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O episódio “O Príncipe Canalha” lançado nesse domingo (28) é um divisor de águas no universo de George R. R. Martin. Concentrado na construção dos conflitos entre os personagens, o episódio não teve batalhas, tampouco cenas de sexo — comuns no seriado. Porém, entregou muito mais que o esperado.
Dirigido por Greg Yaitanes, o episódio não foi uma mera continuação da estreia consistente, mas também rompeu laços com Game of Thrones e com a expectativa do público. Essa adição permite que A Casa do Dragão seja uma série completa, muito além de um mero spin-off, como veremos a seguir.
Conflitos em Porto Real
No primeiro episódio de A Casa do Dragão havia um ar de conflito, fosse da princesa Rhaenyra Targaryen (Milly Alcock) ou do príncipe Daemon Targaryen (Matt Smith) com o Rei Viserys (Paddy Constatine). Entretanto, esses conflitos eram leves, e facilmente resolvidos com o passar de cena, deixando de existir.
Nesse episódio não houve confronto direto desses personagens, mas sim uso de outros núcleos como o Lorde Velaryon para afomentar essa briga. Esse recurso é muito usado aqui, permitindo que seja explorada a interpretação dos atores e quem assiste — sem necessidade de descrever tudo que ocorre.
A cena inicial do episódio é sobre um confronto de piratas, que atinge onerosamente Lorde Velaryon (Steve Toussaint), e a sua infelicidade lhe obriga a chegar no conselho do Rei Viserys pronto para pedir alguma solução. É óbvio que muitos lordes ali sentados, incluindo a Mão do Rei, Otto Hightower (Rhys Ifans), são contra os pedidos, já que envolveria As Cidades Livres.
Esse cenário piora quando o Rei Viserys entende como certa a posição dos outros lordes, demonstrando que não irá, de maneira alguma, comprar briga com as terras livres para defender a família Velaryon. Será na mesma cena que Rhaenyra, servindo o vinho dos conselheiros, informa publicamente ao pai que poderia usar dragões na batalha.
Tanto Lorde Velaryon quanto a princesa são jogados no canto, ainda mais quando a Mão do Rei decide que é melhor Rhaenyra escolher o próximo cavaleiro da Guarda Real. A cena da escolha também será importante no decorrer do episódio. Não porque Rhaenyra escolhe Sir Christian Cole (Fabien Frankel) — importante na Dança dos Dragões, mas também por ter a presença de Rhaenys Velaryon.
As propostas de casamento do Rei Viserys
Inserido muito subjetivamente no primeiro episódio, o casamento do Rei Viserys tomou força no segundo. Além de um mero boato e possibilidade, agora o Rei é enfrentado por seus conselheiros.
Seja porque alguns deles consideram o Rei Viserys como um homem novo, seja porque a vaga aberta de rainha permite que uma filha a ocupe, o casamento é um dos conflitos centrais. Durante o episódio esse conflito será apresentado por dois núcleos diferentes: pelo Lorde Velaryon e por Otto Hightower.
No caso de Lorde Velaryon, o casamento é proposto em uma conversa do Rei Viserys com o lorde e sua senhora, Rhaenys Targaryen (Eva Best). Após a discussão no conselho, o rei em pessoa comparece ao castelo dos Velaryon.
Propondo uma aliança e maneira de lidar com os ataques, o lorde informa que os Targaryen estão sendo vistos como “fracos”. A aliança proposta pelo rei era uma maneira de evitar os ataques dos piratas, porém, a família valiriana possui outros planos.
Oferecendo uma filha em casamento, Lorde Valeryon diz que a união das famílias é a única possibilidade de manter o respeito e a segurança da coroa. O Rei Viserys acaba concordando em conhecer Laena, a filha de 12 anos deles.
Rei Viserys conversa com a menina, perguntando sobre o que ela deseja fazer no futuro e como foi instruída pelos pais. Nessa conversa é importante ver como Laena é educada pelo pai para lhe fazer um favor, trocar uma aliança com um homem muito mais velho que ela.
Mantendo a coesão do minimamente certo, Rei Viserys não demonstra sequer interesse na menina ou cogita casar com ela. Essa cena é chocante, mesmo sabendo que em Game of Thrones muitos personagens tiveram suas idades mudadas do livro para a adaptação.
Mesmo criando mais inimizade com os Velaryon, o Rei Viserys toma outra escolha, sendo o plano de Otto Hightower.
A proposta de Otto e Alicent Hightower
Durante o primeiro episódio, Otto havia incentivado e, algumas vezes, mandado que a filha fizesse companhia ao Rei Viserys. O homem não dá ponto sem nó e sabia tanto da beleza da filha quanto da possibilidade dos dois se aproximarem.
Conversando sobre a vida, a história e a maquete da Antiga Valíria — lar original dos Targaryen, Alicent consegue se aproximar e se tornar uma opção. Essa amizade entre Rei e filha da Mão do Rei é mantida em segredo de Rhaenyra.
É óbvio que, no decorrer do episódio, há muita pressão de Otto para que o Rei Viserys se convença a se casar. Além disto, o homem também o incentiva com a finalidade de que ele desista dos Velaryon — não sendo difícil, visto que o rei demonstra estar infeliz com a escolha de uma menina de 12 anos.
No final do episódio é anunciado que Alicent Hightower é a escolha do rei, desejando casar-se com a melhor amiga da filha. Podemos comentar sobre a diferença de idade entre o rei e a futura rainha, afinal, apesar de ser um pouco mais velha que a princesa, sequer passa dos 17 anos. Porém, conhecendo a obra de George R. R. Martin, fico feliz que a deixaram um pouco mais velha.
Entendo algumas pessoas que se perguntam, independe da idade, por qual motivo Viserys escolhe Alicent e não Laena. Particularmente, acredito que por uma questão de proximidade, afinal eles se conhecem e a relação de Otto com o rei é uma de confiança que os dois compartilham, sem mencionar a influência da Mão do Rei em seu governo.
Princesa Rhaenys Velaryon, a Rainha que Nunca Foi
Um dos personagens que ganhou destaque no segundo episódio de A Casa do Dragão, Rhaenys Velaryon mostrou que será um dos destaques da temporada. Sempre vista nos cantos das cenas, observando Rhaenyra, a mulher chamada a Rainha que Nunca Foi é muito importante no enredo.
A cena de abertura de A Casa do Dragão é sobre Rhaenys, a princesa Targaryen, próxima da linha de sucessão. Sem delongas no seriado, descobrimos que Rhaenys foi rejeitada pelo conselho e grandes lordes de Westeros, tendo o trono passado a Viserys Targaryen, seu primo.
Esse contexto da sucessão é importante em A Casa do Dragão, pois, o evento central da adaptação é sobre a Dança dos Dragões, ou a guerra civil Targaryen devido à sucessão com a morte do Rei Viserys. Saber que ela aparece na tela, sempre próxima da protagonista, mas ainda distante, abre uma interpretação diferente.
E foi nesse episódio que aconteceu a primeira conversar das princesas Targaryen, sobre a coroa e herdeiros. Sabendo do futuro da princesa, e que, muito possivelmente, ela não teria acesso de fato ao trono, Rhaenys tenta conversar com ela.
A conversa delas não é feita em volta somente da coroa, mas sim sobre o casamento do pai e se Rhaenyra tem medo de ter irmãos homens. Apesar da princesa negar, afirmando que continuaria como herdeira mesmo com um filho homem de seu pai, a outra lhe conta sobre como o “reino preferia queimar tudo a ver uma mulher governando”.
Para mim, o seriado tomou o rumo de uma paralela: mostrar como, apesar de reconhecida, uma mulher não será aceita na posição mais alta do governo. Por isso, Rhaenys Velaryon é importante na trama: ela sabe o que acontece quando uma mulher desafia o status do poder de Westeros e como ela é jogada no escanteio.
Daemon Targaryen e mais confusão
Após o massacre e uma noitada no bordel da cidade — com sua cunhada recém-morta, o príncipe também trouxe outro problema à coroa. Daemon Targaryen, unido de seus homens, Mysaria, sua “nova eposa” e um ovo de dragão, o Dreamfyre, o príncipe decide viver em Pedra do Dragão.
Além de anunciar sua nova casa, seu novo casamento e jurando estar com um herdeiro no ventre de sua esposa, Daemon Targaryen enfreta a coroa e também Otto Hightower, em nome do Rei. O conflito não chega nas vias de fato porque Daemon estava com seu dragão na ponte de Pedra do Dragão e, principalmente, porque Rhaenyra chega.
E novamente Rhaenyra contraria o Rei Viserys, voando para Pedra do Dragão. Anunciando-se como herdeira do castelo, das terras e daquele ovo de dragão, a princesa conversa com o tio. Os dois conversam na frente de ambas tropas, em valiriano — sendo os únicos personagens que falam o idioma no seriado.
A subjetividade da cena é um espetáculo. O céu nublado com nuvens quase de areia, o sol vazado ao fundo, os dois protagonistas conversando, dá ao seriado sua própria identidade. Além disto, o diálogo deles vem com elementos tensos, fazendo Daemon, mesmo contra a coroa, ceder à sobrinha.
O final do conflito é marcado por Rhaenyra voltando para Porto Real com o ovo do Dreamfyre e Daemon conversando com Mysaria. O diálogo deles já expõe que a mulher não terá filhos e se Daemon quer herdeiros, ele buscará outra mulher.
O que podemos esperar de A Casa do Dragão?
É normal que a esperança de quem gosta das obras de George R. R. Martin estar ainda balançada. Em dois episódios, A Casa do Dragão conseguiu entregar qualidade, porém, ainda é cedo para comemorar como uma temporada boa. Não sabemos se a HBO continuará com o mesmo padrão, ou conseguirá inovar até o final.
Talvez esse começo seja mais morno que o de Game of Thrones para alguns fãs. A falta de cenas mais chocantes de violência e sexo nesse episódio foi uma surpresa. Geralmente, o seriado contém muito conteúdo adulto, mas dessa vez, apenas uma cena foi mais pesada em sentido de nojo — os caranguejos na praia.
Entretanto, para que a Dança dos Dragões seja adaptada com qualidade, é preciso que o começo seja morno. A construção do mundo e dos relacionamentos ocorre gradualmente, por isso “O Príncipe Canalha” foi um episódio necessário.
A cena final anunciando o casamento do Rei Viserys com a Alicent Higtower, e ainda a conversa entre Daemon e Lorde Valeryon, são apenas exemplos de construções básicas. Não adianta uma guerra toda ser produzida e não ter sentido, precisamos saber os porquês e motivações dos personagens.
Essa construção é obrigatória em alguns momentos, afinal, Game of Thrones nunca foi somente sobre a guerra, mas também a abordagem política. Confesso que nesse sentido, estou feliz com a produção de A Casa do Dragão.
Outro acerto nesse segundo episódio de A Casa do Dragão foi o rompimento com os easter-eggs, referências ou conteúdo de Game of Thrones. É impossível pedir que tudo no seriado seja diferente do seu sucessor, afinal, essa história se passa no mesmo mundo, cidade e universo.
Alguns itens, pessoas, famílias e instituições serão sempre as mesmas, mas o crescimento do mundo não. E isso não são apenas referências, é apenas ambientação. Entretanto, saber que A Casa do Dragão está caminhando com seus próprios elementos e se distinguindo de Game of Thornes é incrível.
O próximo episódio de A Casa do Dragão sai no domingo (4), às 22h nos canais de televisão da HBO ou na plataforma de streaming HBO MAX.
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Confira a crítica do primeiro episódio de A Casa do Dragão!
O Príncipe Canalha
O Príncipe Canalha-
Atuação8/10 Ótimo
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Roteiro8/10 Ótimo
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Trilha sonora7/10 Bom
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Fotografia9/10 Incrível