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Talvez a psicologia explique porque os telespectadores ficaram tão vidrados em Dexter, um investigador forense que atua no Departamento de Polícia de Miami durante o dia, mas que à noite veste a carapuça de serial killer para caçar quem escapa da lei. Transmitida pela Showtime entre 2006 e 2013, a notícia do revival da série Dexter, anunciada no final do ano passado, deixou os fãs divididos. Há quem gostou da volta do personagem para a TV, enquanto outros ficaram com um pé atrás. Porém, é inegável a importância do programa tanto para emissora quanto para entender em qual pé estava a televisão naqueles anos.
Está por fora de quem é o assassino em série mais queridinho da cultura pop? Explicaremos abaixo quem foi o anti herói e o que já é sabido sobre o revival de Dexter.
O que fazia de Dexter um bom seriado
Longe de ser um seriado policial com enfoque numa equipe especializada do FBI em busca de criminosos, como um CSI ou Criminal Minds, Dexter se destacou pelo modo audacioso em tratar o gênero.
Em sumo, a série trata sobre um perito que leva uma vida dupla. No dia a dia, o personagem-título transita no seu ambiente de trabalho amigavelmente, faz piada com os amigos e leva donuts para a equipe. Porém, nos diálogos paralelos, é possível entender qual é, realmente, a sua motivação.
Seguindo um código próprio de disciplina, é revelado que Dexter é um psicopata, porém de um tipo diferenciado: a sua ira é destinada, majoritariamente, àqueles que cometeram crimes e saíram impunes. Entre análises de padrão de dispersão de sangue e julgamentos para os quais é intimado a depor, que fazem parte do trabalho diurno do protagonista, as vítimas são escolhidas.
O diferencial, no entanto, fica por conta da meticulosa construção de personagem, colaborando para o telespectador se identificar e até torcer pelo justiceiro. Outro ponto de destaque é o roteiro, que aposta em questões banais, tais como ser um adulto funcional e possuir uma vida normal — claro que um serial killer ter uma vida normal não é cabível nas nossas circunstâncias, já que isso seria, no mínimo, questionável, mas as reflexões humanas que decorrem de outros momentos são válidas. Entretanto, não é de hoje que a televisão faz com que os telespectadores desenvolvam empatia por personagens deploráveis
A era de ouro da TV americana, conhecida por popularizar produções como Família Soprano, Breaking Bad e Mad Men, possuía um molde de narrativa que flertava com protagonistas como Dexter:
- Tony Soprano era um mafioso de Nova Jersey, que além de gerenciar algumas operações, também era um pai ansioso que andava por linhas tortas;
- Walter White, protagonista de Breaking Bad, é um professor de química desesperado que adentra o mundo do narcotráfico para prover para a família, somente para cair nos ares ilusórios da ganância;
- Don Draper, personagem principal de Mad Men, era visto por seus colegas como gênio da publicidade por vender ideias cabeças para clientes importantes, mas, no fim do dia, era um homem quebrado que traía a mulher.
Por serem personagens novos no cenário da TV, todos caíram nas graças dos golpes cometidos por eles e, de certa forma, se envolveram emocionalmente em suas jornadas. Se cometeram algum crime, foram tratados como moralmente complexos ao ponto de virarem reflexos de quem os assistia.
O arco final duvidoso
Para um seriado que começou apostando em conceitos arriscados, mas que funcionavam devido ao estado da televisão naquele período, Dexter foi um entretenimento proveitoso num cenário no qual o público estava se acostumando às complexidades morais das personagens.
Já para quem só curtia ver sangue na televisão, ele também era um prato cheio. Além disso, era interessante ver como o protagonista lidaria com as ameaças distintas em cada temporada e conhecer as peculiaridades de seus oponentes, afinal, estas colocavam à prova as habilidades e a sagacidade do serial killer. Pelo menos foi assim até a oitava e última temporada.
Manter tudo interessante e num lugar apropriado é dificultoso com essa quantidade de temporadas – poucos seriados conseguiram o feito sem perder a sua essência ao longo do caminho.
O pecado cometido pelos roteiristas, e que pode ser orquestrado novamente graças ao revival de Dexter, foi o fim abrupto, quando não apressado, dos dilemas do protagonista. Os personagens secundários também não ficaram de fora. O episódio conhecido como “Remember the Monsters“, que fechou o seriado, foi um exemplo disso.
Era no mínimo esperado que as ações de Dexter finalmente o levariam a algum lugar, de forma definitiva desta vez. Mas o que os fãs assistiram, principalmente aqueles que acompanharam a série do início ao fim e que estavam familiarizados com o programa, foi um ato anticlimático para dar a série como finalizada.
O serial killer não encontra redenção, mas também não é punido como é esperado — e olha que houve razões para ser castigado. É revelado que Debra, irmã e parceira de Dexter, teve uma piora no seu quadro médico após ser baleada no estômago por uma vítima que o protagonista deixa vivo e, por fim, entra em estado vegetativo e é sacrificada pelo irmão no hospital. Para piorar, um furacão está passando por Miami e o que o personagem decide fazer? Levar o corpo da irmã morta para ser jogado no oceano.
Seu filho, fruto de um relacionamento anterior, é abandonado com uma carta de despedida, sem mais nem menos. Dexter se livra do corpo da irmã enquanto encara o mar revolto, prestes a ser atingido pelo furacão. É subentendido que o serial killer está morto, apenas para revelar mais tarde que ele está vivendo em outra localidade como lenhador. Enquanto isso, em Miami, seus colegas de trabalho tiveram um destino previsível e sem grandes expectativas.
Alcançando o patamar de Lost para alguns fãs, Dexter teve um encerramento fraco e sem grandes riscos para um seriado que se construiu à base de incitação e imprevistos que, no fim, gerou mais perguntas do que respostas.
O que esperar do revival de Dexter
Não existe fim para um filme ou série, isto é óbvio. A indústria cinematográfica sempre encontra formas de ressuscitar velhas narrativas com o tempo, ainda mais se elas obtiveram sucesso, e, para felicidade ou desgosto dos fãs, o revival de Dexter também não escapou dessa.
O retorno, anunciado em outubro do ano passado, confirmava a volta de Michael C. Hall como Dexter, além de estabelecer a nova temporada como uma série limitada. O intuito, segundo uma entrevista concedida ao Entertainment Weekly, era simples: estabelecer um novo fim. Vale ressaltar que nem o próprio Hall concordou com o encerramento da série.
“Os fãs acharam o final bem insatisfatório, e sempre houve esperança que uma história digna de ser contada surgiria. Eu mesmo era uma das pessoas que se perguntava: ‘O que diabos aconteceu com aquele cara? Estou ansioso em voltar a interpretá-lo, nunca tive a experiência de voltar a um personagem tantos anos depois.”
Michael C. Hall, ator responsável por viver Dexter.
Hall não é o único que retorna. Clyde Phillips, showrunner do seriado nas quatro primeiras temporadas, volta ao revival de Dexter para tentar estabelecer um tom de conclusão e aproveitar a oportunidade para acertar a narrativa do anti-herói.
Situada agora no interior nova-iorquino, desta vez a pedra no sapato do serial killer estará na figura de Kurt Caldwell, vivido pelo ator Clancy Brown (Billions).
Descrito como prefeito não-oficial de Iron Lake, Caldwell atingiu o sonho americano realizando trabalhos como motorista, similar ao seu pai, e agora atua como um homem de negócios ligado ao ramo de caminhões. Caldwell é pintado como bom moço pelos amigos, porém, há uma face oculta reservada para aqueles que o cruzam ou que machucam seus entes queridos.
Serão ao todo 10 episódios, com lançamento no outono de 2021, ou seja, entre setembro e dezembro.
Novos personagens do revival
Não foi comentado sobre a volta de outros personagens da série original, somente de novos nomes que se juntam ao elenco.
- Julia Jones (The Mandalorian) será Angela Bishop, descrita como uma chefe de polícia do interior do estado de Nova Iorque;
- Johnny Sequoyah (Believe) será Audrey, filha adolescente da chefe de polícia;
- Alano Miller (Sylvie’s Love) dará vida ao personagem de Logan, sargento no Departamento de Polícia de Iron Lake. Logan é descrito também como treinador assistente de luta numa escola local;
- Jack Alcott (The Good Lord Bird) será intérprete de Randall, que aparentemente terá um encontro significativo com o personagem principal.
A tendência do revival na cultura pop
Vira e mexe alguma série volta à tona. Se nem Twin Peaks, um dos maiores clássicos da TV americana e referência para um punhado de outras séries que vieram depois como Lost e True Detective, conseguiu escapar, por que o revival de Dexter seria impossível de acontecer?
Isso representa uma tendência no mundo das séries, sendo que é possível encontrar pelo menos um revival em plataformas de streaming como Netflix e Prime Video, isso quando não há uma versão diferente para cada plataforma.
Afinal de contas, nada se cria na TV, tudo se reinventa — com consciência do que foi feito no passado, por isso, os diretores buscam uma forma de apresentar os programas que seja proveitosa para um público diferente. É a forma retroativa da indústria se auto alimentar de forma segura, sem apostar em grandes projetos originais.
Se vai ser bom? Não temos como saber. O retorno de Arquivo X animou muito os fãs na época, mas, no fim do dia, poucos nem sequer lembram sobre o que foi a décima temporada.
Quais são suas expectativas para o revival de Dexter? Conta pra gente nos comentários.
Fonte: Entertainment Weekly, Deadline, TV Line
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