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No Brasil, 14 milhões de cidadãos sofrem com falta de dentes, sem mencionar outros 34 milhões de brasileiros adultos que já perderam 13 ou mais dentes ao decorrer da vida. Graças a uma droga que faz dentes crescerem, este cenário pode mudar positivamente a saúde bucal, consequentemente melhorando a qualidade de vida, e pode revolucionar a forma como que os tratamentos dentários serão feitos e destinados.
O tal remédio que faz o dente crescer já foi testado com sucesso em furões e ratos — que possuem padrão dentário muito similar ao de humanos — e agora segue rumo à testagem em humanos, com previsão de início dos testes em setembro deste ano. Saiba mais sobre a pesquisa revolucionária no artigo a seguir.
Como o anticorpo USAG-1 funciona
Durante toda a fase de maturidade e desenvolvimento do corpo humano, os dentes crescem em apenas duas ocasiões: quando começamos a gerar os dentes de leite na infância e ao desenvolver os dentes permanentes, que substituem os dentes de leite e nos acompanham pelo resto da vida.
Embora possuam elementos muito parecidos em sua composição e resistência, os ossos se diferenciam dos dentes pelo seu poder de regeneração. Enquanto os ossos conseguem crescer novamente após sua quebra, os dentes não têm a mesma sorte, com o edentulismo (falta de dentes) afetando diretamente a vida de quem é acometido por esta condição, com possíveis substitutos que podem não se adaptar naturalmente à boca — como dentaduras –ou que possuam custo elevado, como implantes dentários.
O que limita o desenvolvimento de novos dentes é um anticorpo chamado USAG-1, ou gene-1 associado à sensibilização uterina, que inibe o crescimento de novas dentições. Ele interage diretamente com as moléculas BMP (proteína morfogenética óssea), reponsáveis pela formação, crescimento e regeneração de ossos, cartilagens e tecidos, freando o desenvolvimento de novos dentes após o crescimento dos dentes definitivos.
Todos nós possuímos o que os dentistas e especialistas chamam de broto dentário. Mesmo com a arcada formada com os 32 dentes na fase adulta, o corpo humano ainda produz o começo de novos botões (brotos) com grande potencial de se tornaram dentes. Com o tempo, estes mesmos botões acabam não se desenvolvendo e desaparecem. A pesquisa japonesa visa incentivar a criação de novos botões em indivíduos que não possuam dentes por meio da supressão do USAG-1, tornando-o acessível para a maturação e formação morfológica dos novos dentes.
A equipe de cientistas do Medical Research Institute Kitano Hospital, em Osaka, Japão, sob comando do professor sênior e chefe de pesquisa Katsu Takahashi, especialista em regeneração dentária desde 2005, desenvolveu um anticorpo monoclonal que inibe a ação da USAG-1, permitindo então que a BMP atue no desenvolvimento de dentes novos.
O uso de anticorpos monoclonais não é novo no campo da ciência, sobretudo no campo terapêutico pela sua precisão, eficácia, efeitos adversos baixos ou inexistentes e pela sua segurança. Os anticorpos monoclonais são medicamentos introduzidos na corrente sanguínea do paciente e são obtidos pela clonagem dos linfócitos B presentes no sangue, que por sua vez são responsáveis por produzir os anticorpos capazes de combater vírus, bactérias e toxinas. Este medicamento é comumente usado em tratamentos de doenças autoimunes e infecciosas, como a artrite reumatóide, esclerose múltipla, doença de Crohn, psoríase e até aguns tipos de câncer.
Como resultado da pesquisa em roedores, o anticorpo monoclonal da USAG-1 conseguiu paralisar o efeito da molécula e permitiu o crescimento de dentes supranumerários — ou seja, além daqueles previstos pelo proesso natural de dentição.
Testes em animais concluídos
Com a criação do anticorpo da USAG-1, que impedia sua atividade e sua conexão com a molécula BMP, o período de testes em animais foi iniciado em julho de 2023. Foram escolhidos camundongos e furões por serem difiodontes (dentição de leite que tardiamente é substituída por dentes permanentes) e representarem 97% de semelhança na forma que a USAG-1 atua em seres humanos.
Na ocasião, os cientistas modificaram geneticamente os animais para que apresentassem agenesia dentária para os testes. Na pesquisa, a droga que faz dente crescer foi injetada de maneira intravenosa nas cobaias. Uma única dosagem sistemática do anticorpo foi mais que o suficiente para gerar um dente inteiro e promover o desenvolvimento de novos dentes.
Até mesmo em casos de dentição normal — uma arcada composta por 32 dentes — a anulação do USAG-1 gera o desenvolvimento de dentes supranumerários nas regiões incisivo superior, incisivo inferior e/ou molar, ou seja, em número superior ao esperado no desenvolvimento do organismo adulto.
Portanto, a atuação do anticorpo solucionaria os problemas de perda de dentes em amplos cenários, desenvolvendo-os a partir do zero dentro de sua estrutura morfológica, resgatando todos os dentes que um dia foram perdidos e/ou retirados. Contudo, o efeito observado é dependente da dose e não foi observado um evento repetitivo natural depois da aplicação.
Início da testagem humana já tem data
O sucesso dos resultados com furões e camundongos permitiram uma evolução nos testes rumo ao novo remédio que fará crescer os dentes. Dentro das próprias metas definidas pela equipe de Katsu Takahashi, o começo da testagem em humanos acontecerá no período entre setembro de 2024 a agosto de 2025, tendo como voluntários 30 homens com idades entre 30 a 64 anos. O início do ensaio clínico está previsto já para mês que vem.
Katsu Takahashi afirma que, uma vez que o remédio alcance os parâmetros esperados, só deve ficar pronto e disponível para uso a partir de 2030. Mesmo com 11 meses de período de estudos, a equipe de cientistas do Medical Research Institute Kitano Hospital pretende expandir o campo de pesquisa com crianças entre 2 e 7 anos que não possuem os dentes devido a problemas congênitos, usando a droga como tratamento para anatodontia.
Conclusão
Em ritmo acelerado de pesquisa, a droga que faz dentes crescerem ganhou um passo importante rumo a um futuro muito promissor em relação a saúde bucal. Mesmo com expectativas de finalização para 6 anos à frente, o remédio permitirá que os 1% da população mundial que sofre com algum tipo de anomalia dentária possam aprimorar a qualidade de vida, não somente à mastigação, mas também à autoaceitação e autoestima.
Veja também
Fonte: ÉPOCA, Isto É, Bioed Tech, Science, Popular Mechanics, Japan Times, Butantan
Revisado por Glauco Vital em 13/6/24.
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Ótimo artigo🦷👏 A matéria sobre a droga que faz os dentes crescerem é fascinante e aborda um avanço incrível na ciência. No entanto, seria interessante explorar mais os possíveis riscos e desafios dessa inovação, especialmente em relação aos efeitos colaterais a longo prazo e a acessibilidade do tratamento no futuro. Parabéns por trazer essa notícia empolgante e por manter os leitores informados sobre as últimas novidades da saúde! 📰🔬