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Twisters chega aos cinemas brasileiros a partir do dia 11 de julho. Cinéfilos mais antigos vão lembrar muito bem do nome, uma vez que Twisters é uma continuação não-direta e independente do clássico de 1996 Twister, segunda maior bilheteria daquele ano e indicado a dois Oscar nas categorias de som e efeitos especiais.
Com seus protagonistas considerados potenciais atores de ascensão em Hollywood – Daisy Edgar-Jones (Normal People, Um Lugar Bem Longe Daqui), Glen Powell (Top Gun: Maverick, Todos Menos Você) e Anthony Ramos (Em um Bairro de Nova York, Hamilton), será que Twisters é bom? O filme conseguiu cumprir o mesmo sucesso de seu, digamos, “antecessor”? O Showmetech foi convidado para a cabine a convite da Warner Bros.
Confira a crítica de Twisters sem spoilers abaixo.
Enredo
Em Twisters, acompanhamos a cientista Kate Cooper (Daisy Edgar-Jones), que, junto com seus amigos cientistas, estuda um processo de “domar” os tornados, a partir de sensores que sugam a umidade, permitindo que a massa de ar fria predomine e erradique o poder de destruição, salvando de centenas a milhares de vidas. O grupo roda o estado de Oklahoma caçando tornados.
Em um desses experimentos de dosagem, o grupo se depara com um tornado, a princípio, de classificação baixa, que com o tempo vira uma classificação F5 (o mais devastador, em termos de potência destrutiva). No incidente, Kate perdeu todos os seus amigos, exceto Javi (Anthony Ramos), que justamente não estava enfrentando de perto o tornado.
Anos se passam e Kate não caça mais tornados, mas é uma analista de meteorologia da cidade de Nova York. O destino cruza Kate e Javi novamente, cujo ex-parceiro caçador abriu uma própria empresa com financiadores depois de servir à aeronáutica. Durante seu alistamento, Javi ajudou a desenvolver uma tecnologia capaz de replicar, em dados precisos, a estrutura, formação, concentração de água e demais atributos de qualquer tornado, além de rastreá-lo, o que serviria para não só identificar com maior antecedência, mas prever sua classificação previamente. Sua empresa, inclusive, atua nesse ramo: coleta de dados de tornados a partir do novo recurso tecnológico.
Com isso, Javi propõe que Kate e ele voltem a caçar tornados, agora com uma equipe de especialistas contratados pela empresa do personagem. A cientista aceita, com hesitações. Enquanto caçam tornados para a coleta de dados, um influenciador famoso nas redes sociais, o imprudente e carismático Tyler Owens (Glen Powell), também se junta à caça para o registro em seu canal no YouTube, sendo uma dor de cabeça para a equipe de Javier e Kate.
Só não é “A dor de cabeça”, pois à medida que a temporada de tempestades em Oklahoma se intensifica, os tornados atingem picos de intensidade fatais, que os levam ao mesmo caminho de conter tais anomalias climáticas e sobreviver desse aterrorizante desafio. Sobretudo para Kate, que além de não caçar mais por anos, teve traumas desencadeadas pelo luto dos seus amigos.
Elenco
Desde sempre, grandes produções de Hollywood separam uma grande parte do orçamento dedicado à contratação de atores de alta expressão, o que é justo se analisarmos que uma notícia de escalação acaba sendo uma forma de holofote e até de geração de “hype” para o filme. Portanto, com a confirmação de Daisy Edgar-Jones, Glen Powell e Anthony Ramos, considerados atualmente atores promissores nos EUA por suas atuações exemplares nos últimos 3 anos de atividade, a expectativa era de um bom trabalho cênico de ambos.
Daisy Edgar-Jones já se viu como protagonista em produções como Fresh (2022), Normal People (2020) e Um Lugar Bem Longe Daqui (2022). Logo, como protagonista também em Twisters, seu trabalho como a figura central que interliga todos os elementos do filme, é de agrado. Daisy consegue ter química com todos os seus parceiros, ao mesmo tempo que consegue dar o tom à personagem, sendo uma experiência positiva no filme.
Já Glen Powell e Anthony Ramos compartilhavam o mesmo objetivo: trazer carisma ao Twisters. Como dar doce a uma criança, fazer tal pedido a Glen é moleza, com o ator também encontrando seus tons animados e sérios quando a cena pede – fazendo até bem melhor que a própria Daisy, porém não por incompetência da atriz, mas que o personagem de Powell tem mais liberdade para ser um “8 ou 80”. Para Anthony Ramos, seu trabalho é o mais fraco em comparação aos dois, também super plausível e esperado por sua importância na narrativa em si, como um meio-campo para Kate sair dessa zona de luto e encontrar a motivação que precisava.
Vale a pena a citação de David Corenswet, o nosso futuro Superman na DCU de James Gunn. O ator é o grande destaque fora a tríade de protagonistas e o tornado em si. Sua atuação como uma espécie de vilão, paralelo aos tornados colossais, é muito boa e passa fidelidade, entregando uma excelência que se evoluía gradualmente no cinema, de forma com que constantemente mudamos de pensamentos sobre sua motivação.
De resto, todos os atores em Twisters conseguiram demonstrar sua unicidade, por mais que alguns tiveram mais tempo de tela que outros – acontece. Não esperem atuações louváveis, mas podem esperar desempenhos bons pelo o que o filme exige.
Direção
Lee Isaac Chung, indicado ao Oscar como roteirista-diretor de Minari: Em Busca da Felicidade, comandou a direção de Twisters. Seu trabalho também foi positivo por ter conseguido trazer a imersão dos desastres climáticos e por conseguir explorar os potenciais dos atores. Parecia que Lee tinha tudo sob controle e conseguiu deixar todos os artistas livres, o que interfere diretamente na capacidade de atuação.
Diferente do filme de 1996, a nova versão consegue usufruir de todos os recursos que temos dispostos. Por ser ainda na década de 90 e embora que até lá grandes filmes de ficção-científica tenham surgido e reformulado a forma dos efeitos especiais, os mesmos ainda eram bastante limitados e envolviam grandes manobras. Com a digitalização, Lee Isaac Chung soube usar, com moderação, tomadas de cena de dentro dos tornados e os efeitos mais reais de devastação. Inclusive, além dos próprios tornados, as propostas de sequência de cenas, ângulos de tomadas e posicionamento de câmeras são um show à parte.
Roteiro
Mark L. Smith, escritor de O Regresso, assina o roteiro de Twisters, talvez o trabalho mais difícil de toda a equipe do longa. Como dito na introdução do artigo, comandar uma continuação, mesmo que direta ou não-direta de um filme de sucesso e de boas críticas do público, requer muito estudo e atenção, principalmente quando se enquadra como uma continuação independente. Porque além dos desafios criativos de qualquer produção longa-metragem, ainda há preso na produção a história, o universo e o saudosismo dos telespectadores que já viram o filme antecessor.
Diante de tantos riscos, Mark optou por um “arroz com feijão”, um básico bem feito. Embora seja uma decisão segura, a obviedade sobre o desenrolar do filme é uma consequência negativa bem presente. O público consegue adivinhar ainda no primeiro ato tudo que Twisters planeja desenrolar, o que perde a magia e a empolgação. Assim como Twister (1996) foi para aquele ano por sua criatividade, Twisters poderia pelo menos tentar ser para essa nova geração de cinéfilos, com algum toque desafiador que quebrasse o ritmo sempre linear da trama.
Além da mesma vibração do filme, um detalhe que merece uma ressalva são os excessos de diálogos extremamente técnicos e científicos por uma questão de semiótica dos personagens. Entendo que por serem cientistas, suas falas sobre os tornados devam ser encarregadas por termos científicos, mas acabam só confundindo o telespectador leigo que só quer acompanhar com mais calma toda a resolução, e que também se sente envolvido dentro da roda de conversa.
Por fim, deixo outro ponto – desta vez, um elogio: a atualidade da releitura de Twisters. Para 1996, seria algo extremamente fantasioso se a trama, ao invés de sensores que consigam identificar comportamentos iniciais de um tornado para prevenir futuros outros, fosse desenrolada com sensores tecnológicos que consigam diminuir a intensidade dos tornados. O mesmo pensamento também se aplica com os personagens: imagina ter um influenciador digital de desafios e aventuras em Twister? A releitura para o novo blockbuster da Warner Bros. Discovery foi muito bem feita e se encaixou com o que a gente veria nos noticiários, portais ou até mesmo em Instagram, YouTube ou TikTok.
Efeitos especiais e cenas de ação
Os efeitos especiais e as cenas de ação de Twisters são os pontos altos do filme – nada tão surpreendente assim. É requisito mínimo que em um filme de ficção científica os efeitos visuais estejam sublimes. Mas tendo em vista que já presenciamos algumas produções do gênero que pecaram com tais efeitos, é um ponto a se elogiar.
Combinado com as jogadas de câmera, muitas cenas com os tornados em ação em Oklahoma pareciam mais grandiosas como elas são e serviram para me contagiar durante a exibição. Uma coisa que poderiam ter feito mais é a interação do tornado com o ambiente em si, como foi super claro em Twister de 1996. Acredito que não só como uma cena à parte de complemento para mostrar a potência de estrago de uma tempestade, mas também como cenas que poderiam ter uma preocupação cômica. A cena em que jogam fogos de artifício no tornado foi legal de ter visto, poderiam ser mais criativos.
Junto com mais cenas de interação do tornado com o ambiente, faltou mais escombros, objetos, animais e outros itens sendo levados por esse tornado que acarretassem de fato em alguma consequência para os personagens. Seja um ferro que é arremessado em frente ao carro, uma pessoa… inclusive, o planejamento destas cenas já poderia servir para a mudança de tom que enfatizei no tópico acima.
Complementa ao mundo de “Twister” (1996)?
Ao decorrer do filme, quem já viu Twister conseguiu pegar referências ou até elementos que foram reincorporados nesta nova versão. Porém, é importante destacar que não é tratado como uma sequência direta, tampouco uma remasterização – no sentido de contar a mesma história com os mesmos personagens, com “Twisters” tendo seu próprio mundo e autossuficiência.
Se for colocar as duas produções na balança, a versão de 1996 apresenta mais dinamicidade. Meio que tudo acontece na sequência, enquanto Twisters envolve pulo no tempo, um espaço maior para o desenvolvimento pessoal da Kate e o relacionamento que ela constrói com o Tyler, a reaproximação com o Javier e até com os tornados. Em questão criativa, ambas promovem boas construções de suas próprias formas.
Conclusão
Twisters é um filme de ação e ficção científica como qualquer outro, em termos estruturais, com um começo, meio e fim fechados – e um tanto quanto óbvios, com exceção do final, que conseguiu fugir da sua própria armadilha do clichê. Os efeitos especiais dos tornados estão bem feitos e arrancam boas cenas cinematográficas, levando o público para dentro do universo. Não espere atuações brilhantes de Daisy Edgar-Jones, Anthony Ramos e Glen Powell – só de David Corenswet -, mas mesmo assim o trio desempenha um bom trabalho e uma química que exala para além das telas. Logo, Twisters é uma boa opção para conferir se quiser um filme divertido e que desocupe a mente.
Quando e onde ver Twisters
Twisters estreia exclusivamente nos cinemas no dia 11 de julho, em toda as salas do Brasil.
Trailer de Twisters
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Fonte: Variety
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