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O mercado de procedimentos estéticos não cirúrgicos está em alta no Brasil, impulsionado pela presença de profissionais de saúde divulgando os resultados surpreendentes em redes sociais. Entre as opções mais potentes e eficazes disponíveis está o peeling de fenol, um procedimento que vem ganhando destaque por seus resultados impressionantes após viralizar nas redes sociais. No entanto, por ser considerado invasivo e complexo, ele apresenta riscos à saúde.
O noticiário nacional trouxe o assunto à tona após a morte do empresário Henrique da Silva Chagas após se submeter ao tratamento estético, na última segunda-feira (3). Entenda os riscos associados ao peeling de fenol e por que ele deve ser realizado exclusivamente por médicos especialistas.
Para que serve o peeling de fenol
O peeling de fenol é um procedimento estético que utiliza uma solução química à base de fenol, substância ácida corrosiva. Reconhecido por sua capacidade de tratar rugas profundas, cicatrizes de acne, manchas solares e outros sinais avançados de envelhecimento, este peeling é considerado um procedimento invasivo e intenso.
Como funciona o procedimento
Como uma cirurgia química, o peeling de fenol consiste na aplicação controlada da substância — que pode ter concentrações distintas conforme o grau de intervenção — que vai provocar uma queimadura na pele. Com isto, desencadeia-se um processo inflamatório que vai resultar na descamação da pele. Após o procedimento, a pele pode permanecer avermelhada por até três meses, com muita descamação nos primeiros 15 dias.
Durante o procedimento, a solução de fenol é cuidadosamente aplicada pelo dermatologista, importante lembrar que somente esses profissionais, ou cirurgiões plasticos, podem aplicar peeling de fenol. A reação química resultante remove as camadas superiores danificadas, estimulando a regeneração celular. O efeito é como se fosse uma esfoliação muito intensa, como uma troca de pele, que, após a descamação, traz uma camada mais lisa, uniforme e jovem.
Neste vídeo, o dermatologista Diogo Branco explica passo a passo de como funciona o procedimento:
Benefícios do peeling de fenol
- Redução de rugas e linhas finas: O tratamento é altamente eficaz na suavização de rugas profundas, oferecendo uma aparência mais jovem.
- Melhora da textura e tom da pele: A esfoliação profunda ajuda a uniformizar a textura e o tom da pele, proporcionando um aspecto mais saudável.
- Tratamento de manchas e cicatrizes: Manchas escuras e cicatrizes de acne são significativamente reduzidas, resultando em uma pele mais clara e homogênea.
Apesar dos benefícios, o peeling de fenol exige cuidados rigorosos no período de recuperação, que pode variar de 1 a 3 meses. Durante este tempo, a pele fica vermelha, inchada e extremamente sensível. A proteção solar é essencial, sendo crucial evitar qualquer exposição ao sol para prevenir danos à pele recém-regenerada.
A Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) afirma que o procedimento deve ser realizado por médicos dermatologistas habilitados e dentro de um ambiente hospitalar, com monitoramento cardíaco e anestesia, vide os riscos associados à toxicidade do fenol.
Exemplos de antes de depois
João Castro é um tiktoker que viralizou ao mostrar a evolução de sua pele após o peeling de fenol. Neste vídeo, postado por João nas redes sociais, é possível acompanhar a evolução de seu procedimento:
Neste vídeo, o médico Hugo Andrada, conta sobre seu procedimento apenas na região dos olhos e como foi o andamento, em seu canal é possível acompanhar outras transformações:
Recentemente, a influenciadora digital Romagaga divulgou em suas redes sociais que passou por esse procedimento, em seu Instagram ela mostra todo processo, desde a aplicação do produto, até o resultado final após alguns meses.
E este é o impressionante resultado do peeling de fenol da influenciadora Romagaga:
Riscos do procedimento
Apesar de parecer um procedimento simples, o fenol promove uma série de interações com o corpo que demandam cuidados desde sua aplicação até o resultado final, que vai ocorrer meses depois. Confira os riscos associados ao procedimento:
Toxicidade
Segundo especialistas, o fenol pode ser nefrotóxico, hepatotóxico e cardiotóxico. Isso significa que a substância pode causar danos aos rins, fígado e coração. A toxicidade cardíaca ocorre devido à alteração dos canais iônicos, resultando em arritmias. Além disso, pode haver uma alteração no metabolismo energético das células cardíacas, com redução do ATP (adenosina trifosfato), uma molécula essencial para o fornecimento de energia. Essa redução diminui a capacidade das células cardíacas de se contrair adequadamente, além de causar danos diretos a elas.
Pigmentação e alterações funcionais da pele
O procedimento também pode causar hipopigmentação, resultando em clareamento permanente da pele — motivo pelo qual não é recomendado a pacientes de pele escura. Em casos raros, podem surgir cicatrizes e complicações cardíacas graves devido à absorção do fenol pelo organismo. Por isso, é fundamental que este tratamento seja realizado sob a supervisão de profissionais qualificados para minimizar esses riscos.
A hipersensibilidade na pele após o procedimento a deixa com uma aparência rosada por até seis meses, e neste período deve-se evitar o sol ao máximo e passar os hidratantes e medicamentos recomendados pelo dermatologista. Caso não haja este cuidado, pode haver o aparecimento de manchas escuras na região.
Edileia Bagatin, coordenadora do Departamento de Cosmiatria da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), alerta sobre o em qual circunstância esse tratamento é adequado.
“O peeling de fenol deve ser usado apenas para tratar rugas e não é eficaz para suavizar cicatrizes, podendo inclusive agravá-las”.
Edileia Bagatin, coordenadora do Departamento de Cosmiatria da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD)
As cicatrizes podem ser tão profundas que comprometem o funcionamento de estruturas faciais, dificultando, por exemplo, o movimento das pálpebras ou a abertura da boca.
Profissionais não qualificados
Devido aos riscos envolvidos, o peeling de fenol deve ser realizado exclusivamente por dermatologistas ou cirurgiões plásticos em ambientes controlados, para que os batimentos cardíacos sejam monitorados. É essencial que os interessados consultem um profissional qualificado para avaliar se o procedimento é adequado às suas necessidades específicas e tipo de pele.
A legalidade e segurança do procedimento são fatores importantes. Apenas médicos possuem a formação e licença necessárias para manipular substâncias tóxicas como o fenol e realizar procedimentos invasivos com segurança.
Realizar o peeling de fenol fora de um ambiente médico regulamentado é ilegal e extremamente perigoso, de acordo com os regulamentos e diretrizes estabelecidos pelos Conselhos Regionais de Medicina e pelas Sociedades Médicas, como a Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD) e a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). O caso trágico de Henrique Silva Chagas exemplifica os graves riscos envolvidos quando esses procedimentos são realizados inadequadamente.
Caso Henrique da Silva Chagas
O caso do empresário Henrique da Silva Chagas, de 27 anos, trouxe à tona os perigos do peeling de fenol quando realizado sem os devidos cuidados e por profissionais não qualificados. Ele se submeteu ao procedimento na clínica da influenciadora Natalia Becker, que divulgava os resultados milagrosos do peeling de fenol nas redes sociais. O tratamento ocorreu na segunda-feira (3), e Henrique começou a passar mal minutos após o procedimento, relatando dores intensas devido às profundas queimaduras. Ele pagou R$ 4.500 à vista pelo tratamento, na esperança de aliviar as marcas de acne e sardas no rosto.
Natalia Becker, segundo a Associação Nacional dos Esteticistas e Cosmetólogos (ANESCO), não tem formação como esteticista, apenas cursos de micropigmentação. Segundo sua advogada, ela fez um curso online para aplicação de fenol e realizava o procedimento em sua clínica de estética.
Equipes do SAMU foram chamadas para socorrer Henrique quando ele começou a passar mal, mas apesar das tentativas de reanimação, não resistiu. A Polícia Civil trata o caso como homicídio, segundo o delegado Eduardo Luís Ferreira, do 27º DP de São Paulo. Após o incidente, Natalia deixou a clínica alegando estar passando mal também, mas ficou foragida. Na tarde desta quarta-feira (5) se apresentou na delegacia que investiga o caso.
A falta de exames pré-procedimento para verificar as condições de saúde de Henrique é um dos pontos críticos da investigação. Segundo o marido de Henrique, Natalia teria apenas fornecido um creme antes do tratamento, sem verificar se o paciente tinha problemas de saúde que pudessem ser agravados pelo procedimento.
Além das consequências estéticas, como manchas permanentes e cicatrizes que podem comprometer funções faciais, o peeling de fenol pode ser prejudicial para o sistema cardíaco, como está sendo investigado no caso de Henrique. A substância é cardiotóxica, podendo provocar arritmias e, em casos graves, até parada cardíaca.
“O procedimento pode ser feito em ambulatório se a concentração for menor apenas em área da face, mas o paciente precisa estar sempre monitorado”.
Edileia Bagatin, coordenadora do Departamento de Cosmiatria da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).
Especialistas alertam que o peeling de fenol não é adequado para todos. Pessoas com problemas cardíacos, pressão arterial descontrolada ou pele mais morena (fototipo alto) estão em risco elevado.
O presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica, Emerson Lima, explica o motivo pelo qual o fenol precisa ser aplicado por especialistas.
“Por isso, o procedimento precisa ser realizado por um médico que consiga intervir em caso de qualquer complicação, durante ou depois da cirurgia. Atualmente, há muito pouca seriedade com relação a esse procedimento. É preciso sempre ter em mente que ele pode gerar complicações “.
Emerson Lima, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD).
Lima explica que a técnica causa uma queimadura profunda na pele e exige extrema cautela, segundo os especialistas, o peeling de fenol não é adequado para todos os tipos de pele, é recomendado para homens e mulheres com mais de 60 anos, e não deve ser executado por esteticistas ou dentistas.
No Brasil, os tratamentos estéticos não invasivos crescerem 56% entre 2020 e 2022, o que fazem o país ocupar o segundo lugar no ranking mundial desse procedimento. Em 2013, foi sancionada a lei do Ato Médico, que regulamenta o exercício da medicina no país, definindo quais atividades são exclusivas dos médicos e quais podem ser realizadas por outros profissionais da área da saúde. A lei estabelece diretrizes sobre o que constitui o ato médico, visando garantir a qualidade dos serviços prestados e a segurança dos pacientes.
A busca por rejuvenescimento deve sempre ser acompanhada de rigorosos critérios de segurança e profissionalismo. É essencial que aqueles que consideram este tratamento estejam cientes dos riscos e busquem sempre orientação médica adequada.
Veja também:
Fontes: Portal Drauzio Varela, G1, UOL
Revisado por Glauco Vital em 6/6/24
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