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Pinocchio é a mais nova adaptação do conto As Aventuras de Pinóquio escrito por Carlo Collodi. O filme, que entrou em cartaz no Brasil no começo deste ano, infelizmente não conseguiu uma boa recepção do público devido às restrições no país. A produção Italiana que estreou em dezembro de 2020 nos EUA ganhou destaque entre os críticos por sua fidelidade ao conto original e por sua impecável equipe de maquiagem e figurino – as duas categorias do Oscar 2021 onde foi indicado.
Quando pensamos em Pinóquio, decerto que em sua imaginação vem o filme de 1940 da Disney. Mas, diferente da animação, o filme em live-action tem uma proposta completamente diferente. O dinamismo do filme é muito mais lento, e seus acontecimentos se desenrolam sem pressa alguma. Aqui acompanhamos o boneco de madeira em suas descobertas e aprendizados para se tornar uma boa pessoa e virar um garotinho de verdade. Muito mais próximo do conto original – que é conhecido por ser sombrio, o filme não se apressa em nenhum momento para contar a estória de Pinóquio e se apega a esse aspecto mais adulto.
Pinocchio de Carrone é uma prova de que Walt Disney nos entregou muitas ilusões quando se trata de Contos de Fadas. A Disney nunca nos entregaria – e nem o fará – um Pinóquio sendo brutalmente enforcado em uma árvore por dois vigaristas que queriam roubá-lo. Ou tendo que pular no mar para fugir da escravidão.
É tudo tão perturbador. Mas também, meio legal, de uma forma apavorante.
Os aspectos adultos de Pinocchio
É certo que as obras que já conhecemos de Pinóquio mantém assuntos que são assombrosos mesmo para uma animação. Aqui esses assuntos não se perderam. Matteo Carrone não se distancia do contexto histórico, diferente de algumas adaptações que tentam trazer o dinamismo para algo mais atual. Então, de certa forma, é agoniante ver a jornada de Pinocchio (Federico Ielapi) enquanto desbrava a vida para se tornar um “menino de verdade”.
Carrone, que anteriormente nos entregou o filme Conto dos Contos, entrega o mesmo dinamismo e a mesma atmosfera do realismo barroco do século XVII, assim o filme se mantém fiel ao contexto histórico.
Eis que devido à sua fidelidade histórica, é compreensível nos sentirmos ultrajados pela forma como os adultos se comportam no filme em relação ao menino de madeira, principalmente com a Fada Azul (Marine Vacth). Depois de adulta, ela seria a representação da visão materna para Pinóquio; e a Fada Azul não está ali para as funções de mãe. Então, apesar das lições que ela dá a Pinóquio, a fada não serve exatamente como mentora dele.
A meu ver, o que isso passa é exatamente a ideia de que como responsáveis, não devemos somente dizer o que as crianças podem ou não fazer, mas também ajudá-las a se corrigir e a não cometer o erro novamente. É claro que quando enxergamos o todo, sabemos que educar uma criança naquela época era uma dinâmica completamente diferente, então é compreensível a relação com os menores. Porém, é incômodo para nós.
Além disso, Pinocchio é muito mais fiel aos acontecimentos do livro e se afasta das demais obras que já foram adaptadas para o cinema. Ele se vale das lições sobre estudos e bom comportamento, mas a conta a sua própria maneira. Além disso, quando nos aprofundamos em suas camadas psicológicas, podemos retirar muitas alegorias a sequestro, pedofilia e tráfico humano, principalmente nas cenas onde Pinocchio é transformado em um burro.
Suas inspirações não ficam de fora e são bem notáveis. Há um certo lembrete de Freaks, filme de 1932. Uma homenagem à Alice no País das Maravilhas. Inspirações na Bíblia, tanto Velho como Novo Testamento, e até mesmo um pequeno aceno a Frankenstein. A cena do nariz crescendo quando Pinocchio mente continua sendo fascinante. Foi sem dúvida um dos aspectos que mais marcou a infância de muitos, e que também acompanhou o crescimento destes.
Mas aqui, vemos que em sua jornada o nariz de Pinocchio deixa de crescer quando, por exemplo, ele mente descaradamente na frente do juiz gorila. Isso é apenas para mostrar o aspecto de humanização do personagem. Afinal, até mesmo os lados obscuros de ser humano são importantes para nos desenvolvermos como pessoas. Isso não é esquecido neste longa-metragem.
Maquiagens e Figurinos de Pinocchio
Primeiramente, gostaria de ressaltar que o trabalho de maquiagens ficou ótimo, mesmo que ele possa te causar um grande estranhamento. Os personagens animais, como Grilo Falante, o Gato, a Raposa e a Caracol são bem caricatos e podem até mesmo ser exagerados, mas completam o ar mais sombrio que o filme apresenta.
Essa arte foi bem executada e trouxe um ar mais obscuro e um tanto exagerado, tornando o design dessas criaturas semelhante ao universo de Tim Burton. No entanto, mesmo que essa aparência possa causar desconforto, também é possível entrar em um mundo imaginário e transformar um boneco em uma ideia de “menino de verdade”. A textura da maquiagem feita em Ielapi é particularmente eficaz, dando a impressão de que realmente há madeira em seu rosto.
Os detalhes são ainda mais impressionantes, porque não são CGI em grande parte, e sim uma arte manual. Não é por menos suas indicações ao Oscar 2021 – merecidas e que contam com a minha torcida para levar a estatueta.
Por fim, Pinocchio nos entrega um sentimento conflitante e nostálgico entre revisitar clássicos da infância e estabelecer uma nova perspectiva para narrar a história dos personagens do filme. O longa tem uma visão mais consciente, mais dura e mais trágica. Infelizmente, isso era mais comum quando Carlo Colodi escreveu a história original e, para suavizar a história das crianças, essa realidade geralmente é ignorada.
O longa ainda não tem previsão de data para compras e aluguéis digitais, mas já está disponível em DVD, em venda aqui no Brasil pela Americanas ou Mercado Livre.
Confira também onde assistir aos filmes indicados ao Oscar 2021.
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