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O medicamento Ozempic, ou semaglutida, pode ter benefícios além da perda de peso, sugerindo uma possível utilidade no tratamento do Transtorno do Uso de Álcool (AUD), ou alcoolismo. Pesquisas ao longo de mais de uma década indicam que medicamentos similares usados no tratamento da diabetes têm um efeito colateral surpreendente: redução do consumo de álcool.
Uma evidência inicial que respalda essa ideia foi apresentada em um artigo publicado no Journal of Clinical Psychiatry em fevereiro. O estudo incluiu seis pacientes a quem foi prescritos semaglutida para perda de peso, mas que também eram diagnosticados com AUD. Todos os participantes mostraram uma redução significativa nos sintomas, mesmo aqueles que tiveram uma perda mínima de peso.
O que é o Ozempic
O Ozempic, ou semaglutida, é um medicamento que contém uma substância que pertence à classe dos agonistas do receptor de GLP-1 (glucagon-like peptide-1). Ele é principalmente indicado para o tratamento do diabetes mellitus tipo 2 em adultos, ajudando a controlar os níveis de glicose no sangue.
A semaglutida mimetiza a ação do GLP-1, um hormônio natural do corpo que regula os níveis de glicose. Esse medicamento estimula a liberação de insulina e reduz a produção de glucagon, ambos contribuindo para o controle adequado da glicemia. Além disso, ele pode promover a perda de peso, o que pode ser um benefício adicional para pacientes com diabetes tipo 2 que também lutam contra o excesso de peso.
Com um boom no TikTok ainda durante a pandemia do coronavírus, o medicamento ganhou notoriedade especialmente por ter sido adotado por diversos influenciadores e celebridades com o intuito de emagrecer. Dentre os influenciadores e celebridades que falaram sobre o Ozempic há figuras como Sharon Osbourne, Heather Gay, Garcelle Beauvais, Claudia Oshry, Oprah Winfrey, Tracy Morgan, Amy Schumer e Stassi Schroeder. No Brasil, por exemplo, o medicamento ganhou grande notoriedade nas redes após a influencer Jojo Todynho ter citado em suas redes o medicamento como um dos seus fatores para emagrecer.
O fato de essas personalidades influentes destacarem o uso do Ozempic contribuiu significativamente para a disseminação de informações sobre o medicamento e, consequentemente, para o aumento da sua demanda. Não à toa, a Novo Nordisk, empresa responsável pela fabricação do Ozempic, se tornou a empresa mais valiosa da Europa em setembro, com um valor de mercado estimado em quase US$ 425 bilhões, segundo dados da Refinitiv.
Uso para emagrecimento
Uma das características do Ozempic é a capacidade de induzir a saciedade, uma sensação de estar satisfeito ou “cheio”. Essa ação supressora do apetite é crucial para compreender como o semaglutida contribui para a perda de peso em alguns pacientes.
Ao atuar no cérebro e modular os receptores de GLP-1, a semaglutida reduz a sensação de fome, levando a uma diminuição na ingestão de alimentos. Essa redução do apetite é um dos principais fatores que tornam o Ozempic eficaz no controle do peso. Além disso, a medicação retarda o esvaziamento do estômago, prolongando a sensação de saciedade após as refeições. Esse efeito combinado resulta em uma menor quantidade de calorias consumidas, contribuindo para a perda de peso em pacientes que utilizam o medicamento.
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Como o Ozempic combate o alcoolismo
O Ozempic vem sendo estudado não apenas por seus benefícios na perda de peso, mas também por seu potencial impacto positivo no tratamento do alcoolismo. Pesquisas indicam que medicamentos similares, inicialmente desenvolvidos para tratar diabetes, podem ter um efeito surpreendente na redução do desejo por álcool.
Num efeito semelhante à perda de peso, a semaglutida atua no cérebro, diminuindo a sede por bebida e proporcionando uma sensação de saciedade. Essa redução do apetite para o álcool tem sido observada em estudos anteriores com medicamentos semelhantes.
Um estudo na Dinamarca iniciado em 2017 investigou o uso de exenatida (medicamento para tratamento de diabetes tipo 2) para tratar pacientes com transtorno por uso de álcool (AUD). Embora os resultados iniciais não tenham mostrado uma redução significativa no consumo excessivo de álcool, a pesquisa destacou a complexidade do tratamento da doença e a necessidade de abordagens específicas.
Outras investigações envolvendo a semaglutida apontam para resultados mais promissores. Estudos de caso recentes publicados no Journal of Clinical Psychiatry apresentaram seis pacientes que, ao receberem prescrição de semaglutida para perda de peso, também experimentaram uma notável redução nos sintomas do alcoolismo, mesmo quando a perda de peso era mínima.
Essa descoberta inicial está sendo seguida por outros ensaios clínicos para avaliar a eficácia da semaglutida no tratamento do AUD. A pesquisa envolve não apenas o monitoramento do consumo de álcool, mas também análises neurológicas para compreender como o cérebro responde aos sinais de álcool.
Apesar da promessa desses resultados, os pesquisadores enfatizam a necessidade de mais dados provenientes de ensaios clínicos robustos antes de considerar esses medicamentos como tratamento padrão para o alcoolismo. Eles ressaltam que, embora existam tratamentos eficazes validados disponíveis, a busca por terapias alternativas é importante, especialmente diante das baixas taxas de adesão e sucesso a longo prazo dos tratamentos convencionais para a doença.
Benefícios e Riscos do Ozempic
O Ozempic, já é reconhecido por seus benefícios potenciais em diversas áreas da saúde, como perda de peso, controle glicêmico na diabetes tipo 2 e até mesmo no combate ao alcoolismo. No entanto, é essencial abordar as considerações relacionadas aos possíveis riscos associados ao seu uso.
Seja no contexto da perda de peso, no combate ao alcoolismo ou para a gestão da diabetes tipo 2, a semaglutida pode causar potenciais efeitos colaterais, como náuseas, diarreia e hipoglicemia, especialmente em pacientes com condições específicas de saúde.
Um estudo divulgado em outubro no Journal of the American Medical Association (JAMA) concluiu que entre medicamentos destinados à perda de peso, como Ozempic, Wegovy, Saxenda e Rybelsus, há uma possível associação com o aumento do risco de gastroparesia, obstrução intestinal e complicações estomacais graves. Os pesquisadores, contudo, ressaltam que o risco permanece “razoavelmente baixo”.
Em todos os casos, é indicado que o uso do Ozempic seja supervisionado e orientado por profissionais de saúde, considerando as condições individuais de cada paciente. A tomada de decisão sobre o tratamento deve envolver uma avaliação cuidadosa dos benefícios esperados e dos potenciais riscos associados ao uso deste medicamento.
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Revisado por Glauco Vital em 11/12/23.
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