Quem possui um Nubank se declara fã de carteirinha do cartão roxinho. E não é pra menos, como já comentei no passadoo, vale muito a pena conseguir um desses para ser feliz. O cartão não é atrelado à uma conta bancária, não cobra taxas, é totalmente online, tem atendimento diferenciado por apps e mensagens de texto, e outras vantagens.
Mas, será que esse modelo disruptivo, que vai contra tudo que conhecemos no mercado financeiro brasileiro, pode se sustentar? Ou seja, ele tem chance de se tornar lucrativo? Foi isso que Eduardo Carone, fundador da Nexto Investments, analisou em um artigo super completo publicado em seu LinkedIn, que eu comento abaixo:
O Modelo de Negócio
Analisando a fundo, vimos que para um cartão de crédito existir, três setores trabalham em conjunto: A Bandeira, representada localmente pelas conhecidas VISA, Mastercard e Elo; o Adquirente, que são as empresas donas das “maquininhas” como a Rede e Cielo; e por fim, o Emissor, que pode ser um banco, uma loja e, claro, até a própria Nubank.
No momento que você faz qualquer compra no cartão em uma maquininha, aproximadamente 97% do dinheiro vai para o dono da loja. Os 3% restantes são divididos entre os três personagens apresentados. O Adquirente e Emissor ficam com a maior parte, e a Bandeira com uma fatia menor.
Afinal, a Bandeira não passa de uma “marca” para estampar cartões de crédito, que oferecem alguns benefícios, como programas de milhagens, descontos em cinemas, entre outros. Mesmo sendo “apenas” isso, uma bandeira como a VISA lucrou singelos US$ 5,99 bilhões em 12 meses encerrados agora em setembro. Veja bem, se o carinha que ganha a menor fatia do bolo lucra isso tudo, o Emissor deve se dar bem, não é? Calma jovem padawan, em breve chegaremos nesse ponto…
Para o Adquirente, o negócio também é lucrativo. A empresa só precisa de tecnologia para fazer suas maquininhas funcionarem. No primeiro trimestre, por exemplo, a Cielo lucrou R$1 bilhão apenas com isso.
E o Emissor? Bom, esse ganha dinheiro basicamente de três formas: (i) Taxas de Administração, que é a porcentagem cobrada do lojista (tirada daqueles 3%), (ii) Tarifas, como anuidade e (iii) cobrando juros de quem paga a fatura em atraso ou não paga o valor total.
E como funciona a Nubank?
Já que a Nubank, uma emissora, abriu mão de cobrar qualquer tarifa e taxa de seus clientes, o item (ii) não gera receita para ela. E, cobrando uma taxa de juros abaixo do mercado, cerca de 7,75% a.m., ela não ganha tanto assim, mesmo tendo praticamente dobrado os juros para alguns clientes.
E, por essa razão, chegamos ao real problema…
Agora chegamos na parte problemática de ser o Emissor: o cliente. Isso mesmo, possivelmente você que está lendo este artigo (e eu que escrevi). Simplificando bem as coisas: Quando o cliente faz uma compra de R$100,00 em uma loja, o lojista vai receber R$97,00 do Emissor, e este deveria receber o valor total (R$100,00) do cliente, mas nem todos pagam o valor total da fatura, ou atrasam, e ainda assim o Emissor (Nubank) precisa pagar o seu Manoel da padaria com aqueles R$97,00 que ele vendeu.
Esta prática consome muito caixa, e é ai que se encontra o problema. O último balanço da Nubank (Nu Pagamentos S/A), publicado em 2015, aponta um prejuízo fiscal de R$ 32,7 milhões, para uma empresa desse porte, esse valor é pequeno. Já o caixa… Em 2015 ela gastou R$245 milhões, e seus investidores aportaram R$300 milhões para cobrir esse rombo.
E esse não foi o único dinheiro injetado na fintech, teve mais… só que a Nubank está em um negócio difícil por natureza. E, já sabendo disso, não está dando murro em ponta de faca. A ideia dos investidores é injetar dinheiro, valorizar o serviço, vendê-lo e pegar o dinheiro de volta com seus devidos acréscimos, é assim que o mercado funciona. Quem poderia comprar? O Itaú é um forte candidato, ou qualquer outro banco que já não tenha lançado seu concorrente como o Digio.
Agora a pergunta chave do artigo: um cartão sem taxas pode se sustentar no Brasil ou vai quebrar? Na opinião de Eduardo Carone, é pouco provável, é mais provável que os investidores continuem cobrindo os prejuízos até venderem o negócio. Na minha opinião, também acho que não. No mundo da tecnologia já vimos muitas empresas, que não geraram R$1,00 de lucro para seus criadores, serem vendidas por cifras altíssimas.
Outra solução para o roxinho seria cobrar uma anuidade (baratinha, por favor) para continuar oferecendo um serviço de qualidade e tecnologia que ele dispõe, que é sim algo inovador por aqui. Eu pagaria tranquilamente uma anuidade de R$12,00/ano (olha lá eu sugerindo um valor bacana) para continuar com o Nu.
E você? Pagaria anuidade para usar seu Nubank ou cortaria o cartão e cancelaria na hora?
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