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Se você esteve em alguma rede social nos últimos dias deve ter percebido que o FaceApp está em todo o lugar. Mesmo sendo lançado em janeiro de 2017 (e fazendo um grande sucesso em 2019), o aplicativo voltou a ser febre da Internet na última semana. Apesar disso, esse aplicativo para edição de fotos está gerando uma grande preocupação: o que a empresa, dona do serviço, está fazendo com nossas fotos e os dados coletados de cada usuário?
O que é e como funciona o FaceApp?
Como o próprio nome já informa, o FaceApp é um aplicativo para iPhone e Android que acessa e visualiza suas fotos, realizando algumas efeitos digitais para manipular seu rosto através de vários filtros inteligentes. O primeiro filtro que fez sucesso entre os usuários foi o de velhice, em 2019.
A bola da vez está com o filtro de gênero, que inverte o sexo do usuário. Ele tornou-se particularmente popular porque está disponível para uso no aplicativo gratuitamente. Seu sucesso se dá pela capacidade em produzir resultados altamente convincentes.
O aplicativo faz a mágica acontecer usando o poder do aprendizado de máquina. Essencialmente, em vez de tentar explicar ao computador o que significa uma versão feminina ou masculina de um rosto, o computador os descobrirá por si próprio sendo “treinado” com milhares de outras fotos de pessoas do gênero feminino e masculino. Os resultados são impressionante (e divertidos).
Quais dados o FaceApp coleta?
Como a maioria dos aplicativos instalados em nossos smartphones, o FaceApp coleta alguns dados do usuário. E, tão rapidamente quanto o aplicativo se tornou viral, as preocupações com a privacidade também. Tanto que o senador americano Chuck Schumer, em 2019, pediu ao FBI que investigasse o aplicativo.
A preocupação está no fato de que, para que o aplicativo funcione, o usuário deve conceder acesso às fotos no seu telefone — assim como você faz no Instagram ou em um milhão de outros aplicativos.
O que está ampliando essa preocupação é que a empresa que fabrica o aplicativo, Wireless Lab, está sediada em São Petersburgo, na Rússia. Apesar das preocupações iniciais, atualmente as evidências sugerem que o aplicativo está se comportando de forma responsável e não está carregando todas as nossas fotos.
O motivo para o aplicativo funcionar dessa maneira pode ser duplo: primeiro, esse tipo de processamento é muito difícil de se executar localmente. A razão pela qual o aprendizado de máquina é tão poderoso agora é porque o processamento pode ocorrer usando o poder de servidores inteiros, e não apenas do seu telefone.
Em segundo lugar, isso poderia ajudar os desenvolvedores a melhorar seu produto. Eles poderiam usar todas as imagens que enviamos para treinar com mais precisão os modelos de aprendizado de máquina do FaceApp — resultando em fotos ainda mais realistas.
Devemos nos preocupar com o FaceApp?
Um dos fatores que ampliaram as preocupações foram os termos e condições do aplicativo. E, aparentemente, eles parecem bastante estranhos:
“Você concede ao FaceApp uma licença sublicenciável perpétua, irrevogável, não exclusiva, isenta de royalties, mundialmente, totalmente paga e transferível para usar, reproduzir, modificar, adaptar, publicar, traduzir, criar trabalhos derivados, distribuir, executar e exibir publicamente seu Conteúdo do Usuário e qualquer nome, nome de usuário ou imagem fornecidos em conexão com o Conteúdo do Usuário em todos os formatos e canais de mídia conhecidos ou desenvolvidos posteriormente, sem remuneração. Quando você publica ou compartilha o Conteúdo do Usuário em ou através de nossos Serviços, você entende que o Conteúdo do Usuário e qualquer informação associada (como seu [nome de usuário], local ou foto do perfil) estarão visíveis ao público.”
A única diferença real é que, diferentemente do Facebook ou do Google, não há uma maneira fácil de excluir seus dados do aplicativo. Atualmente você precisa enviar um e-mail para o suporte com uma solicitação por escrito — embora os desenvolvedores tenham dito que planejam facilitar isso.
Além disso, a Rússia tem uma história recente bastante notória do uso da tecnologia para interferir nos assuntos internacionais: desde as operações digitais realizadas durante as eleições nos EUA em 2016, até invadir a rede elétrica na Ucrânia.
Não há evidências de que o governo ou as forças armadas russas estejam obtendo dados do aplicativo ou envolvidos na empresa de qualquer forma, e a própria empresa disse que os dados são de fato armazenados nos servidores de nuvem da Amazon e do Google fora da Rússia.
Então o FaceApp é seguro? Como em qualquer aplicativo, depende dos riscos que você deseja assumir. Talvez o melhor argumento do FaceApp seja que você deve verificar sua privacidade e configurações de compartilhamento em todos os aplicativos que baixar.