pop.
Por que os jogos do Tony Hawk eram tão bons?
Os jogos, principalmente a primeira trilogia, são quase documentos históricos sobre a cultura pop na transição dos anos 90 para o início dos anos 2000. O primeiro jogo foi lançado no timming perfeito, momento em que o skate estava no auge da popularidade, que casava com o crescimento da cena do ska e pop punk naquele período, cujas bandas geralmente faziam parte das sessões de vários skatistas. Some tudo isso a uma gameplay simples, intuitiva e gráficos 3D acima da média para a época. Tony Hawk’s Pro Skater virou um clássico instantâneo.
De uma cultura marginalizada e de nicho, os jogos foram um canal de disseminação do skate. Tony Hawk’s Pro Skater ajudou a comunidade a dar nome a manobras, pegadas, drops, entre outros movimentos e momentos da prática. Entre os vários tipos de flips, sedimentou uma linguagem comum.
Também influenciou aspectos periféricos ao esporte, como atitude, roupas e música. Para os jogadores, a faixa de ska punk “Superman” da banda Goldfinger é boa, mas fica melhor com o ruído das rodinhas no asfalto ao fundo.
No Brasil o jogo também foi um sucesso, mas aqui tivemos dois motivos muito fortes: a presença de um personagem brasileiro no jogo, Bob Burnquist, hoje considerado uma lenda do esporte, e, claro, a pirataria, que vivia o boom da popularização, principalmente no PlayStation, com uma mídia — CD — barata e de fácil manipulação.
Tony Hawk’s Pro Skater (1999)
O primeiro jogo do Tony Hawk foi lançado em 1999 e o impacto cultural do jogo permanece. Criado pela Neversoft, Tony Hawk’s Pro Skater foi o pontapé ideal para a série. Destacando-se pelos controles responsivos e originalidade da proposta, bastava apertar alguns botões no tempo certo para fazer manobras que custariam alguns hematomas no half-pipe de cimento.
Além disso, introduz segredos e metas típicas de videogame, como a coleta de itens espalhados em cenários. O mais notório é “Warehouse”, um armazém abandonado cheio de obstáculos e grafite nas paredes. Logo no início era preciso quebrar uma vidraça.
Tony Hawk’s Pro Skater 2 (2000)
Os fãs de Tony Hawk’s Pro Skater não tiveram que esperar muito para uma continuação. Visto o sucesso do primeiro jogo, a Activision não perdeu tempo e logo no ano seguinte Tony Hawk’s Pro Skater 2 saiu.
A continuação elevou o nível em todos os aspectos se comparado ao primeiro jogo. Além de manobras diferenciadas — sem contar a fundamental adição do manual —, um sistema de customização de personagens e uma trilha sonora de dar inveja a qualquer outro jogo já produzido foram adicionais. Tony Hawk’s Pro Skater 2 ainda oferecia recursos para os jogadores criarem seu próprio skate park. Ah, não posso esquecer de avisar: podemos jogar com o Homem-Aranha!
Tony Hawk’s Pro Skater 2 é, até hoje, considerado por muitos fãs e especialistas como o melhor jogo da franquia de todos os tempos. Outro dado impressionante: a versão de PlayStation do jogo tem uma nota geral de 98 no agregador Metacritic, ocupando a segunda colocação geral, ficando atrás apenas de The Legend of Zelda: Ocarina of Time, de Nintendo 64.
Tony Hawk’s Pro Skater 3 (2001)
Tony Hawk’s Pro Skater 3 repetiu, pela terceira vez consecutiva, o sucesso da série, que, na época, já se posicionava como uma das franquias de games de esportes mais relevantes da história. Isso mesmo, em apenas três anos.
Assim como no seu antecessor, ele repetiu os sistemas que fizeram sucesso: você deve escolher um entre 13 dos maiores atletas e andar por diversas pistas ao redor do mundo, realizando objetivos em um tempo pré-determinado de dois minutos.
Tony Hawk’s Pro Skater 3 foi considerado revolucionário por conta de seus gráficos e físicas, que o diferenciaram bastante de seus antecessores; tudo devido à capacidade do PlayStation 2 (PS2), bastante superior à do PlayStation, em que seus antecessores foram lançados. É chover no molhado falar bem da trilha sonora da franquia nesta altura do campeonato, mas é bom destacar que, neste jogo, a música “Blitzkrieg Bop” apresentou Ramones para uma nova geração.
Tony Hawk’s Pro Skater 4 (2002)
A quarta versão de Tony Hawk não traz grandes inovações. Afinal, em time que está ganhando… O básico é o mesmo: fazer as manobras para ganhar pontos, completar os objetivos e abrir novas pistas, tudo isso embalado com uma trilha sonora composta por muito punk rock, ska e hardcore.
Assim como seu antecessor, o jogo ganhou uma atualização: gráficos melhores e mais naturais, novas pistas e skatistas e um modo de carreira revisado. Nesse modo, o jogador deve trilhar seu caminho ao sucesso. Você começa como amador e vai vencendo os campeonatos até se tornar um profissional. No modo de carreira, cada skatista tem um objetivo diferente: uns querem vencer um determinado campeonato, outros querem realizar determinada manobra, entre outros.
Apesar de ser um ótimo jogo, Tony Hawk’s Pro Skater 4 deu os primeiros indícios de cansaço da franquia. Para muitos fãs, esse foi o último jogo antes do seu declínio.
Embora a franquia ainda tenha títulos, como Tony Hawk’s Underground 1 e 2, e American Wasteland, foi com a quadrilogia Pro Skater que os jogos do Tony Hawk marcaram uma geração, seja pela inovação na indústria dos videogames, como para a popularização de um esporte até então marginalizado.
Legado
Como citado algumas vezes acima, a franquia popularizou o esporte, fazendo muitos jogadores trocaram o joystick por um skate de verdade. Hoje, existe uma leva de ex-gamers que agora são skatistas profissionais. Como é o caso da brasileira Letícia Bufoni — hoje personagem jogável de dois games da franquia — que começou a andar de skate aos 9 anos após várias horas fazendo manobras no controle de Elissa Steamer.
Quando eu comecei a jogar [o Tony Hawk Pro Skater], eu jogava com a Elissa. Queria jogar com uma menina, não com um homem. Ela é minha skatista favorita de todos os tempos, era a única mulher que me inspirava. É incrível ter essa conexão e poder andar com ela hoje
Disse a brasileira, em entrevista à Folha.
O sucesso dos jogos de Tony Hawk também instigaram a indústria, afinal, outras empresas queriam pegar essa fatia do mercado dos jogos de skate. Foi então que surgiram games como Skate, e os jogos Season e Skater XL, que buscam ser mais próximos de simuladores, com mudanças consideráreis no gameplay e novos focos narrativos.
Os jogos de skate vão ganhar mais atenção
Após o sucesso do esporte nas Olimpíadas de Tóquio um novo público quer sentir o gostinho que é andar de skate, mesmo que virtualmente. A franquia Tony Hawk, antecipando isso, lançou ano passado Tony Hawk’s Pro Skater 1 + 2, um remake dos dois primeiros clássicos que marcaram a transição dos anos 90 para os anos 2000. Além da parte gráfica atualizada, o jogo também atualiza seus personagens. Seja com as versões envelhecidas dos veteranos e novos ídolos do esporte, como a acima citada Letícia Bufoni e o multicampeão Nyjah Huston.
Rayssa Leal’s Pro Skater
Claro, após a medalha de prata nas Olimpíadas, os brasileiros já pediram DLCs da Rayssa “Fadinha” Leal Tony Hawk’s Pro Skater 1 + 2, mas enquanto a Activision segue calada, a equipe do Bomba Patch — conhecida por criar o tradicional mod para Pro Evolution Soccer (PES), que agora se chama eFootball — provou, mais uma vez, que é 100% atualizada, criando um mod incluindo a maranhense em Tony Hawk‘s Pro Skater 3, intitulado Rayssa Leal’s Pro Skater.
E aí, você também já tentou pisar num skate pós jogos olímpicos também? E os jogos do Tony Hawk, já fizeram você conhecer algum artista? Comente abaixo!
Confira também o canal do Youtube da Rayssa Leal e outros atletas olímpicos brasileiros!
Fontes: Bomba Patch| Folha
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