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Quando olhamos para o cenário do JRPG atual, é difícil imaginar que, praticamente, um único título conseguiu furar a bolha e cair no gosto dos jogadores comuns. Claro que outros jogos como Chrono Trigger e Super Mario RPG ajudaram bastante nesse processo, mas foi somente com Final Fantasy 7 que chegamos a outro patamar. E mais do que isso, o game também foi o responsável pelo rompimento de duas parceiras de longa data e fez o gênero se tornar o que é hoje. Mas antes de falar sobre o impacto de Final Fantasy, precisamos voltar um pouco no tempo e contar como algumas coisas aconteceram.
Nintendo x SquareSoft
No começo dos anos 1990, uma nova tecnologia começava a se tornar cada vez mais popular, o CD. Com grande capacidade de armazenamento, se comparado aos cartuchos e disquetes da época, era uma questão de tempo até essa tecnologia chegar aos consoles caseiros. Apesar de existirem outros concorrentes, a Sega foi uma das que correu para trabalhar com o CD.
Enquanto isso, a Nintendo se juntou com a Sony para produzir um periférico de CD para o Super Nintendo, mas, ao mesmo tempo, acompanhava o que a Sega fazia. Alguns protótipos chegaram a ser produzidos, e a SquareSoft (hoje em dia conhecida como SquareEnix) começou a trabalhar em um jogo para o vindouro aparelho.
Contudo, no mais absoluto sigilo, a Nintendo se juntou com a Philips e juntas passaram a perna na Sony e lançaram o fracassado CD-i. Os executivos da Sony ficaram possessos com a traição e continuaram a desenvolver o que viria a se tornar o PlayStation original, e a SquareSoft precisou abandonar todo o seu projeto e mudou substancialmente tudo o que já tinha feito: o resultado foi apenas Chrono Trigger. Apesar disso, não foi um problema para a empresa, que lançou o game para o Super Nintendo e até hoje é considerado um dos melhores da história.
A SquareSoft acompanhava atentamente o que acontecia no mercado de consoles, e queria levar seus jogos a fazer algo que até então não era possível. Quando a Nintendo anunciou que seu próximo console caseiro, o Nintendo 64, seria a cartuchos, a empresa se frustrou enormemente, já que não teria o mesmo espaço que um CD, fora o preço.
Ainda assim, a empresa chegou a criar modelos dos personagens de Final Fantasy 7 usando a tecnologia em 3D que seria implementada no novo jogo, mas quando viram o tamanho que isso tomaria e a quantidade de cartuchos, a ideia caiu. Foi então que a empresa passou a procurar opções, mas a Sony, com seu recém-lançado PlayStation, se mostrou como o melhor lugar possível para o lançamento do jogo.
Quando essa informação foi anunciada, o então presidente da Nintendo, Hiroshi Yamauchi, não ficou nada feliz com a decisão e cortou relações com a empresa. A Sony prontamente se juntou com a SquareSoft, e deu toda a assistência possível para que Final Fantasy 7 se tornasse realidade, inclusive fechando um acordo vantajoso.
Desenvolvendo a obra
Quando comparamos Final Fantasy 7 aos primeiros jogos da franquia, podemos dizer que, fora o combate, o resto destoa enormemente. Para começar, o mundo deixou de ter traços medievais, e agora é quase todo futurista, ou pelo menos com um pezinho lá. Além disso, o sistema de Materia deixou de fazer com que os personagens tivessem classes específicas e cada um deles podia assumir o papel que o jogador quiser.
As Materia podiam ser encontradas pelo mundo e evoluídas, com isso era possível obter magias e algumas habilidades, como contra-ataque e outros. Durante o combate, a cena mudava completamente, para um cenário completamente em 3D. O gráfico apresentado até então era algo completamente inédito para a época. A câmera ficava mais cinematográfica, dependendo do golpe, e mostrava todo o poder do PlayStation. O design dos personagens ficava muito mais realista e bonito
Agora, o grande destaque da luta era especialmente visível durante as invocações. Nos jogos anteriores, com a restrição dos consoles da época, não era possível ter tamanha noção do poder e escala dessas criaturas. Contudo, agora apareciam de maneira grandiosa.
Para a exploração dos cenários, e também para poupar memória, foi utilizada a técnica de fundos pré-renderizados. Ou seja, a imagem é estática e somente o modelo em 3D que se movia pela tela. Isso já havia sido feito com extrema perfeição ainda no Super Nintendo, com os excelentes jogos da trilogia Donkey Kong e também em Resident Evil, lançado para o PlayStation também. Mas como essa era a primeira vez que a SquareSoft fazia algo do tipo, os cenários eram ótimos e bem feitos, contudo, o design dos personagens não era tão bonito.
Todavia, o que realmente chamou a atenção do mundo foram as cinemáticas. Algumas delas chocaram o mundo dos games e mudaram para sempre como vemos essas cenas, além de aprofundar ainda mais a narrativa. Por fim, a trilha sonora foi composta por Nobuo Uematsu, que produziu um dos seus melhores trabalhos e canções que são referência até hoje.
Terroristas do Bem
Um dos principais destaques de Final Fantasy 7 é a excelente história. Nela acompanhamos a jornada do ex-SOLDIER Cloud Strife, que está prestando serviços para o grupo terrorista Avalanche. A missão do grupo é destruir os reatores Mako, que, de acordo com Barret e demais membros da gangue, está usando a energia vital do planeta.
O grupo consegue detonar o reator, mas ao tentar uma segunda vez, acabam caindo em uma emboscada. Isso faz com que Cloud se perca dos demais membros do grupo, e conheça a jovem Aerith. A partir daí, começa uma enorme jornada que mudará o mundo para sempre.
Eu adoraria poder explicar toda a história aqui, mas como o remake ainda está em lançamento, seria bastante injusto com quem está acompanhando a aventura somente nessa nova versão. E falando nela, todos estamos bastante curiosos para saber o que acontecerá em uma determinada cena que deverá acontecer em Final Fantasy 7 Rebirth.
Os jogos da franquia quase sempre tiveram ótimas histórias, mas as novas técnicas de cinemáticas usadas fizeram de Final Fantasy 7 algo praticamente único. Quando tudo isso foi apresentado ao ocidente, uma verdadeira comoção aconteceu, o que resultou numa excelente vendagem. Mas o mais fantástico de tudo foi a campanha de marketing criada para mostrar o que é um JRPG para quem não está familiarizado com o gênero.
Furando a bolha ocidental
Final Fantasy 7 foi lançado no Japão no dia 31 de janeiro de 1997. A Famitsu, uma das mais respeitadas revistas de videogames do país, deu uma nota 38 de 40, o que atestava sua imensa qualidade. Além disso, no total, foram vendidas mais de 4 milhões de cópias. Contudo, o sucesso já era esperado, e era chegada a hora de começar a preparar o lançamento ocidental da obra. Foi aí que a Sony entrou na jogada.
Os executivos da empresa sabiam ter uma verdadeira mina de ouro, e iam fazer de tudo para capitalizar em cima. Para isso, ofereceram à SquareSoft um vantajoso contrato, e deixaria nas mãos da dona do PlayStation todo o trabalho de “vender” o jogo no ocidente. Começava assim uma intensa e poderosa campanha de marketing.
A primeira coisa a ser feita foi jamais citar que se tratava de um JRPG. Todas as cenas mostravam somente as capacidades gráficas que o PlayStation conseguia reproduzir, e eram de encher os olhos. Confira.
O ano é 1997, sua TV está ligada em algum canal quando do nada surge um comercial apresentando gráficos excelentes e um senso de urgência até então só visto nos cinemas. E mais, Toy Story tinha sido lançado há pouco tempo, e um console caseiro conseguiria reproduzir gráficos semelhantes.
Todos os comerciais foram apresentados em diversos programas de TV, de vários canais. Além disso, não só revistas de videogame, mas também os quadrinhos, eventos diversos e outras parcerias foram realizadas. Ao todo, foram 3 meses intensos de muitas propagandas, ao custo de mais de 20 milhões de dólares.
E deu certo. Final Fantasy se tornou um verdadeiro fenômeno de vendas e conseguiu romper a bolha do nicho dos JRPGs. Isso fez com que a SquareSoft vendesse muito, a Sony mostrou para o mundo o que seu console conseguia fazer e praticamente fez com que se consolidasse como o grande vencedor daquela era. Além disso, ajudou com que outros jogos fossem lançados no ocidente, começando uma verdadeira febre.
Outras empresas estavam à procura do seu “matador de Final Fantasy”, mas quase ninguém chegou ao mesmo nível que o jogo da SquareSoft. Por outro lado, isso foi primordial para os fãs do gênero, que passaram a receber diversos outros títulos, como Legend of Dragoon, Grandia e outros.
Continuações e outras mídias
Depois da quase quebra da SquareSoft e da fusão com a Enix, que deu lugar a SquareEnix, a produtora começou a investir em jogos e outras mídias que pudessem servir como possíveis continuações. Isso foi feito também para expandir alguns pontos, principalmente para eventos que aconteceram antes do ponto em que Final Fantasy 7 nos é apresentado.
A primeira dessas obras foi Before Crisis: Final Fantasy 7, que nos mostra uma história que acontece 6 anos antes dos eventos originais do jogo. Durante a narrativa, acompanhamos um grupo de funcionários da Shinra, os Turks, em sua batalha contra o grupo terrorista Avalanche. O game foi lançado originalmente para os celulares japoneses, mas não existe mais. Contudo, poderemos ver seu conteúdo em Final Fantasy 7: Ever Crisis, que será lançado para os celulares ainda em 2023.
O filme em animação Final Fantasy 7: Advent Children foi lançado em 2005 e é um verdadeiro espetáculo visual. A história se passa 2 anos após os acontecimentos do jogo original e o mundo está sendo assolado por uma doença. Cloud fica sabendo que três crianças foram raptadas e parte em busca delas, mas acaba descobrindo que um antigo inimigo pode estar de volta.
Um dos mais peculiares lançamentos da franquia foi Dirge of Cerberus: Final Fantasy 7. Deixando o combate por turnos de lado, agora o jeito era balear tudo e todos que entravam pela frente. O jogo de tiro tinha como protagonista o personagem Vincent, e acontece 3 anos após o fim da aventura original. Nosso herói tem como missão lutar contra uma organização chamada Deepground e desvendar outros segredos.
Por fim, um dos melhores títulos fazem parte desse universo: Crisis Core: Final Fantasy 7. A história nos mostra o começo das aventuras de Zack, que acabou de se tornar um SOLDIER de primeira classe. Durante o game, acompanhamos diversos momentos que antecedem o jogo original, como a guerra contra Wutai, e muitos outros momentos marcantes. Felizmente, um remaster extremamente competente foi lançado recentemente, e melhorou significativamente o título.
Claro que não podemos esquecer do remake. A SquareEnix optou por fazer esse lançamento em 3 partes, sendo que a primeira já foi lançada e a segunda chegará em 2023. A primeira parte nos apresenta a história contada na cidade de Midgar, e promove algumas mudanças no roteiro, se comparado com o original. Particularmente, considero esse um dos jogos mais bonitos que já tive o prazer de jogar no PlayStation 5 e estou extremamente ansioso para saber como a história será contada.
Impacto cultural
Quem olha hoje o que é Final Fantasy 7, por vezes, pode nem ter a noção da sua importância histórica. Caso esse game não existisse, ou fosse lançado como se fosse somente mais um JRPG, jamais teríamos tantos títulos traduzidos quanto temos hoje em dia. Para corroborar o que foi dito, confira o que um dos maiores YouTubers do gênero, o Super Derek RPGs tem a dizer:
Final Fantasy 7 se beneficiou de uma significativa campanha de marketing. A fidelidade gráfica pode parecer datada para os padrões atuais, mas eram incríveis para um console caseiro. Os gráficos eram espetaculares nas propagandas. E, felizmente, o conteúdo do jogo fazia jus ao que o marketing apresentava, e ajudou a apresentar para inúmeros jogadores a ideia de que um jogo podia ter uma história mais séria, legal e até épica.
O jogo teve um papel crucial em trazer mais jogadores para o JRPG. Nós já tínhamos vivido uma “era de ouro” no Super Nintendo, mas foi somente após o lançamento de Final Fantasy 7 que a quantidade de títulos começou a aumentar. Muito por conta das empresas que queriam ser o próximo grande destaque, como Legend of Dragoon, da Sony. Ainda assim, é muito difícil dizer que foi somente graças a Final Fantasy 7 que isso aconteceu. Eu diria que o game foi como uma pequena bola de neve atirada em uma montanha, e com isso causar uma avalanche.
Super Derek RPGs.
E não só graças a Final Fantasy, mas ao gênero como um todo que podemos ver muitos outros títulos que trazem diversos elementos de RPG. Um excelente exemplo disso é o Fifa, onde temos que subir de nível com os jogadores para melhorar os atributos. Contudo, ao invés de lutar com monstros, temos que marcar ou evitar gols.
Como dito acima, a parte dois do remake de Final Fantasy 7 será lançada ainda esse ano, além da décima sexta entrada numerada da franquia. Isso sem contar os muitos outros títulos como Atelier Ryza 3, The Legend of Heroes: Trails to Azure, Sea of Stars e muitos outros. Felizmente, para nós, fãs do gênero, teremos diversas grandes opções para jogar. E isso tudo começou lá atrás, em uma avalanche que reverbera até os dias atuais, e vai continuar, se tudo der certo, até o fim dos tempos.
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Revisão do texto feita por: Pedro Bomfim
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