Índice
Há algum tempo ocorre uma discussão polêmica sobre considerar o uso exagerado de videogames um transtorno psicológico ou não. Por fim, parece que a Organização Mundial de Saúde (OMS) bateu o martelo quanto a isso. Nesta segunda feira (18/06), a organização oficializou que a edição mais nova do Código Internacional de Doenças (CID 11) terá o vício em videogames como um distúrbio de saúde mental.
O Código Internacional de Doenças
Seu nome completo é “Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde”. Porém, podemos tratá-lo apenas como CID ou Código Internacional de Doenças. Este é um manual que auxilia profissionais de saúde de todo o mundo a reconhecer de maneira “única” doenças e distúrbios, independente do país de origem.
Assim, este código é amplamente utilizado por médicos, psicólogos, farmacêuticos e tantos outros profissionais de saúde. Entretanto, outros manuais existem para auxiliar em casos específicos, como o DSM para o caso das doenças mentais. Mas o CID é, sem dúvidas, o mais amplamente utilizado internacionalmente.
Vladimir Poznyak, membro do Departamento de Saúde Mental e Abuso de Substâncias da OMS, falou ao CNN sobre o assunto. Segundo o profissional, a OMS acompanhou as tendências e desenvolvimentos científicos do campo profissional que estuda a situação. Deixando claro ainda que o diagnóstico não é tão simples assim.
Diagnosticando o vício em videogames
Poznyak afirma que o distúbio, de acordo com o CID 11, terá três principais características de diagnóstico. Assim, a primeira delas é um comportamento compulsivo por jogar videogames. Ou seja, uma prática tão exagerada que se sobrepõe a outras atividades diárias, como ocorre em outros casos de dependência.
Em seguida, temos a insitência no comportamento problemático. Entretanto, isso não é apenas uma insistência na prática de jogar. Na verdade, retrata, de acordo com Poznyak, a continuação do comportamento compulsivo da pessoa mesmo com visíveis prejuízos em sua vida pessoal por conta do vício.
Por fim, temos também o fato desse distúrbio levar a um sofrimento significativo na vida pessoal do sujeito. Ou seja, a pessoa simplesmente não dá conta de parar sozinha de jogar videogames. Além disso, essa postura acaba gerando sofrimento em sua vida pessoal, desestabilizando relacionamentos, atrapalhando vidas profissionais ou acadêmicas entre outras coisas.
Portanto, o diagnóstico do distúrbio, segundo Poznyak, possui alguns rigores a serem seguidos. A persistência do comportamento compulsivo por, pelo menos, 12 meses é um deles. Isso evita que episódios de pessoas que jogam de forma “compulsiva” por alguns dias ou até semanas não se enquadrem neste distúrbio.
O Tratamento do distúrbio
Segundo o CID 11, a maioria das intervenções ou tratamentos para distúrbios do uso de videogames são baseados nos princípios e métodos da terapia cognitivo-comportamental. Esta, é uma das diversas linhas de tratamento de doenças mentais estudada pela psicologia em todo o mundo. Além disso, a TCC é a linha de terapia mais eficaz reconhecida pela OMS. Sua prática é focada na combinação de tratamentos comportamentais e mentais, além de auxiliar no diagnóstico de diversos distúrbios.
Além disso, o tratamento do distúrbio, como o caso de qualquer dependência, necessidade um apoio familiar constante. Junto a isso, a compreensão social das condições do distúrbio é essencial para ajudar a pessoa a sair daquela situação. Independente da linha terápica aplicada, Poznyak afirma que o mais importante é compreender a natureza daquele comportamento, focando sempre em estratégias para melhorar a situação daquele caso.
Uma decisão controversa
Porém, nem todos os psicólogos e profissionais de saúdem ental concordam com a decisão da OMS. Uma boa parte destes profissionais acredita que o distúrbio de videogames. Isso por conta da falta, segundo essas fontes, de embasamento o suficiente para confirmar este tipo de prática como um distúrbio.
Ao mesmo tempo, Poznyak relata ao site da CNN que o CID, em todas as suas versões, não dita como devem ser os tratamentos ou categorizações. Na verdade, ele é apenas um guia para quando profissionais de sáude encontram padrões de comportamento diferenciados. Assim, o CID não teria o poder de ditar o que é doença ou não, mas sim guiar intervenções para alívio de determinados sofrimentos.
Alguns profissionais, contrários ao excessivo uso de remédios, ainda dizem sobre a oficialização do distúrbio servir, principalmente, à indústria farmacêutica. Além disso, profissionais como psicólogo Anthony Bean, que também falou com o CNN, dizem que este é um diagnóstico “secundário”. Assim, o profissional relata que, em sua prática, observa que o uso abusivo de videogames é uma tentativa de lidar com quadros de ansiedade e depressão. Ou seja, não se caracteriza como um distúrbio independente.
Por fim, a crítica mais pesada que se tem sobre o diagnóstico do distúrbio é sobre a sua amplitude. De acordo com Bean, o diagnóstico deixa muitos “buracos” para serem preenchidos pela experiência subjetiva de cada profissional. Assim, existem pormenores na situação que podem causar erros médicos graves. Como ocorre atualmente com o diagnóstico de TDAH (transtorno de déficit de atenção com hiperatividade).
Estilos de jogo diferenciados
Outro problema retratado por Bean no diagnóstico do CDI é a ausência de informações sobre o mundo dos games. De acordo com o profissional, a maior parte dos profissionais de saúde não entende como é o mundo de quem joga videogames.
Por conta da variedade de estilos e gêneros que a mídia possui, categorizar apenas um padrão de comportamento em cima de toda uma comunidade complexa é errado. O psicólogo retrata, inclusive, que em sua prática ajudando jovens que possuem dependência em videogames, ele já observou diversas diferenças drásticas em padrões de jogo.
Assim, é essencial para este diagnóstico compreender sob quais tipos de gênero de videogame estamos falando naquele caso específico. Alguém que joga um game online como Word of Warcraft ou League of Legends pode não ter o mesmo padrão de comportamento viciante que alguém que joga Minecraft ou God of War.
Situação ainda polêmica
A situação ainda parece longe de ter um final certo. Profissionais como o psicólogo Anthony Bean indicam a pesquisa por informações como a melhor estratégia. Isso principalmente para pais e entes queridos que reconhecem uma prática exagerada em seus próximos.
Além disso, o profissional ainda aponta como problema a falta de informação dos pais sobre o próprio mundo dos games. Assim, em muitos casos, os pais não sabem nem o que seus filhos jogam, quem dirá o “como” jogam.
O mais importante aqui é entender que a discussão não gira entorno de existir ou não um vício ou distúrbio ligado a videogames. Na verdade, a discussão é no como categorizar uma prática como distúrbio. Isso porque simplesmente catalogar uma prática recorrente como um vício abre portas para que qualquer prática possa virar uma doença.
O próprio Poznyak ainda afirma que milhões de jogadores não se qualificariam no diganóstico do distúrbio. Mesmo aqueles com rotinas de jogo mais pesadas. O profissional da OMS afirma que a prevalência deste trantorno é muito baixa. Além disso, a condição clínica é diagnosticada apenas por profissionais da área de saúde especializados. Por fim, a OMS espera que a inclusão do distúrbio de vício em videogames estimule justamente esse debate. Assim, encorajando mais pesquisas.
Fonte: CNN
Descubra mais sobre Showmetech
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.