Uma revolução silenciosa da ciência pode acelerar o futuro em que a manipulação do DNA se tornará tão comum quanto trocar de roupa. O CRISPR – pronuncia-se “crisper” – é uma nova técnica de laboratório que vem chamando atenção por conta da sua aplicabilidade simples para editar genes. Sabe o filme Gattaca? Se a sociedade está caminhando para algo parecido, técnicas como o CRISPR podem ser o ponto crítico.
Editar DNA não é exatamente novidade, mas o CRISPR se destaca por ser muito mais específico, versátil e barato. Cientistas já usaram a técnica para tratar disfunções musculares com resultados positivos em ratos. Em outros casos, é possível alterar o exato gene causador de doença hereditária, como alguns tipos de câncer, para eliminar possibilidades de ele se manifestar. E todo esse poder está em um kit básico que qualquer pessoa pode comprar, por cerca de R$ 150.
O CRISPR funciona como uma tesoura molecular. Bem manuseada, a ferramenta identifica a porção “defeituosa” do DNA e pinça com cuidado, eliminando o problema na origem. A tarefa é difícil, já que o genoma humano conta com 6 bilhões bases nitrogenadas – aquelas sequências de GACT ensinadas na escola.
A Bill and Melinda Gates Foundation está investindo US$ 75 milhões em pesquisa e desenvolvimento para encontrar uma forma de usar o CRISPR para modificar o DNA do Anopheles, o mosquito transmissor da malária. A ideia é criar uma geração inteira de mosquitos estéreis, algo que poderia provocar sua extinção – e a erradicação da doença – em pouco tempo.
Toda essa eficiência de edição de DNA permite uma nova abordagem para técnicas não ligadas a modificação de genes. Harvard e MIT, por exemplo, criaram uma tecnologia molecular baseada no CRISPR para diagnosticar Zika e dengue à prova de falhas com um exame que custa menos de R$ 2.
Isso é tudo que países em desenvolvimento como o Brasil precisam. A novidade pode ser uma forma de reduzir custos na saúde e, ainda assim, aumentar a efetividade das políticas públicas. E como o custo é baixo, entidades não-lucrativas têm mais facilidade para distribuir kits para laboratórios do mundo inteiro. A ONG Addgene, por exemplo, enviou recentemente 60 mil kits gratuitamente para cientistas de 80 países.
Transgênicos
A transgenia no mercado de alimentos é realidade hoje, mas pode dar um salto qualitativo com a CRISPR. Embora esteja em estágio ainda mais experimental do que no DNA humano, a técnica já vem sendo testada pela agropecuária. Já há avanços para deixar vegetais imunes a pragas e tornar porcos resistentes a bactérias.
Atualmente, modificar vegetais geneticamente requer usar genes de outro ser vivo, como um certo tipo de peixe. Com a chegada da CRISPR nesse setor, a prática se tornaria mais barata e com chance dramaticamente menor de falhar. O resultado, em tese, seria comida mais abundante, barata e, quem sabe, também mais saudável.
CRISPR em Hollywood
A técnica ganhou tanta popularidade que vem chamando atenção até de Hollywood. Depois de se destacar como avanço científico do ano na Sience em 2015, a tecnologia saiu em vários jornais americanos e será tema de uma série de TV da emissora NBC. Nada mal para uma técnica molecular de laboratório.
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