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Nos últimos anos, a Disney enfrentou uma série de desafios que mexeram com sua imagem de império de entretenimento inabalável. A chegada do Disney+, seu próprio serviço de streaming, prometia ser um grande divisor de águas mas, a longo prazo, a baixa audiência e concorrência crescente no mercado, trouxeram à tona a vulnerabilidade da gigante. Além disso, é inevitável mencionar a pandemia como fator de impacto — inclusive no setor de parques temáticos — o que forçou a empresa a fazer ajustes no que fosse necessário.
No entanto, parece que a pressão está aumentando para encontrar soluções audaciosas e uma das opções que têm ganhado destaque é a aquisição de uma das maiores desenvolvedoras de jogos do mundo. A especulação sobre a possível compra tem ganhado força, levando a questionamentos sobre como essa jogada estratégica poderia ser a chave para revitalizar a empresa em meio aos desafios que enfrenta.
A crise na Disney
Esta crise na Disney vinha acontecendo aos poucos, mas se aprofundou com o desempenho abaixo do esperado de seu principal investimento: o Disney+. Produções que eram consideradas o carro-chefe da empresa, como séries ambientadas no universo de Star Wars e Marvel, não conseguiram atingir o mesmo nível de sucesso e engajamento que anos atrás. Esses resultados decepcionantes não apenas impactaram a receita da empresa, mas também abalaram a confiança dos investidores.
Conhecidos por sua capacidade de cativar públicos de todas as idades, filmes da Pixar como Divertidamente e Soul também não conseguiram gerar o buzz esperado, deixando a empresa em uma situação delicada. A baixa audiência de algumas produções de renome na plataforma, combinada com um aumento na competição com serviços como Netflix e Amazon Prime Video, levaram a gigante a enfrentar um cenário desafiador nesse setor. Mas segundo especialistas, o maior motivo dos problemas se resume à crise de criatividade.
Algumas estratégias já foram anunciadas pelo CEO Bob Iger, além de algumas confissões do próprio em relação às razões mais específicas para a companhia ter chegado aonde se encontra atualmente. Segundo relatório corporativo, a Disney teria tido uma perda financeira significativa de US$ 460 milhões, o equivalente a mais de R$ 2,2 bilhões na taxa de câmbio atual, durante o período entre abril e junho desse ano.
A expectativa sobre Bob Iger
O período inicial em que Bob Iger atuou no comando da empresa foi amplamente reconhecido como um dos mais bem-sucedidos na história empresarial. Durante sua gestão, ele orquestrou aquisições estratégicas de empresas como a Pixar, Marvel Entertainment, Lucasfilm e 21st Century Fox. Iger também desvinculou essas poderosas fontes de propriedade intelectual do catálogo da Netflix, direcionando-as para a criação do Disney+, que, de forma impressionante, conquistou 10 milhões de assinantes já no primeiro dia de lançamento.
Além disso, sob sua direção, ele introduziu iniciativas significativas, como o lançamento de novos navios de cruzeiro e a inauguração de um parque temático na China. Quando encerrou seu mandato como CEO no início de 2020, a Disney viu seu valor de mercado crescer quatro vezes em relação ao que era quando Iger assumiu a liderança da empresa em 2005. No entanto, após a transição, ele deixou a posição de CEO para seu sucessor, Bob Chapek, cujo desempenho não se igualou ao de Iger e coincidiu com uma fase de dificuldades para a companhia.
Mas assim que o conselho finalmente tomou a decisão de remover Chapek de sua posição no final de 2022, Bob Iger voltou ao posto de CEO como um verdadeiro herói, sendo amplamente considerado como a pessoa mais qualificada para o cargo. Jeffrey Katzenberg, ex-diretor da divisão de estúdios da Disney e co-fundador da DreamWorks, enfatizou naquele momento que, dentre todas as pessoas do mundo, Iger era a opção com a maior probabilidade e capacidade de abordar com eficácia os desafios enfrentados pela empresa.
Para Bob, deixar a Disney foi como um pai abandonando seu filho favorito. A boa notícia é que papai está de volta, mas a má notícia é que a casa está pegando fogo.
Executivo atual da Disney próximo de Bob Iger
O problema é que muito trabalho deverá ser feito agora.
A pressão na compra da EA
Dentre as muitas estratégias e planos acerca do que poderia ser a salvação, entre os próprios corredores da companhia, se criaram rumores sobre uma transformação ousada em discussão. Uma vez que a Disney também faz parte do grupo de empresas licenciadoras de jogos, ela agora poderia se tornar uma gigante nessa indústria. A mudança de paradigma viria por meio da aquisição de uma gigante nos jogos: a Electronic Arts (EA). Segundo a Bloomberg, pessoas próximas de Bob Iger disseram que o controle de uma grande editora como essa, seria a única maneira de reverter toda a situação.
Uma possível aquisição dessa abriria as portas para a empresa a um vasto mundo de oportunidades. Os títulos da EA Sports, como FIFA e Madden NFL, geram bilhões em receita anual, principalmente por meio de microtransações. Essa receita substancial poderia se tornar parte integrante das operações da Disney, aumentando significativamente sua presença no setor de jogos. Além disso, essa estratégia poderia se alinhar perfeitamente com a ESPN, pilar da própria megacorporação. A união entre jogos esportivos e as próprias coberturas esportivas poderia resultar em uma parceria estratégica vantajosa, criando oportunidades de promoção e benefícios mútuos.
Uma outra alternativa à aquisição da EA seria considerar a compra de alguns dos estúdios que fazem parte do selo EA Entertainment, que inclui nomes de peso como BioWare e Respawn. Esse último, por exemplo, é o estúdio por trás de um dos jogos licenciados de Star Wars mais populares: Star Wars: Jedi Fallen Order.
Segundo informações recentes, a Disney já estaria com a ideia de recorrer a EA com a intenção de investir em novos games do Pantera Negra e do Homem de Ferro, o que, segundo eles, poderia gerar resultados financeiros satisfatórios. Fazendo isso e pensando em adquirir demais estúdios talentosos, a empresa poderia fortalecer ainda mais a sua presença na indústria de jogos e expandir seu portfólio.
Em resumo, a estratégia futura em relação ao universo de games é motivo de grande especulação, mas fica claro que a empresa está explorando as melhores maneiras, ainda mais tendo em vista que essa indústria vem desempenhando um papel cada vez mais importante. Segundo a Bloomberg aponta, os vice-presidentes de Bob Iger estão pressionando por uma mudança mais ousada na estratégia da Disney, buscando transformá-la de uma empresa que licencia suas propriedades intelectuais para uma gigante no mercado de jogos.
Quanto à Electronic Arts (EA), a editora está tomando medidas para se preparar para uma possível aquisição, reorganizando seus estúdios em duas divisões distintas, a EA Sports e a EA Entertainment. Isso facilitaria para um comprador a aquisição de uma parte específica de seu negócio.
No entanto, a possibilidade de entrar no mercado de jogos ainda está em aberto, já que Iger continua explorando maneiras de resolver os desafios que a Disney enfrenta e não tomou nenhuma decisão definitiva. É preciso lembrar que, por exemplo, embora o Disney Illusion Island, desenvolvido pela Diala Studios tenha sido lançado, o jogo recebeu críticas mistas. Parece que a abordagem mais prudente é não apressar as coisas e não envolver um comprometimento total ainda.
Mas no meio de tantos prós e contras, uma coisa é certa: a tão falada estratégia de aquisição transformaria a Disney em uma empresa de jogos AAA, ou seja, sendo capaz de produzir jogos em larga escala, com orçamentos substanciais e uma vasta estratégia de marketing. Caso essa mudança seja concretizada no futuro, a empresa passaria a competir diretamente com outras grandes do segmento AAA, como Microsoft, Sony, Nintendo, Square Enix, Ubisoft, Bethesda e Rockstar. Para resumir, ela poderia muito bem voltar a ser uma grande potência ou, ao menos, esse seria um grande passo para finalmente se reerguer.
De qualquer forma, ainda há um longo caminho a percorrer na busca por soluções efetivas.
A relação da Disney com games
É relevante afirmar que, por mais que nunca tenha sido seu ponto forte, a Disney possui uma história considerável na indústria de jogos, que se estende desde os tempos da Disney Interactive Studios, responsável por títulos clássicos como o Disney Infinity e Epic Mickey.
Mas atualmente, como já dado a entender, a presença da companhia nesse mundo já não é tão frequente como no passado. No entanto, para oficializar e ainda provar que o interesse possa não ser algo tão recente, durante a D23 Expo 2022, um indício de retomar os trabalhos nessa área foi observado. No mesmo evento, alguns anúncios como o Disney & Marvel Games Showcase foram feitos, o que chamou atenção para que ficássemos de olho nos próximos passos.
Sean Shoptaw, vice-presidente sênior da Walt Disney Games, chegou a compartilhar em uma entrevista ao GamesIndustry que a ideia nunca foi realmente se afastar dos jogos, mas sim repensar e reformular suas estratégias. Ele aproveitou para também destacar que a Disney estaria aberta a parcerias com os melhores talentos da indústria, com o objetivo de elevar o padrão de qualidade dos produtos.
Se pudéssemos fazer parcerias com as melhores pessoas do mundo, os melhores desenvolvedores, as melhores publicadoras, para criar experiências em todo o mundo e em todas as plataformas e elevar o padrão do que estamos fazendo do ponto de vista do produto… nós descobriríamos que isso pode ser muito interessante.
Sean Shoptaw, vice-presidente sênios da Walt Disney Games
Segundo Luigi Priore, vice-presidente da Disney & Pixar Games, o intuito sempre foi diversificar o catálogo de jogos da Disney para todos os tipos de jogadores.
Opiniões contrárias
Apesar de tudo, parece que essa junção não seria uma boa ideia aos olhos dos consumidores. Segundo a aclamada revista Forbes, a ideia poderia trazer implicações um tanto negativas para praticamente todos os envolvidos.
Mesmo com a notável história da Disney na gestão de jogos ao longo dos anos, esse não aparenta ser um argumento suficientemente plausível para garantir resultados bons. Ainda segundo opiniões, a intenção da Disney com a compra, poderia se assimilar ao seu histórico com a Lucasfilm, Marvel, dentre outras. Se houvesse a possibilidade da EA operar independentemente, talvez a situação pudesse ser vista com outros olhos. Fora que a Disney começaria a se aventurar em uma indústria que nunca foi seu foco e, portanto, possui um entendimento limitado. Em resumo, seria algo muito arriscado.
Porém, se formos considerar toda a compra do ponto de vista da EA, que já admitiu não ver empecilhos, significaria menos poder. A editora passaria a estar sujeita às decisões da megacorporação e isso poderia, provavelmente, resultar num foco maior em jogos desenvolvidos para universos da própria Disney, ou seja, Star Wars e Marvel, por exemplo. Segundo a Forbes, isso não seria de todo mal, pois franquias bem-sucedidas ainda teriam chance, assim como games de esportes e títulos como Apex Legends. No entanto, algo a se considerar é a possível insatisfação de muitos dos desenvolvedores de jogos, que consequentemente estariam se tornando “subordinados” da Disney.
Além do mais, no que diz respeito aos jogadores, a aquisição também poderia resultar num desenvolvimento bem mais limitado no futuro, principalmente quando se fala sobre a Marvel. Embora isso talvez não afete personagens como Wolverine ou Homem-Aranha, que são da Insomniac Games, algumas outras histórias se prejudicariam nesse setor. Muitos dos projetos da parceria Disney-Marvel, de maneira geral, já possuem planejamento com anos de antecedência. A compra da EA poderia vir a atrapalhar todos esses planos de algum modo. Um exemplo disso é que, mesmo os jogos que não ganharam tanta popularidade, como Guardians of the Galaxy e Avengers, ainda assim receberam alguns elogios, e num caso como esse, se viesse a acontecer, poderiam nem existir.
Em conclusão, é bom lembrar que a informação da possível futura aquisição veio de um relatório da Bloomberg, onde supostamente, executivos da Disney estariam realmente pressionando Bob Iger a investir na área de jogos e considerar a aquisição. Esses planos também já teriam sido discutidos no ano passado, mas vale destacar que a EA não chegou a recorrer somente à empresa, tendo mostrado interesse também na NBCUniversal, Apple e Amazon.
Veja também: Apple vai comprar a Disney? Rumores aumentam
Veja mais: MCU e Star Wars: o que está acontecendo com as produções do Disney+?
Fontes: IGN, Terra, Forbes, Bloomberg
Revisado por Glauco Vital em 16/10/23.
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Eita, se isso acontecer mesmo vai ter lacração até nos games da EA.
Mais uma empresa pra turma woke destruir.