A astronomia é uma das atividades mais antigas da humanidade. No começo, a observação dos astros estava ligada à religião, mas a invenção do telescópio criou a astronomia moderna e todos os campos científicos que surgiram dela. Agora, o Telescópio de Trinta Metros, ou TMT para encurtar, quer dar o próximo grande salto nos estudos astronômicos – isso se conseguir resolver uma controversa disputa que já dividiu a comunidade científica.
O TMT tem esse nome exatamente por que seu espelho terá trinta metros – quase três vezes maior que o Gran Telescopio Canarias, o atual maior telescópio refletor do mundo. Não é possível construir uma única peça nesse tamanho, e ele será então dividido em 492 espelhos hexagonais menores, com 1,4 metros cada. As formas das partes e as posições relativas delas serão controladas ativamente para prevenir deformações. Por ser um telescópio de Ritchey–Chrétien, os espelhos principais e secundários do TMT são hiperbólicos, eliminando outros erros óticos.
O projeto começou em 2003, como uma parceria entre a Associação das Universidades Canadenses para Pesquisa em Astronomia (ACURA), a Universidade da Califórnia (UC) e o Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), a partir de outros projetos de telescópios de grande porte. Com o tempo, outras organizações se juntaram ao TMT, como os Institutos Nacionais de Ciências Naturais do Japão e Observatórios Astronômicos Nacionais da Academia Chinesa de Ciências. No total são cinco membros e dois associados, que juntaram 300 milhões de dólares para investir na construção do observatório.
O sítio escolhido, no topo do vulcão extinto Mauna Kea, é ideal para a construção de observatórios. Situado na ilha principal do Havaí, o pico fica a quase 14 mil pés, ou cerca de 4.200 metros de altitude. Acima das nuvens e longe da poluição luminosa das cidades próximas, o céu claro do cume é perfeito para observações astronômicas.
O problema é que o Mauna Kea é considerado uma área sagrada para os nativos. Na mitologia havaina, o vulcão é onde o Pai-Céu Wakea se uniu à Mãe-Terra Papahanaumoku, criando as ilhas do arquipélago, e a região é protegida pelo Ato de Conservação Histórica. Apesar da construção ser em um espaço reservado para estudos astronômicos, a população acredita que um projeto dessa magnitude – o TMT terá a altura de um prédio de 18 andares – no topo frágil do Mauna Kea teria suas consequências.
Não é a primeira vez que o povo local tem problemas – outros 13 telescópios já foram construídos na região. Mas dessa vez os nativos conseguiram a atenção internacional usando a Internet para fazer petições e criar perfis em redes sociais. Por conta da repercussão, a construção que começou no ano passado foi paralisada pela própria organização responsável. O vídeo abaixo foi feito por um dos ativistas contrários à obra do telescópio.
https://vimeo.com/124563166
É importante dizer que as obras poderiam ser reiniciadas imediatamente e de forma legal. A equipe do TMT realizou um estudo de impacto ambiental e cultural, completado em 2010 depois de 14 encontros com representantes de comunidades locais, e tem todas as permissões necessárias para o projeto, que foram obtidas depois de consultas em audiências públicas.
De um lado, o TMT será responsável por avanços importantes na astronomia. Ele permitirá ver objetos mais distantes do que os telescópios atuais, e objetos mais próximos serão vistos com maior clareza. Do outro, ativistas dizem que as avaliações de impacto não foram rigorosas o suficiente. Apesar do TMT ser planejado para não produzir lixo e usar painéis solares para gerar energia para o observatório, a construção exigirá novas estradas e linhas de transmissão para o local, e escavar mais de dois andares para a fundação. Além dos sítios religiosos, do lado ambiental a obra coloca em risco animais e plantas endêmicos como o ganso-do-havaí e espécies do gênero Argyroxiphium.
Mas a discussão sobre o tema envolve ainda o preconceito contra a comunidade local. Dois astrônomos da Universidade da Califórnia foram acusados de racismo por causa de um e-mail enviado com uma petição de apoio ao TMT, chamando os nativos de uma “horda” que “estão mentindo sobre o impacto”. Ambos se desculparam pelo caso, mas o dano será difícil de reverter.
Os benefícios do TMT ainda assim são inegáveis, e com o apoio dos órgãos governamentais, é difícil que o projeto seja cancelado. Só é preciso pensar novas maneiras para que o avanço científico não destrua as crenças e meio ambiente locais. Veja abaixo o vídeo de apresentação do TMT.
Fonte: Business Insider.
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