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Xógum é a mais nova superprodução do Hulu, em parceria com a FX, exibida pelo Star+ e Disney+ no Brasil. Vamos falar sem spoilers dos primeiros três episódios. Ficou curioso? Continua com a gente! Ikimashou!
Baseada na obra homônima de James Clavell, Xógum é a segunda adaptação a ser lançada do épico romance que fez a releitura de eventos históricos reais do Japão do século XVII. Clavell pegou emprestado algumas figuras que viveram de verdade e adaptou suas histórias para seu livro, como William Adams, um marinheiro inglês que acabou caindo nas graças de Tokugawa Ieyasu, e toda a revolução pelo qual o país passou naquela época.
A versão original da série contou com a ilustre presença da lenda do cinema japonês, Toshiro Mifune, o eterno Yojimbo e estrela de inúmeros clássicos em parceria com Akira Kurosawa, e um dos grandes astros de Hollywood dos anos 1980, Richard Chamberlain, conhecido no Brasil pelo seu papel no clássico da Sessão da Tarde, Nas Minas do Rei Salomão. Já a nova refilmagem conta com um elenco de estrelas e desconhecidos do público ocidental e já mostra ser BAITA série depois de seus três episódios iniciais.
A trama traz uma complexa teia de maquinações políticas
A trama de Xógum tem início no ano de 1600, quando o Japão estava prestes a instaurar a sakoku, política de isolacionismo que o governo de Tokugawa Ieyasu instaurou com o intuito de livrar o país de influências externas. Até então, o único país distante com o qual a terra do sol nascente tratava era Portugal, que dominava o comércio marítimo, trazendo junto os jesuítas e o Catolicismo à ilha.
É aí que entra John Blackthorne, um navegante inglês a serviço da frota mercante holandesa. A bordo do Erasmus, um navio há muito perdido nos mares após atravessar o Estreito de Magalhães, até então uma rota secreta compartilhada entre Espanha e Portugal, acaba atracando em terras japonesas junto de sua tripulação, todos famintos. Nas mãos dos samurais a mando do Lorde local, o ambicioso e devasso Yabushige, John se vê em um mal crescente, não fazendo questão alguma de esconder o seu desprezo pelo povo que o recebeu de forma tão fria, e também, claro, pelos portugueses, por ser protestante e pelo fato da Inglaterra se encontrar em guerra com eles.
Mas seus problemas não param por aí, e por meio de muita esperteza por parte de Blackthorne e um tanto de sorte, já que o governante da região, Lorde Yoshii Toranaga, fica sabendo da existência do navio dos “bárbaros”, levando-o a trazer John para Osaka, onde se encontra. A complexidade da situação de Toranaga é grande, visto que ele se encontra preso no castelo após ser acusado de querer usurpar o poder pelo conselho de regentes que assumiram o controle após a morte do antigo Taikō, até que seu herdeiro, Yaechiyo, alcance a maioridade. Taikō sempre nutriu certa preferência por Toranaga, o que o colocou na mira de seus rivais deste conselho.
Acontece que, apesar de ser descendente direto da linha de shōguns de outrora, Yoshii não deseja o poder supremo, estando satisfeito em governar a província de Kantō, onde fica Edo, futura Tóquio. Para complicar sua já sensível situação política, Toranaga estava mantendo a esposa do falecido governante em seu castelo, para ajudá-la no parto da esposa de um de seus súditos, o que foi considerado um ato de traição pelo conselho. Mas tudo não passa de um jogo de interesses, porque no meio deles se encontra a Igreja Católica, que manipula tudo e a todos.
Blackthorne entra nessa confusão como a prova de que a presença de Portugal no país aconteceu sob o falso pretexto de que o país da península Ibérica era o único que existia na distante Europa. Com isso, toda a ilha do Japão passou a ser “propriedade” do reino do Antigo Mundo, fruto do acordo firmado pelas duas potências navegantes da época, o famoso Tratado de Tordesilhas. E não só isso, mas John também tem ciência de outras traquinagens portuguesas das quais os japoneses até então desconheciam. Já dá para imaginar o caos que a presença do inglês vem a causar, abalando as estruturas da instituição da Igreja Católica no país do sol nascente, sem falar nos planos da coroa portuguesa.
Nas idas e vindas da história, Blackthorne e Toranaga começam a desenvolver um respeito mútuo, beirando uma amizade, e é a partir daí que Xógum deslancha como uma série muito especial, já que não se trata de uma história de guerra, mas sim da honra, do estrito código dos samurais, de perseverança e, mais importante, dos chamados três corações de uma pessoa. Um que ela mostra para o exterior, outro que ela crê ser, e o mais valioso, aquele que nunca deve ser revelado, seu eu verdadeiro.
Em poucos episódios, John mostra-se um personagem repleto de nuances, alguém que vai muito além da imagem de marinheiro falastrão e com um arsenal infindável de xingamentos e piadas impróprias, mas mesmo assim incrivelmente fiel à sua nação. Já Toranaga é alguém incrivelmente sábio, mas que não deixa de ser implacável quando necessário, como também um humano com seus defeitos, estes que serão explorados nos próximos capítulos, com a sua relação com o filho.
Fora os dois grandes protagonistas, estão Mariko, uma súdita de Yoshii, que estudou com padres o português e age como a tradutora entre ele e John, que se comunica na língua da terrinha, só que adaptada convenientemente ao inglês pela série. Outro que se destaca nesses primeiros episódios é Rodrigues, marinheiro espanhol a mando dos portugueses, com quem Blackthorne acaba se enturmando. Voltando ao início, também temos Yabushige, o estopim para John passar a ver o povo japonês com outros olhos.
Enfim, se você já não percebeu até agora, deixamos claro uma coisa: Xógum é cheio de personagens incríveis. Todos são cheios de nuances e traços únicos que os fazem ser pessoas que queremos ver mais e mais, o que é de se louvar tanto em termos de roteiro, como também nas suas excelentes interpretações, entregues pelo elenco, sobre o qual falaremos a seguir.
O elenco traz estrelas e algumas novidades
Xógum: A Gloriosa Saga do Japão reúne um grupo de atores que impõe respeito; vamos citar alguns dos destaques, porque a lista é grande!
No topo está Hiroyuki Sanada, no papel de Toranaga, célebre ator japonês que teve pontas em Westworld, Mortal Kombat, O Último Samurai, 47 Ronins, o clássico moderno do cinema samurai, O Samurai do Entardecer e, mais recentemente, John Wick 4. Em Xógum, o astro está em plena força, com uma presença em tela sufocante de tão boa.
John Blackthorne é interpretado por Cosmo Jarvis, ator britânico nascido nos Estados Unidos, até então sem papéis de muito renome, mas que brilha na série, com seu jeito irreverente e bonachão, apesar da sua cara de bobo. Sem brincadeiras, em todas as fotos ele parece ter a mesma expressão, mas isso não poderia estar mais longe da verdade, pois é um excelente intérprete.
O resto da composição de artistas não fica para trás! A atriz neozelandesa Anna Sawai, de Monarch: Legado de Monstros, da AppleTV, empresta seu talento para a personagem Mariko em uma performance sensacional e repleta de mistérios. No papel do missionário e tradutor português Martim Alvito, temos Tommy Bastow, que se destacou na série The Window, que se vê no meio das fortes personalidades dos lordes japoneses.
Há também participações de atores conhecidos pelos fãs dos filmes de quadrinhos de herói. Tadanobu Asano, o Hogun dos filmes Thor é quem foi escalado para assumir o enigmático Yabushige, um verdadeiro coringa no deque da série. Nestor Carbonell, da trilogia Batman Christopher Nolan, está irreconhecível como Rodrigues, um cara que todos nós adoraríamos ter como amigo.
Fechando nossos destaques do elenco está Tokuma Nishioka. O nome pode não ser familiar para você, mas se algum dia assistiu a alguma das séries televisivas de Kamen Rider, Godzilla ou Ultraman, com certeza o viu, já que o prolífico velhinho de 77 anos carimbou seu nome nos créditos de muitas delas.
Uma produção de tirar o fôlego
A série conta com uma produção de qualidade acima da média também. Dotada de efeitos especiais impressionantes e excelente figurino de época, tanto dos japoneses quanto dos religiosos portugueses e outros personagens.
Xógum também impressiona pelo cuidado dado ao idioma e como ele acaba se tornando uma espécie de personagem no decorrer dos primeiros episódios, contando com piadas engraçadas vindas do aprendizado à força de Blackthorne ao chegar no país.
É também muito bacana como aspectos importantes da cultura japonesa são explicados através das falas e ações dos personagens, de um modo que foge ao modo maçante usual com que somos martelados em outras produções. Em especial, vemos o estrito código do bushidō sendo demonstrado sem a necessidade de exposição, através das ações não só dos personagens principais, mas de secundários, de forma orgânica.
Tudo isso perderia o impacto sem uma trilha sonora de respeito, e nisso a série também brilha e muito. A música da abertura, em especial, é de dar calafrios de tão boa, então assista a ela pelo menos uma vez ao começar Xógum!
Onde e como ver Xógum: A Gloriosa Saga do Japão
No Brasil, Xógum está disponível via streaming no Star+ e também pelo Disney+. Não se esqueça, para ter acesso ao catálogo deles e à série, é necessária uma assinatura ativa em um dos dois serviços.
Mas e aí, vale a pena assistir?
Xógum: A Gloriosa Saga do Japão é uma agradável surpresa neste começo de 2024. É de fato uma superprodução de respeito, que mesmo só com três dos dez episódios lançados, já se mostra bastante competente em todos os sentidos.
Dado o terceiro episódio saído esta semana, temos a conclusão da primeira fase da história, com um avanço significante da trama e a abertura do que promete ser um imenso conflito político que levará não só Toranaga, mas todo o séquito do frágil governo japonês ao extremo.
E aí, você se interessou por Xógum? Se você já assistiu, diga para a gente nos comentários o que você achou da série até agora!
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Fontes: FX, IMDB [1],[2],[3],[4],[5],[6] e [7], Pixel Universe e Screen Rant.
Revisão do texto feita por: Pedro Bomfim
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