Empresas de tecnologia buscam mão de obra mais barata na américa latina

Empresas de tecnologia buscam mão de obra mais barata na América Latina

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Empresas na América Latina têm dificuldade em contratar profissionais, pois não conseguem competir com os salários oferecidos por empresas nos EUA

Encontrar emprego não costuma ser uma tarefa fácil, independente da área em que o candidato se encaixe. As empresas de tecnologia se veem numa situação ainda mais apertada quando se trata de encontrar profissionais qualificados para fazerem parte de seu quadro de funcionários. Um dos motivos é a grande expansão do mercado com o pequeno número de candidatos aptos — isso tudo indo a caminhos opostos de maneira equivalente. A fundadora do app Yana, Andrea Campos, inicia a análise falando sobre este cenário. Veja o que mais pessoas da área dizem.

Análise geral dos motivos

Andrea Campos já começou comparando a dificuldade em encontrar mão de obra qualificada com a também difícil missão de… encontrar rapazes ideais para namoro em Cancun. Ela afirma que um parceiro para namoro em cidades pequenas está bem próximo do que empresas de tecnologia passam para encontrar profissionais qualificados, que possuam habilidades específicas e experiência em seu currículo, especialmente na América Latina.

Se você queria um namorado, tinha que aceitar a dura realidade de que o cara que você escolheu já namorou pelo menos uma de suas amigas antes. Simplesmente não há opção a não ser roubar de outras startups.

Andrea Campos faz a relação
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Andrea Campos, fundadora do aplicativo mexicano voltado para a saúde mental, Yana. Imagem: Startupeable

Há um bom tempo que as empresas de tecnologia na América Latina sofrem desse mal, mas desde o ano passado, aparentemente as startups começaram a sentir ainda mais os efeitos dessa dificuldade em contratar mais mão de obra especializada. Essa situação pode ser vista com um agravante que vem geograficamente de cima: as empresas (norte) americanas têm diversas vantagens sobre as latino-americanas. Andrea, por exemplo, relatou que um de seus funcionários recebeu a proposta dessas empresas norte americanas de ganhar US$ 15.000 mensais, valor que para ela acaba sendo algo incompatível.

Empresários, desenvolvedores e recrutadores que vivem no Peru, Uruguai e México também reconheceram que as recentes demissões que aconteceram nas empresas de tecnologia em todo o mundo acabou não disponibilizando desenvolvedores experientes para contratação por empresas regionais. De acordo com estes países, um dos maiores motivos é que mesmo as empresas americanas tendo as mesmas necessidades técnicas, eles acabam buscando uma mão de obra mais barata.

Essa tática acaba forçando as startups latino americanas a ajustarem suas buscas por contratações ainda mais “criativas”, como se fosse algo desde o treinamento de funcionários de nível júnior até mesmo o recrutamento de programadores com mais experiência que o dos concorrentes. Dusko Kelez, CEO do aplicativo Hapi, também faz seu registro sobre essa situação:

As empresas dos Estados Unidos sabem quanto os desenvolvedores latino-americanos ganham. Eles não se dariam ao trabalho de contratar no exterior se não fosse muito mais barato.

Afirma Dusko Kelez, fundador e CEO do aplicativo de micro investimentos, Hapi

Outra brecha encontrada pelos norte americanos foi a pandemia de COVID-19, que há três anos se instalou e fez com que essas empresas de tecnologia fizessem uma busca ainda mais ampla em mão de obra, não se atendo somente aos profissionais daquela região — mas do mundo todo. E é claro que os profissionais latino americanos também foram extremamente explorados pois compartilham de um fuso horário semelhante e ainda recebem salários menores, ou seja, uma grande oportunidade em potencial de novas contratações.

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Em 2022, após a entrada de Elon Musk no Twitter, funcionários em todo o mundo que trabalhavam para a rede social foram demitidos. Imagem: OpIndia

O ano de 2022 foi marcado pelas demissões em massa que ocorreram em todo o mundo no ramo da tecnologia, sendo o pico deste evento em novembro, quando o Twitter cortou mais ou menos metade do seu corpo de funcionários, ao passo em que a Meta também demitiu mais de 11 mil de seus trabalhadores. É possível estimar que mais de 100.000 trabalhadores de empresas de tecnologia perderam seus empregos durante todo o ano de 2022 somente nos Estados Unidos — mais da metade do que houve em todo o mundo, que registrou mais de 150.000 demissões.

As demissões feitas na região da América Latina também foram desastrosas. Em uma semana de dezembro de 2022, startups latino americanas demitiram quase 1.000 trabalhadores, de acordo com a análise da Techloy. Durante o ano passado muitas outras empresas de tecnologia latino-americanas como a mexicana Bitso (que trabalha com criptomoedas) e a brasileira Wildlife (da área gamer), tiveram praticamente um quarto de seu quadro de funcionários demitidos.

Dado que não é tão fácil para as empresas norte americanas encontrarem talentos experientes na América Latina, é justo supor que as empresas locais estão lutando ainda mais para isso.

Carlos Ganoza Durand, gerente de produto na startup de recrutamento sob demanda, Wonolo

Procurando oportunidades nas demissões

Por mais que soe estranho, essas demissões em massa no setor da tecnologia deveriam ser vistas com bons olhos para as startups latino americanas, pelo qual 69% dos profissionais afirmaram que tiveram pouca experiência na área em 2022. De 10 startups latino americanas, apenas duas empresas — autossuficientes ​​e bem financiadas, ambas com sede no México — disseram que conseguiram tirar vantagem de talentos disponíveis que “apareceram de repente”.

A diretora da fintech mexicana Stori, Tabatha Arredondo Juárez, se alegra ao dizer que pelo menos agora os candidatos atendem ao telefone, uma situação que há seis meses — meados de julho de 2022 — era quase impossível numa busca por algum candidato a desenvolvedor sênior, por exemplo. Ela enxerga que este cenário pode estar mudando gradualmente.

Empresas de tecnologia buscam mão de obra mais barata na américa latina
Da esquerda para a direita estão: Juan Villaseñor, Marlene Garayzar, Bin Chen e Camila Burne. Imagem: TechCrunch

Empregadores de pequenas empresas de tecnologia ou de nichos ainda mais estreitos dizem que uma outra dificuldade é encontrar candidatos que possam lidar com projetos mais ambiciosos e aceitem desafios mais complexos. No Peru e no Uruguai as diversas empresas locais também têm dificuldade em oferecer salários mais atrativos, assim, sendo forçados a encontrar maneiras alternativas de compensar esses pagamentos que são incompatíveis ao mercado.

É quase impossível para startups locais lucrarem com demissões em grandes empresas de tecnologia. Procuramos compensar com uma cultura empresarial forte, permitindo que os funcionários cresçam junto com a Crecy.

Alexander Yaroshewski, cofundador e CEO da fintech mexicana Crecy

Praticamente uma guerra entre a América do Norte e do Sul

Algumas vantagens vistas nestes relatos, como ações da empresa, ainda não compensam de fato as disparidades com os salários oferecidos pelas empresas dos Estados Unidos. A cofundadora e CEO da Laboratoria — que trabalha como um “um campo de treinamento para desenvolvedoras” –, Mariana Costa Checa, afirma que os salários de empresas de tecnologia no Peru não evoluíram tanto assim no decorrer do tempo, principalmente quando comparados a outros países latino americanos, como o México.

De acordo com os números fornecidos pela Laboratoria, seus profissionais que foram recém formados e trabalham em design de experiência do usuário (UX) no Peru, recebem uma média salarial de US$ 700, enquanto os que trabalham no Chile ou no México ganham quase US$ 1.000. Isso para falar de desenvolvedores que estão buscando oportunidades para se inserirem no mercado de trabalho tecnológico.

Empresas de tecnologia buscam mão de obra mais barata na américa latina
Atualmente a maior aposta das empresas de tecnologia está na contratação de mão de obra mais barata na América Latina. A tentativa visa ser uma alternativa aos empregadores norte americanos que oferecem salários mais atrativos. Imagem: Business Insider

Quando o assunto volta para os desenvolvedores sêniors, a diferença se torna ainda mais escandalosa. Conforme aponta o Glassdoor, empresa americana que traz informações mais claras sobre salários e outros detalhes de diversas empresas, o salário anual médio de um desenvolvedor sênior nos Estados Unidos é de US$ 149.340. Já esses mesmos candidatos que vivem na América Latina, têm propostas bem inferiores — praticamente metade do oferecido. No México, por exemplo, a média salarial anual de desenvolvedores sêniors é de US$ 68.000 anuais, já na Argentina são US$ 37.790 anuais.

Diante de todo esse cenário, uma alternativa às empresas de tecnologia que não são capazes de competir com essas ofertas é justamente mirar na contratação de profissionais que possuam menos experiência. Martín Daguerre, o cofundador da startup uruguaia Lagarsoft, diz que investe muito em desenvolvedores juniors, uma vez que a maioria dessas contratações — na sua empresa — acaba sendo reconhecida e promovida para o nível sênior.

Para os cofundadores da Hireline, uma plataforma de recrutamento mexicana que conecta trabalhadores de tecnologia com empresas que procuram contratar, Rafael Montufar e Emmanuel Olvera, houve uma mudança que é necessária: as empresas americanas deixaram de fazer contratos temporários com latino americanos para apoiar sua equipe nos Estados Unidos, assim empregando equipes latino americanas em contratos permanentes.

Os clientes agora querem saber como contratar diretamente na Latam, como lidar com aspectos legais, impostos e assim por diante. Uma empresa americana demitiu recentemente 200 engenheiros de software que vivem nos Estamos Unidos em fevereiro e, em setembro, eles já estavam procurando substituí-los por uma equipe totalmente remota trabalhando na Colômbia.

Olvera e Montufar, falando sobre as vantagens de contratar equipes inteiras para trabalharem remotamente

Veja também:

O que esperar da economia de criadores em 2023.

Fonte: Rest of the World.


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