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Que o deepfake é uma tecnologia incrível, ninguém discute, e desde sua origem, muito já se falou do seu potencial tanto positivo quanto negativo. Esta semana, a gente teve uma amostra de como ela pode ser usada por criminosos para aplicar os mais diversos golpes.
O funcionário de uma empresa de Hong Kong foi enganado por estelionatários que usaram deepfakes de seus chefes e colegas para aplicar um golpe, causando prejuízo em torno de US$ 25 milhões. Veja a seguir como ocorreu a fraude.
Entenda o que é o deepfake e seu potencial
A tecnologia de deepfake utiliza imagens de uma pessoa que são analisadas por meio de inteligência artificial. Com isso, ela é capaz de substituir as feições de uma pessoa por outra, em tempo real. Esta tecnologia já foi muito utilizada para criação de sátiras humorísticas, mas tem sido também aplicada para a aplicação de golpes.
A ferramenta é tão poderosa que pode até imitar a voz de uma pessoa e replicá-la, caso hajam amostras suficientes da fala da identidade que está substituindo a pessoa no novo vídeo. Com o aprimoramento da tecnologia, o potencial da ferramenta gerida por IA — tanto positivo quanto negativo — é cada vez maior, tornando o efeito cada vez mais realista e difícil de ser detectado por potenciais vítimas de crimes digitais.
Se por um lado o deepfake pode ser usado para realizar verdadeiros milagres, como trazer figuras famosas “de volta à vida”, da maneira que foram feitos shows com Michael Jackson, Tupac e até Freddy Mercury no passado — sem falar no efeito de rejuvenescer um ator em um filme, como em Indiana Jones e a Relíquia do Destino, ou em The Mandalorian, onde uma versão jovem do personagem Luke Skywalker fez uma ponta na segunda temporada, com base em imagens obtidas de diversas cenas dos filmes da franquia lançados nos anos 1980 — seu potencial para o crime demanda um alerta para as empresas de tecnologia e para as autoridades.
Como o golpe em Hong Kong se deu
Em Hong Kong, uma empresa multinacional — cujo nome não foi divulgado pela polícia — foi vítima de um golpe aplicado por meio do deepfake, gerando um prejuízo de mais de 25 milhões de dólares, segundo reportagem da CNN.
No caso do crime em Hong Kong, tudo aconteceu durante uma videoconferência, em que o funcionário do setor financeiro da empresa achou que estava falando com vários membros da equipe, incluindo seu próprio chefe. Entretanto, todos os participantes eram falsos, como relata Baron Chan Shun-ching, o superintendente da multinacional.
No mesmo dia, pouco antes da videochamada, a vítima do golpe já estava desconfiada, porque havia recebido um e-mail em nome de seu chefe pedindo que uma transferência secreta fosse feita. O rapaz suspeitou que fosse um e-mail falso, mas depois da reunião ele acabou deixando de lado suas suspeitas, já que todos na conferência se pareciam e falavam como seus colegas, interagindo entre si de maneira natural e convincente.
O funcionário seguiu em frente e realizou a transferência de 200 milhões de dólares de Hong Kong, que equivalem a 25,6 milhões de dólares estadunidenses. Só depois que ele veio a se dar conta de que havia sido enganado, quando foi confirmar com a matriz da empresa, localizada no Reino Unido. Foi só depois que ambos os lados realizaram uma examinação meticulosa do vídeo que a enganação veio à tona, expondo o erro do funcionário e o gravíssimo crime cometido pelos bandidos.
A investigação da polícia
Segundo a polícia, esse não é o primeiro caso de golpistas que utilizam o deepfake para cometer crimes digitais, pegando vídeos disponíveis publicamente e os alterando para aplicar golpes parecidos. Durante a conferência de imprensa que aconteceu na última sexta-feira, a polícia de Hong Kong disse que já havia preso seis pessoas ligadas a esquemas semelhantes aos da notícia.
O Inspetor-sênior da polícia de Hong Kong, Tyler Chan Chi-wing, expressou aos cidadãos a necessidade de um cuidado redobrado para que não caiam em armadilhas parecidas com a do caso, para que haja um escrutínio cuidadoso antes que transações sejam feitas após contatos em que uma fraude pode estar ocorrendo. Segundo o inspetor, o sistema de transferência de pagamentos do país passará por um reforço, em uma tentativa para conter a ação de criminosos no futuro.
Chan também disse que oito carteiras de identificação de Hong Kong haviam sido registradas na polícia como roubadas, e que elas foram usadas para entrar com 90 pedidos de empréstimo e 54 aberturas de conta de banco, entre os meses de julho e setembro do ano passado.
E tem mais: em pelo menos 20 ocasiões diferentes, a polícia disse que golpistas usaram a tecnologia de deepfake para tentar burlar sistemas de reconhecimento facial usando as fotos desses documentos roubados. Os casos são tantos e vêm crescendo em um ritmo demasiadamente acelerado, o que preocupa as autoridades, já que elas não são capazes de conter o perigo do uso indevido da tecnologia contra todo tipo de empresa e para enganar pessoas com chantagem e outros tipos de crimes graves.
Vale salientar que os responsáveis pelo golpe da notícia ainda não foram localizados, nem a quantia devolvida para a empresa que foi vítima dos criminosos. A polícia de Hong Kong continua investigando o caso e apesar das informações fornecidas pelo funcionário, ainda não tem pistas da(s) identidade(s) do(s) responsáveis pela façanha.
Inclusive, em janeiro deste ano, a agência de segurança da Inglaterra já havia emitido um comunicado em que comentava sobre a gigantesca dificuldade que seus investigadores vêm tendo ao tentar separar vídeos falsos dos verdadeiros, e que a proliferação descontrolada do uso criminoso do deepfake estava aumentando os casos de golpes de roubo de senhas e informações privadas em um ritmo alarmante, fazendo valer um alerta geral aos usuários não só do país, mas do resto do globo.
Este não é um caso isolado esta semana, que mostra o potencial assustador da tecnologia, como foi visto no ano passado durante as eleições primárias em New Hampshire, nos Estados Unidos, onde a voz do presidente Joe Biden foi copiada e usada em ligações de campanha.
No entanto, a grande manchete em jornais mundo afora foi a da confusão envolvendo a artista Taylor Swift e as milhares de imagens falsas em situações de sexo explícito, criadas com a identidade dela e postada na rede social de Elon Musk, uma história que a gente comentou no Trio desta semana.
Assista o vídeo no canal do Showmetech:
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Fonte: CNN, The Economic Times, The Guardian, Wikipedia
Revisado por Glauco Vital em 6/2/24.
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