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O Governo de São Paulo está considerando o uso do ChatGPT para produzir aulas digitais como uma possível substituição ao trabalho realizado por professores na produção dessas aulas. De acordo com a proposta, os docentes, que antes produziam o material das aulas, teriam a função de revisar o material gerado pela inteligência artificial para alunos a partir do 6º ano. A Secretaria de Educação do estado afirma que está testando essa ferramenta como uma maneira de aprimorar o conteúdo oferecido aos estudantes.
Entretanto, um documento já foi enviado aos professores do estado com orientações para a produção das aulas com o uso do ChatGPT no 3º bimestre deste ano, segundo apuração da Folha de São Paulo.
Como o ChatGPT será usado nas aulas
O governo do estado de São Paulo planeja utilizar o ChatGPT para produzir as aulas digitais que são utilizadas pelos professores de todas as escolas da rede pública estadual. O objetivo é gerar uma “primeira versão da aula com base nos temas pré-definidos e referências concedidas pela secretaria”, conforme explicado no documento enviado pelo governo aos docentes sobre o uso da inteligência artificial.
A Secretaria de Educação confirmou que pretende testar o uso da inteligência artificial para produzir as aulas digitais do terceiro bimestre dos anos finais do ensino fundamental (do 6º ao 9º ano) e do ensino médio. Segundo a pasta, a ferramenta será empregada para aprimorar o conteúdo elaborado anteriormente pelos professores, inserindo novas propostas de atividades, exemplos de aplicação prática do conhecimento e informações adicionais que enriqueçam as explicações de conceitos-chaves de cada aula.
Apesar de ainda estar em fase de teste, o processo de produção de aulas e materiais com o uso do ChatGPT já está sendo implementado, com orientações enviadas aos professores curriculistas sobre como devem proceder nas próximas semanas. A Secretaria de Educação ressalta que o processo passará por todas as etapas de validação antes de ser avaliada a possível implementação em larga escala e defende que a IA pode aprimorar materiais produzidos anteriormente pelos professores.
Qual será a função dos professores ao utilizar conteúdo gerado por IA
Com a introdução da inteligência artificial na produção de material didático, os professores curriculistas terão suas funções ajustadas. Anteriormente responsáveis pela produção integral do conteúdo, esses docentes agora serão encarregados de avaliar e ajustar as aulas geradas pela inteligência artificial para garantir que atendam aos padrões pedagógicos exigidos. Após essa revisão, o material será encaminhado para uma equipe interna da secretaria, responsável pela revisão final, garantindo a correção linguística e a formatação adequada.
A Secretaria de Educação informou que o ChatGPT, criado pela OpenAI, será configurado para gerar as aulas com base no material produzido pela equipe nos últimos meses, bem como em outros materiais didáticos de referência. Essa mudança na dinâmica de produção de material didático também implicará em uma alteração na carga de trabalho dos professores. Anteriormente, eles deveriam entregar quatro aulas por semana, mas com a introdução da ferramenta, passarão a ter que entregar pelo menos seis aulas por semana, distribuídas ao longo de dois dias úteis.
A produção dos materiais didáticos conta atualmente com uma equipe de 90 professores curriculistas, especialistas na elaboração das aulas digitais que já eram adotadas nas escolas do governo do estado de São Paulo.
Posicionamento do Governo Tarcísio
O governo Tarcísio de Freitas, sob forte influência do secretário de Educação Renato Feder, decidiu adotar o ChatGPT para acelerar a produção do material didático utilizado pelos 3,5 milhões de alunos da rede estadual paulista. Essa medida foi tomada com a justificativa de aprimorar a qualidade do conteúdo oferecido aos estudantes, seguindo uma estratégia semelhante à implementada por Feder quando ocupava o cargo de secretário no Paraná.
Feder defende a escolha pelo ChatGPT afirmando que o material produzido sob sua orientação prioriza os conteúdos mais relevantes para os alunos, especialmente aqueles que são cobrados em avaliações nacionais, como o Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica). A Secretaria de Educação confirmou que planeja testar o uso da inteligência artificial para produzir as aulas digitais do terceiro bimestre dos anos finais do ensino fundamental e do ensino médio, com o objetivo de aprimorar o que foi elaborado anteriormente pelos professores.
Confira na íntegra a nota emitida pela Secretária de Educação de São Paulo sobre a adoção do ChatGPT na produção de aulas:
A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Seduc-SP) planeja implementar um projeto-piloto para incluir a Inteligência Artificial (IA) como uma das etapas do processo de atualização e aprimoramento de aulas do terceiro bimestre dos Anos Finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio.
Esse processo de fluxo editorial ainda será testado e passará por todas as etapas de validação para que seja avaliada a possível implementação. Nele, as aulas que já foram produzidas por um professor curriculista e já estão em uso na rede são aprimoradas pela IA com a inserção de novas propostas de atividades, exemplos de aplicação prática do conhecimento e informações adicionais que enriqueçam as explicações de conceitos-chave de cada aula.
Na sequência, esse conteúdo será avaliado e editado por professores curriculistas em duas etapas diferentes, além de passar por revisão de direitos autorais e intervenções de design. Por fim, se essa aula estiver de acordo com os padrões pedagógicos, será disponibilizada como versão atualizada das aulas feitas em 2023.
Atualmente, a Seduc-SP conta com um time de cerca de 90 professores curriculistas.
Em 2023, o secretário de Educação Renato Feder tomou outra decisão polêmica envolvendo eduacação digital ao abrir mão dos livros didáticos impressos do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), optando por disponibilizar apenas materiais digitais nas escolas. Entretanto, não seguiu, após ser alvo de críticas devido à sua inviabilidade e à identificação de diversos erros nas aulas produzidas pela secretaria. Em resposta a essas crise, o governo Tarcísio anunciou um recuo parcial em sua decisão. Sendo determinado que São Paulo voltaria a aderir ao programa nacional para continuar recebendo os livros impressos, ao mesmo tempo em que manteria a produção de materiais digitais para serem utilizados nas aulas.
O que dizem os especialistas
O uso da inteligência artificial (IA) na educação tem despertado diferentes perspectivas entre os especialistas. Enquanto alguns acreditam que é inevitável e benéfico incorporar essa tecnologia no ensino, outros destacam a importância de compreender suas limitações e potenciais para uma adoção responsável. Neste contexto, as opiniões divergem, mas há um consenso sobre a necessidade de adaptação na forma de ensinar e avaliar os alunos diante da presença crescente da IA no cenário educacional.
Diogo Cortiz, professor de tecnologia da PUC-SP, enfatiza a importância de conhecer o ChatGPT e entender que ele não é um oráculo infalível, mas sim uma ferramenta com pontos positivos e limitações.
Não vai adiantar proibir, é o cenário para o futuro. Primeiro, precisamos conhecer o ChatGPT e entender que ele não é um oráculo: tem limitações e pontos positivos. A partir disso, vamos adaptar a forma de ensinar e de avaliar [as turmas] Diogo Cortiz, professor de tecnologia da PUC-SP.
Henrick Oprea, diretor da Swiss International School (SIS), destaca a intencionalidade como palavra-chave para a integração bem-sucedida da inteligência artificial na aprendizagem. Ele argumenta que a IA pode possibilitar um ensino mais personalizado, considerando as diferentes habilidades e ritmos de aprendizagem dos alunos, algo que a escola tradicional ainda não contempla de forma eficaz.
A inteligência artificial pode ser um pilar da aprendizagem e a palavra-chave para isso é a intencionalidade… Às vezes, você precisa de cinco horas para estudar matemática e de uma hora para história; outra pessoa, o inverso, mas a escola tradicional ainda pensa no mesmo tempo para cada pessoa. É necessário estudar as competências, e a inteligência artificial vem para ajudar a gente nessa mudança de paradigma.
Henrick Oprea, diretor da Swiss International School (SIS).
A Unesco também se posiciona sobre o tema, considerando o uso das inteligências artificiais na educação como inevitável e algo que deve ser abraçado de forma responsável. Segundo a organização, a IA oferece oportunidades reais para auxiliar no ensino de alunos com dificuldades de aprendizagem, deficiências ou provenientes de minorias linguísticas ou culturais. Além disso, pode contribuir para um ensino mais personalizado, modelos flexíveis de aprendizagem e uma experiência imersiva de ensino.
É uma tecnologia que oferece oportunidades reais para ajudar no ensino de alunos com dificuldades de aprendizagem, com deficiências ou aqueles que vêm de minorias linguísticas ou culturais. Pode ajudar a entregar um ensino mais personalizado, permitir modelos de aprendizagem flexíveis e transcender as fronteiras de espaço e tempo para criar uma experiência de ensino imersiva.
Material divulgado pela Unesco
Veja também:
Fontes: Folha de SP e Governo de SP
Revisado por Glauco Vital em 17/4/24.