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Vinte e tantos anos atrás, o grande assunto que tomava as manchetes em todo o mundo era um só: El Niño. Os efeitos da influência humana na Natureza e como ela veio a prejudicar o sistema climático do nosso planeta, e como El Niño veio a ser uma consequência direta dela.
Entendendo o significado do nome El Niño
El Niño é um fenômeno cujo efeito sobre o planeta, aliado às emissões cada vez maiores de poluentes, é devastador, aumentando a temperatura global. Especialistas deram um simpático nome para um efeito negativo em escala global, e popularizou-se entre os meios de comunicação usá-lo como termo generalizado para todos os acontecimentos meteorológicos negativos que aconteciam ao redor do mundo. Só que nem sempre essas crises ocorreram devido somente ao “garoto” e, aos poucos, El Niño foi deixando de ser um assunto recorrente.
Tanto que hoje em dia, muitos não sabem do verdadeiro significado dessa nomenclatura, mesmo que sua existência ainda seja bastante ativa no equilíbrio da vida no planeta. E isso está para mudar, já que a situação vem piorando cada vez mais. Dentro de um ano, está previsto que a temperatura global possivelmente irá ultrapassar um marco histórico: um aumento de quase 1,5 graus Celsius, segundo a OMM, a Organização Meteorológica Mundial, órgão de monitoramento climático das Nações Unidas, em relatório apresentado hoje.
O dano ao planeta é praticamente irreversível
E as notícias ruins não param por aí. A tendência é de que o calor continue subindo cada vez mais, elevando a temperatura global, que já está bem acima do esperado. Verões ainda mais quentes nos esperam, sem falar de um derretimento mais acelerado das calotas polares, que geram o aumento do nível dos mares, e por consequência o avanço da água sobre os continentes, apagando do mapa localidades próximas da faixa litorânea, mais propensos a sofrer com a alta do avanço dos oceanos.
A subida de temperatura do globo é devida ao fracasso da humanidade impor um controle das emissões de gases poluentes na atmosfera, que em conjunto com os padrões climáticos anormais trazidos por El Niño, farão com que o planeta, que já não estava indo nada bem, piorar e muito a nossa vida por aqui.
[Sem haver uma mudança radical] as temperaturas globais serão levadas a um território jamais visto, e isso acarretará vastas [e terríveis] repercussões quando falamos de saúde, seguridade de alimentos, suprimento de água, e, é claro, o meio ambiente. Precisamos estar preparados.
Petteri Taalas, Secretário-Geral da Organização Meteorológica Mundial
Um relatório publicado em conjunto com a fala de Taalas afirma que há 98% de chance de um dentre os próximos cinco anos ser um dos mais quentes registrados na história do planeta. E também há a mesma chance de que em um desses anos tenha a temperatura média mais alta de todos os tempos. Dá para imaginar isso acontecendo? Sim, dá, visto que os últimos oito anos já se mostraram os mais quentes, segundo um relatório anterior da OMM, publicado em janeiro. Tal calor trouxe danos irreparáveis à Terra, que infelizmente são somente uma prévia do cataclisma em nível planetário que está para vir, e que se torna menos possível de ser evitado a cada dia que passa.
O planeta grita por socorro, resta a nós ouví-lo
E essa crise não se acanha em mostrar seus efeitos de modo claro e em excelente tom, somos nós que tapamos nossos olhos e ouvidos. Na América do Norte, por exemplo, as temperaturas extremas levaram as estradas a se desfigurarem, e houve um notável aumento em visitas a hospitais e órgãos públicos de saúde devido a doenças relacionadas às mudanças climáticas. A China sofreu seu maior período de calor extremo, com mais de 70 dias consecutivos registrando temperaturas muito acima da média, a maior alta jamais vista em todo o mundo, como afirmado pelo historiador climático Maximiliano Herrera.
Segundo pesquisadores, sem a influência das mudanças climáticas, nunca haveria um aumento de temperatura tão grande como o que houve no ano passado no Reino Unido, quando a região, tipicamente de clima ameno e nublado, sofreu uma subida de temperatura, batendo inéditos 40 graus Celsius. Isso ocorreu apesar de um chamado “efeito triplo” de La Niña, o padrão climático oposto ao de El Niño, ou seja, de esfriamento global, entre setembro de 2020 até março deste ano.
Neste momento, com nenhum dos dois, nem El Niño ou La Niña, ativos atualmente, os ventos alísios (do inglês, trade winds) – como são chamados os ventos constantes que fluem do leste ao oeste do globo, advindos da faixa do Equador – carregados do Oceano Pacífico ajudam a trazer águas para o oeste, da América do Sul em direção à Ásia. Como consequência disso, as águas mais frias sobem das profundezas até a superfície do oceano.
Com a influência do El Niño, esses ventos enfraquecem, permitindo que as águas quentes fluam de volta às regiões ao leste. Por consequência, a água aquecida empurra o fluxo do jato do Pacífico, uma corrente de ar de alta velocidade, em direção ao sul, o que, por sua vez, é o suficiente para agir sobre os padrões climáticos mundiais. O garotão está previsto para dar as caras entre maio e julho deste ano, e as estimativas dão até o final do inverno no hemisfério norte para que termine, entre dezembro de 2023 e março de 2024, diz a Central do Serviço Nacional de Previsão do Tempo dos Estados Unidos, o National Weather Service Climate Prediction Center.
A OMM alerta que pode demorar um ano até que os efeitos do El Niño sejam sentidos nas temperaturas ao redor do mundo, o que não é uma boa notícia para o vindouro 2024. E as previsões pessimistas não param por aí: projeta-se que o efeito do fenômeno irá esquentar o planeta ainda mais, apesar da presença de seu oposto, La Niña.
Só isso será o suficiente para jogar lá para cima a bolinha do termómetro do planeta. A agência projeta uma chance de 66% de que entre 2023 e 2027, pelo menos um ano registrará um aumento maior que 1,5 graus Celsius na temperatura do planeta, comparado à subida anterior ao período pré-industrial. Este foi o momento em que houve o início do uso de combustíveis fósseis suficiente para originar o Efeito Estufa, o começo do processo de aquecimento do planeta.
Mas ainda há uma chance, por mais remota que seja
Não tem como dourar a pílula, a coisa vai está feia mesmo. Essa subida é preocupante, visto que o mundo já sofreu incrivelmente com o aumento de 1,1 graus Celsius acima do medido no período que antecedeu o moderno, o que já é o suficiente para provocar o caos climático que temos testemunhado diariamente mundo afora. Por mais difícil que pareça ser, vistas essas notícias extremamente preocupantes, ainda há uma chance, por menor que ela seja, de pelo menos estabilizar esse aumento de temperatura antes que alcance os 1,5 graus.
O principal objetivo é para que, com acordos mundiais climáticos como o de Paris, visando alertar países ao redor do globo, pisem no freio a fim de evitar que o aumento passe desse nível cada vez menos. Com isso, a esperança é de que haja uma consciência maior das emissões de poluentes e que esse controle passe a ser uma missão constante e não só de “tapa buraco” emergencial e tópico. (https://www.spinabifida.net/) Pelo menos esse é o feito que o Secretário-Geral Taalas da OMM almeja conquistar.
Infelizmente, essa missão está cada vez mais difícil de ser cumprida. Em 2015, por exemplo, ano em que o mais atual acordo de Paris foi selado entre as potências mundiais, que prometeram de pé junto diminuir suas emissões – e que quase nenhuma cumpriu, diga-se de passagem – nunca se imaginou que o aumento da temperatura global chegaria a ultrapassar os 1,5 graus Celsius. Não estamos falando de duas ou três décadas atrás, mas de poucos anos. Então o que pode se esperar para 2025, ou até 2024, enquanto nada for mudado de modo significativo?
Essa matéria pode parecer o resumo de um filme de catástrofe de Roland Emmerich, ou de um livreto de ficção-científica barato, mas não é. As consequências geradas pelos danos causados pela humanidade estão se apresentando em uma velocidade alarmante, e enquanto não houver uma grande mudança de atitude por parte de todos, em união, para mudar o curso dessa história. Cabe a nós, como cidadãos do mundo, cobrar de nossos governantes uma forte guinada nas políticas climáticas e, claro, tomar atitudes, por menor que sejam, para mudar a nossa própria consciência, do que consumimos e como o fazemos. É quase garantido que não iremos gostar o que está fadado a vir a acontecer com nosso lar, a Terra, no futuro nem um pouco distante.
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Onde começa o espaço sideral e como ele é definido?
Fontes: The Guardian, The Verge, The Weather Channel
Revisado por Glauco Vital em 17/5/23.
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