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Por que a exploração espacial não foi afetada pela pandemia do novo coronavírus?

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Os processos por trás de toda a exploração espacial nos explica porque o setor não parou com a pandemia

Enquanto a pandemia de COVID-19 obriga muita gente a encontrar novos formas de trabalhar e de se entreter sem precisar sair de casa — como, por exemplo, recorrer a um jogo de bingo online para passar o tempo — uma organização que parece não ter sido afetada em nada pela pandemia é a NASA, junto com todo o trabalho da agência nas pesquisas de exploração espacial.

Não apenas a agência espacial dos Estados Unidos fez história ao enviar o primeiro voo tripulado de um veículo desenvolvido pela iniciativa privada para a Estação Espacial Internacional (ISS) no dia 30 de maio deste ano, mas também nos últimos meses já fechou alguns contratos milionários para exploração da Lua e definiu algumas regras que deverão ser seguidas em qualquer processo de mineração de nosso asteroide natural. 

Assim, pode parecer um tanto irônico que, justamente quando boa parte do mundo é obrigada a parar suas atividades, a exploração espacial siga acontecendo sem qualquer mudança de ritmo — principalmente porque levar foguetes à Lua está longe de ser considerado como um serviço essencial.

Mas existe uma explicação de porque a exploração espacial não pode parar nem mesmo por causa de uma pandemia, e isto acontece por causa da própria natureza deste tipo de investimento.

A questão da exploração espacial

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As atividades da NASA praticamente não foram afetadas pela pandemia do novo coronavírus (Imagem: NASA)

Como bem lembra a jornalista Ingrid Burrington em uma defesa da exploração espacial em tempos de pandemia, publicada no site Engadget, a palavra-chave de um investimento na exploração espacial é “inércia”.

Essa inércia existe em diversos sentidos dentro de toda a questão espacial: um deles é a inércia técnica, que impede que experimentos sejam realizados a não ser que haja uma confluência perfeita de condições. Um exemplo disto é o lançamento do rover Perseverance para Marte, que deverá ocorrer na metade de julho porque depende de um alinhamento planetário para aumentar suas chances de sucesso.

Outra forma de vermos a inércia da questão espacial está na burocracia de todo o processo: antes mesmo de se criar um esquema para o lançamento de foguete que siga todas as recomendações da OMS de distanciamento social, foram necessários anos de um trabalho técnico de bastidores que incluiu, entre outras coisas, reuniões para aprovação de orçamento e a coleta de assinaturas de lideranças civis e militares, e qualquer interrupção no processo poderia significar que toda essa burocracia deveria ser refeita do zero.

Além disso, há também a inércia na questão diplomática, pois manter a ISS funcionando não é uma responsabilidade exclusiva da NASA, e depende do esforço conjunto de cinco agências espaciais — a NASA dos EUA, a ROSKOSMOS da Rússia, a JAXA do Japão, a ESA da União Europeia e a CSA/ASC do Canadá. Assim, qualquer tentativa de interrupção de trabalhos pela NASA não só traria problemas aos astronautas que estão na ISS, mas também poderia criar um incidente diplomático internacional.

Ciência a longo prazo

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Diversos experimentos são conduzidos a borda da ISS, como um estudo sobre o crescimento de plantas em ambientes de microgravidade (Imagem: NASA)

É preciso também lembrar que os astronautas e rovers enviados para a ISS ou para outros planetas não estão ali a passeio, mas conduzindo experimentos que podem não apenas ajudar na questão da exploração espacial, mas também a entender melhor o próprio planeta em que vivemos.

Atualmente, praticamente todos os experimentos que estão sendo desenvolvidos na ISS são do tipo que necessitam de um longo prazo até que os resultados possam ser coletados, e a maior parte deles necessita da presença de pelo menos um astronauta a bordo para monitoramentos e análises. 

Além disso, há um outro motivo para esses investimentos de pesquisa não serem diminuídos: não há atualmente nenhum outro lugar além da Estação Espacial Internacional onde é possível fazer experimentos em ambientes de microgravidade com foco no longo prazo, já que os laboratórios aqui da Terra que podem criar um ambiente de microgravidade artificial conseguem manter essas condições apenas por pequenos períodos de tempo. 

Assim, qualquer “pausa” por conta da pandemia pode significar um enorme baque para todo o tempo dedicado a estes experimentos, e fazer com que muitos deles tenham que ser iniciados do zero, custando milhões de dólares não apenas para a NASA mas também para as universidades e laboratórios privados que ajudam a bancar essas pesquisas.

Defesa da atividade privada

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A SpaceX é apenas uma das companhias privadas interessadas no mercado de turismo espacial (Imagem: SpaceX)

Mas, ainda que a proteção à ciência seja importante, este não é o motivo principal usado por políticos e líderes militares para se manterem os investimentos em atividades espaciais, mesmo em um período de pandemia. Entre estas figuras, os principais motivos citados são os de manutenção da defesa e da segurança nacional — mas, por trás desses discursos, há também um esforço para não quebrar os contratos que o governo possui com o setor privado.

E, em alguns momentos, as decisões do que deve continuar ou não parecem não fazer sentido: por exemplo, enquanto a NASA fez mudanças no cronograma de suas missões para a lua, empresas como a Blue Origin estão usando uma autorização federal que as permite continuar funcionando devido a contratos com o Departamento de Defesa dos Estados Unidos, para priorizar um projeto da que visa o turismo espacial.

E, mais uma vez, o motivo para este tipo de decisão de deve à inércia das operações de exploração espacial, seja ela uma inércia burocrática que permite que apenas agora se recebam as verbas que haviam sido discutidas meses atrás, a inércia da geopolítica que coloca os Estados Unidos repetindo a mesma “corrida espacial” das décadas de 1960 e 1970 — mas desta vez contra a China — ou mesmo a inércia dos mercados, que obriga companhias privadas a ignorarem os perigos de uma pandemia e manterem seus cronogramas a fim de não perder a confiança dos investidores.

E este tipo de trabalho pode ser feito sem o receio de um abalo no mercado devido a um outro tipo de inércia: a do dinheiro. Isto porque a ideia do turismo espacial é algo ainda extremamente caro e que está fora do alcance da população comum, sendo um mercado exclusivo para o proveito de bilionários — e para eles não há o risco de falir completamente durante a pandemia, como ainda estão ficando cada vez mais ricos durante este período. O maior risco das empresas que têm interesse neste nicho não é o de perder seus clientes, mas de que atrasos em seus cronogramas façam com que elas percam território para a concorrência.

ISS da sua casa

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A Estação Espacial Internacional é tão grande que pode ser vista a olho nu aqui da Terra (Imagem: NASA)

Apesar de uma confluência de interesses públicos e privados obrigar a exploração espacial a se manter de forma independente dos problemas que enfrentamos na Terra, há algo quase que poético no fato de que, assim como a Terra é insignificante perante a imensidão do universo, os problemas dela também são insignificantes frente às necessidades das pesquisas no espaço.

E, se você tem interesse nesse assunto, uma experiência muito legal que pode ser feita sem precisar sair de casa é avistar a ISS passando sobre os céus da sua cidade. Dentro do próprio site da NASA há uma seção dedicada ao avistamento da Estação Espacial, onde você pode cadastrar a cidade ou região onde está e criar um alerta da passagem dela por lá.

Com o alerta configurado, um dia antes da ISS passar pela sua cidade você receberá um e-mail avisando o dia e a hora exata que ela irá cruzar os céus da sua região, quantos minutos ela irá demorar em sua passagem e quais os pontos cardeais de início e fim da trajetória (de onde ela irá aparecer e para onde ele irá sumir) para que você possa identificar facilmente para onde olhar no céu.

Fonte: Engadget, The Washington Post, The Verge


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