Ações de empresas do vale do silício

Big Techs americanas sinalizam possibilidade de recessão nos EUA

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A maior inflação dos últimos 40 anos nos Estados Unidos e o aumento dos juros levantam um sinal de alerta para as empresas do Vale do Silício. Entenda

Já diria Wolverine: “Charles, o mundo não é mais o mesmo“. As big techs americanas, que um dia foram uma ideia que se desenvolveu no Vale do Silício (ou não), começaram a apresentar um problema que já era previsto por especialistas financeiros. Investidores externos foram atraídos pela promessa de rentabilidade destas empresas que se dispõem a resolver problemas do dia a dia com tecnologia, mas que não conseguem rentabilidade na operação do negócio.

E se você acha que estamos falando apenas de pequenas startups desconhecidas, o assunto é voltado para companhias como Uber, Tesla e Snapchat. Entenda como os investidores estão pressionando os grandes CEOs a deixar de colocar dinheiro em uma empresa que já deveria ter dado lucro há bastante tempo.

Movimento começou na década passada

De tempos em tempos, é bem comum ver uma ideia que unificada à tecnologia, parece ser uma ótima solução para um problema comum de nosso dia a dia. E se há um potencial de lucro, é claro que muitas pessoas também gostariam de colocar dinheiro nisso para colher os frutos junto com os idealizadores.

Imagem sinalizando explosão da bolha da internet
A bolha da internet foi um movimento que causou prejuízos para diversos investidores e empresas de tecnologia dos EUA (Foto: Reprodução/Internet)

Mas para entender como isso pode ser perigoso, vamos voltar alguns anos até a era da “bolha ponto com“, quando investidores foram atraídos a comprar ações de startups devido à alta nas ações, que foi decorrente de pura especulação. Basicamente, começou a ser divulgado que investidores deveriam colocar seu dinheiro na compra de ações que tivessem “.com” no nome, devido aos avanços que aconteciam entre 1994 e 2000, mas sem dados métricas financeiras que sustentassem o provável crescimento das empresas.

Esse é o grande paralelo aqui: planos de negócios que não faziam sentido foram financiados. E as pessoas jogavam dinheiro em qualquer coisa com tecnologia.

Jim Chanos, fundador da Kynikos Associates

O problema foi que: depois da bolha da internet estourar e boa parte das startups não atingirem o potencial de rentabilidade esperado, investidores perderam dinheiro e estas empresas de tecnologia — que estavam em seus primeiros estágios de trabalho — precisaram fechar as portas. A NASDAQ, bolsa americana voltada apenas para empresas de tecnologia e inovação, foi o palco deste verdadeiro show dos horrores para os investidores.

Imagem sinalizando desvalorização de ações de empresas de tecnologia
Especialistas que mesmo movimento está acontecendo novamente (Foto: Reprodução/Internet)

Ironicamente, o mesmo está acontecendo novamente, depois de quase 20 anos. Para entender o fenômeno, basta fazer uma pequena troca de termos: até o ano 2000, as pessoas investiam em empresas que tinham “.com” no nome, certo? Hoje em dia, o foco dos investimentos está em outras buzzwords, como NFT, criptomoedas, inteligência artificial e até mesmo blockchain.

Dinheiro importa (e muito)

Quando uma nova ideia de tecnologia é colocada no mercado e apresentada para investidores, é muito comum os idealizadores citarem que o lucro não é tão importante, devido ao resultado do trabalho ser mais importante que o próprio lucro. Inclusive, perguntas como estas são praticamente proibidas no Vale do Silício e demais celeiros de big tech americanas. O problema é que esta é uma cultura mais do que inadequada, pois coloca investidores em uma rede de incertezas.

É como se eu lhe dissesse que vale a pena investir em uma marca de celulares que está começando a fabricar modelos agora, mas não mostrasse dados sobre o mercado e possível custo de produção e estimativa de lucro. Os investidores apenas são coagidos a colocarem seu dinheiro em uma empresa que pode (ou não) dar um retorno. Para analisar a ideia, vamos falar sobre três startups: Uber, Tesla e Snapchat.

Lucro chega apenas depois de muito tempo

Você sabia por exemplo que a Uber tem mais gastos do que o faturamento da plataforma? Entre 2018 e o primeiro trimestre de 2022, houve o faturamento de US$ 53 bilhões da Uber e ao mesmo tempo, a empresa gastou US$ 73 bilhões, incluindo gastos com construção de prédios focados em entregar vantagens para seus funcionários. Ou seja: por mais que a ideia tivesse um grande potencial de investimento em 2009, ainda não gera lucro para seus investidores, quase 14 anos desde o início de seu funcionamento.

Ações da uber, uma das maiores big techs americanas
Previsão de lucro da Uber para 2024 fica abaixo das expectativas e ações caem (Imagem:REUTERS/Andrew Kelly)

Fundada em 2003, a Tesla começou a dar lucro para seus investidores apenas em 2020, fator bastante impulsionado pela alta demanda de carros elétricos durante a pandemia de COVID-19. A notícia soa como surreal, mas em 2019, a empresa de Elon Musk teve o prejuízo de US$ 862 milhões.

Outro exemplo é o Snapchat: apesar de muitas pessoas acharem que a rede social foi ultrapassada pelo Instagram, a plataforma ainda é bastante utilizada nos EUA e toda a Europa. Isso não significa que há resultados positivos em relação aos lucros: apesar da plataforma ter sido lançada em 2011, a Snap (que controla a rede social) revelou que foi registrado um crescimento de 42% de 2021 para 2022 e o lucro líquido foi de US$ 22,6 milhões. 

Logo da snap em washington, eua
Snapchat deu lucro para sua controladora apenas em 2020 (Foto: Reprodução/Internet)

Todos estes dados mostram que muitos investidores ganharam dinheiro apenas depois de muito tempo das empresas começarem a funcionar. Ao perceberem tal fenômeno, estas pessoas começaram a tirar seu dinheiro de um projeto que leva tanto tempo para dar retorno financeiro.

Juros estão afastando investidores

Não há como negar que os juros são um dos grandes inimigos dos investidores e também dos fundadores de startups. Muitas ideias são tiradas do papel, mas poucas delas vão tão longe a ponto de ter investidores que possam esperar por 5, 10 ou até mesmo 20 anos para que o lucro chegue.

Juros de big techs americanas
Altos juros e incerteza de lucro também é motivo de pressão de investidores (Foto: Reprodução/Internet)

Quanto maiores forem os juros, os investimentos em títulos do governo e demais opções atreladas à taxa básica de juros tornam-se mais atrativos, visto a garantia de rentabilidade frente ao mercado de ações. Além do risco de não dar lucro para seus investidores, as ações de startups podem se desvalorizar e, de um dia para o outro, o dinheiro investido não ter o mesmo valor de mercado.

Por mais que este mercado pareça bastante lucrativo e os grandes gurus de tecnologia façam todo o trabalho de convencimento de forma bastante assertiva, é importante lembrar que um dia nunca será como o outro. Ações pontuais, como as declarações de Elon Musk sobre suas companhias, aumentam a especulação e podem alimentar o aumento ou a queda das ações de uma empresa.

Startups atraem investidores com métricas não-financeiras

Outra ação que se tornou bastante comum entre as empresas de tecnologia é que as mesmas passaram a criar métricas próprias de crescimento, para seguirem chamando atenção de investidores. É comum que a rentabilidade, uma das métricas principais para avaliar uma empresa, seja deixada de lado na hora de atrair investidores.

É claro que o dinheiro está entrando, até porque não é exagero dizer que a Uber, por exemplo, realiza mais de 1.000 viagens ao mesmo tempo quando consideramos o uso a nível mundial. O problema neste caso é que estas empresas estão presas ao passado de ouro das big techs e de acordo com o fundador de uma empresa que atua no Vale do Silício, a desculpa de que empresas como Amazon, Apple e até mesmo mesmo Tesla, não eram lucrativas por décadas é utilizada até hoje.

Dinheiro queimando
Big techs americanas estão gastando mais do que podem (Foto: Reprodução/Internet)

E aqui mora o problema: os investidores colocam dinheiro em um projeto que parecia se tornar lucrativo em um período de tempo não tão longo, mas a verdade é que nem mesmo os criadores das big tech americanas focam no lucro, e sim no crescimento (não em termos financeiros) da empresa.

É mais fácil vermos a divulgação de dados de participação de uma empresa em muitos países, número de funcionários, engajamento em redes sociais e até mesmo quantidade de clientes atendidos em um ano, mas não espere que haja destaque na divulgação de lucros das empresas.

Representação de funcionários de startups
Conceito de foco em resolver problema deixou lucro em segundo plano (Foto: Reprodução/Internet)

Muitas big techs americanas oferecem stock options, ou seja, ações da companhia como bonificação para seus funcionários, como promessa de que esses ativos vão se valorizar ao longo do tempo. Esta prática é vantajosa para a empresa, pois não ocorre o desembolso financeiro para o pagamento dos bônus dos funcionários. O problema é que, com a queda recente nos valores das ações das empresas, os trabalhadores veem a perda do valor de seu patrimônio.

Você paga a todos em patrimônio e não é uma despesa até que suas ações desmoronem. Então, ou você tem que emitir um milhão de ações, ou você tem que pagar as pessoas em dinheiro.

Jim Chanos, fundador da Kynikos Associates

O que o futuro traz para as Big Techs americanas?

Com a pressão de investidores em gerar lucro e, principalmente, a divulgação de dados de faturamento, espera-se que estas empresas precisem prestar contas com as pessoas e fundos de investimento que colocaram dinheiro na ideia que prometia rentabilidade. Estas empresas ainda não estão em sua ruína financeira, mas caso sigam sem um plano de faturamento que mudará os resultados de forma rápida e funcional, poderemos ver o mesmo caso da bolha de internet em 2000.

Painel azul com imagens de tecnologia
Empresas podem ser obrigadas a agir para gerar lucros a seus investidores (Foto: Reprodução/Internet)

A Tesla, por mais que tenha tido seu primeiro lucro depois de 20 anos de serviço, começou a ser pressionada por grandes montadoras e empresas chinesas que estão entrando neste mercado de forma agressiva. A resposta dos investidores foi clara: muitas pessoas passaram a vender as ações da empresa de Elon Musk como uma forma de evitar o prejuízo em um futuro que pode estar próximo.

Big techs americanas sinalizam possibilidade de recessão nos eua. A maior inflação dos últimos 40 anos nos estados unidos e o aumento dos juros levantam um sinal de alerta para as empresas do vale do silício. Entenda
Você investiria seu dinheiro em alguma ação de empresa da Nasdaq? (Foto: Reprodução/Internet)

20 anos depois do grande problema de bolha da internet, os grandes gênios de tecnologia estão sendo cobrados para mostrarem lucro para seus investidores caso queiram continuar recebendo dinheiro para suas ideias. O que vai acontecer daqui para frente é incerto, mas não ache estranho se ações de crescimento forem suspensas para que novidades que realmente gerem lucro em pouco tempo sejam colocadas em prática. 

Você acha que estas grandes empresas de tecnologia irão deixar de funcionar ou agir para darem resultados lucrativos a seus investidores? Diga pra gente nos comentários!

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Um estudo realizado pela Gartner aponta que 20% das grandes empresas usarão moedas digitais até 2024

Fontes: Business Insider (1, 2 e 3) l Market Insider


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