Uma nova ferramenta para a denúncia de fake news está disponível desde o início da semana no Brasil. Chamada de Healthy Internet Project (“Projeto para uma Internet Saudável”, na tradução livre), a iniciativa consiste de uma extensão para o navegador Google Chrome, que permite que usuários denunciem links, matérias e outras postagens que contenham informações falsas ou promovam campanhas sem checagem de fatos.
O projeto foi criado pela organização TED (a mesma do “TED Talks”) e conta com o apoio da Jigsaw (uma incubadora de combate à desinformação filiada à Alphabet, a mesma empresa que comanda o Google) e o Centro Internacional para Jornalistas (da sigla em inglês: “ICFJ”). O texto ainda ressalta que o Brasil é o primeiro a contar com o teste aberto da ferramenta, que deve se espalhar para outras nações conforme a adoção do mecanismo progredir.
“Não é segredo que há um problema de desinformação e discurso de ódio e divisão na internet. Um dos motivos para isso é a real dificuldade (ou até mesmo impossibilidade) de se rastrear todo conteúdo nocivo publicado online. Em sua descentralização, a internet tornou-se um vasto campo no qual todos podem contribuir, embora nem sempre para o bem”
Sérgio Spagnuolo, jornalista, Knight Fellow do ICFJ e fundador da agência Volt Data Lab de jornalismo de dados
A iniciativa conta com parceria local da agência Aos Fatos, o consórcio de imprensa Comprova e o blog de checagem de fatos Estadão Verifica, e funciona de forma bem simples: o usuário baixa a extensão pela loja oficial do Google Chrome (ou qualquer navegador que use a “Chromium Engine”: mais sobre isso abaixo) e passa por um breve tutorial, que vai ensiná-lo a selecionar uma das quatro opções desejadas:
- Ideias promissoras faz justamente o que o nome sugere, ou seja, permite que você leve aos organizadores do Healthy Internet Project novas ideias que melhorem a ferramenta, sejam elas de cunho tecnológico ou de práticas de checagem de informação;
- Mentiras ou manipulação é a categoria mais direta, que permite denunciar postagens que contenham informação deliberadamente falsa, lembrando que “fake news” não é apenas responsabilidade de quem as cria, mas também de quem as compartilha;
- Abuso ou assédio determina publicações opinativas que tragam um tom preconceituoso: comentários de racismo, preconceito a grupos do público LGBTQIA+ ou xenofobia, por exemplo, ficam nessa categoria;
- Divisão ou medo resguarda denúncias contra postagens incitando ações que dividam a população em pautas onde o melhor é a união. Publicações que exaltam a violência policial sem justificativa, por exemplo, podem ser catalogadas aqui.
Cada uma das quatro categorias acima possui três graus de severidade (“Mínimo”, “Médio” e “Severo”), selecionáveis por cliques no ícone correspondente. Depois desse breve tutorial (parece muita coisa, mas ele não leva mais do que dois minutos e conta até com um exemplo de “denúncia-teste” para você pegar o jeito). Com isso, você já está pronto para marcar links junto à ferramenta, o que é bem simples de fazer. Viu uma matéria de algum blog suspeito ou politicamente enviesado? Acesse a página em questão e clique no ícone da extensão (geralmente, fica no canto direito superior do seu navegador) e determine a categoria, a severidade e adicione anotações e hashtags onde for cabível.
Healthy Internet Project: apenas no Chrome?
Embora o post de anúncio do Healthy Internet Project mencione especificamente a loja de extensões do Chrome, nosso teste mostra que ela funciona normalmente em qualquer browser que use do mesmo código do navegador do Google.
Explicando: o Chrome é desenvolvido por uma engine (tradução literal: “motor”) chamada Chromium. Ao contrário de outros navegadores, porém, essa tecnologia é compartilhada e livre para uso por outras empresas. Basicamente, isso significa que vários navegadores — alguns, bem conhecidos — fazem uso dela.
Alguns exemplos incluem:
- Microsoft Edge
- Opera Browser
- Vivaldi Browser
- Brave Browser
- Epic Browser
- Colibri
- Iron Browser
Ao todo, são pelo menos 34 navegadores conhecidos — entre soluções abertas, mobile (o browser de smartphones da Samsung é um caso) e exclusivas de vendedores de software (quando você abre um link pelo antivírus e ele abre a página sem sair do programa, por exemplo), fora outros 12 a 15 que foram descontinuados com o tempo. O projeto Healthy Internet Project funciona em todos os principais: no Showmetech, por exemplo, nós a instalamos em um computador equipado com o Opera.
O interessante é que o projeto não coleta qualquer informação do usuário, não estipulando nem mesmo o envio de um e-mail, cadastro ou qualquer forma de login. Então todo o seu uso é concentrado na privacidade de usuário e, consequentemente, anônimo.
“Muito pode ser feito com os dados que as pessoas vão ajudar a construir, a exemplo do que acontece em iniciativas como a Wikipedia. Por exemplo: um jornalista pode produzir uma reportagem de checagem de fatos, uma organização pode pesquisar quais conversas estão acontecendo nos cantos mais escuros da web e criar treinamento para comunidades e empresas de tecnologia podem remover posts abusivos, de acordo com seus padrões e políticas”.
Sérgio Spagnuolo, jornalista, Knight Fellow do ICFJ e fundador da agência Volt Data Lab de jornalismo de dados
Fonte: IJNet; Healthy Internet Project (página da extensão)
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