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Desde o dia 07 de outubro, Israel vem sendo altamente atacado pelo grupo palestino Hamas, que é contra a criação do estado judaico. Este é um conflito que se arrasta por décadas e provavelmente não deve acabar tão cedo e conta com diversos desdobramentos. Entenda os pontos agora mesmo.
O sionismo
Para entender os conflitos atuais, é necessário fazer uma breve volta no tempo. O Estado de Israel foi criado oficialmente em 14 de maio de 1948, por meio de uma proposta da Organização das Nações Unidas (ONU). Esta criação foi fruto do movimento sionista político, idealizado por ações do jornalista austro-húngaro Theodor Herzl, que também era judeu.
Fruto de uma época recheada de demandas nacionalistas por parte de várias nações ao redor do mundo, o sionismo, ou movimento sionista, ganhou ainda mais força graças às perseguições instauradas contra o povo judeu na Europa. Por essa razão, Theodor acreditava que, apenas com a criação de um Estado soberano próprio, os judeus estariam seguros.
O Primeiro Congresso Sionista Mundial foi realizado em 1897 e marcou o início da organização do movimento. Nesse congresso, os líderes sionistas discutiram a ideia de estabelecer um Estado judeu na Palestina. A ideia ganhou apoio de judeus de todo o mundo e muitos se estabeleceram na Palestina nas décadas seguintes, comprando terras e construindo comunidades, colocando em prática uma política de colonização.
O problema é que a região era habitada em grande parte por árabes palestinos, o que, inevitavelmente, levou a tensões étnicas e políticas crescentes.
O movimento liderado por Herzl defendia a criação de um estado judeu dentro da Palestina após tanta perseguição deste grupo religioso (principalmente com os resultados da Segunda Guerra Mundial), algo que sempre foi amplamente rejeitado. Vale lembrar que a criação de um estado apenas para os árabes, também na Palestina, chegou a ser sugerida pela ONU, mas essa ideia em si nunca foi para frente.
As duas Guerras Mundiais
Após a Primeira Guerra Mundial, que ocorreu de 1914 a 1918, o Império Otomano, que possuía o domínio da Palestina, foi derrotado, e a Liga das Nações, organização que precedeu a ONU, Organização das Nações Unidas, concedeu ao Reino Unido um mandato para administrar a Palestina e tentar apaziguar a questão. Os britânicos permaneceram na região entre os anos de 1917 e 1948.
Mas, durante esse período, houve um aumento na imigração judaica para a região, em parte devido ao crescente movimento sionista. E isso criou tensões entre a população judaica e árabe local, que se sentiu ameaçada pela chegada dos judeus.
Com o aumento da pressão internacional, o apoio à criação de um Estado judeu na Palestina cresceu muito. À medida que mais judeus chegavam e se estabeleciam em comunidades agrícolas, as tensões entre judeus e árabes aumentavam. Ambos os lados cometeram atos de violência desde essa época.
Na década de 1930, os britânicos começaram a restringir a imigração judaica. Em resposta, milícias judaicas foram formadas para lutar contra os árabes locais e resistir ao domínio britânico. Em seguida, veio o Holocausto, que levou muitos judeus a fugir da Europa para a Palestina britânica e grande parte do mundo esteve em apoio a um estado judeu.
Entre 1941 e 1945, a Alemanha nazista e os seus colaboradores assassinaram sistematicamente cerca de 6 milhões de judeus em toda a Europa, mais ou menos dois terços da população judaica na região.
A criação de Israel pela ONU
Presidida pelo brasileiro Oswaldo Aranha, a comissão de criação do Estado de Israel foi realizada no Museu do Queens, que abrigou a Assembleia Geral da ONU em Nova Iorque (EUA) até 1950. Por mais que houvesse muita repulsa, a divisão da Palestina foi aprovada por 33 votos a favor e 13 contra. O Brasil chegou a participar da votação e votou a favor, mas México e Argentina se abstiveram.
O dia 15 de maio de 1948, um dia após a votação da ONU, foi marcado pela invasão do território recém-criado pelo Egito, Jordânia, Síria e Iraque, momento conhecido como guerra de independência ou de libertação. A guerra árabe-isralense acontece até hoje, mas devido a este conflito, o território planejado pela ONU foi reduzido em 50% na época da criação de Israel.
Desde então, grupos palestinos contra a criação de Israel tentam retomar o espaço por serem contra a criação de um local apenas para a população judaica. Não há como negar que, apesar de toda a represália que sofreu nos últimos 75 anos, Israel conseguiu se destacar como uma grande potência bélica e tecnológica.
Começo do conflito entre israelenses e palestinos
O ataque idealizado pelo grupo palestino Hamas no dia 07 de outubro de 2023 é apenas mais um capítulo na disputa territorial. Um dos mais famosos é a Guerra dos Seis Dias, que aconteceu entre 05 e 10 de junho de 1967. Nesta parte do conflito, Israel — vitorioso — tomou a Cisjordânia e Jerusalém Oriental, além da Faixa de Gaza que na época estava sob controle egípcio. Segundo dados, 500 mil palestinos tiveram que sair de suas casas devido à guerra.
Com esse contexto vemos o início do conflito árabe-israelense de décadas. Durante esse período, muitos judeus em países de maioria árabe fugiram ou foram expulsos, chegando a Israel. Grupos extremistas palestinos, como o Hamas, responsável pelos últimos ataques mais intensos e um dos principais grupos terroristas no cenário atual, têm lançado ataques com foguetes contra Israel. Enquanto isso, grupos judaicos extremistas, como o Lehava, também realizam ataques contra territórios palestinos.
A Organização para a Libertação da Palestina, ou OLP, que havia sido formada na década de 1960 para buscar um estado palestino, lutou contra Israel, por meio de atos de terrorismo.
Inicialmente, a OLP reivindicava tudo o que havia sido a Palestina britânica, ou seja, o fim do Estado de Israel. Os combates entre Israel e a OLP continuaram por anos, incluindo uma invasão israelense ao Líbano em 1982 para expulsar o grupo de Beirute. Além da OLP, a Palestina também contou com diversos outros grupos de resistência.
Atualmente, o Estado de Israel ainda controla Jerusalém Ocidental a Cisjordânia, com diversos templos que atendem a cristãos, judeus e muçulmanos. Israel se retirou da Faixa de Gaza em 2005 e, desde 2007, quem controla esta parte da Palestina é o grupo islâmico Hamas, responsável pelo ataque do último sábado.
Muitas discussões foram abertas pela comunidade mundial em meio a este conflito. A solução mais plausível seria a criação de um estado palestino que coexistisse com Israel, mas ambos os lados possuem diferenças que impedem que isso vá para frente.
Entre motivos que impedem o fim do conflito, há o bloqueio das autoridades israelenses que impede que palestinos voltem para suas casas que agora fazem parte do território israelense. O estatuto de Jerusalém também é desaprovado por autoridades palestinas, além da segurança de Israel ser uma das pautas em aberto que as lideranças da Palestina não concordam.
Ocupação e violência
O Estado de Israel foi oficializado apenas em 1948, mas o antissemistimo (ódio e discriminação contra os judeus) existe na Palestina desde 1920. Com a criação do Movimento Nacional Palestino, judeus que chegavam ao território eram tratados como inimigos desde o primeiro dia. Este foi um dos motivos pelo qual o Estado de Israel foi criado: justamente ter uma zona de conforto para os judeus em meio a tanta desaprovação local.
Os anos 30 e 40 foram marcados ainda mais pelo crescimento do Nazismo, e os judeus que sobreviveram aos ataques de Hitler e seus aliados buscaram abrigo na Palestina. Já em 1948, mesmo que criticada, a criação de Israel também trouxe problemas para os palestinos.
Com a ocupação da Cisjordânia e a Faixa de Gaza, lideranças israelenses que comandaram a invasão começaram a implementar uma lei de cidadania um tanto desigual: judeus eram considerados cidadãos e tinham direitos, mas árabes e palestinos não. A guerra terminou em 1949 e teve como resultado a expulsão de 750 mil palestinos que passaram a viver como refugiados em um movimento conhecido como “êxodo de Nakba”. Como resultado da expulsão dos palestinos, Israel aumentou o território em 50%.
A repulsa fez com que o entorno de Israel fosse tomado por grupos religiosos messiânicos de extrema-direita que impedem que israelenses saiam da Cisjordânia e da Faixa de Gaza. Especialistas citam que, infelizmente, tais conflitos também trouxeram problemas (e perigos) para palestinos devido à tensão e violência destes grupos.
As guerras na região
Desde a criação de Israel em 1948, a região testemunhou várias guerras, incluindo a Guerra de Suez em 1956, a Guerra dos Seis Dias em 1967, a Guerra do Yom Kippur em 1973 e outros conflitos menores. Essas guerras frequentemente envolveram países árabes vizinhos e causaram grande destruição e perda de vidas.
Também ocorreram duas intifadas, levantes populares palestinos contra a ocupação israelense. A Primeira Intifada, iniciada em 1987, foi marcada por protestos inicialmente pacíficos que logo evoluíram para confrontos violentos com as forças israelenses. Ela refletiu o desejo dos palestinos de se libertarem da ocupação israelense e alcançarem sua autonomia.
Os Acordos de Oslo, em 1993, que deveriam ser o grande primeiro passo em direção à retirada de Israel dos territórios palestinos e à criação de uma Palestina independente encerraram a Primeira Intifada, mas suas repercussões políticas e territoriais continuam a impactar o conflito até hoje.
Por outro lado, a Segunda Intifada, que começou em 2000 e teve participação do Hamas, foi muito mais violenta e letal que a primeira. Ela foi desencadeada por uma série de eventos, incluindo a provocativa visita de Ariel Sharon à Esplanada das Mesquitas. A violência escalou rapidamente, com ataques terroristas palestinos e respostas militares israelenses.
Durante esse período, a construção do muro de separação por Israel e a expansão dos assentamentos em território palestino também aumentaram as tensões. A tentativa de Israel é vista não como uma resolução de conflito, mas sim, de gerenciá-lo.
A batalha por Jerusalém
Após a Guerra dos Seis Dias, Israel conquistou Jerusalém Oriental e a Cidade Velha, que inclui a Esplanada das Mesquitas. Israel unificou Jerusalém como sua capital, que considera Jerusalém Oriental como território ocupado.
Há muito tempo, o local é considerado sagrado por diversas religiões. Para os judeus, é o local do Templo Sagrado e a cidade onde o rei Davi estabeleceu sua capital. Para os cristãos, é o local da crucificação e ressurreição de Jesus Cristo. Para os muçulmanos, é o local da Mesquita de Al-Aqsa, o terceiro local mais sagrado do Islã, depois de Meca e Medina. Em suma, é um local extremamente importante para todos os envolvidos.
O grande problema é que ambas as nações (Palestina e Israel) querem que Jerusalém seja sua capital. A comunidade internacional não aceita que Israel tenha o local como sua capital, e que isso deve ser resolvido entre israelenses e palestinos.
Israel deseja que toda Jerusalém, incluindo a parte Oriental, seja reconhecida como sua capital. Enquanto isso, palestinos acreditam que Jerusalém Ocidental deve ser considerada a capital de um futuro Estado Palestino. Jerusalém é frequentemente palco de tensões, confrontos e violência. Os incidentes muitas vezes são desencadeados por disputas sobre o acesso à Esplanada das Mesquitas e a construção de assentamentos judaicos em Jerusalém Oriental. Os protestos e confrontos frequentemente ocorrem em bairros mistos de judeus e árabes na cidade.
O atual conflito entre Israel e o Hamas
O Hamas foi criado em 1987 e seu nome é um acrônimo para Movimento de Resistência Islâmica. Ele surgiu no primeiro infante, também chamada de levante, durante a ocupação de Israel da Cisjordânia e da Faixa de Gaza. Em sua carta de fundação, o Hamas citou que seus dois grandes focos são promover a luta armada contra Israel e o bem-estar social.
Considerado um grupo terrorista por nações e blocos econômicos como Estados Unidos, União Europeia, Reino Unido e outras potências globais, o Hamas pode ser considerado uma aliança global que inclui o Irã, a Síria e o grupo islâmico xiita Hezbollah no Líbano. Eles se opõem à política adotada nos EUA e no Oriente Médio.
Em 2007, a carta de fundação do Hamas foi atualizada para citar que a luta não é contra os judeus, mas sim contra “os agressores sionistas de ocupação”. Apesar disso, ataques são constantemente feitos pelo grupo islâmico a Israel.
Em 2006, o Hamas conseguiu vencer eleições legislativas da Faixa de Gaza em 2006 e expulsou a autoridade palestina do governo local. Tal fato aconteceu porque a Autoridade Nacional Palestina (ANP) perdeu o controle sobre a região devido a muitos escândalos, como paralisação do processo de paz e corrupção.
O que aconteceu desde 07 de outubro?
O primeiro sábado de outubro de 2023 foi marcado por um ataque surpresa do Hamas a Israel, com a justificativa de que o grupo islâmico estava reivindicando o território que inicialmente pertencia à Palestina. O acontecimento já é um dos maiores ataques sofridos em Israel, e mais de cinco mil bombas foram lançadas em um só ataque.
A atual capital de Tel Aviv teve prédios danificados e, apenas no sábado, 700 mortes foram registradas, incluindo 260 pessoas que participavam de um festival de música eletrônica. Em Gaza, 560 pessoas morreram depois de Israel ter lançado ataques aéreos em retaliação, segundo a Autoridade Palestina.
Militares israelenses compararam o ataque de Hamas ao 11 de setembro de 2001 (o ataque às torres gêmeas em Nova Iorque) e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou nesta segunda-feira que os ataques de retaliação contra o Hamas na Faixa de Gaza nos últimos dias “são apenas o começo”. Outro militar comparou os eventos recentes ao ataque de Pearl Harbor, realizado em 1941.
Até o fechamento desta matéria, autoridades israelenses confirmaram que o controle de todas as comunidades perto da barreira de Gaza foi recuperado, mas confrontos contra homens palestinos armados continuam a acontecer. Israel também disse que “a maioria” dos pontos de acesso de Gaza foram fechados, principalmente com tanques. Mísseis foram disparados na direção de Israel e explosões foram ouvidas em Jerusalém.
Há brasileiros feridos no confronto de Israel?
Conforme estimativas do Itamaraty, 14 mil brasileiros vivem em Israel e mais 6 mil vivem na Palestina. Dados oficiais mostram que 2 brasileiros estão desaparecidos e 1 está ferido, mas a grande maioria vive fora da zona de conflito. À direita, Rafael Zimmerman pode ser visto se recuperando de estilhaços de granada.
O Governo Federal se colocou à disposição dos brasileiros que pediram para voltar ao país e um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) fará a repatriação destas pessoas. Ainda não há previsão de cessar-fogo e o Presidente Lula disse estar “chocado com os ataques terroristas realizados hoje contra civis em Israel, que causaram numerosas vítimas”. O Ministério das Relações Exteriores também divulgou um comunicado sobre o conflito:
O Brasil lamenta que em 2023, ano do 30º aniversário dos Acordos de Paz de Oslo, se observe deterioração grave e crescente da situação securitária entre Israel e Palestina. Na qualidade de Presidente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, o Brasil convocará reunião de emergência do órgão. O governo brasileiro reitera seu compromisso com a solução de dois Estados, com Palestina e Israel convivendo em paz e segurança, dentro de fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas. Reafirma, ainda, que a mera gestão do conflito não constitui alternativa viável para o encaminhamento da questão israelo-palestina, sendo urgente a retomada das negociações de paz.
Ministério das Relações Exteriores do Brasil sobre o conflito em Israel.
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As ameaças de 2023 para a economia e política mundiais
Com informações: G1 l BBC News Brasil l BBC.COM l RFI l CNN Brasil
Revisado por Glauco Vital em 9/10/23.
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