Morre John Romita, ícone da Marvel e cocriador de Wolverine, entre outros

Foi com grande pesar que milhões de adoradores de revistas em quadrinhos começaram seu dia hoje. John Romita Sr., famoso ilustrador das revistas do selo Marvel Comics, faleceu na madrugada do dia 14 de junho, aos 93 anos. 

Dentre suas maiores contribuições à editora, estão a cocriação de Wolverine, ao lado do recentemente falecido Len Wein, e outros heróis naturais de Nova Iorque, como o próprio Romita: dentre eles estão o Rei do Crime, Mercenário, Luke Cage, e a ruiva mais famosa dos quadrinhos, Mary Jane Watson, a paixão do Homem-Aranha. Foi ela quem cunhou a frase: “Reconhece, gatão, você tirou a sorte grande” em sua primeira aparição na revista Amazing Spider Man #42.

Dizer que Romita Sr. foi um ícone da Marvel é até pouco para descrever sua influência sobre os personagens da agora gigante do entretenimento. Junto de nomes como Steve Ditko e Jack Kirby, Romita foi responsável por caracterizar o visual dos heróis e vilões da Casa das Ideias, transformando ideias à primeira vista inócuas, como um rapaz capaz de escalar paredes que passou a se chamar de “Homem-Aranha”, nos símbolos da cultura pop estampados em HQs, filmes, jogos, brinquedos e desenhos animados, que são os fantasiados da empresa hoje em dia.

Seu traço arrojado e com linhas de ação repletas de movimento, deram a todos que passaram por seu lápis uma personalidade inconfundível. Romita participou da era de prata dos quadrinhos norte-americanos, momento no qual eles passavam por forte escrutínio do governo do país, que influenciado pelos ideais conservadores, exigia que todas as revistas publicadas no solo do país recebessem o aval dele na forma do selo Comics Code Authority (CCA), o famigerado Selo da Autoridade dos Quadrinhos. 

Essa censura surgiu como fruto da mente de Frederic Wertham, psiquiatra infantil alemão, autor do livro A Sedução dos Inocentes – título traduzido do original, Seduction of the Innocent – em que afirma, entre outras coisas, que as revistas em quadrinhos eram responsáveis pela delinquência juvenil. Mesmo assim, sob o olhar autoritário do governo, Romita e seus pares foram capazes de trazer alegria a muitas gerações de crianças e adultos ao redor do mundo, graças às suas belíssimas contribuição à arte sequencial.

O início de uma era

Mas o sucesso não veio fácil ao artista nova-iorquino, nascido em 1930, natural do Brooklyn. Como muitos artistas de sua época, iniciar uma carreira no período pós-Segunda Guerra foi bastante puxado. Romita teve sua grande chance em 1949, quando a Timely Comics — que viria a ser a Marvel anos depois — teve o seu desenho publicado (apesar de não creditado) na revista do Capitão América, o então garoto-propaganda das forças armadas dos Estados Unidos no conflito em escala global.

Já nas décadas seguintes, o desenhista adquiriu renome com seu trabalho sendo publicado em revistas de outras editoras menores, até que em 1965, ele voltou à Marvel, para ilustrar os quadrinhos do herói cego Demolidor, e de um certo aracnídeo favorito da vizinhança. Seus desenhos nesses títulos, além de contribuir no crescimento de popularidade e de vendas, alavancou o nome de Romita ao panteão de desenhistas que viriam a ser considerados clássicos pelas gerações que os seguiram.

A revista à qual seu nome é mais lembrado é sem dúvida alguma Amazing Spider-Man, onde contribuiu com a criação de inúmeros personagens, dentre eles vilões e mocinhos, que viriam a fazer parte do elenco da revista do “teioso” até os dias de hoje, como George Stacy, um dos maiores aliados no início da carreira do Homem-Aranha e pai da ex-namorada de Peter, Gwen Stacy, o vilão Shocker e o já citado Rei do Crime, vilão e “pedrona” no sapato não só do Aranha, mas também do Homem Sem Medo, o Demolidor.

Um artista multifacetado

E não foi só essa a influência de Romita nas revistas em que participou como desenhista. Ele também colaborou com esforços por parte de Stan Lee, editor-chefe naquele tempo e símbolo eterno da Marvel, em tratar seus leitores seriamente, apresentando a eles não só um meio com que se divertir através de suas histórias, mas também de conscientizá-las de assuntos e manchetes daquele momento, como os muitos movimentos estudantis que ocorriam Estados Unidos afora e a calamitosa Guerra do Vietnã, que se encontrava a pleno vapor naquela década.

Tais participações levaram Romita a ser nomeado o diretor de arte da editora como um todo no início dos anos 1970, onde não só chefiou praticamente todas as revistas que viriam a carregar o selo da editora, mas também treinou uma equipe de corretores de arte, cujo trabalho ocorria muitas vezes no último momento antes dos produtos irem para a gráfica e então para as bancas. Esse time acabou sendo apelidado de “Os Guerreiros de Romita”, pela capacidade impressionante de salvar revistas à beira de atrasos e levá-las às mãos e olhos vorazes do público em tempo recorde.

Daquele ponto até os últimos anos de carreira ativa, o desenhista nova-iorquino teve o dedo no nascimento de muitos outros personagens da Casa das Ideias, como Justiceiro, uma crítica ao armamento e brutalidade das forças policiais e mostra do impacto psicológico que a guerra gerava nos soldados que então voltavam do país asiático, e Wolverine, onde realizou um verdadeiro milagre ao transformar um baixinho vestido de amarelo, com orelhas pontudas, um mero vilão de terceira categoria na revista do Incrível Hulk, no que é hoje, um dos mais populares e lucrativos heróis das HQs. Isso só citando algumas das muitas contribuições de Romita ao panorama nerd atual. 

Apesar da idade, continuou desenhando

Em 1996, John Romita Sr. deixou seu cargo na editora para assumir o que chamou de “semi-aposentadoria”, mas mesmo não trabalhando diretamente em nenhuma publicação, continuou ativo no campo da arte de quadrinhos, não só assinando capas para sua antiga casa, a Marvel, mas também para sua principal concorrente, a DC Comics, pela primeiríssima vez em sua ilustre carreira.  

A perda de uma figura importante como ele para a indústria dos quadrinhos é tanta que muitos nomes famosos de dentro e fora dela lamentaram seu falecimento, como James Gunn, diretor de O Esquadrão Suicida e Guardiões da Galáxia Volume 3, além de muitos artistas, tanto contemporâneos dele quanto atuais, tal qual Sam Hart, renomado desenhista brasileiro. Nos últimos tempos, outras estrelas do meio partiram também, como foi o caso de George Pérez e Neil Adams, ambos figurinhas marcadas do álbum dos medalhões das histórias em quadrinhos.

John Romita Sr. deixa seus filhos, Victor Romita e John Romita Jr., também artista de HQs, consagrado não só pela Marvel, como pela rival, a DC Comics, e sua esposa Virginia Bruno, com quem foi casado por mais de 70 anos. 

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Fontes: CNN, Folha, My Geek Wisdom, Omelete, Wikipedia

Revisado por Glauco Vital em 14/6/23