O programa de compartilhamento P2P (“peer-to-peer”, ou simplesmente “ponto a ponto”) eMule ganhou sua primeira atualização depois de 10 anos sem que ninguém tocasse no projeto. A notícia veio sem muito alarde, com um post nos fóruns oficiais anunciando que a versão (0.60a) já se encontra disponível para download e testes beta.
Ninguém vai julgá-lo se você não souber do que se trata: o eMule é um projeto bastante antigo e, convenhamos, traz um método praticamente obsoleto de compartilhamento de arquivos. Ele é tão antigo que veio antes do compartilhamento via torrent — este mesmo um outro formato há muito abandonado pelas massas da internet.
O update não traz nada muito notável para usuários mais casuais, limitando-se a instalar novas medidas de estabilidade do programa e algumas funções mais técnicas. Também há um novo tipo de resposta do programa para tratar de arquivos quebrados ou corrompidos. Em suma, nada que salte aos olhos, mas para quem é um entusiasta da internet “das antigas” (ok, nem tão antiga assim), fica abaixo a listagem completa de mudanças:
- Notificações via e-mail (SMTP) agora podem usar transmissão segura e autenticação de usuário
- Links seguros (HTTPS) podem ser usados para baixar arquivos “server.met”, “nodes.dat”, além de filtrarem IPs e identificar linguagem DLL
- Servidores: primeira conexão é buscada de forma ofuscada
- Pequeno aumento na taxa de reprodução de arquivos pela rede KAD
- Implementação de Windows UPnP passou por mudanças (e requerem testes)
- Compatibilidade aprimorada para as versões mais atuais de arquivos “mediainfo.dll”
- Checagens uniformes de limites de transmissão de dados
- Importação de partes [de arquivo] para downloads quebrados (manualmente habilitável via “Opções > Avançado” e válida apenas para a sessão atual)
Em outras palavras: o beta do eMule 0.60a deixa os downloads mais estáveis e menos propensos a caírem no meio do processo de baixá-los. Vale citar que essa versão está disponível apenas para computadores equipados com sistema operacional Windows.
Mas o que é o eMule?
Uma década pode não parecer muita coisa quando falamos na nossa idade ou na passagem de tempo pela percepção humana, mas quando o assunto é tecnologia, esse número significa muita coisa. No caso do eMule, “10 anos” é o tempo exato da última atualização pela qual o programa passou — que o trouxe à então atual versão 0.50. Isso, em uma época em que ele já se encontrava em desuso.
O eMule foi um projeto de um desenvolvedor independente chamado Hendrik Breitkreuz (que atendia pelo apelido de “Merkur”). Criado em maio de 2002, o programa consistia de uma interface de compartilhamento de arquivo entre dois pontos (de um computador a outro). A isso, dá-se o nome de “P2P” e basicamente pode ser entendido como um arquivo que você baixa, por uma conexão segura, de outro usuário.
Ele não foi o primeiro de seu tipo: softwares como Kazaa, eDonkey e afins já usavam essa prática antes dele. Mas foi o eMule que teve seu uso mais difundido, sendo que, em abril de 2010, ele atingiu a marca de 520 milhões de instalações confirmadas. Na época, ele era majoritariamente usado para a pirataria de música, sendo um dos poucos programas que permitia o download de álbuns e discografias inteiras a velocidades razoáveis. Versões piratas de softwares cobiçados da época — como o Adobe Creative Suite (de onde faziam parte o Photoshop, Illustrator e Premiere, entre outros) e o Final Cut (o editor de vídeos do MacOS) — também eram figuras comuns nos arquivos baixados pelo eMule.
Pouco tempo depois, o download em torrent viria a se tornar popular, pois permitia baixar várias partes de um arquivo pesado de várias fontes, acelerando ainda mais o processo. Isso perdurou por anos até que o streaming dominasse de vez o mercado, como acontece até hoje. Nisso, o eMule caiu em esquecimento, embora a comunidade ao redor do programa nunca tivesse descansado: embora o software em si estivesse sem atualizações, o fórum oficial traz postagens de 2020, 2019, 2018…mostrando que os fãs ainda são bem ativos na plataforma.
Você dificilmente trocará o seu Spotify pelo eMule, convenhamos, mas ainda assim, é um pedaço da parte mais velha da internet que mostra ainda estar vivo. De repente, vale você conhecer um pouco mais sobre como o consumo digital era praticado “quando isso aqui era tudo mato”.
Fonte: eMule (fórum oficial)
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