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A tão aguardada adaptação de Sandman já está disponível na Netflix e um dos mistérios presentes na série é a doença do sono que atinge a humanidade após os acontecimentos do primeiro episódio. Na trama, a doença é explicada como sendo uma consequência do aprisionamento do Senhor dos Sonhos, Morpheus, em 1916. No entanto, esse fato não é fruto da pura criatividade do criador da história, Neil Gaiman.
A inspiração veio, na verdade, de uma curiosa epidemia do sono que atingiu o mundo na mesma época retratada no início da história. Descoberta por Constantin von Economo, a encefalite letárgica afetou cerca de seis milhões de pessoas, sendo responsável pela morte de, pelo menos, um milhão delas. Confira detalhes dessa história real que acabou inspirando a passagem tão importante na narrativa de Sandman da Netflix.
A misteriosa epidemia em The Sandman
Em The Sandman, o espectador acompanha a narração do protagonista sobre o distúrbio do sono que atinge milhões de pessoas após a sua prisão na Terra. Essa doença do sono surge após o senhor do sonhar ser aprisionado por Roderick Burgess e ficar confinado por mais de 100 anos, fazendo com que as pessoas sejam incapazes de acordar.
Apesar de estar presente na obra recente, esta não foi a primeira vez que a doença foi retratada em uma obra de ficção. Em 1973, a história inspirou o autor Oliver Sacks a investigar a condição de saúde no livro “Awakenings” e, após alguns anos, a obra ganhou uma adaptação cinematográfica chamada “Tempo de Despertar”, de 1990.
Mas, afinal, o que é encefalite letárgica?
A encefalite letárgica, também conhecida como a “doença do sono”, surgiu em meio a Primeira Guerra Mundial, entre o final de 1916 e início de 1917. Na época, eram noticiadas informações sobre uma enfermidade incapacitante que atingia diversas pessoas ao redor do mundo de forma misteriosa. Sua origem não era conhecida, mas os sintomas incluíam febre, fraqueza física e sonolência que em pouco tempo se desenrolavam em perda de movimentos e diferentes graus de consciência.
O principal sintoma, segundo relatos da época, era o abandono físico em um sono profundo de onde as pessoas raramente acordavam. O nome de encefalite letárgica foi dado cerca de quatro anos depois, em 1920, por médicos que, mesmo sem entender as causas, descobriram que se tratava de uma inflamação do cérebro.
O conjunto de sintomas já havia sido descrito várias vezes no passado, inclusive por Hipócrates, o grande médico da Grécia Antiga, que batizou o fenômeno de lethargus. “Febre, tremor, forte fraqueza física com a preservação da inteligência, que afeta indivíduos com mais de 25 anos, sobretudo quando está frio, e que pode levar à morte por pneumonia terminal“.
Estima-se que cerca de seis milhões de pessoas possam ter sido vítimas da encefalite letárgica, em que mais de uma milhão acabou morrendo, e mais de quatro milhões permaneceram em estado catatônico. A única certeza que temos em relação à doença é que ela terminou em 1927 sem motivo aparente. Porém, diferente da personagem de Sandman Unity Kincaid, poucos conseguiram seguir com uma vida normal após despertarem.
Algumas pessoas melhoraram bastante após tratamento, mas a cura milagrosa durou pouco e acabaram morrendo. Já outra parte dos pacientes retornaram para um estado catatônico por dias ou até semanas, tornando-se pacientes permanentes de instituição médicas. Por falta de documentações clínicas da época, não se sabe exatamente quais tratamentos foram experimentados nessas pessoas, muito menos de que formas elas eram cuidadas.
A triste história é que, por permanecer por anos e até mesmo décadas nesse estado de sonolência profundo, muitos desses pacientes foram abandonadas por familiares nos hospitais na época. Além disso, apesar de não haver muitos relatos datados à época, casos de abusos podem ter sido cometidos enquanto os enfermos permaneceram na inconsciência.
Desde 1927, casos raros de encefalite letárgica foram registrados ao redor do mundo. Especialistas acreditam que o fato de termos poucos casos novos se dá pelo vírus estar adormecido, e eles torcem para que continue assim.
O “Tempo de Despertar” dos anos 1960
Mais de 30 anos após o desaparecimento da doença, muitos pacientes ainda permaneciam no mesmo estado de antes. Foi nessa época, mais precisamente no final da década de 60, que o médico Oliver Sacks encontrou uma ala em um hospital de Nova Iorque com mais de 80 pacientes diagnosticados, décadas antes, com a encefalite.
O então neurologista se interessou pelos casos, até então mal conhecidos pela medicina, e decidiu tentar tratamentos com novos medicamentos. Inicialmente, suas experiências tiveram resultados surpreendentes e a maioria dos pacientes em estados mais graves voltou a ter seu controle físico e mental. Pouco tempo depois, no entanto, os pacientes acabaram retornando à letargia.
Apesar de não ter tido sucesso no tratamento, a experiência de Sacks é tida como uma das mais importantes para a medicina, já que permitiu um conhecimento muito maior da doença. Sacks registrou suas descobertas no livro Awakening, primeiro registro clínico oficial e amplo sobre a encefalite letárgica que despertou mais curiosidade e pesquisas sobre a doença ao longo das décadas.
O livro escrito pelo médico foi usado, inclusive, para a produção do filme Tempo de Despertar, protagonizado por Robin Willians e Robert De Niro, lançado no ano de 1990 e que recebeu três indicações ao Oscar naquele mesmo ano.
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Fonte: BBC.
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