Você vai num restaurante, come o bastante e vai pagar. Qual é o natural? Perguntar o preço e tirar o dinheiro da carteira. Nos Estados Unidos alguns estabelecimentos já não aceitam mais receber dinheiro em papel, só cartão de crédito ou débito. Evolução ou restrição desnecessária?
“Não aceitamos dinheiro”
Foi o que ouviu Shania Bryant, assistente de designer, no Dig Inn, Ela comeu frango, arroz integral e inhame. Quando chegou no caixa, o atendente não quis aceitar sua nota de US$ 50. A cliente foi pega de surpresa. Foi explicado então que o único método de pagamento aceito é cartão de crédito ou débito.
“Eu nunca havia passado por isso antes”, disse Bryant, que mesmo jovem (20 anos) se surpreendeu com a atitude do restaurante. “Eu acho que estamos em novos tempos”.
Sem estar com cartão e já tendo comido, o restaurante preferiu perder dinheiro do que receber papel. Bryant não precisou pagar nada, “mas só dessa vez” disse o atendente.
O Dig Inn da 38th Street, de Midtown Manhattan, não é o único restaurante a negar dinheiro de papel. Esse está se tornando um movimento de estabelecimentos dos Estados Unidos. Desde o restaurante vegano Two Forks até o Dos Toros, especializado em tacos.
Por trás disso está a Visa. Ela ofereceu a comerciantes US$ 10 mil para não mais aceitarem dinheiro de papel em vendas. Isso porque a cada transação de cartão feita, a empresa fornecedora da bandeira lucra, pode ser a Visa, Mastercard ou outras. Somente em Nova York, a Visa espera um crescimento de US$ 6,8 milhões nas receitas dos comerciantes. Ela também aponta que mais de 186 milhões de horas de trabalho devem ser economizadas. Ainda há a questão da segurança, não vai ter dinheiro para roubar, tornando o lugar menos atrativo para isso.
Sem-dinheiro, mas com-tempo a mais
Leo Kremer, co-chefe executivo do Dos Toros, explica o quão importante é não receber dinheiro de papel em nenhum dos 13 restaurantes de Nova York. “Há algo fundamentalmente desmoralizante quando você tem o dono do restaurante voltando ao escritório para contar dinheiro em vez de estar fora, à visão dos clientes”. Kremer comenta que aceitar só cartões de crédito tem poupado o tempo de contagem de dinheiro dos gerentes e dos funcionários de caixa.
Enquanto Leo Kremer diz que somente alguns poucos clientes reclamam da política “sem-dinheiro”, os funcionários não concordam. “Todos os dias eu tenho que me desculpar com alguém sobre isso”, disse um caixa do Dos Toros na 40th Street, que não pôde revelar seu nome pois falou sem autorização da empresa.
Apesar de excluir as pessoas sem cartão da lista de clientes, esses restaurantes não se sentem prejudicados. Em geral, são lugares caros, em que uma xícara de café custa US$ 3. Portanto, os preços já se encarregam de “assustar” pessoas sem conta num banco, já que não possuem tanto dinheiro para guardar.
Não há qualquer lei que proíba estabelecimento de restringirem a forma de pagamento. Segundo Clayton Gillette, professor na New York University School of Law, se o restaurante avisa previamente ao cliente que só aceita cartão de crédito, comer é como aceitar os “termos do contrato”.
Lucro e agilidade. Porém, não foi o que Lisa Gaytan e seu amigo experimentaram quando foram pagar um sorvete na Van Leeuwen Artisan Ice Cream. A máquina de cartão ficou com problema e não foi possível pagar. Sem aceitar dinheiro, o sorvete vegano de chocolate saiu de graça.
“Meu pensamento foi, às vezes o mundo analógico funciona melhor que o digital,” disse a Sra. Gaytan. “Nós dois saimos de lá dizendo ‘que loucura'”.
Fonte: The New York Times
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