Mesmo após termos passado — e ainda estarmos passando — pela pandemia de COVID-19 e o surto de monkeypox, o estado de saúde pública mundial segue em risco com mais um agente patológico. Estamos falando do novo vírus Langya henipavirus (LayV) que chegou a infectar pelo menos 35 pessoas na China entre os anos de 2018 e 2021, sendo reportado no veículo científico The New England Journal of Medicine apenas agora. Entenda mais sobre a novidade.
O que sabemos sobre o Langya henipavirus (LayV)
Dentre os casos descritos no The New England Journal of Medicine, 26 deles tiveram seus detalhes analisados, sendo apontados os seguintes sintomas:
- 54% – fadiga;
- 50% – tosse
- 35% – dor de cabeça;
- 35% – vômito.
Ainda houve registros de anormalidades no fígado em 35% dos pacientes e nos rins em 8% deles. Apesar de todos os dados dos sintomas, ainda não foi relatado nenhum caso de eventual morte. A transmissão também não foi indicada como contato de pessoa para pessoa, possivelmente a infecção tem como origem animal. Os estudos apontam que o musaranho — espécie de pequeno roedor semelhante a um rato — seja um reservatório natural do vírus, mas sem uma confirmação até o momento.
Especialistas afirmam que, apesar da detecção deste novo vírus, não há potência de causar uma nova pandemia. Isso não significa que pode haver despreocupação, uma vez que outros patógenos do grupo Henipavírus já causaram infecções graves e surtos em regiões como Oceania e Ásia, principalmente os Hendra henipavirus (HeV) e também o Nipah henipavirus (NiV), considerados semelhantes ao LayV.
O que foi observado não caracteriza um hot spot (“foco de transmissões”, em tradução livre) como foi com o coronavírus — em que o vírus foi achado e logo começou a se espalhar em toda a região muito rápido. O novo vírus também não mostrou uma transmissão eficiente de pessoa para pessoa muito rápido. Mas como um vírus patogênico (que causa doença), é preciso ficar atento e monitorar sim novos casos.
Jansen de Araujo, virologista, professor e pesquisador do Laboratório de Pesquisa em Vírus Emergentes da Universidade de São Paulo (USP)
Não é muito fácil de relacionar a taxa de mortalidade do coronavírus, atual pandemia, com as infecções causadas pelo Langya henipavirus, pois há fatores como período e números por país que não são equivalentes. Já os vírus Nipah e Hendra já possuem um nível de letalidade não apenas semelhante mas até mesmo maior, nestes locais, do que o próprio coronavírus.
É importante destacar que ainda na publicação feita no New England Journal of Medicine, foi revelado que o Langya henipavirus infectou pacientes que residiam nas províncias Henan e Shandong. Não houve relato de que eles tivessem contato entre si ou algum tipo de histórico de presença nos mesmos lugares. Os pesquisadores ainda fizeram um procedimento de rastrear nove desses pacientes e seus parentes a fim de confirmar se houve qualquer indício de infecção de pessoa para pessoa — mas o resultado foi negativo.
Langya henipavirus e o Brasil
Presente no projeto Rede Nacional de Vigilância de Vírus em Animais Silvestres (Previr), Jansen de Araujo vem buscado há anos a presença do Henipavírus no Brasil. No ano de 2017 o virologista e alguns colegas chegaram a publicar um artigo que continha indícios em morcegos encontrados no Brasil que poderiam ser, também, reservatórios naturais do Nipah, porém não houve confirmação científica. Não só do Nipah, o pesquisador ainda afirma que casos de infecção pelo Hendra também não foram identificamos no país.
Outra especialista da área, a médica veterinária Michele Lunardi, doutora em virologia animal, também publicou junto a outros colegas um artigo de revisão de estudos acerca do Henipavírus em 2021, confirmando a letalidade do NiV e do HeV. Para a BBC News Brasil, a doutora diz que os cientistas responsáveis por identificar o Langya henipavirus na China aconteceu a partir de um monitoramento rotineiro em casos de febre, uma ação descrita como fundamental pela profissional para prevenir que essa e outras doenças aconteçam em expansão.
Os pacientes febris aparecem para ser atendidos em hospitais selecionados na China e, quando relatam contato prévio com animais, são coletadas amostras para análise metagenômica. São ferramentas poderosas para identificar patógenos. Esse tipo de vigilância ativa com novas ferramentas de sequenciamento (genético) são importantíssimas, pensando nesses agentes infecciosos que são potencialmente zoonóticos — ou seja, que são transmitidos de animais para os seres humanos. A gente sabe que eles têm um potencial grande de se tornar no futuro novos agentes pandêmicos.
Michele Lunardi, doutora em virologia animal para a BBC News Brasil
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Fonte: The Washington Post e G1.