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Desde 2023 estamos vendo chuvas intensas, levando a alagamentos na região do estado do Rio Grande do Sul. Em abril de 2024 esse cenário se intensificou em uma catástrofe, fazendo mais de um milhão de atingidos em todo o estado. Mas por que choveu tanto no Rio Grande do Sul? A região foi pega de surpresa com as chuvas? Aqui vamos analisar estudos e posicionamento de cientistas especializados na área para explicar como tudo isso culminou no desastre que o Brasil e o mundo estão acompanhando.
Explicando a catástrofe
O Rio Grande do Sul está enfrentando uma condição meteorológica extraordinária devido a temporais e chuvas intensas. O estado está sob o impacto de sucessivas frentes frias provenientes do sul do continente, que encontraram uma barreira na forma de uma zona de alta pressão localizada no centro do Brasil, atuando como uma grande parede que impede a saída dessa frente fria.
Essa mesma zona de alta pressão não apenas bloqueia o avanço das frentes frias, mas também desvia a umidade do Oceano Atlântico para o Rio Grande do Sul a partir do Leste e ainda através da Amazônia, entrando pelo Oeste. Como resultado, o estado está recebendo umidade de múltiplas direções, o que contribui para a persistência e intensificação das chuvas. Enquanto isso, a frente fria atual fica estacionada sobre a região, incapaz de se dissipar devido à influência da zona de alta pressão.
As chuvas que têm assolado o Rio Grande do Sul desde o final de abril de 2024 deixaram um rastro de impacto em quase 90% das cidades do estado, conforme indicado pelo último balanço divulgado pela Defesa Civil na manhã da última sexta-feira (10). De acordo com o relatório, das 497 cidades gaúchas, 435 foram afetadas pelas tempestades, o que representa aproximadamente 87,5% do total. Em outras palavras, apenas 62 municípios não registraram nenhum impacto direto relacionado às chuvas.
O Governo do Estado acolheu desalojados e coordenou doações. Um centro esportivo em Porto Alegre foi transformado em abrigo, enquanto em Canoas outro espaço recebeu cerca de 7.000 pessoas, segundo dados oficiais. No entanto, a obtenção de informações consolidadas foi dificultada devido a danos no banco de dados estadual causados pelas enchentes.
O último balanço oficial registra 107 mortes, com 1,7 milhão de pessoas afetadas em todo o estado e quase 330 mil desalojadas. Mais de 800 mil pessoas estão sem energia elétrica, e problemas nas redes de telefonia móvel afetam mais de 50 cidades. Quase 1.000 escolas foram afetadas em 239 municípios, impactando mais de 350 mil alunos.
Um evento climático extremo
A expressão “catástrofe socioambiental” ganhou destaque nos noticiários, enquanto “emergência climática”, “adaptabilidade” e “resiliência” tornam-se termos familiares para autoridades e cidadãos brasileiros, buscando entender e enfrentar os eventos climáticos extremos. O meteorologista brasileiro Carlos Nobre, referência mundial em estudos ambientais e mudanças climáticas, esclarece o conceito de eventos climáticos extremos e por quê a situação no Rio Grande do Sul foi categorizada dessa forma.
O profissional afirma que o termo se refere a eventos meteorológicos que sempre ocorreram na natureza, como chuvas intensas e prolongadas, secas severas ou ondas de calor, que agora estão se tornando mais frequentes e intensos. O que costumava ocorrer a cada década agora acontece a cada dois ou até mesmo todos os anos, e às vezes ainda estabelecendo novos recordes.
A situação no Rio Grande do Sul exemplifica isso, com chuvas que superam todos os registros anteriores. Mais de 60% do território gaúcho registrou volumes de chuva superiores a 800 milímetros, algo sem precedentes. Em menos de 15 dias, choveu o equivalente a cinco meses de precipitação em todo o estado, com previsão de mais chuvas devido a uma nova frente fria. Embora não atinja o mesmo volume de dias anteriores, os níveis dos rios permanecerão elevados, resultando em alagamentos contínuos nas áreas mais baixas.
Essa tendência não é exclusiva do Brasil, e está ocorrendo em todo o mundo. Os eventos climáticos extremos deixaram de ser raros, tornando-se cada vez mais comuns devido às mudanças climáticas provocadas pelo aquecimento global, resultado da emissão de gases do efeito estufa na atmosfera.
Outros eventos semelhantes no Brasil que aconteceram nos últimos anos:
- Janeiro de 2011: chuvas na região serrana do Rio de Janeiro registraram 918 mortes e 100 desaparecidos;
- Janeiro de 2020: chuvas na região metropolitana de Belo Horizonte;
- Fevereiro de 2020: chuvas na região metropolitana de São Paulo, Ceasa foi alagado afetando a oferta de alimentos;
- Março de 2020: chuvas no litoral de São Paulo, com impacto em Santos, Cubatão, São Vicente, registraram mais de 43 mortes;
- Dezembro de 2021: chuvas no sul da Bahia deixaram 23 mortos;
- Janeiro de 2022: chuvas em Belo Horizonte registraram dois mortos;
- Janeiro de 2022: chuvas na região metropolitana de São Paulo registraram 34 mortes;
- Fevereiro de 2022: chuvas em Petrópolis deixaram 235 mortes;
- Março de 2022: chuvas em Petrópolis registraram 7 mortes;
- Abril de 2022: chuvas nas cidades da Costa Verde, de Guarapari, Angra dos Reis, no Rio de Janeiro 20 mortes;
- Maio de 2022: chuvas na região metropolitana de Recife, 133 mortes;
- Dezembro de 2022: chuvas em Minas Gerais deixaram 13 mortos;
- Fevereiro de 2023: chuvas no litoral de São Paulo, em São Sebastião e Ubatuba registraram 65 mortos;
- Junho de 2023: litoral do Rio Grande do Sul deixaram 16 mortes;
- Setembro de 2023: Vale do Taquari registrou 54 mortes;
- Março de 2024: chuvas na região serrana do Rio de Janeiro com mortes em Petrópolis e Teresópolis deixaram 8 mortes;
- Março de 2024: chuvas no Espírito Santo registraram 18 mortes.
Possíveis causas
Muitas são as razões pelas quais o estado está enfrentando esse desastre. Confira alguns dos motivos pelos quais estamos presenciando esse evento climático extremo.
A presença de populações em áreas de risco/alagamento
A adaptação insuficiente das cidades às mudanças climáticas pode ser atribuída também ao desenvolvimento urbano sem planejamento, que nem sempre considera devidamente aspectos como geografia e níveis de vulnerabilidade perante essas mudanças. A preservação ambiental muitas vezes não recebe a atenção necessária nesse processo.
Não basta apenas realocar a população que vive em áreas de risco, é necessário considerar todas as regiões suscetíveis a alagamentos e deslizamentos. Infelizmente, as áreas mais valorizadas para empreendimentos imobiliários e habitação são justamente aquelas mais vulneráveis a inundações, como as próximas a rios e lagos, ou situadas em áreas planas, baixas e úmidas.
O ecossistema das áreas úmidas desempenha um papel crucial na mitigação de enchentes, atuando como uma espécie de “esponja” durante esses períodos de chuvas intensas. Ainda assim essas áreas estão se tornando cada vez menos resilientes devido à expansão urbana descontrolada.
Com as previsões meteorológicas é possível anunciar um evento extremo climático com dias de antecedência, como o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) alertou o Rio Grande do Sul e a Defesa Civil. Mas nós precisamos fazer com que esses sistemas de alerta estejam em todos os lugares de risco. O Cemaden está concluindo um estudo que aponta mais de 1,9 mil municípios com áreas de risco de deslizamentos, inundações e enxurradas.
Carlos Nobre, meteorologista
Do ponto de vista ambiental, as decisões de expansão urbana estão indo na contramão da segurança, ignorando os riscos ambientais associados à ocupação dessas áreas vulneráveis. É fundamental que haja um planejamento urbano mais consciente, que leve em consideração a preservação da natureza e a redução dos impactos das mudanças climáticas, visando a segurança e o bem-estar das comunidades urbanas.
Outro elemento geográfico relevante do Rio Grande do Sul a se levar em conta na adaptação à nova realidade climática é a presença de diversas cidades situadas nos vales dos rios. Essas áreas, caracterizadas por baixa altitude, são circundadas por elevações como morros e montanhas, e estão próximas aos corpos d’água.
Um exemplo fica para Muçum, uma cidade situada no Vale do Rio Taquari, que enfrentou inundações três vezes durante o ano de 2023. A primeira ocorreu em junho, resultando na perda de 16 vidas. Em setembro, 53 pessoas perderam a vida devido à passagem de um ciclone extratropical, e em novembro, mais de 700 mil pessoas foram afetadas por chuvas torrenciais.
Os municípios gaúchos vêm enfrentando um forte crescimento urbano sobre áreas úmidas remanescentes. Essas áreas são importantes porque tem o que chamamos de efeito esponja: esse serviço dado pela natureza é justamente para que quando há uma grande carga d’água ela vá para lá, e as zonas mais altas fiquem seguras. Estamos fazendo o contrário do que deveríamos: estamos indo para dentro de onde não deveríamos ir, nos expondo ao risco, criando situações que colocam vidas em perigo, e prejuízos recorrentes.
Marcelo Dutra da Silva, ecólogo, doutor em ciências e professor de Ecologia na Universidade Federal do Rio Grande (FURG)
O agravamento pelo El Niño
Para entender melhor a relação do El Niño com as chuvas no Rio Grande do Sul, devemos primeiro saber a origem e a influência deste fenômeno. No século XIX, pescadores do norte do Peru observavam um fluxo anual de água morna do Oceano Pacífico que fluía para o sul. Como acontecia em torno da data do Natal, eles chamaram o fenômeno de El Niño, tradução literal de “o menino”, em homenagem ao “menino” Jesus.
Cientistas peruanos mais tarde notaram que o fenômeno mais intenso associado às águas aquecidas tinha um intervalo de vários anos e levava a enchentes sazonais catastróficas em um litoral que normalmente era árido. A primeira ocorrência registrada da anômala chuva do deserto foi em 1525, quando o colonizador Francisco Pizarro chegou ao Peru.
Esse fenômeno tem como um dos impactos favorecer as chuvas acima da média na região do estado gaúcho, explica Desirée Brandt, sócia-executiva e meteorologista da empresa Nottus, especializada em consultoria meteorológica para negócios. As chuvas atípicas e volumosas também atingem partes do norte da Argentina e o sul do Paraguai e do Uruguai, como explica o meteorologista Leandro Cardoso.
Desde os últimos meses de 2023, testemunhamos um intenso El Niño, após anos de uma La Niña persistente. La Niña é o inverso do El Niño — nela, observa-se um resfriamento das águas de superfície do Oceano Pacífico. Juntos, os dois fenômenos são conhecidos como ENSO, sigla em inglês para Oscilação Sul do El Niño. Essa oscilação, ligada a anomalias de temperatura, altera padrões da circulação global da atmosfera, afetando os regimes de chuvas e temperatura.
É sabido que um ano de El Niño está associado a mais chuvas no Sul e tempo seco no Nordeste brasileiros. Várias das grandes secas históricas do Nordeste ocorreram em eventos intensos de El Niño. O maior volume de chuvas no centro-sul do país, por consequência, se torna algo típico de ocorrer neste cenário.
Regina Rodrigues, professora de Oceanografia e Clima da Universidade Federal de Santa Catarina, explica que a recente temporada de chuvas extremas resulta de uma interação entre o El Niño e as mudanças climáticas. Desde sua emergência no meio do ano passado, esse fenômeno climático intensificou as condições meteorológicas não apenas no Brasil, mas em todo o mundo.
Antes de atingir seu pico em outubro de 2023, o El Niño contribuiu para temperaturas extremas no país, chegando a 40 graus, desencadeando seca na Amazônia, incêndios florestais, redução da profundidade dos rios e perda de fauna. Um mês antes, o Rio Grande do Sul enfrentava inundações devido ao excesso de chuva. Em apenas 19 dias, as precipitações alcançaram 450 milímetros, muito acima da média histórica para essa época, que varia de 70 a 150 milímetros.
Os especialistas reconhecem que os estágios iniciais e finais do El Niño tendem a ter os efeitos mais devastadores. Embora alguns institutos internacionais de clima tenham declarado o fim do El Niño, há controvérsias entre os climatologistas sobre essa questão. Mesmo que o fenômeno tenha terminado no Oceano Pacífico, seus efeitos ainda são perceptíveis nos continentes.
Falta de medidas preventivas
As enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul resultaram da conjunção de um evento climático sem precedentes e da negligência das autoridades, evidenciada por uma série de alertas prévios que indicavam a iminência de uma grande tragédia.
Antes de falar sobre os alertas feitos, vamos conhecer a MetSul, peça fundamental nessa história. A MetSul é uma empresa de meteorologia que fornece previsões meteorológicas para a região sul do país, bem como análises climáticas e informações sobre eventos meteorológicos significativos. A MetSul ganhou reconhecimento por sua precisão e detalhamento nas previsões, especialmente em relação a fenômenos climáticos específicos para o sul do Brasil e países vizinhos, como Uruguai e Argentina.
Os primeiros sinais de chuvas intensas surgiram em 21 de abril, com o MetSul prevendo “episódios consecutivos de precipitação no estado, com volumes significativos em determinadas áreas“. Estimava-se que os índices pluviométricos poderiam atingir até 200 mm em certos pontos, entre o final de abril e o início de maio.
Quatro dias depois, o MetSul emitiu um alerta sobre o risco de uma situação semelhante à ocorrida em 2023. O instituto advertiu que as chuvas poderiam perdurar por vários dias, alcançando até 300 mm, e superando a média esperada para dois meses em apenas uma semana. Assim como em 2023, uma onda de calor no centro do país estava desviando a umidade em direção ao sul.
No dia 27 de abril, as cidades de Canoas, Novo Hamburgo e Porto Alegre já registravam os primeiros alagamentos. Três dias depois, o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), anunciava a abertura dos primeiros abrigos na cidade, enquanto as primeiras vítimas fatais das chuvas eram contabilizadas e o Governo do Estado estabelecia um gabinete de crise.
O nível do rio Guaíba aumentou quase quatro metros em apenas cinco dias, atingindo 1,4 metro na tarde do dia 30 de abril. Acima de 2 metros, o Guaíba transborda, e esse evento já era previsto devido aos recordes de cheias em seus afluentes. Em 3 de maio, o rio atingiu 4,3 metros, alcançando 5,30 metros dois dias depois.
As consequências da enchente do Guaíba foram imediatas. Em 2 de maio, o fornecimento de energia para as cinco ilhas de Porto Alegre teve que ser interrompido. Quando o recorde anterior de 4,77 metros, registrado em 1941, foi superado às 21:00 horas do dia 3, a capital gaúcha viu suas ruas alagarem e a situação colapsar no final da semana.
O ano de 2023 serviu como um aviso, com três enchentes fatais. Em junho, um ciclone deixou 16 mortos; em setembro, outro evento similar causou 54 mortes; e em novembro, chuvas mais leves resultaram em cinco mortes. O total foi de 75 vítimas fatais.
Apesar desses eventos, os investimentos em prevenção de enchentes não aumentaram substancialmente. No caso de Porto Alegre, os dados do Portal da Transparência mostram que o departamento da prefeitura responsável pela área encerrou 2023 com R$ 428,9 milhões em caixa, e os investimentos estavam em declínio desde 2021.
Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, ressalta que a responsabilidade pelas tragédias ambientais não recai apenas sobre os governos estaduais e federal, mas também sobre o Congresso. Ele aponta que a falta de adaptação e combate às mudanças climáticas são fatores determinantes, áreas onde os Executivos precisam intensificar suas ações e onde o Legislativo tem promovido retrocessos.
Segundo Astrini, a maioria conservadora no Congresso tem aprovado projetos considerados prejudiciais ao meio ambiente, resultando em um desmonte das políticas ambientais. Ele destaca que nunca houve um período em que o Congresso estivesse tão empenhado em desfazer conquistas nessa área.
Ele enfatiza que as ações limitadas a respostas de emergência não são suficientes. Eventos extremos, cada vez mais comuns devido às mudanças climáticas, não podem mais ser encarados como imprevistos. É necessária uma abordagem mais proativa e abrangente para lidar com esses desafios. O especialista menciona que os deputados estão empenhados em desmantelar a legislação ambiental brasileira de forma incisiva.
Nesse contexto, Astrini aponta para um projeto de lei que busca flexibilizar o licenciamento ambiental. Esse projeto permitiria que estados e municípios determinassem quais projetos precisariam ou não passar por uma análise de impacto ambiental, entre outras medidas. Essa flexibilização pode potencializar os riscos ambientais e contribuir para a ocorrência de mais tragédias como as que estão sendo enfrentadas.
O urbanista e professor da UFMG Roberto Andrés ressalta que medidas preventivas são essenciais em situações como essa. Ele destaca a importância de medidas de mitigação, como o reflorestamento das margens dos rios para preservar o cinturão verde, o que ajuda a reduzir a velocidade da água e aumenta a infiltração no solo, diminuindo os impactos das enchentes.
Ele sugere que todas as cidades afetadas devem ter seus próprios medidores para um monitoramento completo e sistemas de alerta mais robustos. Retirar casas de áreas diretamente inundadas, especialmente aquelas em locais de maior risco, também é uma medida importante. O urbanista reforça que a combinação dessas ações de proteção ambiental, melhoria nos sistemas de monitoramento e alerta pode reduzir significativamente os impactos de eventos extremos como esse.
Quanto à questão de um plano prévio de evacuação, ele afirma que seria viável, mas exigiria um investimento maior em segurança. Um plano desse tipo demandaria um monitoramento em tempo real ágil, recursos adequados e uma defesa civil atuante para ser eficaz e salvar mais vidas.
A pesquisa conduzida pela Genial/Quaest revela que a maioria dos entrevistados atribui ao governo estadual, liderado por Eduardo Leite (PSDB), a maior responsabilidade pela tragédia climática no Rio Grande do Sul. Dos entrevistados, 68% consideram que o governo estadual tem uma parcela significativa de responsabilidade na calamidade, enquanto 20% acreditam que a responsabilidade é pequena e 12% não atribuem nenhuma responsabilidade ao governo.
O governo de Eduardo Leite tem enfrentado críticas pela gestão da situação, especialmente considerando as mudanças realizadas no Código Ambiental do RS durante seu primeiro mandato, em 2019. Essas alterações, que afetaram cerca de 500 pontos do código, foram criticadas por ambientalistas, que as consideraram prejudiciais ao sistema de proteção ambiental do estado.
Aquecimento global
O aquecimento global, um fenômeno que resulta no aumento anormal da temperatura média do planeta devido à intensificação do popularmente conhecido “efeito estufa“, desempenha um papel significativo nas mudanças climáticas globais. No contexto específico do Rio Grande do Sul, no Brasil, as chuvas intensas são uma manifestação dessas mudanças, impulsionadas por uma série de fatores climáticos interligados.
Um desses fatores é a presença de um cavado, uma corrente intensa de vento, que influencia diretamente as condições meteorológicas na região. Esse cavado contribui para a instabilidade do tempo, criando um ambiente propício para a formação de chuvas intensas. Além disso, o corredor de umidade proveniente da Amazônia já citado, adiciona-se ao cenário, aumentando ainda mais a quantidade e a força das chuvas no estado.
A influência do aquecimento global interfere na dinâmica atmosférica, aumentando a energia disponível para a formação de eventos climáticos extremos, como essas as chuvas intensas. O oceano mais quente também desempenha um papel crucial, fornecendo mais umidade e calor para alimentar esses fenômenos. Consequentemente, o que poderia ser considerado um evento climático isolado, se transforma em uma catástrofe devido à mudança no padrão climático, que torna os fenômenos meteorológicos mais extremos e frequentes.
Soluções
O anúncio do Governo Federal sobre o pacote de R$ 50,9 bilhões destinados ao Rio Grande do Sul reflete um compromisso com a recuperação e o bem-estar das famílias, trabalhadores rurais, empresas e municípios afetados pela recente adversidade. A medida, encaminhada através de Medida Provisória pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 9 de maio, abrange uma série de iniciativas vitais:
- Antecipação de programas sociais: a antecipação do abono salarial, do Bolsa Família e do Auxílio-Gás visa fornecer assistência imediata às famílias que enfrentam dificuldades.
- Prioridade na restituição do Imposto de Renda: priorizar a restituição do Imposto de Renda para os gaúchos alivia as pressões financeiras sobre os contribuintes locais.
- Parcelas adicionais do Seguro-Desemprego: a concessão de duas parcelas adicionais do Seguro-Desemprego oferece um suporte crucial para aqueles que foram afetados pela instabilidade econômica.
- Renegociações das dívidas do Estado com a União: agilização das renegociações das dívidas estaduais com a União busca fortalecer a estabilidade financeira e liberar recursos para investimentos essenciais.
- Aumento de despesas municipais: a autorização para aumentar as despesas municipais capacita as administrações locais a responderem de forma mais eficaz às necessidades emergenciais de suas comunidades.
- Liberação de emendas parlamentares: liberação de recursos das emendas parlamentares demonstra um esforço conjunto para garantir que os recursos necessários estejam disponíveis onde mais são necessários.
- Monitoramento da situação: instalação de um escritório de monitoramento em Porto Alegre reflete o compromisso contínuo dos órgãos federais em acompanhar de perto a situação e coordenar esforços para prevenir tragédias e proteger vidas.
Além disso, o compromisso do presidente Lula em anunciar um novo pacote de ajuda na próxima segunda-feira, 13 de maio, destaca a determinação do governo em fornecer apoio contínuo ao Rio Grande do Sul. Com um aporte inicial de 50 bilhões de reais para reconstrução e recuperação econômica, o objetivo é mitigar os impactos devastadores das chuvas e enchentes, restaurando a esperança e a dignidade dos povos gaúchos.
Até quando vai chover?
Marcelo Seluchi, meteorologista e coordenador geral de Operação e Modelagem do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), prevê que os temporais persistirão nos próximos dias devido a um fenômeno chamado sistema de bloqueio, que está ocorrendo no Oceano Pacífico e está exercendo influência sobre o Brasil. Esse sistema atmosférico estagnado tende a perdurar por dias, conforme explicou o meteorologista.
Segundo a previsão, as chuvas continuarão um pouco além dessa primeira dezena de maio, porém começarão a enfraquecer gradualmente. Seluchi observa que as frentes meteorológicas poderão oscilar, seguindo em direção ao sul do continente, em direção ao Uruguai, ou avançando para Santa Catarina. Com isso, espera-se que as chuvas se tornem menos intensas e que haja períodos mais longos sem precipitação.
Essas frentes frias vêm da Argentina, chegam rapidamente na Região Sul e não conseguem avançar. Temos uma sucessão de frentes frias que se tornaram estacionárias e estão mantendo as chuvas durante vários dias.
Marcelo Seluchi, meteorologista e coordenador-geral de Operação e Modelagem do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden)
E o futuro?
Dados apresentados no Global Risks Report 2024, divulgado pelo Fórum Econômico Mundial, lançam uma sombra sobre o futuro. Este ano, os riscos ambientais podem alcançar um ponto crítico, além do qual pode ser impossível reverter os danos. O relatório, baseado em uma Pesquisa Global de Percepção de Riscos (GRPS), revela que 66% dos entrevistados identificam as condições meteorológicas extremas como o maior risco em potencial para desencadear uma crise material em escala global em 2024.
Diante desse cenário alarmante, a Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, defende a necessidade urgente de estabelecer um estado de “emergência climática permanente”. Essa medida permitiria que os municípios brasileiros em situação de risco pudessem adotar uma postura mais proativa na prevenção de tragédias e na proteção de suas populações e recursos naturais.
Ao que tudo indica pelos estudos apresentados, cientistas ouvidos e o próprio histórico do local, essas chuvas não são casos isolados e devem acontecer novamente na região do estado nos próximos anos (ou meses), principalmente quando levamos em consideração o antropoceno — cenário em que o homem interfere na geografia daquele local e consequentemente no meio ambiente, alterando-os. Políticas públicas ambientais devem ser reforçadas para a minimização desses avanços.
Para saber mais, assista o vídeo no nosso canal do YouTube:
Veja também:
Como fazer doações para o Rio Grande do Sul de forma segura.
Com informações de CNN [1] e [2], Agência Brasil [1], [2] e [3], Veja e Uol.
Revisão do texto feita por: Pedro Bomfim
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