Marvel: O que explica a queda de qualidade do MCU?

Em 2019, milhões de pessoas se locomoveram até seus cinemas locais para assistir Vingadores: Ultimato, grande conclusão de uma história criada há 10 anos pela Marvel nas telonas. Após o evento, porém, é inegável que por mais que todo ano tenhamos uma enxurrada de produtos da Marvel no cinema e agora no streaming, aparentemente parte da magia acabou. Qual será a razão por trás disso? Tentamos desvendar o segredo da queda da Marvel a seguir, confira:

A queda dos ícones

Antes de começarmos essa análise sobre o estado atual do Universo Cinematográfico da Marvel, acho interessante propor um leve exercício para você, leitor: caso você vá em uma loja de brinquedos hoje, qual personagem terá mais produtos disponíveis: o Homem de Ferro ou o Doutor Estranho? E qual deles teve recentemente um filme no cinema?

Se você respondeu, respectivamente, Homem de Ferro e Doutor Estranho para cada uma das perguntas feitas acima, acertou. Tony Stark, o Homem de Ferro, está sumido das telonas desde o fim de Vingadores: Ultimato, mesmo assim o marketing e a venda de produtos não conseguem fugir dele pelo status de um grande ícone da Saga do Infinito, e o mesmo pode se dizer de personagens como o Capitão América.

Estamos em um cenário em que além dos quadrinhos, essa dupla virou o sinônimo de Marvel, e a decisão de sumir com suas versões originais no cinema de certa forma está afetando a popularidade das produções. As bilheterias continuam enormes e momentos interessantes continuam acontecendo, mas é só procurar por redes sociais e afins para ver como as pessoas sentem falta dos dois principais bastiões desse universo de super-heróis.

Os novos heróis são interessantes, e alguns dos antigos, como Thor, continuam presentes, mas algo parece faltar. É como se a ligação ou a alma desses personagens não estivesse mais lá, principalmente no caso do Thor, que teve seu arco já concluído também em Vingadores: Ultimato – o que nos leva a outro problema em potencial do MCU atual.

A receita dos filmes também vem caindo, com Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania arrecadando pouco mais de US$ 468 milhões no mundo inteiro, sendo que seu custo de produção está previsto em US$ 200 milhões, gerando um lucro baixo e que principalmente pode nem chegar a cobrir o gasto com marketing e afins, segundo o site Bounding into Comics.

Um exemplo notável disso também é Pantera Negra: Wakanda para sempre, que acumulou US$ 858 milhões de bilheteria, enquanto seu antecessor de 2018, Pantera Negra, fez absurdos US$ 1,346 bilhões. Estamos falando de uma diferença de quase US$ 500 milhões, o que muito filme sonha em fazer e, até pouco tempo, era padrão para a Marvel.

Além disso, desde o lançamento do filme da Capitã Marvel em 2019 a Marvel vem sofrendo boicotes constantes de públicos conservadores, já que personagens femininos vêm ganhando destaque. Não existem números concretos sobre o quanto isso vem afetando a Marvel como um todo, mas é inegável que os discursos devem ter força em massas que se identificam com as reclamações e possa estar cooperando para a diminuição do público nos cinemas — além, claro, da recuperação da Nona Arte pós-pandemia, que também cooperou para essa diminuição.

A saturação de conteúdos da Marvel

Até o fim da Saga do Infinito, podíamos contar em média com três produções da Marvel por ano no cinema, uma no começo do ano, outra no meio e uma mais próxima do fim. Agora, com os filmes mais as séries em streaming, estamos em uma situação em que existe um esforço para que boa parte da comunicação da cultura pop se dê através da Marvel, sendo difícil ficar mais que dois meses sem ver em listas de lançamentos algo conectado ao universo.

Isso gera uma saturação tanto do público, que pode cansar de tanta coisa, como dos próprios produtores, que nessa constante tarefa de produzir cenários imaginativos novos podem acabar esgotando suas ideias e criando situações batidas – além da necessidade de tudo ser conectado gerar problemas narrativos em que a liberdade não está tão grande, impedindo que verdadeiros progressos possam ocorrer já que, vai saber, a série da Ms. Marvel pode precisar usar um certo local que seria explodido na série do Falcão.

A DC por anos passou por um problema semelhante, com o antigo universo de Zack Snyder que ao tentar acelerar as coisas para já ter uma equipe de heróis formada rapidamente, exagerou nas conexões, e sabemos no que isso deu. A Marvel está longe de reiniciar tudo, mas é provável que uma pisada no freio para mais atenção e cuidado em cada produção seja uma decisão que ajudaria.

Além disso, para quem for começar agora a acompanhar o MCU, temos um outro problema um tanto sério: a quantidade de conteúdos necessários para estar em dia com este universo. São aproximadamente 117 horas de conteúdo espalhados entre 37 títulos, o que começa a tornar o ato de ir ao cinema quase tão assustador quanto pegar uma HQ do nada no meio de uma história. 

A solução está no próprio multiverso

O interessante é que para arrumar boa parte desses problemas, a Marvel já tem uma solução nas mãos: o multiverso. Para trazer Capitão América e o Homem de Ferro de volta, bastam ser versões de universos diferentes que tenham passado pelas mesmas experiências – e, por acaso, possam ser interpretados por atores mais novos também. Sobre a saturação, talvez seja o momento de começar a criar mais filmes que contidos em suas próprias aventuras, quase como o que a DC anda fazendo com filmes como Coringa ou O Batman, para que a bagagem de vários conteúdos anteriores não seja necessária para entender na totalidade as produções.

Claro que tudo isso é difícil, e aqui estamos muito num campo especulativo, mas como fã eu admito que não estou feliz com a direção atual do MCU. Nas HQs, quando estamos insatisfeitos, basta esperar aquela fase passar, mas no caso do cinema parece ser algo mais fixo e que se não for atendido e levado em conta logo, pode levar ao fim a um dos experimentos mais lucrativos e interessantes que já aconteceram na telona.

De qualquer forma, só podemos aguardar o futuro, com Quarteto Fantástico e X-Men. Que ele seja uma fantástica odisseia como a Casa das Ideias é conhecida por fazer. 

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Fonte: The Numbers, Bonding into Comics

Revisão do texto feita por: Pedro Bomfim (9/10/23)