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Ficar sem o celular pode ser assustador para muitas pessoas. Porém, mais assustador ainda é o quanto dependemos desse aparelhinho que cabe em nossas mãos. Essa relação de dependência é um problema tão sério que a ciência inventou até um nome para isso: nomofobia.
Se você parar para refletir, quantas vezes quase teve um pequeno ataque cardíaco toda vez que não conseguiu achar seu celular? Ou melhor: quantas vezes você surtou por ficar sem bateria ou não poder mexer no smartphone por algumas horas?
O problema é que o aparelho celular carrega tantas informações essenciais e torna a vida tão mais prática que ele acaba ocupando uma função essencial em nossas vidas, como uma extensão do corpo (e do cérebro). Com isso, a sensação de pânico e insegurança quando estamos sem ele pode ser mais comum que imaginamos.
Alguns números são assustadores: um estudo mostrou que quase 53% dos britânicos ficam apreensivos quando estão sem o smartphone, sem bateria ou sem internet. Uma outra pesquisa mostrou que 77% dos estudantes de graduação entrevistados verificavam seus celulares mais de 35 vezes ao dia (faça as contas sobre quantas vezes por hora isso representa e desconsidere os períodos de sono). Um terceiro estudo mostrou que mais de 50% dos nomofóbicos nunca desligam os celulares.
O que é nomofobia?
O celular normalmente é o que nos acompanha para todo lado. O pesadelo começa com o alerta de que a bateria está acabando. Então, você já começa a procurar por tomadas ou carregadores. O desespero também pode vir de outras formas: quando a internet acaba, quando você o esquece em casa (ou não sabe onde deixou), ou quando não tem sinal.
O nome dessa doença é curioso e é a junção das palavras “NO MObile PHOne phoBIA – NOMOPHOBIA”, algo como fobia de ficar sem o celular. Ele foi criado em 2010 (uma época em que os celulares “tijolos” – aqueles que só ligavam, mandavam SMS e tinham alguns joguinhos – ainda eram comuns no Brasil). Partindo da definição, a nomofobia é o medo irracional de ficar não só sem o celular, mas como recursos tecnológicos de modo geral.
Nomofobia x Era tecnológica
Em uma era em que o celular faz praticamente tudo para você (desde a comunicação até o gerenciamento da sua vida inteira), é bem difícil não ter nomofobia. O medo de perder uma ligação importante, de não ver uma mensagem urgente, de não poder ligar para alguém caso algo dê errado, de não ter bateria para chamar um carro pelo aplicativo e outras situações é realmente assustador.
Há a necessidade de estar sempre conectado, mas também há a relação de dependência do aparelho que vai além do vício. Por exemplo, deixamos de usar os mapas de papel e de planejar um trajeto com antecedência porque sabemos que o GPS pode nos levar a qualquer lugar. Também sabemos que, se ficarmos perdidos, podemos abrir o celular e identificar onde estamos e onde ficam os pontos de referência mais próximos. Em último caso, podemos ligar para alguém e pedir ajuda.
O problema é quando exageramos. Quando você precisa resolver alguma coisa, por exemplo, é bem provável que pegue seu celular, embora saiba que ele não vai ajudar em nada. É como se ele fosse uma muleta e você se sentisse mais seguro perto dela, mesmo que não tenha nenhum problema para caminhar.
Nesse sentido, é preciso saber até quando esse medo é saudável. Tudo bem surtar quando você se sente tão perdido como se estivesse na ilha de Lost e está sem o celular, mas surtar porque foi para o banheiro e não levou o aparelho pode ser exagero.
Você tem nomofobia?
Enquanto algumas pessoas suspiram felizes quando têm a paz de algumas horas sem bateria ou sem perturbações, outras podem realmente surtar. Para descobrir se você faz parte do segundo grupo, é preciso observar alguns comportamentos comuns.
Basicamente, os sinais mais comuns da nomofobia incluem o ato de verificar o celular o tempo todo, senti-lo chamar ou vibrar mesmo que isso não esteja acontecendo e ficar nervoso quando está longe do aparelho, sem bateria, sem sinal ou sem internet. Algumas situações podem ser mais extremas, como o pânico, taquicardia, sudorese e irritação quando percebe que vai ficar sem o celular ou quando já está sem ele.
A nomofobia é mais comum em adolescentes e jovens e isso pode estar relacionado ao fato de que eles cresceram já dependentes do celular. Porém, é inegável afirmar que também é um problema que atinge os adultos.
É importante ressaltar que a nomofobia pode se transformar em uma depressão. Afinal, a vida no mundo virtual pode ser tão difícil e complexa como a vida no mundo real.
O ideal é que você avalie suas ações. Quantas vezes por dia você pega o celular para verificar notificações? Você surta se sair sem ele? O quanto você surtaria se ficasse sem seu telefone? Outras perguntas reflexivas como essas podem ser feitas para identificar o problema. É importantíssimo que você não minta para você mesmo. Inclusive, esse ato de mentir sobre quanto tempo passa no celular pode ser um dos sinais de nomofobia.
Algumas dicas consistem em desligar a internet ou o próprio celular por um determinado período, desabilitar notificações que não são importantes, tentar sobreviver algumas horas sem aparelho, etc. Se você tem crises de abstinência quando fica sem o celular, então é provável que já esteja na hora de procurar ajuda, principalmente se já tentou se livrar do vício e não teve sucesso.
É difícil dissociar o mundo real do virtual, principalmente quando consideramos que o segundo é uma extensão do primeiro, ambos separados por uma linha tênue que ninguém sabe muito bem onde fica. Porém, saber fazer essa separação é algo necessário e crucial para manter nossa sanidade mental.
Não entre em pânico! Se você acha que é um nomofóbico e quer se livrar do vício, mas não sabe por onde começar, converse com um profissional de saúde habilitado.
Fontes: Scientific American; Bustle; Bhattacharya et al., 2019 – Journal of Family Medicine and Primary Care.
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